Muitos hábitos e costumes, entre eles a dança de Salão, foram introduzidos ao povo brasileiro pela família Real quando de sua chegada ao Rio de Janeiro no século XIX.
Bastante popular na Europa, praticada desde o século XV, a dança de Salão foi, aos poucos, caindo no gosto popular. Permanece até hoje, para o encanto daqueles que se deixam levar pela melodia da música e pelos gestos e posturas do corpo.
O tempo passa e, no Rio de Janeiro, as gafieiras Elite e Estudantina perpassam gerações, para o deleite de muitos. Aqui em São Luís, mais recentemente, verificou-se o surgimento de diversas Academias de Dança, destacando-se a escola de dança Corpo e Alma, tendo à sua frente Idelfonso e Larissa que deslizam nas pistas do salão tal qual uma pluma flutua ao sabor dos ventos.
O Studio de dança Play Carlos, a Escola de Dança Expressar, entre tantas, estão sempre lotadas de alunos em busca do equilíbrio do corpo, embalados pelos mais diferentes ritmos musicais. Uma verdadeira epidemia!
A febre tem contagiado muitos. Inclusive a mim mesmo que até então me considerava um “pé de valsa” nato. Mesmo acreditando que não precisaria de aulas, não resisti aos apelos da minha mulher Beth e decidi matricular-me numa escola. Que decepção! Logo cedo, tive que me recolher a minha modesta insignificância. Fui me socorrer com o filósofo Sócrates que dizia que o primeiro passo para o crescimento é reconhecer a própria ignorância. “Só sei que nada sei…” No caso em questão, comprovei que só sei que nada danço!
Este assunto me faz lembrar de uma estória contada pelo meu pai Orlico que, quando jovem, trabalhava em Pinheiro com o português Albino Paiva.
Símbolo do poder econômico que ele representava naquela época, Albino Paiva decidiu construir o sobradão colonial da Avenida Paulo Ramos, onde havia destinado o piso térreo às suas atividades econômicas e o pavilhão superior, dotado de um enorme terraço com vista para os campos do Pericumã, como morada da família.
Tinha o hábito de calçar “socos”, aqueles tamancos de madeira que no interior do estado eram muito conhecidos como chamatós. Sabia andar de mansinho como ninguém, sem sequer fazer ruído algum.
Certo dia estava ele a inspecionar o trabalho de assentamento do assoalho de madeira do piso superior do sobrado, quando, depois de subir a longa escada de concreto, dobrou a direita e presenciou uma cena que não quis interromper. Era o carpinteiro, um negrinho chamado Bico D’aço, que na folga do almoço, dançava sozinho, ao som de seu próprio assobio, segurando o cabo da enxó como se fosse a cintura da mulher amada. Apoiando a ferramenta no rosto, ele imaginava a face da musa de seus sonhos. Bico D’aço deslizava pelo assoalho quase pronto, absorto na música e concentrado na sua própria imaginação. Albino Paiva apenas observou o trabalho bem feito no assoalho e decidiu retornar ao comércio.
Chegando o sábado, lá estavam todos os trabalhadores fazendo fila para receber o soldo. Um a um, as contas iam sendo feitas, até que chegou a vez do Bico D’aço.
Passando a saliva na ponta dos dedos, o português Albino contou o dinheiro e lhe entregou.
Este, ao contar, verificou que estava faltando uma parcela e reclamou.
Albino Paiva, com aquele sotaque lusitano carregado, retrucou:
– Podes contar que a conta está certa, rapaz!
– Mas Seu Albino, são seis dias de trabalho! E está faltando 25 réis.
Ao que o Albino Paiva respondeu:
– Então, crioulo! Tu queres dançar no meu assoalho novo e não queres pagar a “porta” do baile?!?