Nos últimos anos temos acompanhado as fortes mudanças ocorridas em nossa sociedade. Pelo fato de estarmos presentes, acompanhando e nos adaptando a elas, quase não percebemos quão rapidamente elas se processam.
Imaginemos, como se isso pudesse acontecer, alguém ter se perdido na floresta amazônica, por cinqüenta anos, isolado e sem comunicação e, de repente, reaparecesse agora; que susto, hein?
Ficaria estarrecido com a Internet. Mandar e receber notícias, arquivos, fotos, imagens… Antigamente mandar um filho estudar fora, significava ficar um ano inteiro curtindo a saudade. Contato, só por telegrama, se a notícia era ruim, ou por carta e recado. Agora, poder conversar com os filhos e vê-los ao vivo e a cores na tela do computador em real time! Que maravilha!
Se o nosso personagem saísse agora, de férias, e procurasse por uma loja para comprar e revelar filmes de fotografia, não a encontraria! Não existe mais filme. As máquinas digitais tomaram conta do mercado. Tomaria um enorme susto se entrasse em uma loja de som ao ver as músicas saindo de um I-Pod. Pela rua, não acreditaria no que via. Todos falando, recebendo e enviando mensagens através de um pequeno aparelho que cabe na palma da mão… o telefone celular. Que loucura!
À noite, ao ligar a TV digital, a plasma ou cristal líquido não acreditaria nas notícias. Duplicação de embriões, células tronco, engenharia genética, clonagem e muito mais.
Por outro lado, tudo como dantes no Quartel de Abrantes. Continua a devastação ambiental, o aquecimento global, a violência urbana, a pobreza, as guerras, e até a epidemia de febre amarela e dengue ameaçam retornar.
Nos costumes da sociedade, então, quanta transformação! Os hábitos mudaram demais. Nos trajes, na alimentação, no uso de tatuagens e piercings, na forma de namorar, os jovens só falam em ficar. Ninguém mais lhe toma a bênçao…
Isso tudo me faz lembrar uma história ocorrida lá em Pinheiro, na mesma época em que o nosso personagem se perdia no interior da floresta amazônica.
Minha tia Janoca, na verdade tia da minha mãe, era de uma família bem conceituada na cidade, nobre, como se dizia na época. Casada com João Moreira, abastado pecuarista, comerciante e político atuante na região, a casa de tia Janoca era uma referência na cidade.
Mãe de três filhas, uma delas decidiu-se por noivar com um cirurgião dentista recém chegado a Pinheiro,
Para oficializar o noivado, toda a família do pretendente teve que se deslocar de outro estado da federação para vir até Pinheiro conhecer a família da noiva.
Certo dia, marcada a reunião, a família do noivo se dirigiu à casa de Tia Janoca para uma visita de cortesia. Foram recebidos com muita cerimônia e protocolo, porém cercados da maior atenção e carinho possíveis.
Tia Janoca tinha uma criada chamada Carmelita. Descendente de escravos, Carmelita era uma negrinha, muito querida na casa, e que já havia conquistado o direito de acesso à sala. Mas tinha de sentar no chão, ao lado da cadeira de tia Janoca, se quisesse ouvir conversa de branco, como era comum dizer.
A conversa ia animada, quando lá pelas tantas, uma das senhoras que estava sentada em frente à tia Janoca, deu uma cruzada de pernas. De cabelos de trança e olhos bem abertos, a negrinha Carmelita, esperta como ninguém, não perdia um lance da conversa. Sentada no chão, bem em frente à cadeira da visita, cutucou tia Janoca e disse;
Dona Janoca! Ou essa muié tá de sunga preta, ou eu olhei a xoxota dela!
Ao que tia Janoca lhe repreendeu de pronto:
Te acomoda menina! Tu não viste coisa nenhuma!
Tempos outros, hein?
Sou sua fã !
Toda semana passo por aqui para ler seu blog.
Adoro quando leio histórias iguais a esta. Me faz lembrar como é bom viver em Pinheiro.
Abraços
eu ja escrevi no texto acima, mas não resisti e li este, e naum me arrependi.
tenho 14 anos e me divirto muito com suas historias sao muito legais, por favor continue contando elas
eu agradeço!