Quer identificar um maranhense?

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Muito embora falemos todos a mesma língua, aqui e ali com alguma particularidade de acento e com pequenas diferenças regionais, o brasileiro, de cada unidade da federação, apresenta características bem singulares.
Tive oportunidade de morar por oito anos em Brasília, quando da minha adolescência. Uma verdadeira Torre de Babel de sotaques, hábitos e costumes.
Mais tarde, o desafio profissional me levaria a São Paulo. Como é difícil a vida em São Paulo! Mais ainda com esses engarrafamentos de centenas de quilômetros. Coitados dos paulistas. Ainda bem que hoje a metrópole oferece muitos outros atrativos.
Passei por Recife, sociedade fechada, povo meio arredio. Conheci a Beth, com quem me casei, e de lá guardo as melhores recordações.
Em Minas Gerais, onde passei apenas um ano, tive pouco tempo para me apegar a Belo Horizonte. Cidade bem traçada, mulheres bonitas, povo desconfiado, uai! Mas, como diziam alguns amigos, “Belo Horizonte é dose pra mineiro!”.
A passagem pelo Rio, só me trouxe boas lembranças. Cidade maravilhosa! Júlia e Bruno, meus filhos, nasceram lá. O carioca é muito alegre, boa gente, sempre solícito e querendo agradar:
– Aparece lá em casa, cara!
Diz o carioca. Mas não lhe dá o endereço…
Retornando a São Luís, e já se vão 20 anos, encontro cá as minhas origens. Meus amigos de infância e outros tantos que o destino colocou em meu caminho.
Assim como os outros, o maranhense também tem suas peculiaridades. Prestativo, atencioso, cultivador do ócio criativo… Atualmente, já não se esmera tanto em falar o “melhor português do Brasil” – mas ainda se orgulha disso. Cumprir horário, nem pensar! Relógio, mesmo, só para enfeitar o braço.
Querem mais uma característica do maranhense? Não pode ver ninguém viajar, que logo aparece com uma encomenda para trazer ou mandar para algum amigo ou parente distante.
Por tocar no assunto, lembro que há algum tempo, Zé Benedito, um amigo de infância, avisou que iria viajar para o Rio de Janeiro. Iria de avião, pela Vasp, vôo VP280 direto, sem escalas.
Imaginem o que lhe pediram para levar! Duas dúzias de jurarás. Acreditem! E mais ainda, vivas!
Também conhecida como muçuã, o Aurélio assim define a jurará: “Nome científico: Kinosternon scorpioides; jurará, réptil da ordem dos quelônios e da família dos Kinostenídeos, que engloba as chamadas tartarugas-do-lodo, pelo hábito de viver na lama, ou as almiscaradas, devido ao forte cheiro de almíscar que exalam quando atacadas”.
Com a devida antecedência, as ditas jurarás já se encontravam prontas para o grande passeio. À noite, véspera da viagem, ele arrumou todas elas (vinte e quatro, lembram do pedido?) dentro de uma caixa de papelão, fez uns furinhos para permitir a respiração dos pequenos quelônios e passou fita Durex na caixa (eu, hein! Durex é coisa de antigamente).
No check-in do aeroporto, Zé Biné despachou toda a bagagem: isopor com camarão, farinha d´água Biriba, doce de goiaba, e tudo o mais que lhe haviam pedido para levar. Mas a caixa com as jurarás, ele não despachou.
Dado o embarque, driblou as atendentes conseguindo camuflar a caixa, envolta em um jornal embaixo do sovaco, entrou no avião, buscou seu assento e acomodou as jurarás embaixo da poltrona à sua frente. Após o jantar, (nesse tempo não havia a GOL com sua barra de cereais e nem a TAM com seu sanduíche requentado de queijo e presunto) tomou umas doses de whiskeys e caiu no sono. Dormiu profundo, chegou a sonhar, e foi acordado com os gritos da aeromoça ao se deparar com as 24 jurarás circulando livremente pelos corredores da aeronave.
A ele, só coube empurrar o que restou da caixa vazia para a poltrona do vizinho e fazer aquela cara de espanto igual a todos os outros passageiros.
Hoje, certamente seria preso e enquadrado por prática de crime ambiental. E sem direito a fiança!

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A negrinha Carmelita.

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Nos últimos anos temos acompanhado as fortes mudanças ocorridas em nossa sociedade. Pelo fato de estarmos presentes, acompanhando e nos adaptando a elas, quase não percebemos quão rapidamente elas se processam.
Imaginemos, como se isso pudesse acontecer, alguém ter se perdido na floresta amazônica, por cinqüenta anos, isolado e sem comunicação e, de repente, reaparecesse agora; que susto, hein?
Ficaria estarrecido com a Internet. Mandar e receber notícias, arquivos, fotos, imagens… Antigamente mandar um filho estudar fora, significava ficar um ano inteiro curtindo a saudade. Contato, só por telegrama, se a notícia era ruim, ou por carta e recado. Agora, poder conversar com os filhos e vê-los – ao vivo e a cores na tela do computador – em real time! Que maravilha!
Se o nosso personagem saísse agora, de férias, e procurasse por uma loja para comprar e revelar filmes de fotografia, não a encontraria! Não existe mais filme. As máquinas digitais tomaram conta do mercado. Tomaria um enorme susto se entrasse em uma loja de som ao ver as músicas saindo de um I-Pod. Pela rua, não acreditaria no que via. Todos falando, recebendo e enviando mensagens através de um pequeno aparelho que cabe na palma da mão… o telefone celular. Que loucura!
À noite, ao ligar a TV – digital, a plasma ou cristal líquido – não acreditaria nas notícias. Duplicação de embriões, células tronco, engenharia genética, clonagem e muito mais.
Por outro lado, “tudo como dantes no Quartel de Abrantes”. Continua a devastação ambiental, o aquecimento global, a violência urbana, a pobreza, as guerras, e até a epidemia de febre amarela e dengue ameaçam retornar.
Nos costumes da sociedade, então, quanta transformação! Os hábitos mudaram demais. Nos trajes, na alimentação, no uso de tatuagens e piercings, na forma de namorar, os jovens só falam em ficar. Ninguém mais lhe toma a bênçao…
Isso tudo me faz lembrar uma história ocorrida lá em Pinheiro, na mesma época em que o nosso personagem se perdia no interior da floresta amazônica.
Minha tia Janoca, na verdade tia da minha mãe, era de uma família bem conceituada na cidade, nobre, como se dizia na época. Casada com João Moreira, abastado pecuarista, comerciante e político atuante na região, a casa de tia Janoca era uma referência na cidade.
Mãe de três filhas, uma delas decidiu-se por noivar com um cirurgião dentista recém chegado a Pinheiro,
Para oficializar o noivado, toda a família do pretendente teve que se deslocar de outro estado da federação para vir até Pinheiro conhecer a família da noiva.
Certo dia, marcada a reunião, a família do noivo se dirigiu à casa de Tia Janoca para uma visita de cortesia. Foram recebidos com muita cerimônia e protocolo, porém cercados da maior atenção e carinho possíveis.
Tia Janoca tinha uma criada chamada Carmelita. Descendente de escravos, Carmelita era uma negrinha, muito querida na casa, e que já havia conquistado o direito de acesso à sala. Mas tinha de sentar no chão, ao lado da cadeira de tia Janoca, se quisesse ouvir “conversa de branco”, como era comum dizer.
A conversa ia animada, quando lá pelas tantas, uma das senhoras que estava sentada em frente à tia Janoca, deu uma cruzada de pernas. De cabelos de trança e olhos bem abertos, a negrinha Carmelita, esperta como ninguém, não perdia um lance da conversa. Sentada no chão, bem em frente à cadeira da visita, cutucou tia Janoca e disse;
– Dona Janoca! Ou essa muié tá de sunga preta, ou eu olhei a xoxota dela!
Ao que tia Janoca lhe repreendeu de pronto:
– Te acomoda menina! Tu não viste coisa nenhuma!
Tempos outros, hein?

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La Capricieuse em São Luís.

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Do aeroporto Charles de Gaulle até o centro de Paris, passamos pelo belo estádio de futebol Saint Deny. Está a quinze minutos de Paris, e muito bem servido de transporte coletivo. O estacionamento tem lugar para dez mil carros e o estádio comporta 80 mil pessoas. Ao final de cada jogo, em apenas cinco minutos o estádio fica completamente vazio.
Os motoristas de taxi sempre aproveitam para lembrar, a nós brasileiros, o vexame de termos perdido a Copa do Mundo naquela final de triste lembrança.
Mas a hora da revanche chegou!
Neste próximo sábado, dia 12, às 16:00 horas, no campo de treinamento do Moto Clube aqui em São Luis, teremos um novo embate e a chance de provar que é aqui no Brasil que se joga o melhor futebol do mundo.
O Brasil será representado pela seleção do Narigão e a esquadra francesa de Zidane se fará representar pela seleção do Navio Patrulha da Marinha Francesa La Capricieuse.
O La Capricieuse atraca no Porto do Itaqui, em São Luís, nesta quinta feira próxima, dia 10 de abril, para uma missão de visita de cortesia que deve se estender até o dia 14 de abril.
Os visitantes franceses serão recepcionados pelo presidente da EMAP, Dr. João Castelo; pelo capitão dos Portos do Maranhão, Capitão-de-Mar-e-Guerra Luiz Carlos de Melo e pelo Cônsul honorário da França em São Luís, José Jorge Leite Soares.
O navio-patrulha baseado em Caiena, na Guiana, é do tipo P 400 fabricado pela Constructions Mécaniques de Normandie (CMN) de Cherbourge, na França, e chega a São Luís trazendo uma tripulação formada por 28 tripulantes, entre oficiais e marinheiros.
A viagem com o objetivo de estreitar as relações entre as Marinhas do Brasil e da França e ao mesmo tempo iniciar a divulgação do ano da França no Brasil que se fará acontecer no próximo 2009.
O consulado da França e o comandante da embarcação francesa recepcionam a bordo, autoridades e convidados maranhenses durante um coquetel que será realizado a bordo da embarcação, na noite do dia 10.
O Navio La Capricieuse, de 54 metros de comprimento e 450 toneladas, tem como principais atividades a proteção da pesca, o patrulhamento e combate, a salvatagem em mar e o combate ao tráfico de drogas.
A Capitania dos Portos preparou uma programação especial para recepcionar o oficialato do navio francês. Na quinta-feira haverá uma visita à sede da Capitania, onde ocorrerá a tradicional recepção entre as unidades das duas marinhas.
A tripulação ficará na capital até dia 14 de março, quando terá a oportunidade de conhecer um pouco as principais regiões turísticas do estado e apreciar as riquezas de nossa terra.
Bien Venu a tous!

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Cuida, Pequapá!

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De fato, a vida nas pequenas e pacatas cidades do Interior, é bem diferente do corre-corre das metrópoles. Tem coisas que só acontecem, mesmo, por lá.
Sempre que posso, procuro registrar casos e fatos pitorescos ocorridos com pessoas que protagonizaram situações curiosas e interessantes.
Tenho um amigo em Pinheiro que coleciona histórias bem humoradas de seu falecido pai. Escolhi uma delas para compartilhar com meus leitores.
Certa feita estava ele tendo um caso com a mulher do vizinho. Cidade pequena, todo cuidado é pouco!
Era época dos festejos juninos e ele conhecia bem os hábitos do vizinho, dentre eles aquele de não perder a apresentação de nenhum Bumba Boi.
Nesse final de semana iria se apresentar na cidade, o Boi de Guimarães, a grande atração das festas do São João.
Ciente de que o marido da vizinha por nada neste mundo perderia a apresentação do Boi, marcou com ela um encontro à noite, enquanto o marido estivesse se divertindo na Roda do Boi. Acertaram que ele pularia a cerca do quintal que separa as duas casas vizinhas e que assoviaria imitando o canto da pequapá: fiu, fiufiu… fiu, fiufiu… de forma pausada, dando ênfase ao som grave emitido pela pequapá.
Alguém já viu uma pequapá? Por que o nome pequapá? Será que tem algo a ver com “pé com a pá”? Pois se trata de uma ave dotada de nadadeiras, capaz de mergulhar como nenhuma outra.
Bem. Vamos voltar ao caso.
Antes do anoitecer, o pai de meu amigo, aprontou-se, colocou cadeira na porta, sentou-se e aguardou o vizinho sair para o terreiro do Boi. De longe, o seguiu, observou a entrada do vizinho no cercado onde se apresentaria o Boi, e sentou-se nas imediações. Começou a tomar uns goles da “branquinha” pra se animar, mas sempre de olho no vizinho.
Na metade do espetáculo, a festa já “pegando fogo”, consultou o relógio e viu que estava na hora do encontro. Desceu sorrateiro, e, na saída, comprou dez vinténs de rebuçado (bombons de mel de cana com coco, envoltos em papel de embrulho, parecidos com quebra-queixo), para aliviar o bafo provocado pela cachaça.
Apressado e ansioso dirigiu-se para o encontro. Desenrolou dois rebuçados, colocou-os na boca e começou a mastigar…
Bem aí, começou o drama! O rebuçado grudou na dentadura e não havia jeito!
Ele, agoniado e louco para se encontrar com a amante, pulou a cerca do quintal, e o rebuçado continuava sem querer se separar da dentadura.
Tentou assoviar, interpretando o canto da pequapá, mas não conseguia por causa do rebuçado.
Impaciente com o imprevisto, porém psicologicamente preparado para o encontro e já excitado ante a possibilidade de envolver a vizinha em seus braços, ele não titubeou. Arrancou a dentadura, com o rebuçado, é claro, inseparável dela, e guardou-a no bolso da calça.
Tentou novamente o assovio e nada! Afinal, como assoviar sem os dentes? Só saía o sopro do ar…
Vendo que estava para perder aquela grande chance, decidiu chamar a vizinha usando a própria voz, sussurrando para não chamar muito a atenção e destacando a tonalidade grave da pequapá: Cuida, menina! Sou eu, a pequapá!

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Carlos de Lima na Academia

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Dias atrás conversava com o poeta Alex Brasil, que me dizia que o poder transforma as pessoas. É verdade! Transforma e também é capaz de rejuvenescer.
Tive a oportunidade de constatar esse fato, nesta última quinta feira, quando da posse do professor Maranhense de Letras.
Sob o rufar dos tambores e acordes da Banda de Música da Polícia Militar, o novo imortal, aos seus 88 anos, caminhou lépido e fagueiro pelo tapete vermelho que foi lhe estendido especialmente para recebê-lo, mais parecendo um moleque travesso, do que alguém que carrega nos ombros o peso das grandes caminhadas que a vida lhe obrigou a percorrer.
Assim como aqueles que lá estiveram, tive o privilégio de presenciar uma das cerimônias mais leves e elegantes que a Academia já proporcionou.
A leveza fica por conta dos discursos, longos como de praxe, porém recheados de emoção e de um humor fino que só Carlos de Lima é capaz de fazê-lo. Pela sua história de vida, caracterizada pela forma atenciosa, pelo carinho, pelo humor impregnado em tudo aquilo que toca e pela obra alicerçada ao longo de seus 88 anos, é que Carlos de Lima conquista a imortalidade. Sua multifacetada personalidade lhe permitiu, além de colecionar amigos, pesquisar, escrever livros e cordéis, compor e interpretar peças teatrais, e mais ainda, produzir uma vasta obra literária.
Reafirmando o zelo com a língua portuguesa, o mais recente imortal relembrou uma passagem ocorrida com Alfredo de Assis Castro, o primeiro ocupante da cadeira número sete da Academia, que certa noite em sua residência na Rua da Paz, fora acordado com os gritos desesperados de sua filha única, presa de um terrível pesadelo:
– Me larga! Me larga! Me larga! Gritava a moça.
Dr. Assis levantou-se, calçou os chinelos, percorreu poucos metros de corredor, empurrou devagarzinho a porta, acercou-se da rede onde a moça se debatia, tocou-a levemente no braço desnudo, e entre carinhoso e enfadado, corrigiu:
– Minha filha, oh! Minha filha, nunca comece uma frase por pronome oblíquo!
A Academia Maranhense de Letras lhe presta uma homenagem que de há muito já deveria ter feito.
A elegância fica pela saudação ao novo acadêmico, tradicional discurso de boas vindas a Casa, a cargo do brilhante professor doutor Sebastião Lima Duarte. Magistralmente escrita, recheada de citações em Latim (pasmem, ainda há quem domine essa língua, e o professor Sebastião é um desses eruditos), a peça literária de Sebastião foi escrita com os mesmos traços do raro humor que acompanhou o homenageado ao longo de toda a sua vida.
Defendendo uma tese, que à primeira vista soava como uma contestação – a escolha de Carlos de Lima para a Academia Maranhense de Letras – ele nos descreveu sobre a relutância do recém eleito em aceitar a idéia de concorrer a uma vaga, além de registrar a pluralidade da vida e da obra literária de Carlos de Lima.
No encerramento da cerimônia, quando da leitura do livro de Atas, o imortal José Chagas quebra o protocolo da Casa nos brindando com uma pitada de humor. Finaliza sua fala registrando a importância da chegada de Carlos de Lima à Academia, como sendo o primeiro imortal a ocupar uma cadeira neste ano em que a Academia comemora o seu primeiro centenário. Desejando que seja o “primeiro e o último” , “pois para que outro possa chegar, há que morrer um de nós acadêmicos” finalizou o poeta José Chagas.

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Cisnes Selvagens – três filhas da China

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Autora: Jung Chang
Editora Companhia das Letras
10ª. edição

Livro baseado em fatos reais que trata da história de vida de três gerações. Avó, mãe e filha, esta última é a autora do livro que descreve a grande transformação da China nos últimos 100 anos.
Da ocupação japonesa na Manchúria, passando pelo governo do Kuomintang, da queda de Chang Kai-chek, à guerra civil e à vitória de Mao Tsé-Tung, a autora descreve a passagem da China de um regime feudal retrógrado para o sonho do Comunismo com a promessa da revolução Cultural de Mao.
Para aqueles que vivem se lamentando de seus sofrimentos, este livro dá uma mostra do que o ser humano é capaz de suportar. Jung Chang vivenciou a arbitrariedade dos regimes totalitários, a falta de liberdade e a opressão do Estado sobre o cidadão. Ainda bem que a China de hoje trilha por um caminho bem diferente, começando a colher os frutos das reformas econômicas da década de 1980.
Instigante e bem escrito, Cisnes Selvagens é daqueles livros que de bebe de um só trago.

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Marc le Dantec no Espaço Armazém

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Fui convidado a compartilhar com um seleto grupo de pessoas, em “avant-première”, a mostra gastronômica que o restaurante do Espaço Armazém se prepara para lançar logo em breve.
Com os leitores, infelizmente, só posso compartilhar as minhas impressões acerca da noite agradável que passamos com a apresentação de um “menu dégustation” cuidadosamente elaborado pelo chef francês Marc le Dantec.
Atuando em Salvador, no Bistrot Jaú, Marc le Dantec vem se consagrando como a grande revelação da tradicional cozinha francesa dos últimos quatro anos aqui no Brasil. Natural de Rennes, na Bretanha, assim como o renomado chefe francês Olivier Roellinger especializado em peixes, frutos do mar e especiarias, Marc teve como mestres o Daniel Boulud em Nova York, o Jacques Chibois de Grasse na Provence e Laurent Suaudeau, aqui no Brasil (este considerado o “pai” da alta gastronomia brasileira). Com este vasto currículo, sabe, como nenhum outro, misturar técnicas francesas com produtos brasileiros.
E a proposta do Espaço Armazém é exatamente esta: oferecer uma cozinha francesa, com ênfase no preparo dos alimentos, na sutileza da apresentação dos pratos, porém sem abandonar alguns ingredientes próprios da culinária maranhense da melhor qualidade, elaborada com esmero pela equipe da casa e com uma apresentação digna das melhores casas francesas.
Confesso que me surpreendi com o “menu dégustation” que foi apresentado e harmonisado com vinhos (franceses, bien sûr) de procedência das melhores casas.
Apenas para aguçar a curiosidade dos leitores gourmets, que terão que aguardar mais um pouco para poderem desfrutar dos prazeres da boa mesa, segue o que nos foi brindado pelo chef Marc le Dantec e pelos sócios do restaurante, Alex, Ricardo, Rodrigo e Torres:
Les entrées:
– Barqueta Armazém: copa, queijo brie, croutons e nozes com geléia de pimenta.
– Brandade de bacalhau, (brandade de bacalhau é um especialidade típica do Sudoeste da França) com tomates confits e azeite à provençale.
Des crevettes et des viandes:
– Camarão Corsário, (Camarões, especiarias, purê de mandioquinha e alcachofras) numa em homenagem a Daniel de La Touche, Seigneur de la Ravardière.
– Pernil de cordeiro com compota de berinjela, trigo bourgou e grãos temperados.
– Boeuf bourguignon (bem elaborado com um vinho tinto da bourgogne), acompanhado de purê de batata com nozes e mostarda em grãos.
Les desserts
– Torta de maçã a la Normandie (chantilly e calvados)
– Pêra ao vinho tinto, com sorvete de creme e coullis de frutas vermelhas.
Attendez!

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Pharmácia da Paz

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No início do século passado, a assistência médica nas cidades do interior do Maranhão era tão precária que a população se valia dos curandeiros, parteiras e farmacêuticos.
Há exatamente cem anos, chegava em Pinheiro um farmacêutico prático que rapidamente tornou-se muito conhecido e respeitado não só na cidade como em toda a região.
Mulato, bem vestido, atencioso e muito espirituoso, logo se integrou no seio da comunidade, casando-se com Inês Castro, freqüentando as boas rodas sociais e com participação atuante nos eventos e agremiações culturais mais destacadas.
Alto e barrigudo, com voz grave, rouca e pausada, Zé Alvim era uma dessas figuras que fazem a história do Lugar. Tipo folclórico, foi através dele que chegou a Pinheiro o primeiro rádio. Quando criança, ouvia meu avô Chico Leite contar que durante a segunda Guerra, a população de Pinheiro acompanhava atenta às notícias do front, preocupada que estava com Raimundo Gonçalves, único pinheirense combatente da FEB que havia partido para a Itália com a missão de acabar com Hitler.
Na “boca da noite”, como costumavam dizer, os ouvintes se postavam na calçada da para tentarem escutar os boletins da guerra, transmitidos pela da BBC de Londres.
Ligar o rádio, era uma novela; Precisava conectar a bateria, deixar as válvulas esquentarem, e passar um tempão sintonizando a estação… Era tarefa que só Zé Alvim era capaz de realizar.
Mais ruídos que sons, chiados e descargas encobriam o noticiário a ponto de não se entender quase nada; a cada descarga, Zé Alvim traduzia, com sua voz cavernosa, para os atentos ouvintes:
─ Ou é tiro de canhão ou barulho de bomba! Tão bombardeando Londres!
Muito respeitado na Vila, qualquer que fosse o problema ligado à saúde, o endereço certo era a Pharmácia da Paz, onde os remédios eram manipulados com maestria pelo farmacêutico.
Contam que certa feita ele prescreveu uma série de medicamentos a um paciente que morava na zona rural. Ao término da consulta, Zé Alvim disse:
─ Presta atenção, meu amigo! Tem que tomar tudo bem direitinho; mas tá proibido de ver mato verde por cinco dias… O que na realidade, significava ficar em repouso absoluto, pois para quem mora no interior e ficar sem ver mato verde, só se ficar trancado no quarto…
De outra feita, ele aconselhava um afilhado que resolveu se casar com uma moça nova. Dia seguinte ao casamento, muito cedo, o afilhado bateu às portas da casa de Zé Alvim.
─ Rapaz, tu te casou ontem, o que é que tu vem fazer aqui em casa uma hora dessa? Tu deve ficar com tua mulher!
O afilhado se queixava que ia devolver a moça aos pais dela pois achava que ela não era mais virgem.
─ É que eu tô meio preocupado, meu padrinho. Eu achei uma certa facilidade… não saiu nem sangue…
─ E tu pensa que pra tirar honra de mulher precisa de picareta? Cria juízo! Volta pra casa e fica com a menina, rapaz!
Conformado, o moço retornou para a esposa, mas Zé Alvim, sempre que podia, confidenciava aos amigos mais próximos:
─ Ela era furada mesmo…
Até os dias de hoje a continua em Pinheiro, no mesmo lugar, e é uma das mais antigas farmácias de manipulação do estado do Maranhão.
Zé Alvim deixou estórias e saudade! Por ironia do destino morreu em 1952, aos 61 anos de idade, contrariando um velho ditado que costumava usar: “o que mata velho são três K; queda, catarro e caganeira!”; acabou morrendo de um outro K: coração…

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Menores Assassinos!

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Tomamos conhecimento do crime bárbaro ocorrido no município de Zé Doca, onde quatro monstros, dos quais dois menores, invadem uma casa e dizimam a golpes de facão uma família inteira. Dentre as oito vítimas, quatro menores, entre elas uma inocente criança de apenas dois anos.
Difícil entender a mente humana. O que leva as pessoas, em sã consciência, a praticarem atos insanos desta natureza? Barbáries como esta, ocorrem em toda a parte e a cada dia estão mais freqüentes.
Muitas coisas precisam ser feitas, mas pelo menos precisamos acabar com a impunidade e, sobretudo, com o tratamento dado aos menores infratores, que se escondem por trás de nossa legislação para cometerem essas aberrações.
Recebi de meu amigo Arthur Kaufman, e quero compartilhar com meus leitores, a carta de um pai que passou pela experiência dramática de ter perdido uma filha assassinada por um “menor de idade”:

“Meu nome é Ari Friedenbach, sou advogado e pai da jovem Liana Friedenbach, assassinada em novembro de 2003, aos dezesseis anos de idade.
A Liana, juntamente com seu namorado Felipe, foram seqüestrados por uma quadrilha constituída de 4 indivíduos maiores de idade e um menor de idade a época do crime, Roberto A.A.C., vulgo “champinha”, tendo o Felipe sido assassinado no mesmo dia).
Os maiores de idade envolvidos nos crimes foram condenados a penas severas, e se encontram cumprindo suas penas em penitenciárias do Estado.
No caso de Roberto A.A.C., vulgo “champinha”, a situação é distinta, pois, de acordo com a Legislação Brasileira aplicável, qual seja o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o seqüestro, tortura, reiterados estupros e homicídio, não constituem nenhum crime!!! Apenas Ato-Infracional de natureza grave!!!
Atos estes, puníveis com internação para tratamento e medidas de sócio-educativas, por até, no máximo três anos de internação, ou até que complete 21 anos de idade, quando deverá obrigatoriamente ser colocado em liberdade.
Importante que fique claro que o indivíduo Roberto A.A.C., vulgo “champinha”, nada mais deve à justiça ou à sociedade, eis que já cumpriu todos os prazos de internação, previstos pelas leis.
No entanto, chegado o momento de colocar Roberto A.A.C., vulgo “champinha” em liberdade, diante dos laudos psiquiátricos que apresentam relatórios que constatam doença de ordem neurológica de natureza grave e incurável, determinou o judiciário que fosse encaminhado para Unidade de Saúde, na qual seja possível efetuar tratamento que amenize sua patologia, sendo necessário que a unidade apresente condições de segurança, para impossibilitar nova fuga do interno.
No último dia 14/12/2007, vieram a público, cenas apresentadas pelo Departamento de Jornalismo da Rede Bandeirantes, cenas do que o Estado decidiu por chamar de Unidade de Saúde, onde encontra-se Roberto A.A.C., vulgo “champinha” em tratamento.
A referida unidade constitui-se de 5 casas, cada uma com: 1 quarto com 4 camas de madeira, com cabeceira e criado-mudo também em madeira, sala de jantar com mesa e 8 cadeiras, sala de estar com sofás em couro bege, aparelho de televisão de 29 polegadas; cozinha com pia de aço inox, fogão e geladeira Brastemp (marca mais cara do mercado); área de serviço com maquina de lavar (!!!) também Brastemp; banheiros com pias de granito bege. TUDO RECÉM TIRADO DAS EMBALAGENS!!!
A referida unidade que passou da FEBEM para Secretária de Saúde do Estado, sob o comando do Secretário Dr. Luiz Roberto Barradas Barata, médico de formação, a um custo declarado de R$12.000,00 (Doze Mil Reais) por mês, em uma unidade projetada, digo mal projetada, para abrigar no mínimo 20 internos, sendo que de acordo com a ex-FEBEM, atual Fundação CASA, pelo menos 61 internos tem as mesmas necessidades do interno Roberto A.A.C., vulgo “champinha”, que, no entanto reside numa unidade 5 estrelas, ao custo referido, absolutamente sozinho, sem qualquer acompanhamento, tratamento, ocupação ou responsabilidade.
Ainda que eu não tenha a formação médica, como é o caso do Sr. Secretário da Saúde, Dr. Barradas Barata, acredito que terapias ocupacionais seriam mais indicadas, do que o ócio a que está submetido o interno.
Não é admissível que, qualquer pessoa, seja cidadão de bem, criminoso, doente mental, ou seja lá o que for, possa acordar a hora que quiser, fazer o que quiser, inclusive passando o dia inteiro, deitado num sofá de couro assistindo televisão, tudo as custas do contribuinte, cidadão de bem, pagador de seus impostos e cumpridor de suas obrigações.
A chamada Unidade de Saúde, não seria mais eficiente, se ao invés de possuir uma quadra poli esportiva coberta, fosse equipada com uma horta, onde os internos houvessem de cuidar da produção de seus próprios alimentos???
Após a divulgação das referidas imagens pela Rede Bandeirantes, as reações foram as mais surpreendentes. As autoridades, como se o que estava sendo apresentado no vídeo fosse a coisa mais natural e óbvia, não se abalaram.
Declarou o governador José Serra: “Não vejo problema de ele estar assistindo televisão!!!”.
Já o Secretário da Saúde, parece ter enfiado a cabeça num buraco, preferindo o silêncio.
Outra reação inusitada foi o profundo silêncio dos órgãos de imprensa, eis que somente uma rede de televisão viu nos fatos narrados, alguma notícia a ser divulgada.
Será que a má aplicação dos já escassos recursos destinados à saúde não devem ser divulgados e combatidos???
Restou à população, que paga essa conta, ficar indignada, sem ao menos ouvir, sequer uma explicação aceitável das autoridades incompetentes.
Em um país que seguramente 99% da população, vive em condições muito inferiores às constatadas nas imagens apresentadas, resta a pergunta: Não estaríamos incentivando os jovens a cometer crimes como o praticado por Roberto A.A.C., vulgo “Champinha”, recebendo como punição e tratamento, um salvo conduto para uma estadia em um Spa 5 estrelas???
Para finalizar, quero deixar claro de que, ainda que minha vivência permitisse, não somos favoráveis a aplicação de quaisquer tratamentos que não preservem a dignidade do interno, ainda que, no caso presente, trata-se de um perigoso reincidente, conforme vem sendo noticiado nos últimos dias, apenas pretendemos que sejam submetidos a tratamento adequado e compatível com as leis, a realidade do país, das instituições.”

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Vem aí o carnaval.

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Acabaram-se as comemorações de final de ano e agora as atenções se voltam para aquela, que é a maior de todas as nossas festas populares, o Carnaval.
Durante décadas, o carnaval de São Luis, chegou a ser considerado o terceiro mais animado do País, atrás apenas do Rio de Janeiro e de Recife.
Mas isso foi há muito tempo! Atualmente, o desfile das Escolas de samba no Rio de Janeiro, com suas mulatas estonteantes, continua atraindo milhões de turistas e se impondo como marca nacional. O Galo da Madrugada e as Virgens de Olinda, com a irreverência dos foliões que se esbaldam no frevo pernambucano, fazem do carnaval de Olinda e Recife um dos mais animados do País, e os trios elétricos da Bahia atraem milhões de foliões, afinal de contas, como dizia Caetano Veloso, “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu…”
Aqui em São Luís, precisamos manter e fortalecer o carnaval de rua, onde as famílias se reúnem embaladas pela alegria e ocupam ruelas e becos da cidade, dividindo espaço com os blocos de sujos, as tribos de índios, os fofões e mascarados. Valorizar nossas tradições, organizar um programa que permita a todos se divertirem, e garantir a segurança, é o mínimo que se espera do poder público. O resto fica por conta dos foliões que seguem a trajetória do Bicho Terra pelas ruas sinuosas do Centro Histórico da cidade.
Lembro que os bailes de máscaras já fizeram muito sucesso em São Luís.
Meu avô Chico Leite, advogado provisionado lá em Pinheiro, fazia de um tudo para passar uns dias de carnaval na capital. Contam os mais velhos que seu primo, desembargador Sarney Costa, forjava telegramas convocando Chico Leite a São Luís a fim de resolver “certas questões”, quando na verdade o real motivo era sempre outro.
Tão logo o carteiro batia à porta da casa de Seu Chiquinho munido de um telegrama do Tribunal, a viagem à capital logo era feita e Chico Leite partia para São Luís a fim de se esbaldar, com seu primo, nos bailes de máscaras do famoso “Bigorilho”.
A pesquisadora Roza Santos, registra no Boletim da Comissão Maranhense:

“Nos clubes populares, onde as máscaras tinham uma peculiaridade específica, a animação era total. Nesses Bailes Populares de Máscaras, as mulheres entravam sós, ou em grupo, sempre mascaradas e fantasiadas. Eram freqüentados por operárias de fábrica, empregadas domésticas e trabalhadoras em geral de uma camada mais pobre. Marcaram o carnaval bailes populares das décadas de 40 e 50 como o Cantareira (na Rua Grande), o Jacarepaguá (na Rua do Sol), o Cabeção, a Furna do Satã, o Inferno Verde, a Gruta do Satã (perto da velha estação de bonde, no Monte Castelo), o Berimbau, a Cabana de Pai Tomás, o Inferno Verde, o Forró da Rosa, o Vassourinha, o Rasga Sunga, o Rei Pelé (no Ribeirão) e o Bigorrilho, conhecido como o baile para onde iam os figurões da sociedade”.

É fato conhecido por muitos que, num desses bailes de carnaval no Bigorrilho, Chico Leite, Sarney Costa e Nelson Jansen escolheram seus respectivos pares e dançaram a noite inteira. Durante um dos intervalos, Chico Leite se queixou a Sarney Costa que “sua mascarada” estava dando muita despesa: bebia muita cerveja e mais, observava que seus joelhos eram um pouco avantajados… Desconfiado, convidou Sarney e Nelson a acompanhá-los até o quintal da casa, retirando à força a máscara da “dançarina”, descobrindo que se tratava de um “marmanjo”. Encheram o malandro de bolacha e voltaram para casa, dando por perdida aquela noite de carnaval.
Muitos que conhecem esta história garantem sua veracidade, fazendo apenas uma pequena correção, dizendo que o fato ocorreu com o Sarney Costa e não com o Chico Leite…
O Baile de Máscara entrou em crise na década de 60, quando o então prefeito Epitácio Cafeteira, resolveu proibir esse costume tão popular das festas de carnaval. Mascarados hoje, só nos assaltos a mão armada nas noites de São Luís. O que é uma pena!

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