Folha de Pindoba

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Sempre que viajo pelo Interior do estado em companhia de técnicos do setor elétrico sou indagado sobre a pujança dos nossos babaçuais e sobre o seu aproveitamento. Muito se tem pesquisado a respeito, porém, até os dias atuais, ainda não se conseguiu desenvolver a cadeia produtiva a ponto de tornar economicamente viável sua exploração.

Nos últimos anos as pastagens vêm ocupando os espaços abertos a fogo no seio das florestas, os sabiás já não cantam como outrora e as quebradeiras de coco enfrentam uma luta sem trégua pela preservação de nossas palmeiras.

Recentemente, o Eike Batista encontrou uma das maiores reservas de gás natural em nosso estado. E sabem onde ela se encontra? Abrigada sob os densos babaçuais de Capinzal do Norte! E já tem gente achando que onde tem babaçu… tem petróleo… Vai ver que encontraram a verdadeira vocação das nossas florestas de coco babaçu…

Pensando nisso, uma cena chamou a minha atenção recentemente. Estava eu numa sapataria da Rua de Santana quando notei a presença de uma moça que, pelo modo de vestir e falar, deduzi ser uma moradora daqueles povoados bem distantes. Pareceu-me ser a primeira vez que ela visitava uma cidade grande. Sua expressão facial e o brilho de seus olhos denunciavam o encantamento com tudo que via nas prateleiras da loja. Olhar curioso, falar manso e com fortes traços indígenas, não deixava dúvidas. Era uma matuta daquelas bem autênticas.

Queria comprar um par de sapatos para dar de presente a uma filha que ia ser batizada. Ao ser indagada pelo vendedor sobre qual era o “número” do sapato, ela não soube dizer. Mas, prontamente, abriu a bolsa e lá de dentro sacou um pedaçinho de folha de pindoba que servia de medida do pé da menina. Desenrolou e passou às mãos do vendedor.

Para os incrédulos, mais uma das mil e uma utilidades do babaçu!

Faço esse registro, pois o uso da folhinha de pindoba como gabarito de medida era um costume muito usado nos tempos passados.

Aplicação mais curiosa ainda da folha de pindoba, como padrão de medição, também vem de um personagem do Interior do Maranhão.

Dr. Chico Cunha, médico ginecologista recém formado, certa feita consultava uma moça num Posto de Saúde na Mata do Boi, hoje município de Bela Vista. Chamava-se Rosilda. Mãe de 11 filhos (seis meninas e cinco meninos), dois deles nascidos no mesmo ano. Postos um ao lado outro formavam uma escadinha de 1 a 12 anos. Ela falava sobre as dificuldades para criar essa “ruma de filhos” sendo quebradeira de coco, dona de casa e o marido, um pobre lavrador do mato.

Rosilda vinha pedir ao doutor Chico para ligar as trompas dela, pois “eles moravam no “Centro”, sem energia (o Luz para Todos ainda não existia), sem televisão, e que a única diversão que tinham era fazer filhos…” Disse ainda ao doutor que, ao sair de casa para ir ao Posto de Saúde, o marido recomendou:

– Rosilda, já que tu vai fazer essa tal de ligadura, pede pro doutor dá uma apertadinha na “perseguida”.

Antes do preparo da paciente para realizar os exames Rosilda abriu a bolsa, retirou uma folha de pindoba e passou às mãos do Doutor Chico.

– O que é isso dona Rosilda? Perguntou, surpreso, o médico!

– É a medida da “natureza” de meu marido que eu trouxe pro senhor ver.

– Mas pra que que eu quero isso?! Disse Chico Cunha livrando-se da folha de pindoba.

– É pro senhor tirar a medida…

Chico assustou-se com o comprimento da “natureza” do marido de dona Rosilda, mas, mesmo assim, indagou?

– Só por curiosidade, dona Rosilda! – Quando a senhora tirou a medida, a “natureza” estava viva ou estava morta?

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