O que esperar de Flávio Dino como Ministro do STF

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Motivado pela pergunta estampada em uma tarja de legenda, exibida em um programa da Globo News, (escrita de forma errada) onde aparecia, entre outros, a jornalista Miriam Leitão, (veja a foto), resolvi responder à pergunta com o texto abaixo.

Já faz 8 anos que eu escrevi um texto abordando um assunto parecido com esse, sobre esse mesmo personagem, o ex-juiz federal, ex-presidente da EMBRATUR, ex-Deputado Federal, ex-Governador do Maranhão, ex-Ministro da Justiça, ex-Senador da República e atualmente Ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, meu confrade na Academia Maranhense de Letras.

Há 8 anos escrevi dizendo que iria dar um prazo de 180 dias para só então me pronunciar sobre o que FD estava fazendo no comando do governo do Maranhão. Como pouco ou nada foi feito neste intervalo de tempo, dei a ele crédito e prorroguei o prazo por igual período. Depois de um ano de gestão me manifestei dizendo que mudaram os nomes, os personagens que ocupavam os cargos, que mudaram até algumas práticas políticas, mas que de modo geral as coisas continuavam iguais ao que acontecia antes, era um governo de amigos.

Não era possível desconhecer, no entanto, que aconteceram algumas boas mudanças, da mesma forma que era impossível não dizer que depois de muitos anos, as práticas vitorinistas haviam voltado a existir em nosso Estado.

A história dirá que Flávio Dino interrompeu 50 anos de hegemonia de Sarney e seu grupo político no Maranhão, e isso é verdade, mas também dirá que guardadas as devidas proporções, o tempo que separa as duas gestões e o fato de Sarney ter governado o Maranhão por apenas quatro anos e Flávio por oito, os avanços alcançados pelo primeiro, superam em muito tudo que foi feito pelo segundo.

Já em comparação com Roseana Sarney e os quatorze anos em que ela governou o Maranhão, pode-se dizer que os oito anos de Flavio, disputam em pé de igualdade.

Mas deixemos o passado para os historiadores profissionais, que no futuro certamente se debruçarão sobre esse tema. Vejamos o presente.

Flavio Dino é, sem a menor sombra de dúvida, o político mais articulado, mais culto, mais preparado, que apareceu no Brasil nos últimos 20 anos. Isso não quer dizer que eu concorde com seus posicionamentos ideológicos, nem com suas práticas políticas, mas é impossível para qualquer pessoa de bom senso não reconhecer as qualidades diferenciadas de Flavio, mesmo que alguns de seus defeitos sejam igualmente fáceis de se identificar.

Como já disse, Flávio é muito culto. Como orador, existem hoje pouquíssimos que se igualam a ele. Articula bem as palavras e os pensamentos, portanto é um grande sofista, naquilo que o termo grego tem de bom e de pejorativo também. Sua capacidade intelectual cobre um vasto campo e ela só é limitada por sua ideologia que restringe muito o incrível potencial que ele tem.

Se Flávio fosse um moderado, mesmo sendo um esquerdista, tenho certeza de que seu sucesso seria maior do que realmente é. O fato de ser um taurino, que precisava superar outro taurino, fez dele um verdadeiro Minotauro ou seria melhor dizer, um Dinotauro: Forte como um touro e astuto com Flávio Dino.

Ocorre que depois de desbancar o sarneysismo no Maranhão, se o que ele realmente deseja é conquistar o Brasil, ele precisaria ficar mais “light”, o que é difícil para alguém de seu temperamento.

Mas voltemos ao título de meu texto de hoje: “O que esperar de Flávio Dino como Ministro do STF”. EU, particularmente, espero que ele se reinvente, que se torne mais “light”, mais leve, sem nenhuma alusão ao seu corpanzil. Espero que ele seja menos, muito, muito menos polêmico, que não tente ser engraçado, que seja menos radical, que se torne um juiz salomônico, apaziguador, que se lembre da espada de Dâmocles, mesmo que use com muita parcimônia e sabedoria a espada que Alexandre, o grande (não o pigmeu careca), aquela espada que o macedônio usou para “desatar” o nó Górdio.

Eu espero que Flávio Dino se redima dos equívocos que por acaso tenha cometido durante seu tempo na política partidária e ideológica e saiba que como juiz de nossa suprema corte, neste momento conturbado da história de nosso país, ele pode se tornar apenas mais um infame, ou ao contrário do que grande parte das pessoas imagina, se transformar no sustentáculo de nossa cambaleante democracia, que vem sendo vilipendiada de forma absurda pelas más ações advindas do poder executivo, pela inação criminosa do poder legislativo e pela tirania abjeta praticada pelo poder judiciário.

Testemunhar a redenção de FD será uma das maiores satisfações que eu terei em minha vida, aristotelicamente política, socraticamente filosófica e platonicamente ideológica.

Espero do fundo de minha alma que Flavio Dino possa permitir que eu diga, no fim de minha vida, que fui seu adversário ideológico, seu confrade na Academia Maranhense de Letras e seu admirador pelo trabalho que realizou no STF, ao ajudar a restaurar e estabilizar o estado de direito e a democracia em nosso país e assim, quem sabe, ele possa mais uma vez abandonar a magistratura e retornar, nos braços do povo para a política, para ser aquilo que parece ser seu objetivo: Presidente da República.

Esse me parece ser o melhor, o mais curto e o mais garantido caminho.

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Bolsonaro não desqualifica a direita, ele só desqualifica o Bolsonarismo

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O pensamento de direita não é somente representado por Bolsonaro, muito menos por seus seguidores, sejam eles os moderados ou mesmo aqueles que votam nele por falta de opção. O pensamento de direita já existia antes de Bolsonaro e continuará existindo depois dele. Graças a Deus.

O advento de Bolsonaro, guardadas as devidas proporções e aplicabilidades, é semelhante ao aparecimento de Lula, que por sua vez não desqualifica a esquerda, pois nem todo esquerdista é como Lula. Ou será que é?

No caso de Bolsonaro, posso afirmar que a maioria das pessoas que se posicionam conscientemente no campo ideológico da direita não pensa e não age como ele. Quem sabe realmente o que é o pensamento de direita, que defende a livre iniciativa, o livre comércio, o empreendedorismo, quem defende a liberdade de expressão, a auto determinação do indivíduo, o direito à propriedade dos bens amealhados pelas pessoas no decorrer da vida, quem valoriza instituições como a família, a igreja, a Nação, o País, de maneira consciente, quem sabe se comportar civilizadamente em sociedade, quem sabe a importância de sentimentos como respeito, elegância, refinamento social, aqueles que acreditam que o estado existe para regular as relações entre as pessoas e as instituições e não para submete-las às determinações ideológicas de uma elite política, esses sim, são os verdadeiros representantes da direita.

A direita advoga o liberalismo econômico e social, prega a valorização das liberdades individuais colocando os interesses dos indivíduos e suas necessidades em primeiro lugar, sem esquecer das responsabilidades deles para com a sociedade.

O pensamento liberal é sempre no sentido de garantir que para cada direito concedido ao cidadão, um dever dele para com a sociedade deve ser estabelecido. O Liberalismo acredita que direito não é privilégio, Direito é algo que necessita de uma contrapartida por parte de quem o recebe. O direitista acredita piamente que um direito só pode ser exigido pelo cidadão porque ele oferece à sociedade uma obrigação correspondente, que deve ser exigida pela sociedade com a mesma energia e tenacidade, equilibrando, justificando e equalizando as forças entre direitos e deveres dos cidadãos, fazendo com que as engrenagens da sociedade liberal estejam sempre alinhadas e afinadas.

O funcionamento padrão de uma sociedade liberal oferece a população o sucesso que uma sociedade comunista busca desesperadamente e que jamais conseguiu oferecer em nenhum lugar e em tempo algum. O perfeito funcionamento do liberalismo, quando agregado ao humanismo que toda sociedade humana necessita, transforma-se no modo quase perfeito de convivência social e política.

Bolsonaro não tem a profundidade necessária para entender esse tipo de coisa e por isso representa apenas uma parte da direita em nosso país. A maior parte dela, tem apoiado e deverá continuar apoiando Bolsonaro por não ter um verdadeiro representante do pensamento liberal ou de direita que possa representá-los.

Ninguém pode desconhecer que Bolsonaro se coloca no espectro da direita, mas achar que toda a direita brasileira é representada por ele e por seus seguidores mais fanáticos, é desconhecer a história da direita.  

Vou citar alguns luminares do pensamento liberal ou de direita em nosso país, pessoas ligadas as mais diversas áreas de atuação, e gostaria que você, que me prestigia com a leitura destas mal traçadas linhas, dissesse se Jair Bolsonaro poderia carregar a pasta de algum deles: Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco, Cândido Rondon, Getúlio Vargas, Roberto Campos, Eugenio Gudin, Delfim Netto, Sandra Cavalcante, Carlos Lacerda, Góes Monteiro, José Sarney, Gustavo Corsão, Alceu Amoroso Lima (Tristão de Atayde), Assis Chateaubriand, Magalhães Pinto, Ademar de Barros…

Mesmo que você discorde de mim quanto aos nomes constantes na lista acima, tenho certeza de que você concordará comigo quanto ao fato de Bolsonaro jamais poder figurar num panteão como esse, logo, ele não sabe o que é ser um verdadeiro liberal, um representante genuíno da direita. Ele simplesmente ocupa o espaço de alguém que se contrapõe à esquerda e por esse motivo capitaliza o apoio eleitoral de muitos verdadeiros e consistentes liberais.

Do que precisa a direita no Brasil? De alguém que tenha a consciência dos componentes da lista acima e que tenha o apelo eleitoral de Bolsonaro, o que parece ser impossível, porque o povo brasileiro, o eleitor médio, não consegue perceber a diferença.

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Ombudsman dos outros

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Tenho assistido, e acredito que você também, tantas barbaridades e idiotices que têm sido prolatadas em vários programas jornalísticos das mais diversas emissoras de televisão e de rádio de nosso país, que como produtor e diretor de conteúdos audiovisuais, resolvi pensar em um jeito de, se não de solucionar esse gravíssimo problema, pelo menos de minorá-lo de maneira criativa e extremamente positiva.

Depois de ter analisado um pouco toda essa situação e por ter passado a minha vida inteira envolvido com comunicação e jornalismo, posso garantir que terá sucesso extraordinário, um programa de televisão, como também sua versão para emissoras de rádio, que apresente, de forma analítica, ponderada, criteriosa e coerente, análises sobre aquilo que dizem e comentam outros programas que sejam jornalísticos e opinativos.

Seria exatamente como aquilo que sugere o curioso título deste texto, seria um programa que serviria como “Ombudsman dos outros”, onde fossem analisadas, com critérios apurados, aquilo que os jornalistas e seus convidados dizem.

Levando-se em consideração que o conhecimento e a opinião da sociedade atual, do século XXI, ao contrário da sociedade do “odiento” século XX, que eram formadas pelo convívio familiar, por boas escolas e universidades,  e que é hoje formada essencialmente pelas notícias que se ouve e assiste nos mais diversos meios de comunicação e nas redes sociais, conhecimento e informação da espessura de uma folha de papel, o “Ombudsman dos outros” filtraria e analisaria o que fosse dito nesses programas, de forma criteriosa, usando a lógica, o bom senso, o conhecimento histórico e científico, faria ponderações e mostraria ao público a consistência e a inconsistência daquilo que ali foi dito.

Lembro para quem não se lembra e digo para aqueles que não sabem o que é um Ombudsman. Ele é um profissional contratado por um órgão, instituição ou empresa com a função de receber críticas, sugestões e reclamações de seus usuários, e que sua função no jornalismo é essencial, tanto que são chamados de editores públicos, advogados dos leitores ou editores de leitores.

A primeira vez que essa função foi utilizada foi em dois jornais na cidade de Louisville, no estado de Kentucky, nos Estados Unidos, em 1967. Três anos depois, o The Washington Post seria o primeiro grande jornal a contratar um profissional para exercer essa importante função.

Apenas para exemplificar o que aconteceria no programa “O ombudsman dos outros”, veja o que disseram alguns jornalistas de uma certa emissora de televisão sobre o fato de um ministro do STF ter tomado atitudes “legais” no sentido de investigar a atuação de uma ONG, uma instituição de defesa dos direitos dos cidadãos que demonstrou preocupação com o aumento da corrupção no Brasil: “… essa é uma agenda pessoal do ministro …”.

Ora, esse comentário leva o espectador a achar normal, natural, certo, que um ministro do STF tenha uma agenda própria, sua, pessoal, faz com que quem por acaso assista o que ali esteja sendo dito, pense que a atitude do ministro está correta, quando a função do jornalista âncora, comentarista, opinativo, editorialista, é antes de tudo analisar o fato e a notícia por trás dele, do ponto de vista daquilo que é ético, certo, sensato e deve ser feito, ou pelo menos dar espaço para que aquilo tudo tenha um contraponto, uma ponderação.

Em momento algum os jornalistas ou comentaristas daquele programa teceu algum comentário sobre o fato de um ministro do STF ter uma agenda própria, sobre isso não condizer com a função de juiz, muito menos com a função de um ministro de uma corte suprema. A agenda de um juiz deve ser o processo, e seu manual, a sua bíblia, deve ser a lei, usada com sabedoria, sensibilidade e bom senso. São comentários como esse que enfraquecem o nosso senso de cidadania, bem como a falta de crítica a atitudes como essa, do tal ministro.

Talvez, se tivermos um ombudsman dos outros, possamos voltar a assistir alguns programas sem a imensa preocupação de filtrarmos as barbaridades que a maioria dos programas e dos jornalistas vomitam sobre nós a todo instante.

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Que saudades que tenho da aurora da minha vida

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O governante que não se preocupa com os julgamentos aos quais pode ser submetido, invariavelmente será condenado em todos eles.

Há o julgamento popular que é o mais imediato e visível, que graças ao advento da reeleição faz com que o governante subverta céus, terras e mares para não ser condenado, pelo menos não antes de se reeleger, e por isso mesmo acaba sendo condenado em outros julgamentos.

Há o julgamento das cortes de contas, nas várias esferas da jurisdição. Julgamentos em que quase sempre, de uma forma ou de outra, haverá algum tipo de condenação.

Há o julgamento criminal, nos quais ultimamente os nossos governantes têm sido penalizados, mesmo que a justiça também esteja precisando ser julgada.

E há o julgamento da história. Neste julgamento, a pena é o anonimato ou o esquecimento.

Sobre esse julgamento, desde que me entendo por gente, em nossa cidade, São Luís, e em nosso estado, o Maranhão, aqueles que primeiro são sempre lembrados como grandes governantes são respectivamente Haroldo Tavares e José Sarney.

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Oração de um homem de sorte

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Eu sou um homem de muita sorte. Não que tenha ganhado alguma coisa em sorteio ou em loteria. Isso Jamais aconteceu até hoje.

Minha sorte consiste em quase sempre conseguir aquilo que almejo. Tudo bem que me esforço para isso, mas algumas vezes não consigo o que desejo apenas por empenho, dedicação e esforço, mas por sorte mesmo. As vezes o universo conspira para que eu alcance meus objetivo, algumas vezes até os mais improváveis.

Em 2007, quando estava fazendo a pré-produção de meu filme “Pelo ouvido”, entrei em uma galeria de arte em São Paulo, em busca de um quadro para o cenário do filme, e me deparei com a tela que ilustra esse texto. Parei em frente dela e fiquei maravilhado com a visão que tive, com a mensagem que ela me passava. Senti uma imensa felicidade ao olhar aquela imagem.

Era apenas um corpo languido de uma mulher morena sobre uma cama. Imediatamente imaginei a cena. Um lençol branco como moldura, e sapatos também brancos espalhados pelo chão, completavam o cenário e me davam toda a perspectiva dos acontecimentos pretéritos e futuros. Entrei em uma espécie de transe, passou um filme em minha cabeça.

Ao me deparar com aquele quadro, minha única reação foi dizer para mim mesmo que eu precisar ter aquilo para mim. Queria ser dono permanente daquele sentimento e daquela sensação.

Mas aquele quadro não se encaixava nas necessidades do filme que eu iria realizar e acabei por não o comprar. Optei por outro, um que tinha uma relação mais direta com o filme.

Passaram-se alguns meses e quando estávamos gravando o filme, voltei naquela galeria e para minha surpresa o quadro continuava lá. Não tive dúvida que ele deveria ser meu. Imaginei que muitas pessoas poderiam ter passado por lá e comprado o quadro, mas ele continuava ali, no mesmo lugar, como se estivesse esperando por mim. Eu comprei o quadro e o trouxe para a casa que eu estava construindo, no Araçagy. Uma casa que deveria ser uma espécie de mosteiro e santuário para mim, minhas ideias e meus projetos.

Passeou-se um ano e quebrando todas as expectativas e as regras estabelecidas por alguém que com quase 50 anos, não pretendia mais se casar, encontrei o amor de minha vida, Jacira, a mulher por quem me apaixonei e com quem hoje sou casado, e assim que a vi, descobri que aquele quadro na verdade havia sido para mim, o roteiro, o storyboard, a direção de arte, antecipados, do filme que seria e minha vida dali em diante.

Hoje, 15 anos se passaram, a casa que seria mosteiro e santuário eu vendi, mas o quadro continua em minha parede e a mulher em minha vida… Para sempre.

Amém!…

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As lições que ficam

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Há trinta anos, quando meu pai morreu, não tive muito tempo para absorver, entender, nem sentir a falta que ele me faria, pois precisava fazer de tudo para minimamente tentar substituí-lo naquilo que fosse possível. Neste intento eu e meu irmão Nagib nos ajudamos naquilo que era possível e bem ou mal, conseguimos nos sair mais ou menos bem. Diria até que satisfatoriamente bem.

Hoje, passados esses trinta anos, foi mamãe que nos deixou, e ao contrário daquilo que sentimos com a morte de papai, o desamparo é imenso, diria que é total, pois se estávamos, eu e Nagib, e também as outras pessoas de nossa família, minimamente preparados para enfrentar os desafios que nos fossem apresentados na falta de Nagibão, o despreparo para enfrentar a vida sem a presença de mamãe é total.

Para se substituir o provedor, o lutador, o comerciante, o político e mesmo o pai e o amigo, bastava que trabalhássemos incansavelmente como ele fazia, que nos mirássemos em seus feitos e em seus ensinamentos silenciosos. Substitui-lo era uma questão de empenho e trabalho. Para substituir aquela que era a amálgama feita de amor, afeto, compreensão, doçura, carinho, aquela que era nosso escudo e nossa avalista divina, precisaríamos ter algo que sempre tivemos de graça, que jorrava dela como a luz do sol e o vento do mar. Substituir minimamente nossa mãe é algo impossível, pois não estamos equipados nem preparados substituí-la ou imitá-la.

Quando perdi meu pai fiquei durante muito tempo manco e caolho. Temo que perder minha mãe me torne um cego, tetraplégico, com demência e portador de uma profunda tristeza, eternamente.

Mas pensando bem e lembrando das frases que eles dois mais gostavam de repetir: “O difícil se faz logo, o impossível demora um pouco mais” e “Nasci para ser feliz”, vejo que ter tido a oportunidade de ter vivido 34 anos com meu pai e 64 anos com minha mãe, não me deixa nenhuma saída a não ser agradecer pela vida e pelos ensinamentos que eles nos legaram e continuar FAZENDO e sendo FELIZ.

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Ruído na comunicação

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A vida está muito cansativa, principalmente por causa da imensa e absurda exposição a que todos nós somos submetidos através dos mais variáveis dispositivos que compõem as redes sociais.

Quem não está nas redes, não existe. Quem existe, precisa ter zilhões de seguidores para que sua marca pessoal seja valorizada e ele possa ser considerado um influenciador, ou seja alguém que “impõe” suas opiniões sobre seus “seguidores”, uma coisa que beira o fanatismo.

Porém, mais que criticar as redes sociais em si ou mesmo quem a usa como instrumento de trabalho, gostaria de abordar um aspecto delicado desse instrumento, muitas vezes utilizado de forma tirânica, como temos visto ultimamente.

As redes sociais por si só não fazem mal a ninguém nem a coisa alguma, assim como uma arma de fogo, ou um carro. É o bom ou o mau uso dessas coisas que definem o que podem ser.

Quando Andy Warhol disse que no futuro todos teriam 15 minutos de fama, jamais imaginou que iria acertar tanto quanto a fama e errar tanto quanto ao tempo dela. A fama de todo mundo nas redes sociais é por muito, muito tempo e só deixa de existir em casos extremos e raros.

Eu sou o exemplo perfeito de fracasso das redes sociais, tenho poucos seguidores e acredito que não influencio ninguém ou se muito, uma ou duas pessoas que pensam como eu e se vêm refletidos nas coisas que eu mostro, falo e escrevo.

Outro dia, fiz uma postagem onde apresentei as fotos de dois criminosos. Um que roubou, um país inteiro, de diversas formas e através de muitos métodos, mais que isso, fragilizou seu povo, dividindo-o para poder escravizá-lo, e outro que assediou mulheres e cometeu estupro, crimes covardes e hediondos.

Naquela postagem eu dizia que me causava espécie que algumas pessoas perdoavam os crimes de um daqueles sujeitos, mas não perdoavam os crimes do outro.

Houve quem pensasse que eu estivesse comparando os dois criminosos e até seus crimes. Teve quem imaginasse que eu relativizava os crimes e até quem dissesse que eu estava politizando uma coisa que nada tinha de política.

Lembro que uma pessoa me acusou de defender um estuprador, quando na verdade eu deixei claro o seu abominável crime.

Uma outra pessoa me mandou ter cuidado com aquele tipo de mensagem, pois elas normalmente causam ruído, ao que eu reconheci a possibilidade, mas ressaltei que é preciso que se investigue para saber se o ruído é proveniente do transmissor ou do receptor.

Depois de toda aquela polêmica, eu fiz uma outra postagem, que transcrevo mais abaixo, onde eu esclarecia peremptoriamente a minha intenção ao publicar aquela matéria.

“Vejam bem, essa postagem não é sobre esse ou aquele criminoso nem sobre os crimes que eles cometeram, nem mesmo sobre perdoá-los ou não. Essa postagem é sobre a hipocrisia das pessoas que agem de maneira diferentes em situações parecidas, pessoas que usam pesos diferentes e medidas distintas em casos semelhantes, pessoas que acham que a razão está sempre do seu lado, que sistematicamente se vitimizam e costumam colocar sempre a culpa nos outros!…” Ainda assim algumas pessoas fizeram questão de não entender. Não sei até agora se o ruído está no transmissor ou no receptor, mas que ele existe, isso não resta a menor dúvida, e está ficando a cada dia mais insurpotável e ensurdecedor.

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Meus amigos

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Tenho pensado muito sobre minha mãe e não é difícil entender que por pensar muito em alguém ou em alguma coisa, seu subconsciente fique impregnado desse assunto que lhe acabe por fazer sonhar com ele.

Sonhei com minha mãe comentando sobre seu falecimento, seu velório, seu enterro, sua missa de 7º dia e sobre nossa vida sem a presença física dela.

Ela disse muitas coisas que não dariam para colocar em um único texto. Falarei delas depois, hoje quero falar da gratidão dela pelo carinho de todos, em especial sobre o apoio e a presença constante de amigos meus e de meu irmão, Nagib, há todo instante nos apoiando. Em nossa conversa ela disse que foi para isso que ela nos criou, para sabermos cultivar amigos verdadeiros, que nos apoiassem quando precisássemos e para que nós estivéssemos com eles quando eles de nós precisassem.

Depois que acordei, corri e vim escrever a poesia abaixo, inspirado naquilo que minha mãe me ensinou.

Meus amigos

Tenho amigos pretos e meu amor por eles não é menor por serem pretos.

Tenho amigos feios e meu amor por eles não é menor por serem feios.

Tenho amigos gordos e meu amor por eles não é menor por serem gordos.

Tenho amigos idosos e meu amor por eles não é menor por serem idosos.

Tenho amigos jovens e meu amor por eles não é maior por serem jovens.

Tenho amigos indígenas e meu amor por eles não é menor por serem indígenas.

Tenho amigos não binários e meu amor por eles não é menor por serem não binários.

Tenho amigas mulheres e meu amor por elas não é menor por serem mulheres.

Tenho amigos muçulmanos e meu amor por eles não é menor por serem muçulmanos.

Tenho amigos judeus e meu amor por eles não é menor por serem judeus.

Tenho amigos hinduístas e meu amor por eles não é menor por serem hinduístas.

Tenho amigos espíritas e meu amor por eles não é menor por serem espiritas.

Tenho amigos ateus e meu amor por eles não é menor por não acreditarem em Deus.

Tenho amigos agnósticos e meu amor por eles não é menor por não terem religião.

Tenho amigos cristãos e meu amor por eles não é maior por serem cristãos.

Tenho amigos pouco inteligentes e meu amor por eles não é menor por serem pouco inteligentes.

Tenho amigos esquerdistas e meu amor por eles não é menor por serem esquerdistas.

Tenho amigos direitistas e meu amor por eles não é maior por serem direitistas.

Tenho amigos com problemas físicos e meu amor por ele não é menor por terem problemas físicos.

Tenho amigos autistas e meu amor por ele não é menor por serem autistas.

Tenho amigos pobres e meu amor por ele não é menor por serem pobres.

Tenho amigos ricos e meu amor por ele não é maior por serem ricos.

Tenho amigos flamenguistas e meu amor por ele não é menor por serem flamenguistas

Tenho amigos vascaínos e meu amor por ele não é maior por serem vascaínos.

Tenho amigos chatos e meu amor por eles não é menor por serem chatos.

Tenho amigos simpáticos e meu amor por eles não é maior por serem simpáticos.

O que eu não quero, é ter amigos insensíveis, desumanos, cruéis e malévolos, que não sejam honrados, nobres, altruístas e generosos.

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Minha mãe não morreu

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Em março de 2014, publiquei um texto cujo título era “O maior amor de minha vida”, sobre a operação cardiovascular que minha mãe fizera, em São Paulo. Na verdade, eu nem me lembrava mais daquele texto, até o padre Cláudio rememorá-lo, na homilia da missa de corpo presente que ele proclamou no velório de minha mãe.

É importante que eu diga que antes de Cláudio, estiveram conosco o padre Crispim, pároco da igreja que minha mãe frequentava, que disse belas palavras e cantou algumas das músicas que minha mãe mais gostava, e o pastor presbiteriano, António, que ela conhecera através de amigos e que passou a frequentar a casa dela para administrar estudos bíblicos.

Eu já conhecia António, mas não imaginava que ele era amigo de minha mãe e que frequentava a casa dela!

Em sua pregação no dia do velório de minha mãe, António contou uma história linda, estabelecendo uma metáfora poderosa sobre o cuidado que um pai tem para com seus filhos. Ele contou-nos que um filho adormecera na sala, assistindo televisão e o pai dele o carregou até seu quarto, o cobriu com um lençol e no dia seguinte, quando o garoto acordou, ficou intrigado, pois se lembrou que adormecera num lugar e despertara em outro, como isso era possível!?… E o pastor nos respondeu: “É o amor do pai que nos carrega, aconchega e protege, foi isso que aconteceu com Dona Clarice”.

Mas voltemos ao Cláudio. Ele não é apenas um padre! Pedagogo e psicólogo, ele é, já faz algum tempo, um religioso de referência, não só em São Luís, como também em todo estado do Maranhão, e uma das coisas que o fazem se diferenciar, é sua incrível capacidade de abordar, em suas homilias, temas que preenchem todos os espaços em que tais assuntos precisam ser observados. Naquele dia ele trouxe a baila o texto que eu escrevera 10 anos antes, em que eu declarava que o maior amor de minha vida era minha mãe.

Naquele mesmo dia, depois do enterro, ao chegar em casa fui procurar em meus arquivos o tal texto que Cláudio se referira em seu sermão. Quando o achei, fiquei perplexo com o que eu havia dito e escrito. Era exatamente aquilo que Cláudio havia falado e é exatamente tudo aquilo que eu estou sentindo agora.

Vou transcrever um trecho daquele texto para que você que me dá a honra de sua audiência, possa entender exatamente o que eu penso e o que eu sinto sobre a morte, não só de minha mãe, mas sobre ela de modo geral.

“Por que eu estou publicando esse texto hoje? (…) Porque daqui a muitos anos, na ocasião em que ela tiver ido, não escreverei sobre tal evento, não lamentarei nada, pois o tempo que ela tem passado conosco tem sido tão engrandecedor que já está eternizado em nossas vidas.

Escrevi este texto para dizer que minha mãe jamais morrerá enquanto alguém a quem ela tenha se dedicado, que ela tenha amado, se lembre dela.

Escrevi este texto para comemorar a vida da pessoa que mais amo e para agradecer a todos que a amam também”.

Pois bem, eu proclamo novamente, a quem interessar possa, que minha mãe, Clarice Pinto Haickel, não morreu e não morrerá enquanto alguém que a conheceu e a amou ou foi amado por ela, se lembrar dos momentos maravilhosos que passaram juntos.

Tenho dito para meus familiares e para alguns amigos, que minha mãe não morreu, que ela está em uma longa viagem, e que entrará sempre em contato conosco, nos dedicando a mesma atenção e o mesmo carinho de sempre, toda vez que nos lembrarmos dela, e que se observarmos atentamente nossas lembranças sobre ela, sentiremos os conselhos que ela nos daria se estivesse fisicamente ao nosso lado.

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Minha mãe, Clarice Pinto Haickel, aquela que nasceu para ser feliz, e foi… E mais que isso, levou amor e felicidade a todos aqueles com quem conviveu.

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Na ausência física dela, minha tristeza não será uma tristeza egoísta, será uma tristeza altruísta. Não ficarei triste pela falta que a ausência dela me fará, pela falta que sentirei de suas palavras carinhosas e de suas orações, não ficarei triste pela saudade que eu sentirei dela, de seus conselhos ou de suas brincadeiras. Minha tristeza será por não mais poder proporcionar a ela algumas das coisas que ela mais amava na vida: os almoços da família, às quartas e domingos; nossa juçara geladinha, com camarão seco e farinha d’água aos sábados; os passeios, junto com toda a família, em uma van alugada, por sua amada cidade de São Luís, passando pelos locais que marcaram a vida dela e as nossas; as missas do padre Cláudio, no Cantinho do Céu; os sabonetes, as caixas e os bordados que ela passava o ano inteiro preparando para o Bazar de Natal com suas amigas…

Minha tristeza será por não poder proporcionar a ela aquilo que ela realmente mais amava, lógico que depois de Deus, e de nós, sua família e seus amigos: a alegria e o prazer de nossa companhia.

Revoltado!? …Inconformado!?… Nunca!!!… Como eu posso ficar revoltado ou inconformado com a elevação de minha mãe? Isso nunca!!!… Agora eu a terei para sempre em minha memória e poderei fazer dela minha eterna companheira de pensamentos e orações, inclusive, as poucas que sei, foi ela quem me ensinou.

Tudo bem que eu não vou mais poder diariamente ligar para ela para dizer: “Mãe, liguei só para dizer que te adoro”. Não vou mais ouvir ela me chamar de “meu Jotinha”, nem vou mais ouvir dela as ironias finas que ela dizia ter herdado de meu avô, “Seu Pinto”, mas sempre ressaltando que mais afiada que ela nesse ofício, era minha tia e madrinha, Maria da Gloria.

Não vou mais poder contar para ela as histórias bíblicas que ela tanto gostava. Ela tinha a mesma reação que eu tinha, quando ela lia para mim os contos de Grimm e de Andersen, mesmo quando eu propositalmente destorcia as histórias, dando vazão ao meu agnosticismo.

Eu tive o privilégio de, da mesma forma como ela fazia comigo quando eu era criança, dar-lhe na boca sua última refeição. Naquele momento ela não era mais a minha mãe, naquele momento ela era minha filha.

Enquanto brincava de aviãozinho com as colheradas que levava até sua boca, ela suspirava e dizia: “Aí meu Deus!…” e gemia, mesmo que não sentisse dor. Ao ouvi-la chamar por Deus, a interpelei com uma provocação quase teológica: “Mamãe, não fica chamando por ele que ele acaba vindo, pois ele gosta muito de ti… E sabe mãe esse seu amigo anda muito ocupado, ele está dando plantão na Palestina, na Ucrânia, além de passar por Rio e Sampa, quatro vezes por dia. Ela deu um sorrisinho maroto e respondeu: “E tu já te esquecestes que ele está em todos os lugares, todo tempo!?”

Enquanto escrevia esse texto fiquei pensando, sobre qual evento mais havia me emocionado nestes dias de doença, internação e elevação de minha mãe, e descobri que foram as mensagens que recebi das pessoas que trabalhavam com ela. Litiane, sua companheira de aventuras culinárias, mandou mensagem pedindo que eu dissesse a minha mãe que ela estava morrendo de saudade dela, que ela voltasse logo pra casa; Luís, seu aprendiz de feiticeiro, disse: “Seu Joaquim, amanhã vou visitar minha mãezinha”; e Pedro, seu motorista, que me puxou pelo braço perguntou em tom grave e austero: “Quando eu vou levá-la para casa, seu Joaquim?”

Durante quase todo o tempo eu me mantive forte e não chorei, mas me desfiz em lágrimas todas as vezes que essas pessoas demonstraram seu incondicional amor por minha mãe, pois assim como eu, eles eram como filhos para ela.

Minha mãe viveu pouco mais de 94 anos, dos quais 64 deles eu tive o privilégio de estar junto dela. Ela partiu às 19 horas e 7 minutos do dia 27 de dezembro de 2023 e a foto que ilustra esse texto é o registro imagético da confraternização de Natal de nossa família, no dia 24 de dezembro.

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