Nas regiões mais pobres do País, e no Interior do Maranhão em especial, o período das eleições é mais aguardado do que chuva no sertão.
Tempos atrás, as campanhas eleitorais começavam com um ano de antecedência e, no ano da eleição, o carnaval era o tiro de largada para a grande batalha. A batalha pelo voto.
Como dizia o poeta Jessiê Quirino lá na Paraíba, depois de juntar grana, chegava a hora de o candidato começar a juntar eleitor… E o eleitor, percebendo que só é valorizado de quatro em quatro anos, aproveita o momento para barganhar junto aos candidatos, tentando extrair deles todo o tipo de benefício.
Há eleitores “profissionais” que são conhecidos por freqüentarem os comitês de todos os candidatos em busca de qualquer ajuda. Prometem voto para todos e, às vezes, nem título de eleitor eles têm!
Outros, pelo hábito de pedir e pelo fato de ter sido declarada oficialmente aberta a temporada de caça ao voto, não dispensam ninguém para fazer o seu pedido.
Em Pinheiro, Levi Leite é uma pessoa muito conhecida na cidade por ter sido um grande craque do futebol da década de 50, artista na condução da bola, possuidor de um chute forte e certeiro e mestre nas cobranças de faltas. Foi ídolo da Tuna Luso de Belém e do Moto Clube de São Luís.
Embora tenha sido vice-prefeito da cidade, abandonou a carreira política. Nunca mais se meteu em eleições. No entanto, carrega consigo uma sabedoria ímpar para se livrar dos pedidos indesejáveis.
Há mais de 40 anos, Levi está à frente do armarinho “Casa das Linhas”, na Praça José Sarney, ponto de passagem e parada obrigatória de todos.
Dias atrás estava eu em Pinheiro e, visitando meu tio Levi, presenciei uma cena bem curiosa. Estávamos em pé, conversando no meio da loja, quando, de mansinho, aproximou-se um rapaz dirigindo-se ao meu tio:
– Seu Levi, eu queria ter uma conversinha particular com o senhor.
Levi, percebendo se tratar de alguma facada, respondeu:
– Pode falar aqui mesmo, que o Zé Jorge é de casa… Ele é meu sobrinho.
Mesmo a contragosto o rapaz continuou: – É que eu queria pro senhor me dar uma ajuda pra uma festa.
Levi franziu a cara e de pronto cortou a conversa: – Ah! Dinheiro para festa eu não dou!
– Não, seu Levi. O senhor não entendeu… É uma festa religiosa da Igreja evangélica…
Levi retrucou: – Meu filho, eu já li a bíblia inúmeras vezes de cabo a rabo, de frente pra traz e de traz pra frente e nunca vi Jesus Cristo fazendo festa… Só faz festa quem tem dinheiro!
Desolado e sem argumento, o rapaz deve ter partido em busca de algum candidato, enquanto eu relembrava ao meu tio outro episódio, também por ele protagonizado.
Na década de 60, nesse mesmo salão do armarinho, quando da chegada em Pinheiro da primeira agência do Banco do Brasil, certo dia apareceu alguém pedindo um dinheiro emprestado ao Levi para realizar um “negócio da China”. Iriam todos ficar ricos!
Levi, não conversou muito e respondeu: – Ah! Meu amigo, se tu tivesses passado um pouquinho antes, eu te arranjava o dinheiro, mas é que acabei de fazer um acordo com Sr. Wilson, o gerente do Banco do Brasil. No nosso acordo, o Banco não vai poder vender novelo de linha e, em contra partida, eu não vou poder emprestar dinheiro…
Cunhado querido,
Os eleitores tem que ser pidão mesmo, para compensar as promessas nunca cumpridas desses políticos corruptos. Hahaha!!!!
bjs.
Realmente, só basta ficar uns 5 minutos na loja de Levi para admirar a astúcia dele para com os fregueses. Em uma das minhas visitas lá, presenciei : “Seu Levi, de quantos são essas sandálias japonesas?” —-Quinze reais, respondeu ele ao caboclo interessado. “Eras, seu Levi, eu até que gosto desta aqui, mas o senhor não deixa por menos?” Rapaz, eu vou te dizer uma coisa: “Tu vais encontrar no comércio lá p´ra cima, sandálias muito parecidas, até por 9 reais. Mas depois de 1 semana de uso, elas vão se espichar e rasgar, com certeza. Mas estas aqui são japonesas verdadeiras e eu posso te garantir —que tu podes usá-las até mesmo para correr atrás de currupiras, e elas nunca irão rse espichar ou rasgar.”
E se fosse só levy a vítima seria até bom! O problema é que muitos se acostumaram a pedir e aproveitam principalmente a época das campanhas e saem, além das lojas como a do Sr. Levy de Comitê em Comitê. O pior é ser candidato e acordar de manha cedo e já ter uma fila na porta da sua casa. Lembra José?
PARENTE, REALMENTE O LOJA DO PARENTE LEVI É PALCO DE HISTORIAS PITORESCAS. MAS UMA COISA É CERTA, ELEITOR PEDIR EM ÉPOCA DE ELEIÇAO JÁ FAZ PARTE DA CULTURA (DO ELEITOR, CLARO0. MAS NINGUEM PODE INCRIMINA-LO, AFINAL DE CONTAS ELE, MUITA DAS VEZES SÓ VE O CANDIDATO NESSE PERIODO. UMA ABRAÇO, ZE.