Tem gosto pra tudo.
Sempre que se tenta discutir o porquê do atraso do Maranhão em relação aos demais estados da federação, dificilmente a conversa chega a um denominador comum, variadas são as opiniões emitidas pelos especialistas. Alguns se lamentam da expulsão dos franceses e do não êxito da permanência dos holandeses, há aqueles que reclamam da ocupação feita em nossas terras por levas de degradados portugueses, enquanto outros tantos justificam a grande miscigenação das raças, sobretudo, do cruzamento dos portugueses com os índios preguiçosos como causa do atraso.
A fartura de nossas terras, com água em abundância, tem contribuído para a indolência de nossa gente que não vivenciou ao longo da história momentos de maior gravidade, passando ao largo das catástrofes da natureza. Além de tudo isso, aspectos culturais são sempre evocados para justificar a falta de empreendedorismo de nossa gente.
Em meados do século XVIII, a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, fundada pelo Marquês de Pombal, foi responsável pelo início da transformação do Maranhão, que passou a experimentar um ciclo de efetiva prosperidade, tornando-se num dos três mais importantes centros econômicos da Brasil.
Excluindo da análise da discussão alguns períodos de pujança da economia, como o ciclo da cana de açúcar e do algodão, de lá para cá, o estado do Maranhão vem perdendo competitividade frente aos demais entes federativos.
Experiência de modernização da máquina do estado foi iniciada quase meio século atrás pelo José Sarney quando assumiu o posto de governador do estado. Procurou pensar o Maranhão do futuro criando as condições estruturantes de desenvolvimento através da oferta de energia, de estradas, do porto do Itaqui, da Universidade, da Tv educativa, dentre tantas outras. Mas, sabia que para vencer esse desafio, precisava de gente. Gente competente. Procurou montar uma equipe com técnicos de reconhecidos valores destacando-se, entre outros, Haroldo Tavares, Eliézer Moreira, Joaquim Itapary, Bandeira Tribuzi, Vicente Fialho e Pedro Neiva de Santana.
Mas era preciso também modernizar as gestões municipais, substituindo os tradicionais coronéis, verdadeiros donos dos colégios eleitorais. O senador Vitorino Freire, já dizia àquela época, que os políticos do interior do estado não passavam nem em prova de ditado…
Naquele tempo, o governador detinha poderes para indicação de juizes e promotores que, uma vez na comunidade poderiam se transformar, em breve, em lideranças locais e assim, se viabilizarem politicamente para as futuras eleições municipais.
Contam que Sarney, tão logo tomou posse, designou para o município de Urbano Santos um jovem advogado, colega de turma, para ser o novo promotor de justiça da cidade.
Dois anos depois, Sarney anunciou sua ida ao município.
O prefeito mandou arrumar o campo de aviação, deu ponto facultativo no município, convocou a população para recepcionar o governador. A cidade toda se preparou para a festa.
Sobrevoando a cidade, podia se observar uma multidão concentrada na cabeceira da pista. O avião, que também era outra grande novidade na cidade, deu um rasante para espantar os animais na pista e aterrissou levantando uma poeira infernal.
Nem bem o piloto fez a manobra, a multidão correu em direção ao avião, destacando-se, à frente, um grupo de autoridades. Sob o sol escaldante, todos de terno – alguns de linho branco – ali estavam comandados pelo prefeito, as maiores autoridades de Urbano Santos: o presidente do Lions Club, do Rotary, da Associação Comercial, vereadores, padre e o pastor da Igreja protestante.
Sarney determinou ao comandante que cortasse o motor com medo de alguém ser mutilado pelas hélices do avião e desceu observando a correria das autoridades que se aproximavam ofegantes.
Mas para que tanta pressa é essa? perguntou Sarney Vocês podiam esperar que nós íamos manobrar o avião até o pátio.
Acontece governador, disse em tom grave o prefeito que nós precisamos ter uma conversinha particular antes do senhor chegar lá.
Mas que conversa é essa, tão importante que não pode esperar? Questionou Sarney.
Acontece, governador, que o doutor que o senhor mandou pra cá, tá nos criando um problema enorme!
Preocupado com tamanha apreensão do grupo, até porque conhecia bem o jovem bacharel, Sarney indagou:
Mas que problema tão grave é esse?
O prefeito se antecipou e falou bem baixinho.
É que ele tá dando em cima de todas as muié aqui da cidade…
Incrédulo às palavras que acabara de ouvir, mas percebendo que todos os demais compartilhavam com as colocações feitas pelo prefeito, Sarney cerrou os punhos, deu dois murros na asa do avião e bradou:
E não tem homem aqui nesta terra?
Ao que, em coro, todos responderam:
Tem. Mas ele não gosta!… Ele só gosta das muié…