Novos tempos, novas práticas.
Com o calendário eleitoral cada vez mais curto, os candidatos buscam otimizar o pouco tempo permitido pela legislação para divulgar sua mensagem e estar presentes em lugares distintos ao mesmo tempo. Para isso, lançam mãos dos veículos de comunicação e suas imagens são levadas adesivadas nas laterais e para-brisas dos automóveis.
Pouco tempo atrás, o período destinado às campanhas era muito maior e a legislação era muito mais frouxa. Era grande a poluição visual com out doors espalhados ao longo das estradas e avenidas, pintura de muros, postes e viadutos. Os ouvidos dos eleitores eram agredidos com aqueles insuportáveis trios elétricos que circulavam pela cidade, sem horário definido, repetindo jingles, nem sempre de bom gosto. Ir à praia aos domingos e ter que agüentar aquelas músicas… que sofrimento! Ainda bem que a nova legislação eleitoral veio para disciplinar um pouco mais essas obsoletas práticas de campanha.
Durante o período eleitoral, os candidatos que disputavam as eleições tinham que mandar confeccionar milhares e milhares de cartazes. Muito utilizados eram os retratos em “preto e branco”. Mais baratos, registravam apenas o nome, o slogan e o número do candidato. O formato variava do tamanho A2 aos minúsculos “santinhos” que sobrevivem aos dias atuais, graças à sua portabilidade e repaginados nos formatos semelhantes aos cartões de crédito.
Os softwares ainda não existiam. Hoje, os candidatos apelam para os recursos do Photoshop. E como apelam! Conheço um deputado que vem usando a mesma foto de 20 anos passados. Outros até que se deram ao trabalho de procurar um Studio fotográfico para tirarem novas fotos. Mas dão uma trabalheira enorme para os profissionais que exageram nos retoques desfigurando o semblante de quase todos eles. Tem candidato que a gente só reconhece porque está escrito o nome dele. Estão irreconhecíveis nas fotos na tentativa de parecerem mais jovens do que são na realidade.
Tenho um amigo que vota num certo deputado desde que tirou o título de eleitor. Mesmo sem tê-lo visto há muito tempo, ao observar o cartaz da propaganda eleitoral, comentou em voz baixa:
− Puxa vida, se até com a ajuda do Photoshop meu candidato tá velho, imagina como não deve estar pessoalmente…
Dias atrás, em visita não oficial ao estado do Maranhão, o novo embaixador da França no Brasil retornava de Barreirinhas extasiado com a beleza dos Lençóis Maranhenses.
− C´est étonnant! Magnifique! Dizia ele.
Ao fazer um tour pela cidade, admirado pela grandiosidade do casario colonial do Centro histórico de São Luís e atento ao comportamento amistoso do povo de nossa terra, o embaixador não deixou de observar:
− Aqui em São Luís os candidatos são todos alegres?
− Como assim? Indaguei eu?
− Veja os adesivos nos carros e nos cartazes espalhados pela cidade! Todos portando um generoso sorriso!
Comecei a observar e acabei concordando com ele.
− Deve ser para agradar os eleitores… Pensei comigo mesmo.
E dou um doce para quem encontrar uma foto de um candidato desprovido de um largo sorriso estampado no rosto.
Tem candidato com a cara pior que uma jaca e no material gráfico parece a pele de um bebê.