Por que são assassinados os Prefeitos?
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O assassinato de um prefeito do interior do Maranhão, o do prefeito de Presidente Vargas Raimundo Bartolomeu, o Bertim, não foi o primeiro e nem será o último.
Se formos fazer uma busca nos arquivos das delegacias de Polícia do Estado, vamos encontrar uma extensa lista, lembrando os mais recentes: João Leocádio, de Buriti Bravo, Renato Moreira, de Imperatriz, Sibá Pimenta, de Bacuri, Santana, de Morros, dentre outros.
Não quero aqui comentar sobre o assassinato em si mesmo, e muito menos discutir sobre o papel da polícia na elucidação dos crimes.
Na verdade, a causa é bem mais complexa.
Gostaria de fazer uma abordagem um pouco diferente, tentando identificar o que provoca o envolvimento de lideranças políticas locais no cenário desses crimes.
Enquanto no interior de nosso Estado, os projetos políticos de disputa pelo Poder, não vislumbrarem uma visão mais nobre, qual seja, a de poder participar do processo político, a de poder interferir no desenvolvimento do município, a de poder de ajudar as pessoas, entre outras, ainda vamos ter que conviver por muito tempo com crimes bárbaros como esse.
A realidade de boa parte dos municípios do Maranhão, onde o nível de emprego é quase nulo, onde a renda das famílias se baseia nas cestas básicas provenientes dos Programas assistencialistas do governo federal e das aposentadorias rurais, onde ainda se vota por um par de sandálias havaianas, faz com que alguns maus políticos se aproveitem dessa situação.
Nesses rincões mais distantes, o processo democrático de escolha dos governantes locais, no fundo, é uma grande farsa. Jean-Paul Sartre, se aqui estivesse, comprovaria sua tese de que as eleições são pièges à cons, ou seja, armadilhas para idiotas.
É lamentável que nos dias de hoje ainda se possa encontrar líderes políticos locais, que, em vez de se preocuparem com o crescimento de seu município, com a melhoria das condições de vida de sua gente, de identificarem lideranças capacitadas e comprometidas com sua terra, de traçarem um projeto político de longo alcance e com visão de futuro, têm, na verdade, um projeto de Poder pelo Poder. Querem ser o dono do município, e ainda mais, se perpetuar nele. Se pudessem, elegeriam seus vaqueiros (sem aqui querer desmerecer a profissão destes bravos trabalhadores), bancariam suas eleições com o dinheiro público, e continuariam mandando nos destinos dos municípios e andando com os bolsos abarrotados com os talões de cheque da Prefeitura.
Muitos desses crimes têm origem na cobrança de compromissos assumidos durante as campanhas eleitorais. Às vezes o escolhido resolve se tornar independente e o desfecho é dos mais trágicos.
Há quem diga que por traz desses crimes bárbaros existe um outro componente do financiamento de campanhas. Desta feita o financiamento privado das campanhas eleitorais, feito pelos agiotas, que com base em pesquisas eleitorais se aproximam dos prováveis vencedores prometendo ajuda, oferecendo contratos de risco (e que risco!) e depois se apresentam extorquindo os prefeitos eleitos cobrando taxas exorbitantes.
Diz o ditado popular que onde há fumaça, há fogo.