Apesar de nós, brasileiros, falarmos a mesma língua e nos orgulharmos de nossa unidade geopolítica, entre o Oiapoque e o Chuí há muitos Brasis.
Antigamente o Maranhão fazia parte do Nordeste. Mais tarde ficou conhecido como Meio Norte. É bem verdade que estamos na “zona do agrião”. Metade do estado apresenta características muito semelhantes ao Norte do País enquanto que a outra banda muito se assemelha à Região Nordeste. Se por um lado recebemos recursos da SUDAN e da SUDENE, a vocação empreendedora parece que não faz parte do gene do maranhense.
Meu amigo imortal Américo Azevedo Neto diz que aqui no estado do Maranhão tem muita gente que não gosta de fazer muito esforço. E traz como argumentação de sua tese que os frutos mais apreciados pelos maranhenses: bacuri, buriti e babaçu, entre outros tantos, são frutos que não dão trabalho para colher. Afinal, eles amadurecem no pé e caem… Não precisam ser plantados, não há necessidade de maiores cuidados e, depois do fruto no chão, o único esforço é se abaixar e recolher.
Outros podem discordar de sua tese citando, como exemplo, a jaca que deve ser colhida antes de cair. Também pudera! A jaca dá no pé!
Na saída de Pinheiro para a cidade de Santa Helena, os campos alagados impediam o tráfego de veículos durante o inverno. Em meados do século passado foi construída uma barragem e ao longo dos quase 4 km de extensão foram feitas pequenas comportas para extravasar as águas à montante do rio Pericumã.
Durante o inverno, com o represamento das águas dos afluentes do Pericumã, um imenso reservatório é formado. Até os dias de hoje, esse lago artificial, que teima ainda em continuar cheio mesmo durante o período das secas, é morada para os peixes que se reproduzem e garantem a fartura na mesa para grande parte da população.
Bagres, piabas, jejus e traíras são pescados de forma artesanal. Aos finais de tarde, um passeio ao longo da barragem permite contemplar a maestria dos pescadores ao lançar suas tarrafas. Equilibrando-se em cima de uma ubá, o pescador dá uma boa mordida numa das bordas da tarrafa, separa a rede entre os dedos das mãos e faz o arremesso. A tarrafa ganha vida ao se abrir em pleno ar para despencar tal, qual um para quedas, sobre a superfície lisa das águas cálidas do lago. Depois, é exercitar a paciência e puxar indolentemente. Na medida em que começa a ser recolhida, a tarrafa começa a revelar os seus segredos. A luz refletida nas escamas dos pequenos peixes sinaliza uma boa tarrafada. Um de cada vez, os peixes são retirados e colocados dentro de um pequeno cofo amarrado na cintura.Em poucos minutos a bóia está garantida! É retornar para a casa e ter a certeza de não dormir de barriga vazia.
Mas, é na saia dessa barragem que se encontra uma das pescarias mais curiosas que se tem notícia.
Durante o período das cheias, os pequenos afluentes despejam no lago as águas que descem de suas cabeceiras. Na ânsia de chegar ao mar as águas formam pequenas cachoeiras ao percorrerem os sangradouros da barragem. É chegada a temporada da piracema e os peixes tentam vencer as corredeiras para, rio acima, desovar e garantir a perpetuação da espécie e a mesa farta da temporada seguinte.
Esticadas tal qual uma rede, meaçabas de palha de babaçu são colocadas pelos pescadores, abertas e inclinadas ao lado das comportas. Jogando dominó e conversa fora, além de tomar um trago de vez em quando e outro de quando em vez, os pescadores ficam torcendo para que o peixe, ao tentar vencer o obstáculo do vertedouro, erre o pulo. Ao errar o pulo ele sai da água e cai do lado de fora, em terra firme. E dentro da meaçaba! Em pouco tempo a meaçaba está cheia de peixes. É hora de voltar para casa.
Se a natureza lhe é tão pródiga, pra que tanto esforço?
* Photo by Edgar Rocha
Talvez a “slow attitude”;, super em voga pelas bandas daqui, tenha sido inspirada nesses pescadores…
Mas acho que essa economia de esforço tb é coisa da natureza : muito calor, tem que ir devagar com a dor… senao ninguém aguenta!
bjs, bom texto, pai!
Ao ler sua publicação, lembrei das histórias que a minha mãe conta da praia de pescadores que eu nasci e a qual não conheço.
Não acho que o povo maranhense seja preguiçoso, mas creio que como falaste anteriormente a população não precise de tanto esforço.
Parabéns pela publicação de muito bom gosto
ETA GENTALHA PREGUIÇOSA DO DIABO!
Miséria é culpa dos Sarney? Os poucos maranhenses aguerridos estão-se aventurando nos estados do Norte, Guiana Francesa, São Paulo, Mato Grosso etc. É uma vergonha: o município de Tianguá-CE, sozinho, está abastecendo a Baixada Maranhense inteira, com hortifrutigranjeiros.
Eu e um conterrâneo jornalista fizemos uma enquete lá em Pinheiro, e constatamos que os homens mais trabalhadores, dos ali residentes, são: padre Risso (italiano), Zé Viana (cearense), Herminio (chileno), Takau (japonês) e Luis Bernal (espanhol).
Conheço meu estado quase em sua totalidade. Percorro zona urbana e rural. Já adquiri linguagens e hábitos rururbanos. Ultimamente, da boca da caboclada, isto virou monólogo: “impresti bancaro (com a intenção de aplicar calote), salaro-maternidade, apusentaria, fila do NPS, boça familha e demais parasitismos”. Roça é coisa do passado. A estrebaria virou caragem, o cavalo virou motoco e inté artomove já se atrevem cumprar. “Trabalhar ficô pra jumento!” Zombam. Terem filhos excepcionais, tornou-se o trofeu da corja familiar, significa garantia de um malefício na providênça sociá. Meu primo, pulíco, disse-me que era muito percurado por mulheres que queriam fazer laqueadura. Depôs do salário-maternidade e bolsa-família (antes era saco da marsupial mucura), nunca mais meu parente foi buscado pelas parideiras. Parto se converteu em fonte de renda.
Povo batalhador não vive esperando por governo. Um dos traços fortes de gente mofina, ou aliás, ergófoba, é-se dedicar a falar mal de políticos e governantes. A ideologia antitrabalhista da nossa gente, leva-a ao absurdo de odiar e até a sabotar as pessoas trabahadoras: “quer abarcar o mundo com as pernas, ganancioso, esfomeado, olho gordo, caviloso, quando morrer vai levar tudo no caixão etc”
O que dizer de um povinho que oferece as filhas como moeda de troca?
-Já riu, esse minhino, se o Brazí fosse depender de nortista, maranhenço e bahiano? Bahiano, (que me desculpe meu avô, lá nos quintos do inferno)! Nos casos da Bahía e os estados do Norte, o povo é moloide, mas é recompensado pelas riquezas naturais que atraem investimentos de forasteiros. A riqueza do Pará, por exemplo: está quase integralmente nas mãos de afeitos doutras unidades da federação. Enfim: o problema do Maranhão começa com “P”, mas não é de Pobreza, e sim de Preguiça! Que quelone, a deusa da preguiça, na mitologia grega, continue este povo guerreiro pela conquista fácil!
Meu amigo, não esqueça de Marajá do Sena e do Sr. Raimundo Gaspar lá de Miridiba em Paraibano. Confiamos e acreditamos em voce. Abraço e obrigada.
Que comentário infeliz
Cidadão a culpa é de termos nascido em uma terra mais que abençoada por Deus. Sou um pinheirensse nato, e tenho Pinheiro até no nome.
Se queres morrer de trabalhar ou tirar água de pedra p/não morrer de sede,vai pro sul votar no Tiririca ou p/ Ceará.
Nunca precisei sai da minha terra nem a passeio, e hoje trabalho na maior mutinacional da america latina. Niguem tem culpa de vc ter perdido o barro da vida e o contato com pessoas de boa casta, assim como o povo de minha querida cidade de Pinheiro, a eterna pricesa da baixada