A HISTÓRIA DE JOÃO ANTONIO SOUZA LEITE, MARANHENSE COM SÍNDROME DE DOWN, QUE VENCEU O CAMPEONATO NACIONAL DE PANIFICAÇÃO
Um cromossomo a mais, ou o total de 47 cromossomos (trissomia do cromossomo 21) em suas células, ao invés de 46 que é o padrão. Esse é o diagnóstico para determinar se você é ou não uma pessoa com Síndrome de Down. Nessa loteria da vida, o maranhense João Antônio Souza Leite, hoje com 27 anos, tirou esse bilhete que o fez diferente do irmão, mas não menos amado ou importante para a família e para a sua comunidade.
Morador do Maiobão o jovem é filho da professora Sônia Maria Souza Leite e do autônomo da área de informática Elton Henrique Cagas Leite. João é o filho mais velho, e tem um irmão de 23 anos, Pedro Antônio, que atualmente estuda para ser bombeiro militar. Eles moram todos juntos e formam uma família feliz e muito unida.
Logo após o choque de constatar que o filho tinha nascido com Síndrome de Down, os pais o levaram com apenas 22 dias de vida para a APAE de São Luís e lá encontraram todo o apoio, orientação e tratamento que fizeram do menino uma criança feliz, e que conseguiu se desenvolver mesmo com as limitações naturais.
“Ele iniciou a escolarização na escola Eney Santana da APAE de São Luís e depois cursou outras escolas até o oitavo ano. Ele aprendeu a ler, escrever, somar, usar o computador. Devemos muito a todos que o ajudaram na APAE. Ele parou os estudos tradicionais no oitavo ano por dificuldade de maior concentração. Mas nunca deixou de frequentar a APAE de São Luís, onde seguiu se desenvolvendo com sucesso, em diversos cursos técnicos e oficinas de pois de largar a escola. Desde a plantação de hortas até panificação já aprendeu por lá” , relata a mãe do João.
E foi fazendo pão, algo que ele adora fazer e também comer, que João Antônio foi longe. Ele integrou a equipe maranhense no Desafio individual para pessoas com deficiência da Olimpíada do Conhecimento 2016, promovida pelo Programa SENAI de Ações Inclusivas e venceu na categoria panificação. Em 2015, ele já havia vencido o campeonato estadual. Os professores locais o incentivaram a se preparar mais, para disputar o mesmo concurso em nível nacional.
Entre os desafios a serem superado antes da prova nacional, estava o ritmo de leitura. João lia bem, mas com certa lentidão. E na prova seria fundamental conseguir ler a receita sozinho com mais rapidez, para conseguir vencer. Ele contou com a ajuda dos pais e irmão e treinou a leitura com afinco, antes de viajar para Brasília para competir.
Na volta, trouxe na bagagem memórias inesquecíveis, novos amigos, fotos, e para a alegria de todos que o ajudaram e acreditaram em seu potencial, ele trouxe a medalha de primeiro lugar no concurso nacional:
“Fiquei muito contente e me esforcei para ir competir. Viajei para Brasília sem minha família, conheci outras pessoas com Síndrome de Down em legais e passei pela capital federal. E trouxe para o Maranhão a medalha de primeiro lugar”, conta sorridente o vitorioso João.
Na competição, ele foi avaliado pela produção de massas doces e salgadas, como pães, bolos e biscoitos. O professor Elias, da APAE de São Luís, que indicou o João para realizar o curso técnico sempre botou fé no aluno: “Ele tinha o perfil, sempre foi muito concentrado. A disciplina o ajudou muito nesta conquista, o João era muito dedicado”.
A história desse maranhense mostra que, quando aceita, amada e apoiada pela família, a pessoa com síndrome de down é capaz de aprender, se divertir, estudar e na maioria dos casos, até trabalhar. Poderá ler e escrever, deverá ir à escola como qualquer outra criança e levar uma vida autônoma. Em resumo, poderá ocupar um lugar próprio e digno na sociedade, assim como o João Antônio está fazendo.
Devido à pandemia, ele agora está mais em casa, mas vive reclamando da saudade que sente de frequentar a sede da APAE de São Luís, onde faz cursos e pratica futsal. Super sociável e amoroso, João conquista a todos que o conhecem. Até já teve uma experiência profissional como contratado de uma loja, por algum tempo. Em casa, a família não dá folga e ele entra também no rodízio das tarefas domésticas, e ajuda a lavar louça entre outros afazeres.
E com um padeiro de mão cheia como esse em casa, o pai Elton gosta de fazer pão com o João, que sabe muitas receitas já memorizadas dos tempos da competição. Feliz e amado, o jovem João Antônio vai conquistando aos poucos espaços importantes de autonomia, e graças à família que nunca o discriminou e luta pela sua inclusão, ele tem uma vida digna.
“Desde que ele nasceu eu nunca o rejeitei, lógico que no início fiquei assustada por não saber lidar com a situação. Mas com a ajuda dos médicos e profissionais da APAE de São Luís fizemos tudo o que fosse melhor para ele. Hoje posso dizer que sinto muito orgulho conquistas do João, e agradeço por ele ser um filho tão meigo, carinhoso, honesto e puro. Ele tem um coração de ouro e foi uma verdadeira benção de Deus para nossa família. Tivemos muitas dificuldades sim, e enfrentamos discriminações, mas João é acima de tudo uma alegria para a nossa família. Não saberíamos viver sem ele”, declara emocionada dona Sônia, a mãe do João.
Nesse Dia Internacional da Síndrome de Down, data celebrada desde o ano 2006 em 21 de março, desejamos que mais pessoas com síndrome de down também possam ter garantidos respeito, dignidade e inclusão.