A cada ano, diversas mulheres brasileiras, principalmente adolescentes, engravidam sem planejamento. Foi o caso de Amanda Araújo. Tinha somente 16 anos quando tudo aconteceu. “Comecei a sentir enjoo, meus seios estavam inchando, minha barriga crescendo, não deu outra: estava grávida de três meses. Contei para meu namorado, ele assumiu a criança, nos casamos, mas muitos planos que eu tinha pra minha vida não foram realizados, como fazer minha faculdade. Tive que virar mãe cedo e isso tem um preço alto”, relata.
No Brasil essa é uma realidade persistente. A cada mil mulheres adolescentes, 51 acabam engravidando no Brasil. A média mundial é de 41 adolescentes a cada mil, segundo dados do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
Preservativos masculinos e femininos, pílulas anticoncepcionais, DIU, diafragma… são vários os métodos contraceptivos gratuitos disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil e, ainda assim, muitas famílias são formadas sem planejamento. A falta de diálogo em torno da sexualidade é uma das grandes causas desse problema.
A médica e professora da Faculdade de Medicina de Açailândia (IDOMED Fameac), Jhennyfer Barbosa, explica: “Mesmo com uma política voltada ao planejamento reprodutivo, a sexualidade ainda é tratada como tabu. Muitas pessoas buscam ajuda somente após a gravidez”. A médica destaca ainda a falta de educação sexual nas escolas como um obstáculo para reduzir essas estatísticas.
Barbosa ressalta que, apesar o Sistema Único de Saúde (SUS) oferecer diversas formas para evitar gravidez indesejada, também é papel dos profissionais da saúde informar a população sobre a existência e a forma correta de utilização de cada um desses métodos. “Os profissionais de saúde têm o dever de orientar os pacientes sobre os diferentes métodos, sua eficácia e formas de uso, além de destacar a importância da prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).”
“Embora nenhum seja 100% eficaz, os métodos hormonais, quando usados corretamente, podem alcançar até 99% de eficácia”, explica a especialista. Barbosa cita um levantamento da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) que aponta o chip anticoncepcional como um dos métodos mais eficientes, com 99,95% de eficácia, seguido da vasectomia (99,9%) e do DIU com hormônios (99,8%).
Segundo Jhennyfer Barbosa, a adesão aos métodos contraceptivos varia entre as pessoas. Ela observa que adolescentes e jovens adultos geralmente têm dificuldade em seguir a rotina de pílulas orais, enquanto alguns homens resistem ao uso da camisinha. “Além disso, a camisinha feminina ainda é pouco conhecida e usada, apesar de estar disponível em unidades de saúde”, relembra a especialista.
A médica também destaca que alguns métodos podem causar efeitos colaterais indesejados, o que leva muitas mulheres a interromper seu uso. “Superar esses desafios requer educação, acesso facilitado e uma abordagem comunitária mais ampla”, finaliza.