A França e os tupinambás

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Todo maranhense tem o sonho de conhecer Paris.

“São Luís vai virar Paris, vai virar Paris, já está por um triz …” Assim cantam os foliões, subindo e descendo as ladeiras do centro histórico, animando o nosso carnaval. Ainda falta muito, mas temos aqui também nossos encantos e disso estão certos Gerude e Jorge Tadeu, os autores da canção.

Na verdade tudo isso tem um componente genético. Alguns cromossomos de nossos antepassados tupinambás ainda se fazem presentes em nosso DNA.

A história registra que foram seis índios tupinambás que, em 1º de dezembro de 1612, embarcaram no navio Régent para atravessar o Atlântico e fazer o primeiro tour rumo ao velho continente. E sabem para onde foram? Para a França, lógico!

Acompanhados do guia Claude d’Abbeville, desembarcaram no porto de Hâvre, cruzaram a Normandia rumo a Rouen  para conhecer a famosa Catedral e, como todo turista que se preza, o destino final era Paris.
Recebidos com honras de chefes de Estado, passearam pela Saint-Honoré e ainda foram conhecer o Louvre… Na época, ainda não era o famoso museu dos dias de hoje, mas sim, o palácio residência do Rei Luís XIII.

Os índios tupinambás causaram enorme curiosidade e fizeram grande sucesso, tendo sido recebidos com entusiasmo pela corte real. Três deles, com suas roupas ou devido à falta delas, não resistiram ao intenso frio do inverno europeu. Morreram antes de verem desabrochar as flores da primavera do hemisfério norte.
Os sobreviventes, em pouco tempo, trocaram as folhas da diamba pela flor-de-lis. Em solene cerimônia de batismo presidida pelo arcebispo de Paris Henri de Gondi, os novos cristãos tupinambás receberam das mãos da rainha mãe Maria de Médici e do jovem Rei Luís XIII, as cruzes ornadas com o símbolo da monarquia francesa.

Durante o tempo em que permaneceram na França, plantaram suas sementes e lá deixaram descendentes. Sabe-se que nas veias de muitos franceses ainda corre o sangue dos nossos antecedentes tupinambás.

Enquanto isso, os franceses que desembarcaram aqui na Ilha de Maranhão, ficaram extasiados com a habilidade dos índios na confecção dos cestos em palha de babaçu.  Couffe, couffin, são palavras francesas para designar cesto, paneiro. Com o passar do tempo, couffe acabou virando cofo, incorporando-se ao vocabulário local e, curiosamente, é uma das raras palavras da língua portuguesa, de origem francesa, conhecida apenas aqui no Maranhão.

São Luís sempre se julgou mais próxima do continente europeu do que do Rio de Janeiro. Suas elites importavam da Europa as pratarias do Oriente, faianças francesas, azulejos portugueses, sedas, linho, casimira inglesa e demais artefatos refinados.

Durante séculos, os filhos de famílias abastadas do Maranhão dirigiam-se à França para completar seus estudos, a exemplo de Gonçalves Dias e Sousândrade. Desde então, a França mantém certo fascínio sobre as mentes maranhenses.

Recentemente, quando da restauração do casarão da Rua do Giz que hoje abriga a Casa França Maranhão, foram achados objetos que revelam o culto aos hábitos franceses. Durante a pesquisa arqueológica que antecedeu o início das obras, foram encontrados, no pátio interno dessa morada colonial que chegou a abrigar o governador Colares Moreira, cachimbos de grés (porcelana não translúcida), faianças francesas, garrafas de champagne – vazias, porém francesas, biensûr – e até escovas de dentes de uma série comemorativa, em cujo cabo (feito de osso), está grafado em francês: pour l´Empereur du Brésil Pedro II.

Nos dias de hoje, se alguém quiser se sentir na França, que faça uma visita ao Palácio dos Leões, sede do governo do Estado do Maranhão. Seus requintados salões nos remetem à corte francesa. Os diversos ambientes abrigam, com raro requinte, móveis de época, pinturas e a mais rica coleção de gravuras francesas existente fora da França. O encantamento é visível nos olhos de todos que o conhecem.

Nesses quase quatrocentos depois que os franceses desembarcarem em São Luís os tupinambás quase desapareceram do mapa. De nossos antepassados, mesmos, só restam os franceses e os portugueses que os sucederam depois.

3 comentários para "A França e os tupinambás"


  1. diogo adriano

    Estava com saudade dos seus escritos JJ. Realmente todo maranhense tem vontade de ir à França, para os que não foram você é uma grande oportunidade de conhrcer as riquezas culturais desse país maravilhoso. Será que por isso tu es Cônsul da França? Há há há!!

  2. GONTRAN

    Meu Caro José Jorge,
    Mais uma vez me deleito com sua verve camuflada de poeta e jornalista.
    Faça outras belas páginas para nós.
    Quando puder, irei à França.

  3. Zeca Ligiéro

    Muito interessante o artigo, estava curioso para saber mais sobre os 3 indios que sobreviveram, mas voce deu muitas informações imporantes, obrigado! Informativo, bem escrito, e útil. Obrigado

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