No dia 8 de setembro São Luís comemora 407 anos. Fundada por franceses, a capital dos Azulejos teve sua formação econômica influenciada pelos portugueses, no século XIX, com o fluxo comercial centralizado na Praia Grande, traço que deixou marcas na arquitetura, padrão urbanístico e modo de empreender.
Em quase meio século, a cidade cresceu, ganhou novas fronteiras urbanas e abriga mais de 1 milhão e 100 mil habitantes (IBGE, 2018), com uma economia fortemente ancorada nas micro e pequenas empresas e na força dos empreendedores individuais.
Segundo dados da Junta Comercial do Estado do Maranhão – Jucema – os pequenos negócios (micro e pequenas empresas e empreendedores individuais) representam mais de 95% dos negócios formais existentes na capital, de um total de quase 93 mil empresas ativas. Nesse conjunto, são quase 40 mil micro empresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) que, juntas, impulsionam o PIB da capital, que somou cerca de R$ 26,8 bilhões em 2018, segundo dados do IBGE.
Entre os microempreendedores individuais, São Luís, em agosto de 2018, já contava com 34.545, o que corresponde a cerca de 32% do total de MEI’s registrados no Maranhão, que somam 103.800 empreendimentos.
LEI GERAL
Embora a lei complementar 123/93 – a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas – tenha regulamentado o tratamento favorecido, simplificado e diferenciado aos pequenos negócios, conforme prevê a Constituição de 1988, na prática, eles ainda demandam apoio e ambiente favorável para crescer.
Consolidada como instrumento destinado a estimular o desenvolvimento e a competitividade dos pequenos negócios, como estratégia de geração de emprego, distribuição de renda, inclusão social, redução da informalidade e fortalecimento da economia, a Lei Geral ganhou correspondentes estaduais e nos municípios. Todos os 27 estados aderiram a esse instrumento, criando leis específicas e, no Maranhão, 159 municípios já contam com suas leis municipais.
Sobreviver é o grande desafio. Mesmo com esse suporte, a sobrevivência dos pequenos negócios continua desafiadora. Entre 2010 e 2014, a taxa de sobrevivência das empresas com até dois anos passou de 54% para 77%. Em boa parte, essa melhoria se deve à ampliação do número de MEI’s e ações pontuais em cada estado e nos municípios. Superar essa condição tem mobilizado instituições e as próprias empresas.
No plano estadual e no município de São Luís, por exemplo, tem contribuído ações de instituições como o Sebrae no fortalecimento da gestão e para elevação da competitividade desses negócios; da prefeitura de São Luís (com a Lei Geral Municipal, a criação da Sala do Empreendedor, no bairro do Anjo da Guarda, e a instalação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social de São. Luis – Comdes – dentre outras); do governo do estado (com o programa Empresa Fácil e a Redesim, executados pela Junta Comercial; com a criação da subsecretaria da Micro e Pequena Empresa, no âmbito da Secretaria de Indústria, Comércio e Energia do Maranhão (Seinc); com a adesão do estado à Lei Geral em 2011 e a recente atualização na tabela de enquadramento do Simples, e outros instrumentos legais, como a lei que instituiu o Código de Licitações e Contratos do Estado do Maranhão; a criação do Fórum Permanente das Micro e Pequenas Empresas dentre outras ações.
Segundo a empresária e secretária Adjunta da Micro e da Pequena Empresa, da Seinc, Luzia Rezende, dentre as ações para fortalecer os pequenos negócios estão a reativação do Fórum Permanente das MPE, que deve passar por mudanças, em ação planejada em conjunto com outras instituições, entidades e conselhos de classe, no sentido de realmente, “criar as condições necessárias para facilitar o dia a dia desses pequenos negócios”.
“Importante salientar que o Fórum contempla comitês temáticos, onde vão ser tratadas questões como aparato legal, redução da burocracia, acesso a mercado, tecnologia e inovação, acesso a crédito e investimentos, dentro do que prevê a Lei Complementar 123, nosso balizador. Nós vamos propor algumas alterações na lei de criação do Fórum, como também a Lei Geral Estadual, para aprimorar o Sistema de Compras Governamentais do estado, por exemplo”, frisou ela.
SOBREVIVER É DESAFIO PERMANENTE
Não é possível atribuir a um único fator a causa da mortalidade dos pequenos negócios. Estudos apontam uma combinação de fatores em quatro grandes áreas: a situação do empresário antes da abertura, o planejamento dos negócios, a capacitação em gestão empresarial e a gestão do negócio em si.
De acordo com a analista do Sebrae, Keila Pontes, dentre os principais entraves, de modo geral, destacam-se: ausência de planejamento (“o empreendedor inicia a empresa sem muito conhecimento do negócio e do mercado”); e deficiências na gestão financeira (nas empresas familiares, por exemplo, é muito comum misturar os recursos pessoais e os da empresa; já nas empresas consolidadas, a falta de recursos para investimentos, capacitação e inovação são decisivos como fatores de mortalidade nos primeiros anos”).
Ela também enfatiza o baixo investimento em inovação. “O empresário costuma confundir inovação com a aquisição de novos equipamentos ou informatização. Poucos (cerca de 1,6% dos pequenos negócios) investem em inovação e a maioria tende a achar que isto não é prioridade e só o farão quando estiverem em boa situação financeira, não percebendo que inovar dá lucro e pode ser um diferencial importante”, alerta a analista.
Para suprir a necessidade de uma gestão eficaz, o Sebrae disponibiliza uma série de soluções para ajudar os pequenos negócios nas várias fases de seu desenvolvimento, desde capacitação para começar bem, treinamentos para fortalecer características empreendedoras, consultorias de gestão e tecnológica desde a modelagem do negócio, ao estudo de viabilidade técnica e econômica, elaboração de planos de negócios e de identidade visual, até orientações de como se formalizar, volume de investimentos e tempo de retorno dos recursos aportados, dentre outras.
CIDADE EMPREENDEDORA
Além dos pequenos negócios, o Sebrae disponibiliza soluções específicas para os governos municipais desenvolverem um plano de gestão focado no empreendedorismo. Assim nasceu o Programa Cidade Empreendedora, que desde o mês passado tem levado a doze cidades maranhenses – em uma experiência piloto – ações integradas para preparar a gestão municipal e os pequenos negócios para um ambiente mais propício ao empreendedorismo. São Luís é uma das cidades a participarem da experiência piloto, e receberá, até 2020 um pacote de ações e soluções para um atendimento integrado de gestão abrangendo os eixos Desburocratização, Atores do Desenvolvimento, Sala do Empreendedor, Compras Públicas, Educação Empreendedora, Pesquisa e Planejamento Estratégico, Plano de Desenvolvimento Econômico e Mapeamento de Oportunidades.
“Com esse conjunto de soluções, que podem ser aplicadas nas diversas fases da vida da empresa e nas gestões públicas, o Sebrae coloca-se como parceiro desse desafio que é fazer crescer o número de empreendimentos em condições de serem bem sucedidos, inovadores e geradores de emprego e renda, em uma economia como a de São Luís, na qual esses negócios tem um papel preponderante”, avalia o diretor Superintendente do Sebrae, Albertino Leal Filho.
SEGMENTOS PROMISSORES
Apesar da crise e de dificuldades na gestão, outros segmentos aparecem como promissores na economia da capital, com oportunidades reais para os pequenos negócios.
Segmentos como comércio e serviços, base da economia de São Luís, devem continuar predominando, com forte participação da indústria da construção civil. O apoio do poder público e de instituições de fomento, a formação de redes de cooperação para inovação e a busca por capacitação para a gestão são caminhos para fortalecer os pequenos negócios, conforme avalia o economista e secretário municipal de Planeamento, José Cursino Moreira.
“A perspectiva de um ciclo de crescimento fomentado pela logística portuária (complexo do Itaqui e portos privados) e na oferta de serviços especializados de saúde podem sinalizar um conjunto de oportunidades que os empreendedores precisam estar atentos para aproveitar”, frisa o secretário.
A consultora e especialista em Franchising, Luciana Maman, aponta o mercado de franquias como um dos mais promissores. “Posso dizer que, na contramão da crise, os números do Franchising têm despontado de maneira positiva. A última pesquisa da ABF mostra um crescimento de 5,9% no segundo trimestre de 2019. Em São Luís isso não é diferente. O desemprego atrai pessoas para o empreendedorismo e quem busca um negócio já formatado e com maior chance de sucesso pensa em franquia. Pelas vantagens de trabalhar em rede e contar com o apoio e suporte de quem tem mais experiência”, explica a consultora.
Dados da ABF São Luís indicam que a capital ocupa a 13ª posição no ranking nacional, com 282 marcas e 704 unidades franqueadas, números que podem crescer ainda mais.
Entre os segmentos mais promissores, seguindo a tendência, nacional, que aponta o crescimento nas franquias de serviço, São Luís oferece oportunidades em serviços educacionais e saúde e beleza. “A região Nordeste como um todo tem grande destaque na área de saúde, beleza e bem-estar”, ressalta ela frisando como fator positivo, o fato de “que a mortalidade de uma empresa constituída como franquia é de 3% a 6% nos dois primeiros anos, enquanto que das empresas em geral são bem mais elevados”, completou a especialista.
Do ponto de vista da secretaria das MPE’s, do governo do estado, Luzia Rezende, aparecem como segmentos promissores, o artesanato, pela diversidade e singularidade; na área da gastronomia típica, pelas particularidades da culinária maranhense e negócios ligados ao turismo e à economia criativa em geral. Ela também ressalta as áreas de ciência e tecnologia com novas modelagens de negócios e o incentivo à formação de startups e o estímulo à inovação. “Estamos trabalhando para criar condições para que esses segmentos se desenvolvam e cresçam”, afirmou.
MODA PRAIA E FITNESS: NICHO PROMISSOR
De olho no potencial do mercado ludovicense, as empreendedoras Márcia Cabral e Eliane Bernardes, de Goiás e Mato Grosso, respectivamente, resolveram desafiar as adversidades e acabam de entrar no mercado, com um empreendimento inovador em todos os aspectos: desde o produto, passando conceito ao marketing.
Trata-se da Ditamar Beach Fitness, localizada no MAC Center, no bairro da Cohama, especializada em moda praia infantil, masculina e feminina e moda fitness, além de uma linha de camisetas e acessórios complementares com a coleção, que reúne produtos diferenciados, feitos sob medida para ocupar nichos não cobertos pelo mercado atual. As empreendedoras são atendidas por fornecedores terceirizados, mas participam da concepção das peças desde a ideia até a exibição na loja.
Disposta a começar bem, elas tiveram o apoio do Sebrae nos estudos de mercado e na elaboração do Plano de Negócios. A previsão é de retorno do investimento em 18 meses.
“Identificamos São Luís como um mercado promissor. Agora, com a empresa montada, dá um friozinho na barriga pensar em como fazer para que se transforme em um negócio rentável e bem sucedido, que permita projetar futura expansão. O nosso norte será sempre o plano de negócios, uma espécie de guia que vai nos ajudar nessa trilha”, explica Márcia Cabral.
DOCE CONQUISTA
Já a microempreendedora individual Lenice Azevedo, tem 27 anos e empreende desde os 18, quando criou um empreendimento social no ramo de artes – oferta de aulas de teatro e outras atividades artísticas para jovens no bairro da Cidade Operária. Um sonho, que se tornou empreendimento social, ajudando outros jovens na conquista de novos horizontes.
Aos 22, estimulada pelo tino empreendedor criou um negócio em sociedade com uma amiga. Há um ano, herdou da avó já falecida um caderno de receitas de onde veio a inspiração o caminho para empreender com a La Chocolateria, fabricando doces feitos artesanalmente – brownies, bem-casados, doces gourmet e bolos de pote.
Recentemente, percebendo oportunidades no mercado, Lenice passou a fabricar brownies e opções de doces zero lactose, trazendo um ingrediente inovador às receitas da vovó. Dentre os planos de futuro estão consolidar o negócio e continuar melhorando sempre, trabalhando de forma planejada, para crescer com segurança.
FERMENTO PARA O SUCESSO: NÃO TER MEDO DE COMEÇAR
Camila Gonzalez nunca se imaginou empreendedora. Ela, que tem formação em engenharia ambiental, trabalhou 14 anos nessa área em que também atuava o esposo.
Ambos se tornaram empreendedores “por ocasião” e necessidade, após meses tentando se recolocar no mercado depois de deixarem seus empregos.
O esposo, Douglas, já fazia pães artesanais em casa, tradição herdada das tias e da mãe. Ela, que morou na França e Suíça, também gostava experimentar novos sabores. Os dois decidiram investir nessa paixão, transformando-a numa atividade empreendedora. Da paixão, de pesquisas e da determinação de ambos, surge o negócio em torno do pão de fermentação artesanal, produto diferenciado, inovador e com benefícios para a saúde.
“Como fazer isso, se não nos enxergávamos como empreendedores? Víamos o potencial, mas não víamos como trilhar o caminho. Como vamos viver de um pão que leva 40 horas para ser produzido? Não enxergava esse negócio em números. Fomos, então, buscar ajuda e orientação, junto ao Sebrae. Não recebi atendimento, mas acolhimento. Fizemos o Começar Bem e buscamos conhecimento sobre a gestão, fizemos o plano de negócios e delineamos nosso público, canais para atingir esse público e a importância de planejar o negócio desde o começo”, explica Camila.
“Também procuramos aprimoramento sobre a fabricação de pães artesanais, estudamos fizemos estágio em padarias de pães artesanais, procuramos conhecer equipamentos e orientações sobre manipulação de alimentos, estoque, como escolher os produtos e fornecedores, buscamos rede de contatos para trocar experiências e buscar ideias novas”, completa.
Em um ano, a Levain (instalada no bairro do Renascença), virou case de inovação em panificação, oferecendo opções de pães, queijos de fazenda, cafés, geleias naturais, manteiga com mel (de fabricação própria), apostando em qualidade no atendimento e novos produtos. Nesse tempo, a Levain, que iniciou como MEI, evoluiu para o patamar de microempresa e já pode projetar novos saltos de crescimento. “Uma conquista que, nos nossos planos, seria mais pra frente”, conclui.