Imagine ter que conviver com uma dor tão forte e repetitiva como se fossem choques ou até facadas no rosto. Agora, imagine que essa sensação dura o dia inteiro e não tem uma cura definitiva. Essa é a neuralgia do trigêmeo, uma doença rara, que afeta cerca de 4,3 pessoas a cada 100 mil em todo o país.
A dor é classificada pela medicina como a “pior dor do mundo”. Nas últimas semanas, o caso da brasileira Carolina Arruda, de 27 anos, que foi diagnosticada com a neuralgia, chamou a atenção. Nas redes sociais, onde reúne centenas de milhares de seguidores, a jovem compartilha o dia a dia de como é conviver com a condição.
A jovem, que é estudante de Medicina Veterinária e mãe de uma menina de dez anos, começou a sentir as dores aos 16 anos e recebeu o diagnóstico de neuralgia do trigêmeo. A palavra “neuralgia” significa “dor nos nervos”. Já o trigêmeo é justamente um dos nervos do rosto. Em condições normais, ele é um nervo sensitivo, ou seja, que controla as sensações que se espalham pelo rosto, como toques ou temperatura.
“Ele é dividido em três grandes ramos. A parte mais alta, responsável pela sensibilidade da testa. A parte medial, responsável pela sensibilidade da bochecha e da parte do nariz. E o inferior, responsável pela sensibilidade da mandíbula”, explica o neurologista da Hapvida NotreDame Intermédica, Luciano Lobão.
Só que, para quem tem a doença, sensações como um vento batendo no rosto, o ato de sorrir, de passar um creme no rosto ou até escovar os dentes podem desencadear crises em quem tem a doença. As dores podem durar de segundos a minutos e acontecer várias vezes ao dia, como é o caso da jovem brasileira, que relata sentir dor “vinte e quatro horas por dia”. O mais comum é que as dores apareçam somente em um dos lados do rosto, mas em alguns casos mais raros, podem incluir os dois. A dor chega a impedir atividades cotidianas.
O neurologista explica que alguns motivos podem levar à neuralgia do trigêmeo. “Está muito relacionada à predisposição genética ou lesões intracranianas, como os tumores, alguma compressão de alguma outra estrutura, como um vaso que pode apertar o nervo, ou mesmo causas inflamatórias, como esclerose múltipla. De modo geral, doenças inflamatórias cerebrais”, afirma.
O QUE FAZER
O diagnóstico sempre deve ser feito por um médico especialista, como neurologista, neurocirurgião ou um cirurgião de cabeça e pescoço. Apenas um profissional pode, através do relato do paciente associado a outros exames, estabelecer o tratamento adequado, já que outras doenças como sinusite, problemas reumatológicos, bruxismo e alguns tipos de cefaleia também podem causar dor facial.
Medicamentos e, em casos mais graves, cirurgias, são algumas formas de tentar controlar a intensidade das dores no rosto. “Antidepressivos e anticonvulsivantes são estratégias muito usadas para diminuir as pontadas anormais causadas pela neuralgia do trigêmeo, mas ainda não foram encontradas formas definitivas de cura”, explica o especialista.