Diretora de “Bandeira de Aço – O Musical”, Nicolle Machado fala sobre desafios da adaptação
Atriz, dramaturga e diretora, a maranhense Nicolle Machado se tornou um nome conhecido no teatro maranhense. E, em 2022, este voo se tornará ainda maior, ao assumir a direção do espetáculo “Bandeira de Aço – O Musical”, que tem previsão de estreia da 1ª temporada para setembro deste ano, no palco do Teatro Arthur Azevedo (TAA).
Atualmente, Nicolle Machado está com outros dois espetáculos em processo: “Protocolo Pancadão”, pela Poli companhia, onde é atuante e dramaturga, e em “A Vagabunda”, pelo grupo Xama Teatro, assinando a direção e novamente a dramaturgia. Em meio a tantas práticas artísticas, a atriz, que é também mestra em artes cênicas, especialista em ensino de arte e movimento e licenciada em teatro, se considera uma “teatreira” (viciada nas vivências teatrais) e honrada com o convite feito por Guilherme Júnior, criador do musical, para dirigir o espetáculo.
“Me senti muito honrada e com um compromisso enorme. Ele [Guilherme Júnior] pensava em montar com espetáculo com pessoas do que alguns chamam de ‘nova geração do teatro maranhense’. Então, aqui estou! Me orgulho muito de ser parte dessa cena, mas friso que as minhas referências estão aqui, nos mestres que me fizeram”, pontuou Nicolle.
Para a diretora, levar o disco “Bandeira de Aço”, considerado um clássico da música maranhense, para a linguagem cênica é um processo de descobrir as histórias que existem em cada uma das faixas, as histórias que eclodem a partir dessas músicas e as histórias que conectam essas músicas, montando-as todas em uma única produção.
“Eu ouvia as músicas entoadas por Papete e seus contemporâneos, desde as aulas e apresentações no Sesc. Ficaram na memória. Até hoje sei cantar inteira ‘Manguinha do Saviana’”, brinca Nicolle. E acrescenta: “Mais tarde, conscientemente e por conta dos estudos na UFMA [Universidade Federal do Maranhão], fui me interessando ainda mais pelo fazer artístico maranhenses e esse disco, por completo, chegou a mim. Depois soube de sua conexão com o Laborarte e ele fez mais sentido ainda. O processo criativo em teatro, para mim, é sempre descobrir uma nova perspectiva, criar uma história. Se fazemos isso por meio de referências biográficas, tornamos mais presentes ainda essa narrativa que está por nascer”, analisa a diretora.
Outro ponto que Nicolle Machado destaca sobre “Bandeira de Aço” é que o disco só existe a partir da criação de influências diversas, de ritmos que foram marginalizados e de necessidades em dar voz e valor à cultura que faz um povo. “Se isso não for colocado em cena, na forma de corpos, ancestralidades, credos e desejos diferentes, então não estamos investigando o movimento de composição das músicas sobre uma perspectiva da descentralização de interesses”, pontua.
Ensaios
Os ensaios do espetáculo começaram no último dia 13 de junho, no Ateliê Academia de Dança, no bairro do Vinhais, em São Luís. Segundo Nicolle, a maior dificuldade para a criação do espetáculo é o tempo. “Tudo parou na pandemia, só não a fome do povo. A fome por comida, por direitos. Parece que agora, quando tudo tenta retomar o caminho, não tem mais caminho, então é tudo urgente, é tudo para agora. E isso reflete uma pressão enorme na gente, que trabalha com o sensível, porque são tempos incertos. Só temos de garantia o dia de hoje, então fazer um processo de criação longo torna-se arriscado, tanto do ponto de vista financeiro, quanto do político”, afirma a dramaturga.
Sobre o espetáculo, a diretora acredita que o público pode esperar uma criação: “uma história que se mova pelos mesmos motivos das músicas do disco e que faça conexões significantes da mesma forma que as músicas se conectam para hastear, ou derrubar, essa bandeira de aço”, conclui.
Bandeira de Aço – O Musical
Produzido pela Encanto Coletivo Cultural e G4 Entretenimentos, “Bandeira de Aço – O Musical” será lançado no segundo semestre deste ano e contará com os patrocínios do governo do Estado e da Equatorial Maranhão, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.
O músico e administrador Guilherme Júnior é o idealizador do musical. O espetáculo vai navegar pelo universo das composições das 9 faixas do disco, apresentando, também, os bastidores do álbum, o ponto de vista – e as questões – entre o intérprete (Papete) e os compositores (César Teixeira, Josias Sobrinho, Ronaldo Mota e Sérgio Habibe).
O musical vai, ainda, narrar ao público momentos curiosos, como o atraso de 10 anos do lançamento do disco no Maranhão – uma década após ser lançado nacionalmente. A produção será assinada pelo Encanto Coletivo Cultural, grupo criado em 2015 que foca na expansão da prática do Teatro Musical em São Luís.
Todas as informações sobre o espetáculo serão disponibilizadas na página oficial do projeto no Instagram: @bandeiradeacomusical. O musical é patrocinado pelo governo do Estado e pela Equatorial Maranhão, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.
Bandeira de Aço, de Papete
“Bandeira de Aço” é o segundo álbum do percussionista e cantor maranhense Papete, lançado pelo selo Discos Marcus Pereira, em 1978. Com nove faixas, o disco conta com faixas que ganharam popularidade no Maranhão, como “Boi da Lua” e “Engenho de Flores”, entre outras. Artistas como Josias Sobrinho, Ronaldo Mota, César Teixeira e Sérgio Habibe assinam as composições do álbum, que tinham Papete como intérprete oficial.
Lançado durante o período de ditadura militar no Brasil, “Bandeira de Aço” é referenciado como uma produção que representava o povo brasileiro e o contexto social e histórico em que foi lançado.