O Natal se aproxima. Haja tempo para tanta confraternização. É período de dar e de receber presentes. Além do carinho de amigos, e de outros mimos, um presente me deixou pleno de alegria. Um sabonete de andiroba.
Leio nos Jornais que a governadora Roseana está reeditando a experiência das Gerências Regionais.
Tive a oportunidade, no início de seu segundo mandato, de implantar a Gerência de Desenvolvimento de Rosário. Um grande desafio a enfrentar para potencializar o crescimento dessa região, pobre, composta por 11 municípios, a maioria deles isolados devido à falta de acesso rodoviário.
Lembro de uma tentativa de agregar valor a uma atividade quase extinta no município de Axixá. Na bacia do rio Munim muitas famílias ainda vivem devido ao extrativismo das sementes da andiroba.
Carapa Guyanensis (esse é o seu nome científico), conhecida como o mogno branco, quase teve sua extinção decretada pela derrubada das florestas em busca da obtenção da madeira.
Graças às propriedades medicinais de suas sementes, essa frondosa árvore resistiu ao tempo e ainda podem ser observadas manchas verdes formadas pelos frondosos andirobais na região entre Axixá e Cachoeira Grande.
Rica em vitamina E, antiinflamatório, antisséptico, cicatrizante, repelente de mosquitos e muitos outros atrativos, a andiroba ainda é a fonte de renda para muitas famílias. O sabão de andiroba, feito de forma rudimentar, continua sendo produzido e comercializado na região.
Àquela época, visitei algumas pequenas “fábricas”, conversei com as catadoras, e pude verificar o quão importante era buscar uma alternativa para preservar os andirobais sem tirar o sustento dessa gente.
Fala-se tanto das quebradeiras de coco, mas é completamente desconhecida a atividade das catadeiras de sementes de andiroba. Imaginem a epopéia dessas mulheres embrenhando-se nas matas, ao raiar do dia, com um cofo nas costas, em busca das sementes que se espatifam no chão ao caírem das alturas.
Carregando o que podem, elas retornam para casa no final do dia para armazenar no quintal de casa, aquela ruma de sementes.
Findo o período da colheita inicia-se o processo de fabricação do azeite. Um tonel de 200 litros é cheio de água com as sementes e posto a ferver durante dias. Escorrida a água, as sementes estão cozidas e prontas para a retirada da massa. Durante essa etapa, as mulheres reúnem-se num terreiro sentadas em frente umas às outras, entoam cantos populares e, cada uma, munida com uma pequena ferramenta tal qual uma meia colher de alumínio, retira a massa branca dentro das sementes. Trabalho de dias e dias!
Exaustas, cada uma retorna à sua casa, levando aquela polpa branca já oxidada pelo tempo. Com as mãos calejadas pelo trabalho, elas amassam aquele bolo e deixam repousar por cerca de trinta dias em uma prancha de madeira (às vezes um casco de uma velha canoa) inclinada.
A massa inerte fermenta e, de repente, como se estivesse chorando sob o sol torrente, lágrimas de um azeite dourado começam a pingar. É o mais puro óleo essencial de andiroba. Trinta dias de trabalho para produzir 20 litros de azeite.
Consegui alguns litros dessa preciosidade e enviei para um químico, amigo meu, no Rio de Janeiro.
Certo dia, estava na sede da Gerência, quando recebi, pelo Correios, um pacote. Ao abri-lo, deparei-me com uma quantidade de sabonetes, nas mais diversas cores, perfumes e formatos. Eram sabonetes de andiroba manipulados com esmero pelo meu amigo Pimentel. E cada qual com a sua receita ao lado. Confesso que fiquei emocionado. Como engenheiro, fiz a minhas contas e vi que podia oferecer uma alternativa de renda sustentável para aquela gente.
A singela capelinha no povoado Rio Grande encheu-se de gente naquela noite. Havia convidado a comunidade para uma reunião aonde iria apresentar a idéia de montar uma Associação das mulheres catadoras de andiroba e implantar uma pequena fábrica de sabonetes.
Todos atentos enquanto eu discorria sobre a possibilidade de agregar mais renda à atividade dessas mulheres. De que forma? Transformando o azeite em sabonete: Uma lata do azeite, mais uma de açúcar, meia de álcool, uma de barrilha, duas de água, umas pitadas de corante e outras mais de “cheiro”. Aquecida a mistura, deve-se buscar o ponto e colocar o sabonete líquido nas devidas formas para esfriar. Depois de cortados um a um, e devidamente embalados, estariam prontos para a comercialização.
Ao fazer as contas, eu mostrava que se elas vendessem a lata de azeite elas apuravam R$ 25,00. Se utilizassem o mesmo óleo e gastassem mais R$ 100,00 com os outros ingredientes, fabricariam 800 sabonetes que poderiam ser vendidos, cada um, a pelo menos R$ 2,00.
Nesse momento, abri a caixa e fiz circular pelo salão da capela todos aqueles sabonetes fabricados pelo meu amigo Pimentel. Um alvoroço geral! Esperei a platéia se acalmar, recolhi os sabonetes (muitos deles não retornaram a caixa de origem…) e abri a reunião para as perguntas.
Sentado num banco bem ao fundo da igreja, um senhor já idoso, meio cético, indagou-me no alto de sua sabedoria.
− Mas, doutor! Se esse negócio é tão bom assim como senhor tá mostrando, porque que o senhor faz pro senhor mesmo?…
Expliquei a minha atuação enquanto gestor, justifiquei o papel da Gerência e o interesse do Governo em desenvolver a região. A Associação foi criada e o projeto elaborado. O Sebrae foi envolvido na capacitação e no desenvolvimento das embalagens e o governo liberou os recursos. A comunidade construiu a fábrica, adquiriu os equipamentos e começou a fabricar os sabonetes.
12 anos depois, recebo de presente de Natal um sabonete de andiroba. Com aquela mesma embalagem, continua sendo fabricado pela mesma Associação. Exemplos como esse poderiam estar sendo potencializados em todo o Estado do Maranhão aproveitando-se de nossa imensa riqueza vegetal.
Nossa missão aqui na terra é contribuir para transformar o caos em cosmo. Foi isso que você fez ao produzir sabonete a partir da semente da andiroba. O grande Montesquieu tem uma grande frase sobre isso: “Qualquer homem é capaz de fazer bem a outro homem; mas contribuirmos para a felicidade de uma sociedade inteira é parecermo-nos com os deuses.”
Parabens
Forte abraço
Na verdade, fiz um comentário em seu e-mail e gostaria de saber se o recebeu, pois consta que teria sido devolvido. Gostaria que me desse o retorno para que eu possa tentar reenviä-lo, se for o caso. Muito grato.
Na verdade, não recebi o comentário. Podes reenviá-lo?
Não sei o que está ocorrendo com a minha caixa para comentários. Como o seu comentário veio para a minha caixa de e-mail, vou transcrevê-lo aqui. Entendo como deve ser frustante para pessoas que têm boas idéias e não dispoem de espaço para divulgá-las!
Segue, portanto, sua idéias para serem compartilhadas com os demais leitores.
Obrigado.
“Boa noite!
Parafraseando o Sarney poeta, digo-lhe que também fui feito José ( Luiz ) e que, igualmente, minha mãe me deu um imenso coração, que por morrer de amores pela minha cidade, pelo meu berço, tem se debatido intensamente dentro do meu peito, desde que tomei consciência da vida e do viver e já se vai aproximadamente uns quarenta e poucos anos essa angústia, esse sofrimento, que tem se alternado ao longo dos anos com momentos de êxtase e encantamento proporcionados pelas belezas naturais da ilha.
Bom, depois dessa tentativa de apresentação devo dizer que aqui estou para parabenizá-lo pelo trabalho realizado junto a comunidades de Axixá, na implantaçao de um processo de industrializaçao da andiroba, quando de sua passagem pela Gerencia Regional de Rosário. E lamento, como vc bem diz ao concluir sua postagem, que exemplos como esse não tenham se multiplicado em nosso Estado, que é possuidor de três rios perenes, do porto mais próximo da Europa, e de uma imensa e inexplorada riqueza vegetal. Não consigo entender por que nossos gestores não dão tratamento igual ao abacaxi de Turiaçu ( que acredito que poderia ser cultivado em outras regiões do Estado se os técnicos da Agricultura desenvolvessem pesquisas nesse sentido ), ao bacuri, ao cupuaçu, ao babaçu, ao murici ( antes ou como um bom motivo para que as terras não sejam ocupadas pela monocultura da soja ), o que, certamente, tiraria milhares de irmãos maranhenses da linha da pobreza absoluta.
Aproveito a oportunidade para, consciente da sua sensibilidade como cidadão e sabedor da sua proximidade com a família Sarney, compartilhar com vc alguns sonhos que têm feito morada no coraçao deste ludovicense apaixonado. Tenho dito que o melhor prefeito que tivemos nos últimos anos foi a Governadora Roseana em sua gestão anterior a esta que se findou, quando ela, ao criar a Gerencia Metropolitana, invadiu a cidade e fez construir a Lagoa da Jansen, os Projetos Viva e os elevados. Sabedor das dificuldades que o prefeito atual tem para dar à cidade o tratamento que ela merece e que nós, seus habitantes, merecemos, tenho torcido para que ela reedite esse gesto, dando à nossa ilha condições dignas de comemorar seus 400 anos.
Mas, o que tenho visto em meus sonhos? A bem da verdade, devo dizer que várias das idéias que se seguem foram repassadas ao Dr. Tadeu quando ainda prefeito da cidade.
1 – Imagine a Pça Deodoro – a parte mais próxima à Biblioteca – tendo seus jardins tratados e protegidos externamente por uma cerca alta e bem no centro uma cúpula como a do Palácio de Cristal em Teresópolis ( ou Petrópolis?) ou a do Jardim Botanico de Curitiba, devidamente climatizada, com segurança 24hs/dia, dando guarida aos bustos dos nossos homens/mulheres ilustres;
2 – Tente imaginar o Sítio Sta. Eulália, hoje entregeue ao acaso ou descaso, sendo transformado no nosso Parque Ibirapuera, pense!
3 – Agora, imagine o Itapiracó sendo transformado no nosso Zoo-Botanico!
4 – Sugeri ao Tadeu que colocasse na Lagoa da Jansen uma grande balsa de vidro que seria utilizada para que fossem colocados/montados: no Natal uma grande árvore de Natal, no S. João um grande boi com um brincante e no Carnaval um belo e imenso fofão.
5 – Sugeri, também, que fossem escolhidas alguns retornos da cidade para que ali fossem colocados monumentos de fácil manutençao, que retratassem aspectos de nossa cultura, folclore, tradições e culinária, selecionados a partir de concurso público que envolvesse nossos designers e arquitetos. Infelizmente, o que se viu foram algumas peças de metal que nào consegue se identificar o significado.
6 – Mais um sonho – a litorânea se extendendo até o Araçagy, uma necessidade já que a cidade está crescendo vertiginosamente naquela direção.
7 – Agora imagine todas as principais avenidas e vias de acesso da cidade devidamente asfaltadas!
8 – Tente agora visualizar a Litorânea com todas as barracas devidamente restauradas e pintadas, cada uma com uma cor forte e diferente ( azul, verde, rosa, etc ) e com desenhos sugestivos!
9 – Ah, e o cemitério do Gavião devidamente repaginado!
Então, agora que acordei, ficarei torcendo para que vc me ajude a transformar tudo isso em realidade. Os recursos? Certamente as grandes Empresas já instaladas ( Alumar, Vale, etc ) e as que estão se instalando, teriam o maior interese em colaborar com o poder público. É preciso ousar – A VIDA É UMA AVENTURA ARRISCADA OU NADA!
Torna-se imperativo que o potencial turístico da cidade seja devidamente explorado, para que possamos prescindir dos empreendimentos poluidores. Isso gera receita ( vide Natal, Fortaleza, Maceió, Aracaju, etc ) e dignidade. É o melhor patrimonio que poderemos deixar para as gerações futuras.
SEJAMOS MODESTOS, QUEIRAMOS O MELHOR!!!, pois A PIOR POBREZA É A POBREZA DE ESPIRITO!!!
Que a nossa Governadora possa realmente nos brindar com o melhor governo para a nossa gente!
Abçs. José Luiz.”