Os verdes campos de Pinheiro

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Os verdes campos da bacia do Pericumã são um espetáculo de rara beleza. Nesta época do ano, com as chuvas que deságuam em suas cabeceiras, o rio transborda e um mar de água doce surge confinado entre as terras de Pinheiro e dos municípios vizinhos.

Um milagre da natureza! É nessa bacia hidrográfica que se encontra uma vasta quantidade de peixes que se multiplicam e alimentam toda a população da região.

Tempos atrás tomei conhecimento de um experimento adotado na bacia hidrográfica de um afluente do rio Mekong, no Vietnam, onde pesquisadores realizaram estudos de repovoamento e superprodução das espécies nativas. A atividade de piscicultura foi desenvolvida com a criação de escolas para a formação de mão de obra qualificada, de laboratórios para produção de alevinos e de unidades de fabricação de proteína animal extraída da sobra do pescado.

Sempre pensei que poderíamos desenvolver algo semelhante para aproveitar as potencialidades dos campos do Pericumã.

Há tempos, venho conversando com a professora Carmem Lobato a respeito desse tema e, recentemente, tive a grata satisfação de trocar algumas palavras com o professor Weverson Scarpine, da Escola Agrotécnica Federal de Alegre no Espírito Santo, que se encontra aqui no Maranhão para desenvolver um projeto de grande amplitude, aproveitando as potencialidades da bacia hidrográfica do Pericumã.

No governo Sarney, dentre inúmeros projetos desenvolvidos para potencializar as condições de aproveitamento da águas do Pericumã,  houve a primeira tentativa de implantação de um projeto de piscicultura que, lamentavelmente, não veio a prosperar.

Sugeri ao professor Scarpine que buscasse informações científicas mais precisas a respeito da bacia e suas principais características. O professor José Policarpo da UFMA, por exemplo, é uma das mais capacitadas fontes de conhecimento acerca do tema e não deve deixar de ser ouvido a esse respeito.

Lembrei ao Scarpine que o ciclo das cheias altera não somente o nível das águas, mas, também os níveis de oxigênio e acidez, características importantes para a sobrevivência das espécies.

Sobre o regime das cheias, lembro de um fato pitoresco ocorrido no início do século passado, quando o português Albino Paiva recebeu a visita de um primo seu, de nome Manuel, vindo da Europa. Chegando em pleno verão, por ocasião das festas natalinas, conversava ele com o seu patrício Albino, quando este lhe contou que aquele riacho que passava ao longe, com um filete de água que mal cobria as pernas de quem tentasse chegar às margens do outro lado, transformava-se, durante o inverno, em um rio caudaloso capaz de inundar toda aquela vasta imensidão de campos que se estendia até perder de vista. Dizia, ainda, o Sr. Albino, que durante o inverno, os barcos vindos de São Luís, aqueles “cuters” de 13 metros de comprimento e 3,80 m. de boca, com capacidade de 20 toneladas, atracavam no cais bem em frente à casa grande do comércio, onde estavam a conversar.

O português, incrédulo, duvidou de Albino e, de volta a Portugal, carregou consigo aquela imagem oferecida pelo primo.

Anos mais tarde, Manuel retornou a Pinheiro, desta feita chegando em junho, em pleno inverno, com as águas do Pericumã transbordando para tudo quanto era lado.

Impressionado e sem querer acreditar naquilo que seus próprios olhos vislumbravam, procurou Albino para relembrar-lhe aquela conversa tida anos atrás.

Albino lhe retrucou:

– Não havia te dito? Não me quiseste acreditar!

Ao que ele respondeu, com seu carregado sotaque lusitano:

– Agora, Albino, duvido mesmo é secar!

Portanto, é importante ficar atento às características peculiares da bacia do Pericumã para viabilizar um projeto sustentável e indutor de resultados positivos para a população e a economia da região.

4 comentários para "Os verdes campos de Pinheiro"


  1. Francisco Costa Leite

    Oi Zejorge,
    Li e re-passei o “site” a alguns amigos que residem aqui nos Estados Unidos. Os contos, todos interessantes, com paisagens que me truxeram saudades da baixada maranhanse. Em outros contos, diverti-me com a citação do “conceito de resilência,” Nunca me esqueci dele, desde os meus tempos colegiais em Belém, pois o engenheiro professor de física exigia a memorização da Lei de Hook:
    “QUANDO UMA FORÇA NÃO ULTRAPASSAR OS LIMITES DA ELASTICIDADE, A DEFORMAÇÃO POR ELA SOFRIDA É TEMPORÁRIA E PROPORCIONAL À FORÇA DEFORMANTE.”
    Continua escrevendo,
    FCL

  2. Márcia Soares

    Conheço bem essa maravilha de belos campos e esse rio majestoso.
    É gratificante sentir a alma do poeta através da sua magia ao descrever o indiscritível.
    Zé como Pinheirense apaixonada agradeço de coração por vc permanecer trazendo em tuas doces lembranças a nossa princesinha.
    Abç.

  3. Evaldinolia Gilbertoni Moreira

    Olá!

    Li e consegui com sua poesia me transportar pra Pinheiro. Minha linda cidade!
    O que Pinheiro tem de mais belos são seus lagos. E fiquei triste ao ver que estão aterrando e invadindo suas áreas. Acho que as pessoas, assim como o primo do Sr. Albino Paiva, não acreditam na imensidão de águas na época de cheias.
    Tenho esperanças que um dia você coloque sua poesia em pratica em nossa cidade.

    Abraços, Evaldinolia

  4. Evaldinolia

    Corrigindo

    O que Pinheiro tem de mais belo são seus lagos.

    Abraços, Evaldinolia

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