Atualmente, menos de 10% da população brasileira é fumante. Redução reflete eficiência das campanhas de conscientização e busca por melhor qualidade de vida
O Ministério da Saúde aponta que, nos últimos 13 anos, houve uma redução de quase 40% no consumo de tabaco no Brasil. Atualmente, menos de 10% da população brasileira afirma ter o hábito de fumar. Segundo a mestre em Saúde Coletiva Roumayne Medeiros, professora de Enfermagem da Estácio, os dados refletem não só uma mudança no estilo de vida das pessoas, com a busca por uma melhor qualidade de vida, mas também é uma conquista do setor de saúde no combate ao tabagismo.
“Há vários anos, inúmeras ações têm sido desenvolvidas pela Política Nacional de Controle do Tabaco, desde medidas preventivas e de conscientização até o próprio tratamento que é oferecido gratuitamente pelo SUS para quem deseja abolir o hábito de fumar de sua vida. Tudo isso, de fato, contribuiu para a queda no número de fumantes, o que deve ser comemorado”, afirma.
O acesso mais fácil às informações sobre os riscos e doenças que o tabaco podem causar também tem contribuído para a mudança do comportamento das pessoas de todas as idades. “As consequências do tabagismo vão muito além do câncer de pulmão. Diversos outros tipos de câncer também podem ser desenvolvidos por causa do hábito de fumar, como o de esôfago, laringe, estômago, pâncreas, leucemia, etc. Além disso, são comuns em fumantes as doenças do aparelho respiratório, como bronquite, enfisema pulmonar, asma, entre outras”, destaca Roumayne.
Tabagismo na pandemia
Apesar da redução, foi durante a pandemia que muitos brasileiros passaram a fumar mais. É o que aponta uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), segundo o estudo, durante a pandemia, cresceu a quantidade de cigarros consumidos por quem se mantém fumante. Sendo que 30% dos homens e 38% das mulheres fumantes afirmaram consumir dez cigarros a mais por dia, desde o início da pandemia.
De acordo com a médica clínica geral da rede Hapvida, Dra. Priscila Vidigal, o período da pandemia e todas as incertezas e pressões que chegaram junto com ele favoreceu o aumento do número de fumantes no país. “O ato de fumar está associado à sensação de prazer, relaxamento e segurança para alguns, dentre outros aspectos. Por isso, para muitos, o cigarro é considerado como uma válvula de escape, usado quando se está com medo, apreensivo ou vários outros sentimentos, como a própria pandemia. O problema é que ao mesmo tempo que a pessoa fumante se sente aliviada, ele está prejudicando todo o seu organismo. Afinal, a cada tragada, o fumante inala em torno de 4.720 substancias tóxicas, entre elas, monóxido de carbono, acetonas, amônia, aldeídos, formaldeídos. Além de 43 substâncias cancerígenas como cádmio, chumbo, níquel, substâncias radioativas, resíduos agrotóxicos, entre outros”, enfatiza Priscila.
Problemas cardiovasculares também figuram entre as consequências mais sérias. Fumantes possuem até três vezes mais chances de sofrerem infartos do miocárdio. “A hipertensão pode ser outra consequência do tabagismo, assim como a úlcera do aparelho digestivo, catarata, impotência sexual no homem, infertilidade na mulher podem estar relacionadas ao uso contínuo do tabaco”, completa a docente.
Além dos sérios riscos para a saúde, fumar afeta, também, a estética. Envelhecimento precoce, amarelamento dos dentes e dedos e perda do brilho e força dos cabelos são apenas alguns dos efeitos. Sobre o tratamento contra o tabagismo, Roumayne Medeiros afirma que este deve ser multidisciplinar, com base no auxílio psicológico e médico, de acordo com a necessidade do paciente.
Apoio familiar
Outro fator que deve ser lembrado, quando o assunto se trata do Combate ao Fumo, é a atuação de familiares e amigos como rede de apoio ao fumante que decide enfrentar o processo de desintoxicação. “É importantíssimo contar com uma rede de apoio, até porque o tabagismo é uma dependência química que envolve aspectos orgânicos, mas também emocionais e psicológicos que são muito difíceis de serem superados”, enfatiza a Dra. Priscila Vidigal.