Leitores, eu vi.
E não é que o meu amigo Joaquim Haickel, poeta, escritor, analista político, blogueiro, de tempos em tempos deputado, nas horas vagas chef de cuisine e cinéfilo dos bons, decidiu-se pela produção de um curta-metragem!
Tive o privilégio de assistir nesta semana, numa bela sala de exposição, em muito boa companhia, à apresentação, em avant première, do curta-metragem Padre Nosso. Extraído de um conto de sua autoria, dirigido por ele mesmo, as cenas foram feitas entre a Igreja de Paço do Lumiar, e a quitanda de dona Sibá, no filme interpretada com maestria pela Maria Ethel. Neste filme, o diretor faz até estátua se mexer!
Chico Pedrosa, na batina do pároco, está brilhante. Mais brilhante até do que os olhos do padre mergulhando na fartura dos seios de dona Sibá.
Os filmes, tanto o de dois minutos e trinta, assim como a versão de um minuto, em breve estarão inscritos nos festivais de cinema mais renomados e antevejo as premiações que mais uma vez farão jus à versatilidade e ao brilhantismo criativo do autor.
Não sei como a Igreja vai enxergar a leitura feita pelo Joaquim acerca do papel do padre no seio da comunidade. Que a Igreja e o céu não lhes caiam sobre a cabeça!
Quase cem anos atrás, lá em Pinheiro, minha terra natal, meu avô Chico Leite teve uma experiência interessante com o cinema. Foi usar o Santo nome em vão e quase se deu mal…
Sempre inconformado com a situação de vida da gente simples e trabalhadora do interior, sem direito a absolutamente nenhuma ação do poder público, Chico Leite se preocupava com a formação das crianças e jovens e, certa feita, em uma de suas constantes viagens a São Luís, comprou uma velha máquina de cinema, daquelas que rodavam filmes em preto e branco e sem som.
O cinema mudo de Chico Leite tinha apenas um filme, que tratava da vida de Jesus Cristo. Se a época era da Semana Santa, o filme se chamava Paixão e Morte de Cristo; se a ocasião era próxima do Natal, o título mudava para Nascimento do Menino Jesus.
De tanto passar e repetir a película, a assistência diminuía a cada apresentação. Teve ele, então, uma brilhante idéia: contratou um rabequeiro para que este, com seu velho violino, se postasse na frente e ao lado da parede improvisada de tela. Assim que associasse uma música de seu conhecimento a alguma das passagens do filme, que ele passasse a executar a melodia.
Anunciada a novidade, a platéia lotou o terreiro para assistir a Paixão e Morte de Cristo.
Ao se aproximar a seqüência em que Jesus Cristo caminhava por aquelas ruas estreitas, calçadas de pedras, sendo barbaramente açoitado, carregando o peso da enorme cruz de madeira, com a cabeça encharcada de sangue provocado pela coroa de espinhos, o rabequeiro se ajeitou todo para dar os seus primeiros acordes. Jesus Cristo tropeça e cai várias vezes. Na última queda, apresentando grande dificuldade para se soerguer, o rabequeiro se lembra de uma música, conhecida por todos, e começa a entoar com a voz fanhosa, que lhe era peculiar:
Cai, cai …
Que eu não vou te levantar …
Cai, cai
Quem mandou escorregar …
Desnecessário se torna dizer, que foi a última participação do rabequeiro no cinema mudo de Chico Leite.
Estamos em outros tempos, os recursos tecnológicos são fartos e a boa memória do Joaquim ajudou a encontrar a música certa para a trilha sonora de seu filme. Foi vasculhar no fundo do baú e achou uma preciosidade para completar a beleza do espetáculo: Libertango, de Astor Piazzolla.
Onde é que se pode ver esse filme do Joaquim?
Agora fiquei muito curioso para ver este filme de Joaquim, pois sei o quanto ele se dedica à arte de modo geral, a literatura em particular e ao cinema de maneira quase que psicanalítica. Deve ser realmente uma obra bastante interessante, principalmente sendo tão bem avaliada e avalizada por você, caríssimo Zé Jorge.
Prezado José,
Figuras como Chico Pedrosa tem que ser eternizadas, a sua simplicidade em fazer do seu personagem cidadão um fato para ser lembrado é sem duvida necessário para não perdemos a São Luís das ruas de pedras, dos tocar dos sinos e de quando todos podiam e sabiam quem eram as pessoas. Bons tempos. Vivamos o presente.
Um abraço,
Felipe Klamt
Parceiro pela Vida
Quem dirigirar este filme? Vai ser o Joaquim? É bom ele ter mais uma função!
Prof. Caio
trabalhei com Joaquim no filme padre nosso e pude perceber quanto ele entende da linguagem cinematografica, o quanto ele entende da psicologia dos personagens. quanto ao chico pedrosa, nao o conhecia mas ele se mostrou uma figura extraordinaria e foi um padre insubstituivel.