Há exatos dois anos, a imprensa do Maranhão, em particular o jornal O Estado, foi atingida por um fato brutal: o assassinato do jornalista Décio Sá, um dos profissionais mais destacados da sua geração e que, com coragem pessoal e competência profissional, alterou alguns parâmetros do fazer jornalístico, principalmente no segmento internet, como blogueiro. Décio Sá foi executado por um assassino de aluguel, contratado por chefões de uma máfia movida a agiotagem e extorsão e com atuação na seara dos municípios. Um crime hediondo, pela sua natureza cruel e covarde.
Não há como definir o sentimento que assolou corações e mentes de jornalistas na noite do dia 23 de maio de 2012. No final de uma jornada de mais um dia de trabalho duro e comprometido com a apuração e a divulgação de boas informações, Décio Sá deixou a Redação de O Estado pouco depois das 21h. Deslocou-se para o restaurante Estrela do Mar, que costumava freqüentar, onde chegou, acomodou-se, fez um pedido e, como sempre agia, usou o telefone – um dos números mais cobiçados e chamados por políticos, dirigentes públicos de todos os escalões, empresários, jornalistas, enfim, um amplo universo gerador e consumidor de informação.
Momentos depois, o pistoleiro Jhonatan de Sousa Silva desceu da garupa de uma moto, entrou no restaurante e, com a frieza dos facínoras, o executou a tiros de pistola na cabeça, sem dar-lhe tempo de sequer esboçar uma reação. E como fazem os covardes fugiu em seguida. A notícia do assassinato de Décio Sá acordou o Maranhão e o Brasil, que já dormiam tal o impacto causado pela perda de um homem de imprensa da sua estatura. As reações foram da perplexidade à indignação. A notícia ganhou o país e o mundo levando os mesmos sentimentos, porque é absurdo que um garimpeiro de informações do quilate do repórter de O Estado tivesse sido executado a tiros. Décio Sé se encontrava gozando de plena juventude, construindo uma família e consolidando cada vez mais, a cada dia, uma trajetória profissional que muitas contribuições ainda teria a dar ao jornalismo maranhense. Mais do que um crime, seu assassinato foi uma injustiça covarde.
Mas as verdades que publicara acerca da agiotagem que vinha extorquindo impunemente municípios pobres, reduzindo drasticamente os já minguados recursos destinados principalmente a educação, por serem escandalosas e inaceitáveis, causaram a ira dos bandidos, que decidiram sentenciá-lo à morte. Com a decisão, os canalhas pretenderam calá-lo e espalhar o medo na imprensa e a incerteza na sociedade. Executaram o plano torpe e brutal, mas erraram no segundo objetivo, porque a imprensa não se intimidou nem a Polícia cruzou os braços. Em pouco tempo assassino, mandantes e comparsas estavam atrás das grades.
Muitas maquinações e chicanas judiciais foram tentadas para livrar a pele do assassino, proteger mandantes e comparsas da mão pesada da Justiça, mas não funcionou. O executor e seu apoio já foram julgados e condenados. Os demais tentam de todas as maneiras fugir do júri popular, mas pelo visto não conseguirão. Nos próximos dias, a desembargadora Ângela Salazar deve se pronunciar sobre os vários recursos dos bandidos e tudo indica que ela confirmará o pedido do Ministério Público no sentido de que todos eles sentarão no banco dos réus e responderão por seu crime. Os familiares, os amigos, os jornalistas e a sociedade como um todo esperam que esse seja o rumo do caso.
De resto, permanece a lembrança do colega brincalhão e zoadento, que agitava a Redação com alegres provocações sobre política e futebol, sempre que adentrava nos finais de tarde; se mantém a imagem do profissional correto e eficiente, referência entre os colegas; alimenta-se a lembrança do blogueiro bem informado e destemido, que contribuiu decisivamente para valorizar esse canal da internet; aumenta, enfim, a certeza de que sua morte consolidou a realidade segundo a qual, por mais selvagem que tenha sido, o crime não será páreo para uma imprensa livre e comprometida com a verdade.
Editorial publicado nesta quarta-feira em O Estado do Maranhão.