O São João do Maranhão já se encontra vivo em cores, com as bandeirolas, o balanço do bumba-meu-boi e com toadas a ecoar, após dois anos de pandemia da Covid-19. E junto à maior festividade do Estado, volta, também, a memória de importantes nomes da cultura maranhense, como o do cantor e compositor Raimundo Makarra, autor de “Boi de Lágrimas” e “Novilho Mágico”.
Sendo um dos homenageados com o São João do Maranhão 2022, Raimundo João Pinheiro Júnior, falecido em 2019, ganhou notoriedade pela composição de “Boi de Lágrimas”, gravada pelo Boi Barrica e diversos artistas maranhenses, como Alcione, no CD Uma Nova Paixão; e Papete.
Além de musicista, Makarra graduou-se em Desenho Industrial, pela UFMA; atuou como programador visual da TV Educativa (TVE), atualmente Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). Como desenhador, colecionava êxitos como a logomarca da TV Mirante.
“Uma alma extremamente sensível, um coração muito bom e um compositor de mão cheia que, apesar de não ter deixado muitas músicas, mas as poucas que deixou, já fazem parte de um grande legado do cancioneiro musical feito aqui no Maranhão, essa é a figura do Makarra”, afirma o produtor cultural e compositor, Wellington Reis.
Musicalidade
Na década de 60, Makarra foi músico de alguns conjuntos musicais da época, como o The King. Avaliado pelos amigos como um instrumentista muito bom na guitarra, no contrabaixo, Makarra passou a integrar o grupo musical Terra e Chão.
O grupo musical era formado, inicialmente, por acadêmicos da Escola de Engenharia do Maranhão, instituição conhecida, hoje, como Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), e atuou entre as décadas de 70 e 80 fazendo, inclusive, extensão cultural da Reitoria.
“Foi ele que levou, de uma certa forma, para o Terra e Chão este formato chamado, na época, de Música Popular Maranhense; levou música de César Teixeira, do próprio Zé Pereira, além das músicas dele que o forte era o Bumba Meu Boi, que chamávamos de Boi de Viola, apesar de ele ser um rockeiro nato”, acrescenta o compositor e ex-integrante do grupo musical, Wellington Reis.
Boi de Lágrimas
A música “Boi de Lágrimas”, que virou, inclusive, filme pelas mãos de Frederico Machado, filho do poeta Nauro Machado; é considerada uma espécie de hino dos festejos juninos em São Luís no Maranhão. Ela foi composta na década de 80 e chegou a ser apresentada pelo Terra e Chão em festival da TV Bandeirantes na capital maranhense, em 1982.
Para o compositor Wellington Reis, a música parecia prever, de certa forma, a criação do Boi Barrica, que já viajou por todo o Brasil e por vários países mostrando um pouco das expressões culturais do Maranhão, com muito encanto, dança, cores e música.
“Essa música é meio messiânica porque ela tem uma passagem que diz ‘Zé de França Pereira viu esse Boi tão pequeno chegar’. O Boi Barrica, na época, ainda não tinha sido criado. É como se ele tivesse prevendo que esse Boi viria”, afirmou Reis.
Makarra, de composições também como o “Novilho Mágico”, e o “Guarnicê de Pindaré” integrou, ainda, a primeira formação de músicos do Boi Barrica, tocando viola de 10 cordas. Foi então que, em 1989, a Companhia Barrica, em viagem a São Paulo, com direção e arranjos musicais de Ubiratan Sousa, gravou “Boi de Lágrimas” em um LP chamado de “Baiante”.
“Foi justamente aí que essa música foi reconhecida, ela deu um salto enorme, teve reconhecimento público da noite para o dia. É aí que a figura de Makarra, de uma certa forma, se transforma no grande compositor de poucas músicas, mas de uma música como o ‘Boi de Lágrimas’ do qual guindou esse sucesso todo por causa da gravação da Companhia Barrica”, assegura o produtor cultural, Wellington Reis.
Poesia em homenagem a Makarra
Em contribuição a esta matéria que homenageia a vida e a obra de Raimundo Makarra, o compositor, poeta e produtor cultural, Luís Bulcão, compôs uma poesia em homenagem ao amigo. “Isso aí foi o que a emoção me deu de presente”, expressou o poeta.
Poesia em homenagem a Makarra, por Luís Bulcão
Amigo Makarra, o imortal não precisa fazer, basta inspirar. E isso você fez com as lágrimas do seu Boi, foi o homem do seu tempo, mas principalmente, do seu chão. E de lá, decorou as estrelas com suas melodias que iam se espalhando e estão, para sempre, em cada cantar de passarinho, em cada árvore que emite triste a sua ausência material, porque elas o abraçavam e com as suas palmas serviam de leque para apenas amenizar o calor das irreverentes palavras quando preciso.
Ah, poeta! Poeta dos pobres, das misturas misteriosamente preparadas em sua guitarra vibrante, em seu violão sonhador. Gostava, também, de cantar alegria do viver em paz consigo e sua rua, cuja lâmpada era a lua, que às vezes escondida, pregava ali a peça de uma seresta tua, que se alongava no tempo, sem eira nem beira de estrelas.
Continuas entre nós. Na Rua da Palma, tua alma toca as miçangas e canutilhos filhos da tua veste junina. E a menina fã dos teus gorjeios, beija-flor de eleios e sonhos, esquecia os momentos enfadonhos em Portugal. Lá bem do lado, ela, Mina Catarina dos poetas andarilhos, te colocava nos trilhos de volta pra casa no último Bonde da São Pantaleão.
Ah, poeta, sorri! Não me faça chorar tuas canções de amizade. Aperta meu peito na fraternidade verdadeira. Dá um tago pra Pereira. Ajoelha-te de mãos postas, tua costa é o couro mais bem bordado do meu novilho. Não partiste, estás aqui, e aqui continuas com as poesias de balanço tuas. Encosta a tua cabeça no ombro amigo da tua gente, desembrulha este presente de uma lembrança merecida.
Ah, poeta, deixa disso! Não me faça chorar saudades, elas são feitas de um sorriso eterno e terno de amor. Só propito “Reúne o Batalhão dos Imortais”, enxuga as lágrimas do teu Boi, porque nem ele, nem tu, morrerão jamais.