15 de abril de 2020
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Nos próximos dias,
cientistas brasileiros vão iniciar os testes clínicos com um
medicamento que apresentou 94% de eficácia em ensaios in vitro na
redução da carga viral em células infectadas pelo novo
coronavírus. De acordo com o ministro da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações (MCTIC), Marcos Pontes, os testes serão
feitos em 500 pacientes internados com covid-19, em sete hospitais do
país: cinco no Rio de Janeiro, um em São Paulo e um em Brasília.
O nome do
medicamento só será divulgado após o fim do protocolo de pesquisa
clínica, até que seja demonstrada a sua eficácia e segurança em
pacientes, “para evitar uma correria em torno do medicamento”.
Mas, de acordo com Pontes, é um remédio de baixo custo, bem
tolerado e disponível inclusive em formulações pediátricas. “Por
que isso é importante? Ele tem uma vantagem muito grande, tem pouco
efeito colateral e pode ser empregado numa grande faixa da
população”, explicou.
O ministro destacou
a importância e o trabalho da ciência brasileira na busca por
soluções contra a pandemia de covid-19. “Nós estamos falando de
ciência feita no Brasil, uma ciência respeitada em todo o mundo. Os
nossos cientistas são muito responsáveis, não só pelo
conhecimento, mas pela atitude, esse pessoal tem trabalhado dia e
noite. Muitos são bolsistas e estamos conseguindo resultados por
meio do trabalho desses pesquisadores”, disse o ministro. “Espero
que vocês como brasileiros também tenham orgulho desses
cientistas”, ressaltou.
Replicação viral
Foram realizados
testes com 2 mil medicamentos que já são comercializados em
farmácias para verificar se existe algum capaz de se ligar ao vírus
e de bloquear a replicação viral. A estratégia, chamada de
reposicionamento de fármacos, foi adotada por cientistas do
Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), em Campinas, que
integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM),
organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Ao final, os
pesquisadores identificaram seis moléculas promissoras que seguiram
para teste in vitro com células infectadas com o novo coronavírus.
Desses seis remédios pesquisados, os cientistas do CNPEM descobriram
que dois reduziram significativamente a replicação do vírus. O
remédio mais promissor apresentou 94% de eficácia em ensaios com as
células infectadas.
O protocolo de
ensaios clínicos foi aprovado nesta terça-feira (14) pela Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa. O medicamento será ministrado por
cinco dias nos pacientes e mais nove serão necessários para
observação. Serão incluídos no estudo pessoas que chegarem aos
hospitais com pneumonia e sintomas de covid-19: febre, tosse seca e
as características da tomografia com vidro fosco.
O grupo de testagem
será amplo, com qualquer pessoa maior de 18 anos, mas não para os
casos muito graves. O paciente deverá assinar um termo de
consentimento para participar do protocolo, que consiste na
administração aleatória do medicamento ou de placebo. A
expectativa é que o estudo seja concluído em quatro semanas. “Isso
é feito de forma extremamente científica, usando todo o formalismo
científico, para que a gente não tenha dúvidas”, destacou o
ministro.
O desenvolvimento do
estudo no LNBio ocorre no âmbito da Rede Vírus do MCTIC,
responsável pela articulação dos laboratórios de pesquisa e
especialistas na continuidade dos estudos com pessoas infectadas pelo
novo coronavírus.
Testes e vacinas
O ministro também
apresentou hoje o resultado do trabalho do CTVacinas, da Universidade
Federal de Minas Gerais, que também por meio da Rede Vírus,
desenvolveu um reagente nacional que tem a mesma performance de
reagentes importados para testes diagnósticos de covid-19. “Isso
dá autonomia para o país e a possibilidade de aumentar a produção
para os tipos de teste que estão sendo feitos no Brasil”, explicou
Pontes.
Outra pesquisa
apresentada pelo ministro é o desenvolvimento de um teste para
detecção do novo coronavírus que não precisa de reagente químico.
“É um equipamento que faz reação com laser a partir da saliva da
pessoa que está sendo testado”, explicou. O processamento do
diagnóstico é feito por meio de inteligência artificial e o
resultado fica pronto em menos de 1 minuto.
O sensor está sendo
desenvolvido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em
Teranóstica e Nanobiotecnologia (INCT TeraNano), da Universidade
Federal de Uberlândia, em Minas Gerais. De acordo com Pontes, com a
informatização das unidades de saúde, em 20 dias, será possível
colocar um número considerável dessas máquinas no país, cerca de
mil máquinas capazes de fazer até 500 testes por dia.
“Imaginando que tudo isso funcione [o remédio e os testes], em meados de maio teremos ferramentas muito efetivas para combater essa pandemia no Brasil e resolver todos esses problemas”, disse o ministro.
Fonte: Agência Brasil