Atualmente o stress profissional tem sido associado aos profissionais que exercem cargos em grandes empresas, altos executivos e, outros ainda, que desempenham suas funções em ambientes de trabalho onde a cobrança pelo resultado é feita de forma incessante.
Diferentemente do que muitos imaginam, o stress não está restrito apenas a esses profissionais. Muitas outras pessoas, longe do corre-corre das grandes metrópoles e da pressão por resultados, apresentam os mesmos sintomas.
Recordo-me de um conceito aprendido na UnB, chamado resiliência, que trata da capacidade dos corpos em resistirem aos choques e, após a deformação inicial, retornarem à condição original.
Hoje, os psicólogos apoderaram-se da terminologia e classificam como “resiliente” aquele profissional que se recupera e se molda a cada “deformação” (obstáculo) situacional. Ou seja, quem é mais “resiliente” é menos estressado.
Mas como justificar a presença do stress em pessoas que moram no campo, que têm uma vida simples e pacata, sem maiores compromissos com metas pré-estabelecidas?
Na cidade onde nasci, em Pinheiro, no Interior do Maranhão, contam que um padre italiano, ainda atuante nos dias de hoje, decidiu deslocar-se para uma de suas desobrigas, até uma pequena comunidade localizada à margem direita do rio do Turi, denominada Cacau. Para chegar até lá, teve que sair por volta das duas horas da manhã e percorrer uma verdadeira maratona: acordar mais cedo ainda do que de costume, retirar o caminhão da garagem da Casa dos padres, fazer subir na carroceria o cavalo, sem esquecer da sela, arreios, brida, etc… Além de levar consigo o “padre João”, um auxiliar negro, que era o seu guardião e sua sombra. Toda sua paramenta para a cerimônia religiosa já estava separada desde a noite anterior.
Após muita dificuldade, chegou ao povoado do Pimenta por volta das cinco horas da manhã e foi obrigado a fazer o percurso de mais 15 Km até o Cacau, montado em seu cavalo, e demorando mais outras três horas para chegar ao local da missa e do batizado, que haviam sido anunciados e eram esperados por todos com muita ansiedade.
Capela abarrotada, sol escaldante, o padre começou a se impacientar, mas cumpriu todo o ritual da missa, pregando a palavra do Senhor para aqueles pobres camponeses. Logo em seguida, iniciou a cerimônia do batizado e teve que se contentar com aquele “chororô” das crianças que nunca haviam visto um padre, muito menos vermelho, de olhos azuis e falando aquela língua esquisita.
Terminada a cerimônia, por volta das onze horas, o missionário já estava se preparando para montar em seu cavalo e fazer o caminho de volta quando avistou ao longe alguém lhe acenando e gritando para que ele esperasse. Era um casal, ela montada em um burrinho, carregando no colo uma criança de uns dois anos e o marido, a pé, com outros dois meninos, de quatro e cinco anos. Todos negros retintos. Aproximaram-se do padre e pediram que ele fizesse o batizado dos três.
O padre negou-se a fazê-lo dizendo que todos sabiam do horário e que eles deveriam ter chegado na capela às 7:00 h e ainda por cima, a missa já havia acabado!
Os pais imploraram que ele reconsiderasse a posição e batizasse os meninos, nem que fosse ali fora mesmo, pois outra oportunidade daquela só no próximo ano…
Mesmo morto de cansado e com vontade de retornar, o padre decidiu, então, improvisar o local para a cerimônia do batismo. Cobriu a sela do cavalo com a toalha branca, tirou do alforge a batina branca e a estola, colocou uma porção de água benta dentro do cálice e perguntou:
– Como é, mesmo, o nome do menino?
– Pedro. Diz a mãe.
– Pedro, pedra, nome do discípulo de Cristo! Bonito nome! Diz o padre, com aquele sotaque italiano carregado. – Eu te batizo, Pedro, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ide em paz, e que o Senhor vos acompanhe.
– O próximo! Pergunta o padre. – Qual o nome do menino?
O pai, respondeu: – Paulo!
– Que belo nome, Paulo! Também discípulo de Cristo, eu te batizo, Paulo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ide em paz, e que o Senhor vos acompanhe.
Por último, o padre indagou pelo nome do menorzinho, ao que a mãe respondeu:
– Uóxito.
– Washington?! Espantou-se o padre. – O primeiro, Pedro, discípulo de Jesus, o segundo Paulo, também um de seus seguidores. E por que Washington? Questionou o padre.
– É porque nóis gosta muito da letra “u”….
Ao que o padre, inconformado com a escolha do nome, e irritado ao extremo, respondeu:
– E por que não colocou urubu, que tem três “us”…?
É uma pena que o padre, engenheiro por formação e missionário religioso por vocação, não soube aplicar os conceitos da resiliência como ferramenta de auto-ajuda no controle do seu próprio stress…
Padre estressado e racista.
Fosse só estressado, teria sugerido Surucucu que tem 4 U’s (um a mais que Urubu).