Junho e suas histórias

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boi-de-sao-bento1.jpgO mês de junho é o mês das festas populares. Tem santo e brincadeiras para todo gosto e é pródigo em histórias interessantes.

Esta me foi contada por João Muniz, prefeito por três mandatos e grande liderança política da Baixada maranhense.

E por falar em santo, teria acontecido em São Bento. Uma das cidades mais antigas do Estado, conhecida pelo seu queijo de sabor inigualável e pelas belas redes de linha de algodão. Mais ainda pelos seus belos campos repletos de jaçanãs, marrecas e japeaçocas que teimam em migrar do hemisfério Norte, voando milhares de quilômetros, para serem ali abatidas sem piedade pelos caçadores.

Até a primeira metade do século passado, São Bento era uma das principais cidades da Baixada maranhense. Mas, assim como a grande maioria das cidades do Interior do Maranhão, não dispunha dos serviços de energia elétrica.

Logo após a segunda Guerra, no ano de 1945, o interventor da cidade Augusto Soares, conhecido pelo apelido de “Farinha D’ Água”, foi comunicado pelo interventor federal no Estado Clodomir Cardoso, que seu pedido de um grupo gerador para fornecer eletricidade aos moradores da cidade, seria atendido em breve. Um sonho, afinal, iria se realizar. A notícia espalhou-se rapidamente pelos quatro cantos da cidade enchendo a todos de esperança.

Imaginem a dificuldade para transportar um equipamento, daquele porte, da Capital até a sede do município!  Atravessar a baía de São Marcos! Que aventura! E depois ainda ter que enfrentar a longa vala, aberta pelas mãos do homem, que dava acesso ao cais da cidade.

Após uma extenuante conversa com o barqueiro para adaptar o barco e fazer toda a estiva necessária, o grupo gerador, enfim, chegou e foi recepcionado em grande estilo pelos moradores. A multidão aglomerava-se no cais do porto. Debaixo de muito foguete, o motor de luz (assim era chamado na época) foi descarregado nos braços do povo.

Em agradecimento, o prefeito Augusto Soares decidiu “montar um Boi” para homenagear o interventor que havia prometido estar presente na cidade por ocasião da inauguração da rede elétrica.

O folclore maranhense registra a existência do “Poção de São Bento”, segundo o qual, quem nele tomar banho ou da água beber, acaba falando fino imediatamente. Dizem até que os aviões modificam suas rotas para deles se desviarem… De certo é que os poções são pequenos lagos de água doce que conferem aos campos da região uma beleza sem igual e são responsáveis pelo habitat tão procurado das aves migratórias que nos visitam de tão longe.

Preocupado com isso, Augusto Soares mandou procurar pelas redondezas e acabou encontrando  em Pinheiro, na região do Gama, um cantador que tivesse uma bela voz.

Egídio, o amo contratado, descendente dos negros do quilombo do Frechal, era daqueles pretos altos, fortes, ombros largos tal qual um guarda-roupa. Sua voz parecia um trovão.

Tecidos coloridos de seda, paetês, canutilhos e fitas foram comprados em São Luís, bordadeiras esmeraram-se na feitura do couro do Boi e das roupas dos brincantes. Dois meses de ensaios não foram suficientes. Mas o que fazer? O interventor chegaria em poucos dias…

O mês era junho. Na inauguração, em frente ao prédio da Usina, o prefeito recepcionou Dr. Clodomir Cardoso com todas as autoridades presentes. Após o tradicional corte da fita e dos discursos de praxe, Augusto Soares apresentou Egídio ao interventor e ordenou o início da apresentação.

Egídio, com seu vozeirão, berrou alto, deu ordem unida ao batalhão com uma salva de apitos e começou a cantoria:

− Prefeito Augusto… Comprou um motor de luz…

Reforçou de forma grave e ainda mais alta o refrão:

− Prefeito Augusto… Comprou um motor de luz…

− Vamo lá rapaziada! Bradou alto convocando os vaqueiros a entoarem o canto.

E a rapaziada, em coro e com um uníssono falsete, entoou:

− Pra iluminar nossa cidade…

O vexame foi tão grande que somente depois de muitos anos ouviu-se falar do Boi de São Bento.

Folclore a parte, o Boi de São Bento, com seu sotaque da Baixada é hoje uma das referências culturais de nosso Estado.

E o povo de São Bento só veio a se livrar da precariedade da energia fornecida pelos grupos geradores, já no ano de 1969, quando João Muniz era prefeito e o governador José Sarney fez chegar até lá a energia elétrica através do sistema interligado vindo de Boa Esperança.

Por conta disso e de outras ações João Muniz elegeu-se ainda mais duas vezes e, atualmente, está engraxando os sapatos para uma nova caminhada rumo à prefeitura.

1 comentário para "Junho e suas histórias"


  1. Omar

    J.J.!

    Se fosse nomear este projeto de expansão elétrica, daria-se o nome de LUZ ALEGRE, para poder-se homenagear o pessoal q passou pelo poção ou bebeu de suas águas.

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