Não sei se de tanto ver gente de branco nas festas de final de Ano ou se desmaiei após as comemorações… o certo é que acordei, no primeiro dia do ano, relembrando o sonho que tive na noite do reiveillon.
Como costumo sonhar colorido, chamou-me a atenção que todo esse meu sonho tenha se passado, tal qual os filmes de Charles Chaplin, em preto e branco.
As comemorações de Ano Novo variam de cultura a cultura e são celebradas em diferentes datas. Na China, o Ano Novo chinês, é festejado com a chegada da primeira Lua Nova depois do inverno. Entre 15 de janeiro e 15 de fevereiro os chineses comemoram a data com muitos fogos de artifício e o vermelho predomina na coloração das roupas e enfeites das cidades.
Para os muçulmanos a passagem do Ano Novo também tem data diferente: 6 de Junho, foi quando o mensageiro Maomé fez a sua peregrinação de despedida à Meca.
Por sua vez, o “Rosh Hashanah”, Ano Novo judaico é, também, uma festa móvel no mês de Setembro, onde a tradição manda comer peixe porque ele sempre segue para frente.
Aqui no Brasil, a cultura popular recomenda muita fartura e nada de comer quem cisca para trás. Frango, galinha e peru nem pensar! E a ceia deve ser iniciada, logo após a meia-noite, com uma boa porção de lentilha, para que não falte dinheiro durante o ano que está chegando.
O primeiro dia do Ano é dedicado à confraternização. É hora de fazer um balanço da vida e de começar o ano com as contas acertadas, de zerar as dívidas e devolver tudo que se pediu emprestado ao longo do ano. E, também, de usar o branco.
A cor branca significa pureza, sinceridade e verdade, além de elevar as vibrações e trazer energia positiva para enfrentar os novos desafios.
Há aqueles que atribuem a roupa branca a uma influência das tribos africanas que vieram para o Brasil durante o período da escravidão. Reverenciam Yemanjá e jogam flores e oferendas no mar.
O assunto dominante neste final de Ano foi a posse dos novos governantes. Tanto em Brasília, como aqui no Maranhão, a montagem da equipe de governo tem gerado muita expectativa na classe política e alimentado as manchetes dos Jornais.
Somente essa mistura de Ano Novo com política talvez possa justificar a presença, em meu sonho, de um personagem de terno branco que sempre acompanhava o José Sarney em suas andanças pelo Interior do Maranhão.
Dele, lembro apenas a história ocorrida em Pinheiro, por ocasião das eleições de 1962, quando deviam ser eleitos os representantes do Poder Legislativo. Meu avô Chico Leite apresentava o jovem José Sarney, como candidato a deputado federal, que se encontrava acompanhado de uma enorme caravana.
No palanque “Candinho Pé de Bola” animava a platéia e anunciava a comitiva. Embora portador de uma pequena deficiência na fala, com sua “língua presa”, ele era presença obrigatória em todos os comícios eleitorais.
Desta feita, com o microfone na mão, Candinho anunciava e pedia “uma calorosa salva de palmas” a cada um dos candidatos apresentados:
− Para vereador, Dedeco Mendes…, para deputado estadual, o médico amigo do povo desta terra, Dr. Antenor Abreu…, para deputado federal, nosso conterrâneo e filho mais ilustre de Pinheiro, Dr. José Sarney, para senador da República, Dr. Clodomir Millet…
Fez uma pausa ao identificar ao lado de Sarney um senhor de estatura mediana, gordo e impecavelmente vestido em um terno bem talhado de linho acetinado branco. Perguntou, baixinho, quem era esse cidadão. Sopraram-lhe o nome, que de pronto foi apresentado, para o deleite da multidão.
− … E, para presidente da República, Dr. Gaaaspariiiiinho! Entoou com forte acento.
Tão incrível quanto a nossa mente, que consegue misturar num mesmo sonho, de forma atemporal, personagens e imagens que nada tem em comum, é a capacidade que as palavras têm de, a partir de uma simples idéia, ser manuseadas, ganharem vida e transformadas em uma estória.
Feliz 2011.
Estava sentindo falta dos “causos”, ainda bem que me lembrastes na academia.
Abraço