Mais de 16% da população não tem acesso a água tratada no Brasil. Especialista alerta que a falta do serviço gera graves consequências à saúde.
A água é o elemento fundamental para a vida, além de ser essencial para a sobrevivência de animais e vegetais na terra. Não à toa a água potável é conhecida como “ouro azul”.
Para o organismo humano, o líquido é ainda mais indispensável. “Da digestão de nutrientes à eliminação de resíduos, ela é necessária para todos os tecidos do organismo. Ajuda no transporte de vitaminas, proteínas, carboidratos e sais minerais ao organismo e na eliminação de resíduos como a ureia, filtrada pelos rins, através da urina. Sem contar que auxilia no controle da temperatura corporal”, explica o nutricionista e professor da Estácio São Luís, Marcos Macedo.
Mesmo sendo considerada uma fonte natural de vida, um direito assegurado pela Constituição e definido pela Lei nº. 11.445/2007, o acesso a água tratada é uma realidade distante para muitos brasileiros. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), revelam que quase 35 milhões de pessoas não têm acesso ao serviço no país, o que representa mais de 16% da população.
A falta do serviço revela um problema ainda maior: a ausência de saneamento básico. O problema é causa de diversas doenças transmitidas pela água, cuja qualidade é afetada pela disposição inadequada dos resíduos domésticos, agrícolas, industriais e produzidos pela população. “Entre as principais consequências da falta de saneamento básico estão as doenças por veiculação hídrica, que atinge direta e indiretamente nossa população”, revela a médica especialista em doenças infecciosas e saúde pública, Mônica Gama.
Entre as doenças mais frequentes estão a leptospirose, disenteria bacteriana, esquistossomose, febre tifóide e cólera. “Além de todas essas doenças, ainda temos como consequência o agravamento de epidemias, tais como a dengue. Fruto dos criadouros dos mosquitos espalhados pelo ambiente”, lembra a especialista.
Segundo o Instituto Trata Brasil, além dos altos riscos envolvidos, este cenário representa elevados gastos em saúde pública. Em 2011, os gastos com internações por diarreia no Brasil custaram aos cofres públicos R$140 milhões. Já a diarreia, segundo a Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), é a segunda maior causa de mortes em crianças abaixo de cinco anos de idade. “Muitas dessas doenças determinam casos graves, principalmente em crianças. Atrapalham o desenvolvimento neuropsicomotor, o crescimento, ganho de peso. E, sim, essas doenças levam à óbito”, alerta a Dra. Mônica Gama.
Uma saída!
Para reduzir os impactos causados pelo saneamento inadequado e contribuir com a transformação social, programas de interesse público sem fins lucrativos não medem esforços na luta contra essa triste realidade. Exemplo dessa luta é o Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos (Ceape), que criou o programa Ceape Sanear, que já beneficiou, ao todo, 1.476 famílias.
O programa tem como finalidade melhorar a qualidade de vida da população brasileira por meio de investimentos em saneamento básico. “As pessoas podem obter uma linha de crédito para reformar ou construir um banheiro, poço artesiano, fossa séptica, cisterna ou até mesmo melhorar a qualidade da água que consome”, explica Nathalia Pereira, coordenadora do programa Ceape Sanear.
Criado a partir do convênio com a Water.org – organização americana e sem fins lucrativos – o programa a atende pessoas de baixa renda. Juntos, oferecem crédito para a construção de banheiros sanitários, compra de caixa d’água, bebedouros e instalação de fossas sépticas, tudo garantido pelo projeto ‘Sanear’. O crédito varia de R$ 500 a R$ 10 mil, pode ser parcelado de 3 a 24 vezes e renovado de acordo a necessidade de cada cliente. “Quase metade da população brasileira ainda não tem coleta de esgoto e 35 milhões de brasileiros ainda não possuem água tratada em casa. Quando vimos os dados estatísticos alarmantes decidimos ajudar essas pessoas oferecendo não somente o crédito, mas dignidade”, afirma Nathalia Pereira.
Conscientização
Apesar de possui a maior reserva de água doce do mundo, com 12% do total disponível no planeta, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil já sente os impactos da poluição dos rios e consumo desenfreado da água potável.
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU), apontam que mais de 2,7 bilhões de pessoas deverão sofrer com a falta de água em 2025 se o consumo do planeta continuar nos níveis atuais. Os números são ainda mais assustadores quando analisamos a situação atual, onde cerca de 2,2 bilhões de pessoas no mundo não têm serviços de água potável gerenciados de forma segura, conforme relatório de 2019 da Organização Mundial da Saúde (OMS) e UNICEF.
O primeiro passo para solucionar esse problema é combater o desperdício e reutilizar a água potável. Só com a mudança de hábitos conseguiremos economizar. Evitar tomar banhos longos, desligar a torneira na hora de escovar os dente ou fazer a barba, fechar bem torneiras, regulando as descargas e evitando esbanjar água ao lavando a rua, são atitudes conscientes que podem ajudar na redução do desperdício desse bem tão precioso.