Feriadão

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Neste próximo feriado, enquanto os candidatos a prefeito de São Luís não resolvem os graves problemas da malha viária da cidade, fugirei dos engarrafamentos e vou experimentar outros meios de transporte bem mais agradáveis.

Nos verdes campos de Pinheiro podemos utilizar das largas avenidas, desprovidas de barreiras eletrônicas e de guardas de trânsito, sem sinais e emolduradas pelo manto dourado das flores do “mata pasto” natural.

 

 

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Mesmo se não quisermos fazer uso do transporte solidário, podemos utilizar o veículo individual sem agressão à camada de ozônio…

 

 

 

 

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O transporte coletivo, livre de motoristas mal humorados e mesmo sem ar condicionado, é dos mais saudáveis…

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O táxi é bem mais em conta…

Mais ainda, se ficar um pouco estressado, relaxe. Mesmo se não der para gozar busque refúgio nas margens do Pericumã enquanto aguarda que os peixes encontrem o alimento procurado na ponta de seu anzol….

E, se beber, não dirija!

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PS. As fotos são de Edgar Rocha

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Dança de Salão

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napotango.gifMuitos hábitos e costumes, entre eles a dança de Salão, foram introduzidos ao povo brasileiro pela família Real quando de sua chegada ao Rio de Janeiro no século XIX.

Bastante popular na Europa, praticada desde o século XV, a dança de Salão foi, aos poucos, caindo no gosto popular. Permanece até hoje, para o encanto daqueles que se deixam levar pela melodia da música e pelos gestos e posturas do corpo.

O tempo passa e, no Rio de Janeiro, as gafieiras Elite e Estudantina perpassam gerações, para o deleite de muitos. Aqui em São Luís, mais recentemente, verificou-se o surgimento de diversas Academias de Dança, destacando-se a escola de dança Corpo e Alma, tendo à sua frente Idelfonso e Larissa que deslizam nas pistas do salão tal qual uma pluma flutua ao sabor dos ventos.

O Studio de dança Play Carlos, a Escola de Dança Expressar, entre tantas, estão sempre lotadas de alunos em busca do equilíbrio do corpo, embalados pelos mais diferentes ritmos musicais. Uma verdadeira epidemia!

A febre tem contagiado muitos. Inclusive a mim mesmo que até então me considerava um “pé de valsa” nato. Mesmo acreditando que não precisaria de aulas, não resisti aos apelos da minha mulher Beth e decidi matricular-me numa escola. Que decepção! Logo cedo, tive que me recolher a minha modesta insignificância. Fui me socorrer com o filósofo Sócrates que dizia que o primeiro passo para o crescimento é reconhecer a própria ignorância. “Só sei que nada sei…” No caso em questão, comprovei que só sei que nada danço!

Este assunto me faz lembrar de uma estória contada pelo meu pai Orlico que, quando jovem, trabalhava em Pinheiro com o português Albino Paiva.

Símbolo do poder econômico que ele representava naquela época, Albino Paiva decidiu construir o sobradão colonial da Avenida Paulo Ramos, onde havia destinado o piso térreo às suas atividades econômicas e o pavilhão superior, dotado de um enorme terraço com vista para os campos do Pericumã, como morada da família.

Tinha o hábito de calçar “socos”, aqueles tamancos de madeira que no interior do estado eram muito conhecidos como chamatós. Sabia andar de mansinho como ninguém, sem sequer fazer ruído algum.

Certo dia estava ele a inspecionar o trabalho de assentamento do assoalho de madeira do piso superior do sobrado, quando, depois de subir a longa escada de concreto, dobrou a direita e presenciou uma cena que não quis interromper. Era o carpinteiro, um negrinho chamado Bico D’aço, que na folga do almoço, dançava sozinho, ao som de seu próprio assobio, segurando o cabo da enxó como se fosse a cintura da mulher amada. Apoiando a ferramenta no rosto, ele imaginava a face da musa de seus sonhos. Bico D’aço deslizava pelo assoalho quase pronto, absorto na música e concentrado na sua própria imaginação. Albino Paiva apenas observou o trabalho bem feito no assoalho e decidiu retornar ao comércio.

Chegando o sábado, lá estavam todos os trabalhadores fazendo fila para receber o soldo. Um a um, as contas iam sendo feitas, até que chegou a vez do Bico D’aço.

Passando a saliva na ponta dos dedos, o português Albino contou o dinheiro e lhe entregou.

Este, ao contar, verificou que estava faltando uma parcela e reclamou.

Albino Paiva, com aquele sotaque lusitano carregado, retrucou:

– Podes contar que a conta está certa, rapaz!

– Mas Seu Albino, são seis dias de trabalho!  E está faltando 25 réis.

Ao que o Albino Paiva respondeu:

– Então, crioulo! Tu queres dançar no meu assoalho novo e não queres pagar a “porta” do baile?!? 

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Contribuição de um leitor sobre o conto do bafômetro…

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O bafômetro

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bafometro1.jpgDesde o dia 19 de junho deste ano, a Lei Seca impõe ao motorista que for pego dirigindo com mais de 2 decigramas de álcool por litro de sangue a pena de pagar uma multa de R$ 955,00 de perder o direito de dirigir por um ano, além de incorrer em infração gravíssima, acrescentando sete pontos em sua carteira.

Mesmo sendo uma das leis mais rígidas, em outros Países, a multa chega a valores bem superiores e ainda submete o motorista à pena de reclusão. Em suma, dói no bolso e na alma! É cana certa por muito tempo.

Se por um lado, dói na alma de uns, por outro, preserva tantas outras.

Em São Paulo, o Instituto Médico Legal afirma que já verificou queda no número de mortos em acidente de trânsito depois do início da lei. A redução foi de 63% nas três semanas após sua sanção, em comparação com as três semanas anteriores.

Mesmo considerando muito prematuro para tirar conclusões a respeito, podem-se esperar resultados bastante positivos quanto aos acidentes de trânsito.

Apenas mais um dado para reflexão: Há um ano atrás, eu havia escrito, em um artigo, que “[…] segundo os registros da Cemar, somente nos primeiros meses deste ano [2007], de janeiro a final de maio, 164 postes foram abatidos, sem pena, por motoristas em sua grande maioria alcoolizados. Os mais sortudos conseguem sair ilesos do acidente e contribuem, apenas, para tirar o conforto das pessoas que nada têm a ver com a sua (dele) imprudência, acordadas no meio da noite com a falta de energia causada pela ação desses motoristas inconseqüentes”.

Comparando a quantidade de postes abalroados nos últimos 30 dias, com igual período do ano anterior, pode-se verificar que aqui em São Luís, pelo menos sob esse aspecto, o feito da Lei Seca foi positivo. Afinal, houve uma redução de 34%.

Se os tempos são outros, o gosto pela pinga parece ser o mesmo.

Nos idos da década de 60, no município de Vitória do Mearim no Maranhão, “Lefó”, mais conhecido como “cobra de laboratório” por viver conservado sempre no álcool, era um daqueles pinguços diaristas.

Dona Josefa, sua mãe, inconformada com os hábitos e costumes do filho, havia tentado de tudo: Alcoólicos Anônimos, promessas para o São Arnold, o protetor dos cachaceiros (um beneditino belga do século XI que estimulava os fiéis a trocarem água por cerveja) e até reza forte ela tentou. Em vão. Lefó não se desgrudava da pinga.

Decidiu ela, então, procurar o consultório do médico da cidade para pedir ajuda para o problema de Lefó.

Doutor Osmir, percebendo a angústia de dona Josefa, disse a ela que levasse Lefó até o seu consultório no dia seguinte.
Depois de muito esforço, Dona Josefa conseguiu convencer o filho a acompanhá-la até o médico.

Ao chegar bem cedo ao consultório e se lembrando do paciente que iria atender, doutor Osmir solicitou à sua secretária que comprasse, na quitanda ao lado, um ovo e o pintasse na cor preta, colocando-o em seguida dentro de um copo de cachaça.

Ao ser anunciada a presença de Dona Josefa com o filho, o médico levantou-se e abriu a porta para recebê-los.

Ao entrar no consultório, Lefó logo sentiu o cheiro da branquinha, porém espantou-se com a presença de um ovo preto, dentro do copo de cachaça, em cima da mesa do doutor.

Doutor Osmir, percebendo que Lefó estava curioso, apontou para o copo e disse-lhe:

– Lefó, tu estás vendo o que aconteceu com esse ovo que está dentro desse copo de cachaça?

– Doutor Osmir! Exclamou Lefó. – Prometo que a partir de hoje, eu nunca mais como ovo na minha vida!

Ainda bem que o Lefó não tinha carro e nem dirigia naquele tempo…

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Eleitor pidão

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chargecandidato2.jpgNas regiões mais pobres do País, e no Interior do Maranhão em especial, o período das eleições é mais aguardado do que chuva no sertão.

Tempos atrás, as campanhas eleitorais começavam com um ano de antecedência e, no ano da eleição, o carnaval era o tiro de largada para a grande batalha. A batalha pelo voto.

Como dizia o poeta Jessiê Quirino lá na Paraíba, depois de juntar grana, chegava a hora de o candidato começar a juntar eleitor… E o eleitor, percebendo que só é valorizado de quatro em quatro anos, aproveita o momento para barganhar junto aos candidatos, tentando extrair deles todo o tipo de benefício.

Há eleitores “profissionais” que são conhecidos por freqüentarem os comitês de todos os candidatos em busca de qualquer ajuda. Prometem voto para todos e, às vezes, nem título de eleitor eles têm!

Outros, pelo hábito de pedir e pelo fato de ter sido declarada oficialmente aberta a temporada de caça ao voto, não dispensam ninguém para fazer o seu pedido.

Em Pinheiro, Levi Leite é uma pessoa muito conhecida na cidade por ter sido um grande craque do futebol da década de 50, artista na condução da bola, possuidor de um chute forte e certeiro e mestre nas cobranças de faltas. Foi ídolo da Tuna Luso de Belém e do Moto Clube de São Luís.

Embora tenha sido vice-prefeito da cidade, abandonou a carreira política. Nunca mais se meteu em eleições. No entanto, carrega consigo uma sabedoria ímpar para se livrar dos pedidos indesejáveis.

Há mais de 40 anos, Levi está à frente do armarinho “Casa das Linhas”, na Praça José Sarney, ponto de passagem e parada obrigatória de todos.

Dias atrás estava eu em Pinheiro e, visitando meu tio Levi, presenciei uma cena bem curiosa. Estávamos em pé, conversando no meio da loja, quando, de mansinho, aproximou-se um rapaz dirigindo-se ao meu tio:

– Seu Levi, eu queria ter uma conversinha particular com o senhor.

Levi, percebendo se tratar de alguma facada, respondeu:

– Pode falar aqui mesmo, que o Zé Jorge é de casa… Ele é meu sobrinho.

Mesmo a contragosto o rapaz continuou: – É que eu queria pro senhor me dar uma ajuda pra uma festa.

Levi franziu a cara e de pronto cortou a conversa: – Ah! Dinheiro para festa eu não dou!

– Não, seu Levi. O senhor não entendeu… É uma festa religiosa da Igreja evangélica…

Levi retrucou: – Meu filho, eu já li a bíblia inúmeras vezes de cabo a rabo, de frente pra traz e de traz pra frente e nunca vi Jesus Cristo fazendo festa… Só faz festa quem tem dinheiro!

Desolado e sem argumento, o rapaz deve ter partido em busca de algum candidato, enquanto eu relembrava ao meu tio outro episódio, também por ele protagonizado.

Na década de 60, nesse mesmo salão do armarinho, quando da chegada em Pinheiro da primeira agência do Banco do Brasil, certo dia apareceu alguém pedindo um dinheiro emprestado ao Levi para realizar um “negócio da China”. Iriam todos ficar ricos!

Levi, não conversou muito e respondeu: – Ah! Meu amigo, se tu tivesses passado um pouquinho antes, eu te arranjava o dinheiro, mas é que acabei de fazer um acordo com Sr. Wilson, o gerente do Banco do Brasil. No nosso acordo, o Banco não vai poder vender novelo de linha e, em contra partida, eu não vou poder emprestar dinheiro…

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O Azarão

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Em tempos mais distantes, a palavra azarão era largamente utilizada no jargão do turfe.

De todos os Grandes Prêmios realizados nos diversos hipódromos brasileiros, o Grande Prêmio Brasil, realizado no mês de agosto, tornou-se a prova de maior expressão do turfe nacional, além de ser conhecida mundialmente.

No hipódromo da Gávea, os grandes prêmios do Jockey Club do Brasil atraíam verdadeiras multidões. A alta classe social abarrotava as arquibancadas e as mulheres elegantes aproveitavam a oportunidade para desfilar os seus elegantes chapéus londrinos. Homens e mulheres do high society desfilavam suas roupas mais elegantes e a grande maioria aproveitava para fazer uma “fezinha” desde que foi instituído o Sweepstake, a famosa loteria, que tanto sucesso havia alcançado na Europa.

A imprensa especializada sempre destacava os prováveis vencedores, assim como selecionava alguns, que, devido ao baixo rendimento nos treinos e ao histórico de participações anteriores, tinham remotas chances de vencer o páreo. Esses cavalos eram classificados como azarão. Quem apostasse, portanto, no azarão teria grandes chances de multiplicar suas apostas e ganhar uma fortuna.

Nos dias de hoje, azarão é aquele que azara. O dicionário Aurélio define azarar como sendo o mesmo que cortejar, paquerar.

Por falar em “azaração”, lembro-me de um episódio ocorrido em Pinheiro, com um parente meu chamado Deusdedit Leite. Tabelião do Cartório de Notas e Ofício, com algumas pontes de safena no coração e proibido de fumar pelos médicos, Deusdedit acabou por ganhar muitos quilos e armazená-los, principalmente na região do abdome, fazendo com que os botões de suas camisas teimassem sempre em sair de suas respectivas casas, destacando sua proeminente barriga.

Muito espirituoso, cheio de tiradas e sem nunca ter perdido a fama de paquerador, Deusdedit era habitué do jogo de dominó que, ainda hoje, é praticado no Posto de Táxi da Praça José Sarney em frente à Prefeitura de Pinheiro.

O local era passagem obrigatória das mocinhas que, ao término das aulas noturnas do Colégio Pinheirense, retornavam para suas casas e eram constantemente objeto de galanteios e gracejos.

Certa noite, acompanhado de seu primo, o ex-deputado Jurandy Leite, Deusdedit caminhava pela calçada da Prefeitura, no rumo de casa, quando foi ultrapassado por um grupo de moiçolas, destacando-se, dentre elas, uma moreninha de saia curta e pernas roliças. Toda desinibida, ela “tomou gosto” com ele, passando a mão e acariciando aquela proeminente barriga:

– E aí, seu Deusdedit! Quando é que vai nascer o neném?

Ao que ele, de pronto e sem perder a pose, respondeu:

– Quando vai nascer eu não sei, mas que ele já está com o bracinho de fora isso eu tenho certeza…

E Jurandy, que o acompanhava de perto, acrescentou:

–  E a julgar pelo tamanho do braço, deve ser um meninão!!!

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Os verdes campos de Pinheiro

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Os verdes campos da bacia do Pericumã são um espetáculo de rara beleza. Nesta época do ano, com as chuvas que deságuam em suas cabeceiras, o rio transborda e um mar de água doce surge confinado entre as terras de Pinheiro e dos municípios vizinhos.

Um milagre da natureza! É nessa bacia hidrográfica que se encontra uma vasta quantidade de peixes que se multiplicam e alimentam toda a população da região.

Tempos atrás tomei conhecimento de um experimento adotado na bacia hidrográfica de um afluente do rio Mekong, no Vietnam, onde pesquisadores realizaram estudos de repovoamento e superprodução das espécies nativas. A atividade de piscicultura foi desenvolvida com a criação de escolas para a formação de mão de obra qualificada, de laboratórios para produção de alevinos e de unidades de fabricação de proteína animal extraída da sobra do pescado.

Sempre pensei que poderíamos desenvolver algo semelhante para aproveitar as potencialidades dos campos do Pericumã.

Há tempos, venho conversando com a professora Carmem Lobato a respeito desse tema e, recentemente, tive a grata satisfação de trocar algumas palavras com o professor Weverson Scarpine, da Escola Agrotécnica Federal de Alegre no Espírito Santo, que se encontra aqui no Maranhão para desenvolver um projeto de grande amplitude, aproveitando as potencialidades da bacia hidrográfica do Pericumã.

No governo Sarney, dentre inúmeros projetos desenvolvidos para potencializar as condições de aproveitamento da águas do Pericumã,  houve a primeira tentativa de implantação de um projeto de piscicultura que, lamentavelmente, não veio a prosperar.

Sugeri ao professor Scarpine que buscasse informações científicas mais precisas a respeito da bacia e suas principais características. O professor José Policarpo da UFMA, por exemplo, é uma das mais capacitadas fontes de conhecimento acerca do tema e não deve deixar de ser ouvido a esse respeito.

Lembrei ao Scarpine que o ciclo das cheias altera não somente o nível das águas, mas, também os níveis de oxigênio e acidez, características importantes para a sobrevivência das espécies.

Sobre o regime das cheias, lembro de um fato pitoresco ocorrido no início do século passado, quando o português Albino Paiva recebeu a visita de um primo seu, de nome Manuel, vindo da Europa. Chegando em pleno verão, por ocasião das festas natalinas, conversava ele com o seu patrício Albino, quando este lhe contou que aquele riacho que passava ao longe, com um filete de água que mal cobria as pernas de quem tentasse chegar às margens do outro lado, transformava-se, durante o inverno, em um rio caudaloso capaz de inundar toda aquela vasta imensidão de campos que se estendia até perder de vista. Dizia, ainda, o Sr. Albino, que durante o inverno, os barcos vindos de São Luís, aqueles “cuters” de 13 metros de comprimento e 3,80 m. de boca, com capacidade de 20 toneladas, atracavam no cais bem em frente à casa grande do comércio, onde estavam a conversar.

O português, incrédulo, duvidou de Albino e, de volta a Portugal, carregou consigo aquela imagem oferecida pelo primo.

Anos mais tarde, Manuel retornou a Pinheiro, desta feita chegando em junho, em pleno inverno, com as águas do Pericumã transbordando para tudo quanto era lado.

Impressionado e sem querer acreditar naquilo que seus próprios olhos vislumbravam, procurou Albino para relembrar-lhe aquela conversa tida anos atrás.

Albino lhe retrucou:

– Não havia te dito? Não me quiseste acreditar!

Ao que ele respondeu, com seu carregado sotaque lusitano:

– Agora, Albino, duvido mesmo é secar!

Portanto, é importante ficar atento às características peculiares da bacia do Pericumã para viabilizar um projeto sustentável e indutor de resultados positivos para a população e a economia da região.

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Negro Ovídio

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negoovidio.jpgQuando da abolição da escravatura, os senhores de engenho de Alcântara perderam seus escravos e deu-se início a um processo de declínio econômico em todo o Estado do Maranhão. Muitos dos escravos adentraram pelo Interior em buscas de terras e juntaram-se a outros negros que haviam se refugiado nas matas distantes.

A região de Guimarães, mais tarde desmembrada para criação dos municípios de Mirinzal e Central do Maranhão, entre outros, abrigava vários quilombos desde o final do século XVIII, destacando-se os de Frechal e São Sebastião.

Na divisa de Pinheiro com Central do Maranhão, o povoado do Pirinã foi formado em grande parte pela população descendente dos quilombolas vizinhos.

Em meados do século passado, conduzida pela liderança do casal Dodô e Dona Nhazinha, a comunidade de negros do Pirinã prosperou e muitas conquistas sociais foram, por eles, adquiridas.

Dona Nhazinha, católica fervorosa, decidiu construir, sob o regime de mutirão, uma pequena capela no local. A inauguração seria feita com a celebração de uma Missa, ministrada pelo padre Luiggi Risso, missionário do Sagrado Coração de Jesus, recém chegado da Itália, cuja fama de rabugento já havia extrapolado os limites da cidade. Em suas Missas, o padre não tolerava ruído e muito menos quem chegasse atrasado; em seus batizados, crianças não podiam chorar e, em dias de festa, tocar foguetes, nem pensar…

Morador do Pirinã, Ovídio era um negro beiçola que não gostava de ser contrariado e era conhecido nas redondezas pela sua enorme ignorância. Ele pretendia aproveitar a Festa para batizar um neto e foi procurar Dona Nhazinha para orientá-lo.

– Olha Ovídio, vou logo te dizendo: O padre Risso só batiza se tu aprenderes o catecismo e se souberes fazer o sinal da Santa Cruz!

– Mas que sinal é esse, Dona Nhazinha? Perguntou Ovídio.

– Presta atenção Ovídio! Que eu vou te ensinar a fazer: E começou Dona Nhazinha, fazendo com o dedo polegar uma pequena cruz na testa.  – Pelo sinal da Santa Cruz, – Nova cruz, dessa vez sobre os lábios, – Livrai-nos Deus, nosso Senhor… Mais outra cruz na altura do coração… – De nossos inimigos… E por último, com a mão direita e os dedos juntos, continuou: – Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo…

Ovídio, olhar espantado, assistiu a todo aquele ritual, e, sob a orientação de Dona Nhazinha, repetiu inúmeras vezes, até que foi dispensado para procurar alguém que soubesse ler e lhe ensinasse o catecismo. Na saída, Dona Nhazinha advertiu:

– Ovídio, vou te avisar pela última vez! Presta atenção! Aprende tudo direitinho que o padre é zangado e não batiza ninguém se não souber o catecismo e não fizer direito o sinal da Santa Cruz!

No dia da Festa, a comunidade toda se preparou para assistir a Missa e fazer os batizados dos meninos, ansiosa por participar das comemorações de inauguração da capela.

O padre chegou ao local da Festa suando em bicas e muito arreliado depois de quatro horas montado num boi-cavalo e foi, logo, convocando todos a participarem da Celebração.

O nego Ovídio, vendo aquele padre enorme, todo paramentado, vermelho que nem um pimentão, nervoso e passando carão em todo mundo, foi logo se afrouxando e, aproximando-se do padre, disse:

– Olha, seu padre, o catecismo eu até que aprendi, mas aquele negócio de espalhar reza pela cara, não teve jeito.

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Sabedoria

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sabedoria_trabalhador-rural.jpgBertrand Russell, filósofo inglês do século passado e Prêmio Nobel de Literatura em 1950, fazia distinção entre dois diferentes tipos de conhecimento. Um deles é o conhecimento científico, racional, que se aprende nas escolas e que apresenta resultados que podem ser experimentalmente comprovados. O outro, mais complexo e de difícil comprovação é aquele que permite distinguir e utilizar o conhecimento científico em benefício do ser humano. A este último ele classificou como sabedoria (em inglês, “wisdom”).

Para Russell, “a sabedoria era a essência ou suma da experiência humana sobre a Terra. Sem ela, por mais que inventassem e descobrissem, mais perdidos e desgraçados estariam os homens…”

Em que pese o pensamento do filósofo inglês, a sabedoria nem sempre é associada ao conhecimento científico. Pessoas simples, às vezes sem nenhuma formação acadêmica, nos surpreendem com seus comportamentos e suas atitudes.

É o caso, por exemplo, do Sr. Antonio Pedro que graças a seu trabalho como lavrador em Poção de Pedras, conseguiu, com muita dificuldade, educar todos os três filhos mandando-os para estudar em São Luís.

Sem ter saído uma vez sequer de seu município, e ainda mais morando na zona rural distante 20 km da sede, o sonho do Sr. Antonio Pedro era fazer uma viagem, sozinho, à cidade de Teresina. Já com seus 69 anos, sempre que externava o seu desejo, os filhos diziam logo:

– Mas papai, o senhor nunca saiu sozinho, nem para Pedreiras, como é que o senhor vai chegar em Teresina? – Ainda mais, Teresina é uma cidade grande, pai! – O senhor vai ser enganado assim que chegar lá…

O pai ficava resmungando e, sempre que podia, manifestava a intenção de fazer, sozinho, aquela viagem. Com os filhos já criados e se sentindo realizado, decidiu ele pela concretização desse sonho. Iria a Teresina fazer uma consulta na Clínica Lucídio Portella que um compadre seu havia lhe relatado como sendo “coisa de outro mundo”!

Certo dia, no início da década de 1990, sem dizer nada a ninguém, acordou mais cedo que de costume, pegou sua sacola que havia preparado na véspera e, em vez de tomar o caminho da roça, Sr. Antonio Pedro partiu para a beira da estrada. Andou por quase duas três horas e pegou o primeiro ônibus até Pedreiras. Raiando o dia, já se encontrava tomando um café em Peritoró. Esperou um pouco mais e, logo em seguida, já estava dentro de um ônibus da empresa Tavares rumo a Teresina. Sentado na poltrona ao lado da janela, contemplava as paisagens que desfilavam aos seus olhos e se transformavam a cada instante. Admirou os vastos palmeirais de babaçu da serra dos Pires, no município de Codó, encantou-se com a vegetação dos serrados depois do Buriti Corrente e quando deu por si, estava atravessando o rio Parnaíba.

Assim que chegou a Teresina decidiu dar um telefonema para o Ermenegildo, o mais velho dos filhos, para avisar onde estava.

Imagine o susto do filho ao saber do paradeiro de Sr. Antonio Pedro!

– Mas, papai, porque o senhor fez isso?! Me avisava que eu teria ido com o senhor…. – Olhe! Tome cuidado com esses motoristas de táxi aí de Teresina! – Eles vão tomar o seu dinheiro… – O senhor não conhece a cidade e eles vão ficar dando voltas e mais voltas! Disse Ermenegildo.

–  Tá bom meu filho,  foi bom tu ter me avisado; deixa comigo que eu me viro sozinho, não se preocupe.

Com seu jeito simples, todo matreiro, ficou caqueando (embora o Aurélio defina caquear como sendo um verbo intransitivo, que significa o mesmo que introduzir cacos em uma peça teatral, aqui no Maranhão ele é utilizado com o sentido de espreitar) o Posto de táxi para escolher um carro que o levasse até a Clínica Lucídio Portella, na Rua São Pedro, n°. 2133 no centro da cidade. Sentou-se num banquinho, e ali permaneceu, observando com atenção os táxis e seus respectivos motoristas. Dentre tantos, agradou-se de um Opala amarelo reluzente, último modelo, que o proprietário estava há cerca de uns 20 minutos, lustrando com uma flanela como se estivesse dando polimento numa jóia rara.

Pensou ele: – É nesse que eu vou!

Dirigiu-se ao táxi, perguntou se estava livre, entrou, buscou dentro do bolso um pequeno papel amassado com o endereço e passou às mãos do motorista. Percebendo que se tratava de um matuto, o motorista começou a dar voltas e mais voltas pelas ruas no entorno da Avenida Frei Serafim. Segundo o Sr. Antonio Pedro contou mais tarde, “o relógio do táxi girava mais que juízo de doido”. Percebendo que o motorista “estava lhe passando a perna” ele começou a gemer e se contorcer todo no banco de trás do táxi. O motorista notou que o passageiro estava passando mal e perguntou:

– O senhor está se sentindo bem?

Ao que Sr. Antonio Pedro respondeu:

– Siô! Pelo amor de Deus! Cum essa dor de barriga qui eu tô, se o senhor não me deixar nessa Clínica num minuto eu não vou me segurar e vou me borrar todinho aqui mesmo dentro do seu táxi…

Desnecessário dizer que em menos tempo que isso o motorista entregou o Sr. Antonio Pedro ao endereço desejado dispensando-o até do pagamento da corrida…
 

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O bêbado e o governador

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bebado1.jpgO Plano Cruzado foi lançado pelo Governo Sarney em março de 1986 com o objetivo de conter a inflação e aumentar o poder aquisitivo da população. O País foi tomado por um clima de euforia onde milhares de pessoas passaram a vigiar os preços no comércio e se tornaram os “fiscais do Sarney”. O governo manteve o congelamento dos preços até as eleições e saiu delas com uma vitória esmagadora em todo o País.

Aqui no Maranhão, Epitácio Cafeteira, adversário histórico do Sarney, foi o escolhido pelas forças políticas do estado para ser candidato ao Governo do Estado.

Político carismático, populista e muito sagaz, a eleição de Cafeteira foi um verdadeiro passeio. Seus comícios, sempre apimentados com suas tiradas de fino humor, carregavam multidões de seguidores por todo o estado.

Sempre referindo-se a si próprio na terceira pessoa, “Cafeteira fez isso, Cafeteira faz aquilo, Cafeteira prometeu, Cafeteira cumpriu…” ele também carregava a fama de ser um pinguço inveterado.

Embalado pelo sucesso do Plano Cruzado e apoiado pelo presidente Sarney no Maranhão, ao término do pleito eleitoral Cafeteira elegeu-se com mais de um milhão de votos, recebendo 81% dos votos válidos.

Para comemorar sua expressiva vitória, Cafeteira decidiu escolher o longínquo município de Igarapé Grande, reduto eleitoral liderado por Dona Francisquinha e pelo seu filho deputado estadual Eduardo Matias, onde ele havia recebido 93 % dos votos, para fazer a comemoração da vitória.

Marcado o dia da festa, a comitiva deslocou-se até o município, onde a prefeita o receberia com um grande churrasco para comemorar a esmagadora vitória.

Casa cheia, prefeitos de todas as regiões, vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, líderes comunitários, puxa sacos, enfim, uma Festa! No quintal da casa, onde cerveja, pinga e uísque rolavam soltos, todos queriam estar juntos do novo governador. Por volta do meio dia, calor infernal, Cafeteira todo prosa, relembrava os episódios da campanha, quando percebeu uma pequena confusão na entrada da casa.

Levantou-se e, para chamar a atenção de todos, dirigiu-se ao ajudante de ordens:

– Dê uma espiada lá fora e veja o que se trata!

Todos ficaram curiosos aguardando o retorno do policial.

– Não se preocupe governador, era apenas um bêbado chato e inconveniente. Já dei um corretivo nele e mandei cascar fora!

– Não senhor! Repreendeu Cafeteira. – O Cafeteira é o governador do povo! – Volte e traga o rapaz para falar com seu governador! Bradou Cafeteira para espanto e admiração de todos.

A prefeita tentou argumentar que era melhor deixar o bêbado lá fora, que ele iria atrapalhar a festa, etc… mas o Cafeteira insistiu:

– Não se preocupem. O Cafeteira sabe lidar com essa gente. O Cafeteira vai ensinar a vocês como lidar com bêbados…

De longe, o bêbado vinha cambaleando e, com a aquela voz inconfundível de todo bebum falando e resmungando em alto tom:

– Eu quero falar com meu governador! Na hora de pedir voto, todo político bate lá em casa, mas depois de eleito não quer saber do povo! Não senhor, eu quero falar com Cafeteira…

O governador levantou-se, mandou a prefeita que estava a o seu lado afastar-se um pouco para receber o bêbado e repetiu novamente:

– Prestem atenção para verem como o Cafeteira vai resolver essa parada!

O bêbado aproximou-se cambaleando, camisa desabotoada, todo suado e exalando aquele cheiro de pinga insuportável, levantou um dos braços e disse:

– Cafeteira eu quero te pedir uma coisa…

O governador, com um copo de uísque em uma das mãos, abriu os braços e falou:

– Peça o quiser! Só não me peça dinheiro!

A risada foi geral, mas gargalhada maior veio depois com o pedido do bêbado:

– Ô Cafeteira, pelo amor de Deus! Pára de beber… Cafeteira….

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