Os mais prudentes dizem que o tempo é o senhor da razão. Outros, mesmo não tão prudentes assim, sabem que por onde passa ele é capaz de promover grandes transformações. O meu avô costumava dizer que o tempo esbandalha qualquer um…
Os carnavais, por exemplo, também vêm sofrendo com o passar do tempo.
Na Bahia, a Praça Castro Alves continua do povo, mas já não é mais a mesma. Os Blocos com seus abadás coloridos desceram a ladeira da cidade antiga e tomaram conta da orla marítima no Circuito Barra Ondina.
Em Recife os efeitos do tempo alteraram até o relógio biológico do Galo da Madrugada. Atualmente ele cacareja desde a manhã até tarde da noite, mas continua arrastando multidões pela Rua da Concórdia em direção ao centro da cidade.
Ainda bem que no Interior de Pernambuco os Papa-Angús de Bezerros estão, a cada dia, mais animados e em Olinda, sobretudo na parte antiga da cidade, o carnaval de rua resiste ao modismo e se consolida como a maior festa da alegria, da irreverência e do relaxo. A tradição se mantém forte com as Virgens de Olinda, com o Bacalhau do Batata e até mesmo a “Corda” permanece firme acordando bem cedo os foliões mais dorminhocos.
No carnaval do ano passado, embalado pelos acordes do frevo que levantava “até defunto da cova”, estava eu descendo a Ladeira da Misericórdia, espremido no meio da multidão, quando, de repente num gesto largo, um rapaz vestido todo de preto abriu os braços e gritou:
− Bóóóob! Bob! Calma Bob!… Calma!
Em sua camisa letras garrafais brancas identificavam a sua profissão: Domador de cachorro! Como num passe de mágica abriu-se um enorme clarão no meio da multidão. Todos com medo do cachorro! Rapidamente ele soltou de suas mãos uma pequena corrente e saiu puxando em sua extremidade um bob de plástico colorido. Daqueles que as mulheres usam para enrolar os cabelos…
− Bob! Bob! Calma Bob! E continuou puxando o seu Bob para alegria da galera.
Neste ano de 2010, o carnaval de São Luís volta a seu estilo tradicional com seus blocos e suas troças subindo e descendo as ladeiras do Centro da cidade. Na ilha do amor a modernidade só trouxe benefícios. Na Madre Deus, o Bicho Terra, por onde passa, faz o chão tremer arrastando multidões com sua energia única.
No nosso Carnaval de Rua mascarados e fofões circulam pelos becos e avenidas fazendo a animação dos foliões. O circuito da Rua do Passeio também está de volta. Os doentes da Santa Casa agradecem. E as crianças, com suas maisenas, também!
Tempos atrás, com o intuito de relembrar os velhos carnavais, tentei fazer um baile de máscaras na sede da antiga Associação Pinheirense. A idéia foi apresentada em reunião de Diretoria, recebendo apenas uma ressalva de um dos diretores presentes. Walter, com sua voz impostada, sentenciou:
− Tudo bem! Mas, com uma condição. Só entra na festa quem estiver a caráter, ou seja: mascarado!
O baile foi marcado para a primeira sexta feira gorda do carnaval.
Uma boa mídia encarregou-se da divulgação. Com uma decoração requintada, os salões ganharam animação com máscaras, confetes, serpentinas e músicas dos velhos carnavais.
Convidei um grupo de amigos e amigas, quase todas, vestidas de fofão e mascaradas. César, um de meus amigos mais chegados, agradou-se de uma animada mascarada e passou a festa inteira a cortejá-la. Vez por outra observávamos que César queria escorregar a mão boba por algum lugar e, imediatamente, algum de nós aproximava-se dele e recomendava cautela! A menina era de família, etc… Ele era o mais animado da festa. Dançou, pulou o tempo todo e não parou um instante. A mascarada deu-lhe uma canseira de fazer dó! No final da festa reunimos, todos, em volta da mesa. Meu amigo César, curioso para saber com quem havia dançando a noite inteira, não sossegou enquanto não retirou a máscara de sua companheira de festa!
Para gozação de todos os presentes, a mascarada era Dona Diana, minha mãe, então com seus 72 anos de idade e muita animação…
Fico contente quando vejo que a “febre” do axé, ou música baiana, não acabou com o nosso carnaval de rua. O retorno dos blocos ao centro da cidade, os bailes e os fofões, são manifestações culturais que não podemos deixar de preservar e incentivar, é o carnaval maranhense em sua essência.
zé ler quem tem conhecimento é bom ler quem tem cultura e sensibilidade é outra coisa um abraçoe continue nos brindando com artigos lindos como dos bailes de mascaras. abs pedro brito