Testemunhei vários momentos políticos que marcaram a história do Brasil nos últimos 30 anos e estou emocionado com os protestos no país em que o povo passou a “cobrar” do Governo problemas como “corrupção e omissão”.
Sinceramente não esperava que algo com tamanha proporção ocorreria no Brasil após a queda do então presidente Fernando Collor, que renunciou depois que milhares de pessoas saíram às ruas para pressioná-lo por conta de um escândalo de corrupção. Participei de eventos com estudantes e professores universitários. Fui um “cara pintada” com muito orgulho. Achei que depois da renúncia do Collor isso não voltaria a ocorrer no país.
As pessoas que estão nas ruas sabem muito bem o que necessitamos. Na verdade, sabemos há séculos. A exploração, a corrupção e a omissão… tudo segue igual desde que estas terras foram ocupadas pelos portugueses. Não é novidade para ninguém. Só que agora ocorreu o que os políticos não esperavam: o povo está passando da conta e, mais importante, vai cobrar caro por isso.
As manifestações contra os aumentos das tarifas no transporte público em todo o país ganharam novas reivindicações, como melhorias na saúde e na educação, e críticas à corrupção e aos altos custos para realizar a Copa do Mundo de 2014.
Agora, o que está passando da conta é estes atos de vandalismo. Na minha época não existia. Até porque só participava do evento pessoas com visão critica e política, coisa que não ocorre nestes protestos. E máximo de irreverência eram as “caras pintadas” e as roupas de preto contrariando o pedido do então presidente Collor para vestirmos “verde e amarelo”.
Fico decepcionado ao ver jovens participando desse movimento com cartazes irônicos do tipo: “não gosto de bala de borracha, prefiro dementa” ou “spray de pimenta é tempo para baiano”, que demonstra que para eles aqui tudo não passa de brincadeira, enquanto,que na verdade é algo muito importante para o Brasil.
É claro que não vou ser hipócrita em condenar essa forma diferente de protestar, pois o brasileiro é o único povo do mundo que consegue fazer piada com as suas próprias mazelas, mostrando que apesar da corrupção e serviços público de péssima qualidade, ainda consegue sorrir.
O que não aprovo é essa onda de vandalismo e não adianta me dizer que quem promove os quebra-quebras são marginais de carteirinha. Aqueles com várias passagens na polícia por crimes graves, porque estes não têm “consciência social”.
Comparo estas pessoas que estão promovendo estes atos vandalismo aos torcedores sem educação que frenquentam estádios de futebol, pois numa fração de segundo um estudante, um médico, um advogado entre outros pode se tornar um vândalo.
É só elmbrar o caso do torcedor é Kevin Beltrán Espada, de apenas 14 anos, natural da cidade boliviana de Cochabamba. Pelo menos dez torcedores do Corinthians (havia mais de 500 no estádio) foram detidos por causa do incidente.
Há quem considere que quem solta um rojão no estádio não quer matar ninguém, só quer fazer barulho. Entretanto da mesma forma que uma pessoa que ingere bebida alcoólica e sai dirigindo não pretende matar ninguém, quem leva morteiro, sinalizador, ou qualquer artefato com poder letal a um estádio, a princípio também não quer matar ninguém.
Acredito que o imbecil que disparou o sinalizador não tinha a intenção de cometer a tragédia, mas isso não diminui sua culpa. Ele tinha perfeita consciência que fogos de artifício são artigos proibidos. Não é admissível classificar o que aconteceu como fatalidade ou acidente. O que ocorreu Estádio Jesús Bermúdez é semelhante ao caso da Boite Kiss, em Caxias do Sul, quando mais de 300 pessoas morreram por irresponsabilidade de um músico.
Desta forma é muito difícil definir quem é baderneiro ou não, pois uma linha tênue separa um cidadão de bem de um vândalo. O mais correto é levar paz para as ruas e humor como muitos tem feito…