Redação do Enem 2023 levantou debate sobre a invisibilidade desse tipo de trabalho
Quando o assunto é trabalho doméstico e o cuidado com outros seres humanos, as mulheres dedicam 11h por semana a mais do que os homens. É o que afirma o estudo “Gênero é o que importa: determinantes do trabalho doméstico não remunerado no Brasil”, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A pauta virou inclusive tema de redação do Enem: no último domingo (5), os candidatos a uma vaga no ensino superior precisaram escrever uma redação com o tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
Ainda de acordo com o levantamento do Ipea, a presença de crianças pequenas ou de idosos no lar pode ampliar em mais de três horas a quantidade de tempo que a mulher dedica ao cuidado. O estudo afirma, porém, que esse mesmo fator, porém, não tem implicação para os homens.
A coordenadora do curso de Serviço Social do Centro Universitário Estácio São Luís, Maysa Moreira, explica que essa divisão do trabalho a partir do gênero existe desde as sociedades primitivas e que a desigualdade só se intensificou com o tempo. “Vários teóricos pontuam que desde as sociedades primitivas foi imposto às mulheres o trabalho de cuidar, enquanto que aos homens foi atribuído o poder de provedor”, pontua a professora.
Maysa enumera que esse trabalho de cuidado imposto para as mulheres abrange cuidados com a casa, alimentação, filhos e até mesmo parentes que necessitem de cuidados especiais. “Mesmo que as mulheres tenham conquistado espacos no mercado de trabalho, na política e exerçam diversos outros papéis sociais, continuamos a observar uma divisão do trabalho por gênero, com pais socialmente impostos”, afirma. Segundo a especialista, essa situação é ainda mais evidente no caso de mulheres negras e periféricas.
INVISÍVEL
O trabalho de cuidado é invisível principalmente, segundo a docente, por se tratar de atividade não remunerada.
“Quando você tem um emprego, você está vinculado a toda uma legislação trabalhista que rege aquela atividade. Já o trabalho de cuidado é invisibilizado porque, apesar de realizado cotidianamente, não acarreta em remuneração nenhuma para a mulher. O cuidado com os filhos e a casa é considerada tarefa natural, de amor e reconhecimento, mas não passível de remuneração”, afirma.
Para a assistente social, o mundo vive um processo de desconstrução desses papéis, mas ela frisa que é preciso haver debate para que o assunto continue a evoluir. “É preciso falar sobre esse assunto, continuar os estudos e as pesquisas. As mulheres não só podem como devem reverter esse cenário, levando essa discussão a todos os segmentos para que a gente possa construir de fato uma equidade entre homens e mulheres”, conclui.