Guardo algumas recordações do período em que fui deputado. A política me permitiu conhecer com mais profundidade a realidade de meu Estado, contribuir para melhorar as condições de vida de muitas comunidades e presenciar fatos que somente o exercício do mandato nos permite.
Lembro-me de um episódio ocorrido no município de Guimarães. As forças políticas locais encaravam as eleições como uma verdadeira guerra. Os grupos não se toleravam. Os Camaleões, como eram conhecidos, usavam roupas verdes e os Chicos-Pretos só vestiam encarnado.
De um dos lados, Celso Coutinho, grande liderança local. Já havia sido prefeito em outra ocasião, ex-presidente da Assembléia Legislativa do Maranhão e acabava de vencer as eleições municipais. Seus correligionários, vestidos de vermelho, tremulavam as bandeiras na porta da Prefeitura, esperando a hora de marcharem, todos juntos, para a Câmara dos vereadores. O novo prefeito iria levar a mensagem do Poder Executivo.
O prédio da Câmara estava ocupado pelos camaleões seguidores de Agenor Gomes e do Dr. Artur Farias, que comandavam a outra banda política de Guimarães. Completamente lotado, o salão nobre da Casa fervilhava sob o comando do vereador Mariano, recém-eleito presidente da Câmara. Ferrenho adversário de Celso, o vereador, com sua inseparável camisa “verde cheguei”, estava ansioso pela chegada do novo prefeito ao seu “terreiro”.
O clima não podia ser mais tenso!
O prefeito e seus seguidores chegaram ao local debaixo de vaias e foguetes. Foi um empurra-empurra cruel. Acalmados os ânimos, a Mesa foi montada, e o vereador Mariano iniciou o discurso de boas vindas (na verdade de más vindas) ao Prefeito, que, desacatado, resolveu abandonar o recinto.
De volta à Prefeitura, em passeata, seguido pelos seus eleitores, o novo prefeito dirigiu-se ao gabinete e, de uma canetada só, demitiu uma enorme quantidade de funcionários da Prefeitura nomeados pelo ex-prefeito, seu adversário.
Dois anos antes, nas eleições proporcionais, o grupo derrotado havia apoiado Zé Jorge e Gastão Vieira, este filho da terra, como seus representantes na Assembléia Legislativa e na Câmara dos deputados.
Era dia primeiro de janeiro de 1997. Como havíamos perdido as eleições municipais, tomei um avião monomotor em São Luís e decidi prestigiar o nosso grupo político.
Tão logo o avião aterrissou (o prédio da Câmara ficava na cabeceira da pista), fui recebido pelas nossas lideranças, que me relataram o que acabara de acontecer.
Resolvi ajudá-los e tentar, com o novo prefeito, contornar a situação criada pelas demissões. Alguns me advertiam que não deveria ir até a Prefeitura, pois correria o risco de “levar uma sova” dos Chicos-Pretos.
Mas eu tinha certeza de que o Celso Coutinho, por mais radical que pudesse parecer, não permitiria que tal agressão se consumasse. Fui. Conhecia o prefeito por intermédio de meu tio Jurandy Leite, seu amigo e ex-parlamentar de mesma Legislatura e, assim como ele, dono de Cartório em São Luís.
Formamos uma comissão (vereador Wilson, Nilce e mais duas professoras) e fomos recebidos pelo prefeito em seu gabinete.
Sentado na cadeira, cercado de assessores, vereadores e outras lideranças, o prefeito passou a me relatar os insultos que havia recebido, durante a campanha, de alguns funcionários do Município. Dizia ele que, de agora em diante, essas pessoas J A M A I S trabalhariam com ele.
Reforçou Celso: ̶- Deputado Zé Jorge, essa moça que faz parte de sua comitiva e que está aí, ao seu lado, é MINHA funcionária…
-̶ Eu não sou sua funcionária! Retrucou a moça imediatamente. ̶ Eu sou funcionária da PREFEITURA!
-̶ Mas eu sou o PREFEITO!…
O clima da reunião começou a esquentar.
-̶ O senhor acredita, deputado ? Continuou Celso. ̶ Que essa moça tem um cachorro?!?!
Fiquei em dúvida, sem entender qual seria o problema, ao que o prefeito continuou: – E o senhor sabe como se chama o cachorro dela?
– CELSO COUTINHO! Bradou o prefeito, esmurrando a mesa.
-̶ E já estou arrependida de tê-lo feito… Retrucou a professora, a essa altura cercada e protegida por seus correligionários.
O tempo fechou e a reunião acabou ali mesmo.
Zéjorge
Depois de longo período sem acessar teu blog, “fi-lo” ( Asim diria Jânio Quadros?) hoje e sentí um pouco de saudade do nosso bloco Amigos do Agenor. Infelismente não deu para passar o Carnaval aí em São Luis. No próximo ano estarei firme atrás do burrinho.
Um abraço
Erasmo
O TEU NOME TAMBEM JA ESTA SAINDO, FRESQUINHO, NUMA LISTA DE FANTASMA DO GOVERNO FEDERAL.