Moura e Tarantino. Carlos e Charles.

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Passado algum tempo e já tendo se dissipado o calor em torno do assunto, resolvi entrar na polêmica do filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, a quem reputo um de nossos mais completos atores.

O fato de discordar ideologicamente de Moura e muito mais ainda do guerrilheiro Carlos Marighella, retratado por ele em seu filme, em nada invalida o talento do ator-diretor nem a qualidade artística de sua obra.

Acho importante que todos possam assistir a este filme, até porque o obscurantismo nunca ajudou ninguém em nenhuma época e nem em qualquer situação. Vejam o que aconteceu com o fechamento da União Soviética para o mundo! Essa tática é a dos comunistas, não a dos liberais.

Isso não quer dizer que iremos aceitar a verdade deles só porque eles são quem o são.

Na verdade, o grande ator Wagner Moura tem agido de forma asquerosa, maculando a imagem de nosso país, na tentativa de atingir objetivos políticos, ideológicos e partidários, o que é deplorável.

O filme de Wagner Moura sobre Marighella é na verdade uma obra de propaganda ideológica e, como tal, traz em si uma série de erros grosseiros e propositais, tanto de contexto quanto de historicidade, como o fato de um ator negro, Seu Jorge, encarnar um personagem que no máximo poderia se dizer moreno. Marighella era filho de pai italiano e mãe mulata!

Resumindo a opereta: sou contra a tentativa de restringirem e boicotarem o lançamento e a exibição do filme “Marighella”. Penso que todos devam ter o direito de assistir a todos os filmes que porventura sejam produzidos. No entanto, é importante que fique muito claro que existem filmes históricos que são feitos seguindo critérios respeitáveis e confiáveis, outros que são feitos como alegorias de algum fato ou personagem histórico, onde o autor insere alguns detalhes e ingredientes ficcionais para melhor construir a dramaticidade da obra, e outros que são meramente filmes de propaganda ideológica, de doutrinação e aparelhamento social, como é o caso deste.

Enquanto escrevia este texto, recebi de um amigo uma montagem onde aparecem, lado a lado, o guerrilheiro Marighella e o quadrilheiro Marcola. Percebe-se bem a semelhança física entre eles. Seus modus operandi são bem semelhantes e conhecidos, pois os quadrilheiros aprenderam com os guerrilheiros todas as suas táticas.

Por outro lado, assisti recentemente ao mais novo filme de Quentin Tarantino, “Era uma vez em Hollywood”, onde o diretor se baseia em um fato real, para contar uma história ficcional, que na verdade é o retrato da realidade sobre um aspecto da indústria cinematográfica americana.

Tarantino cria dois personagens ficcionais encarnados por dois atores ícones de nosso tempo, Leonardo Di Caprio e Brad Pitt, para contar uma história, velha conhecida nossa: a montanha-russa que é a vida dos astros de cinema. Nessa aventura, ele conta alguns fatos da história de astros do cinema, que aparecem de soslaio, como Steve McQueen, Roman Polanski e Sharon Tate.

Incrivelmente, a criação alucinada desse controverso diretor distorce propositalmente a realidade e impede que a “família” de Charles Manson, mate Sharon e seus amigos, em uma noite sombria, de loucura, violência desmedida e magia negra.

Ao fazer isso, descaradamente, Tarantino é honesto, pois claramente nos oferece um filme de ficção sobre uma realidade conhecida, enquanto Moura, em seu “Marighella”, pretensiosamente construído na intenção de nos apresentar sua versão sobre esse personagem como sendo a verdadeira, tenta estabelecer com este filme uma verdade histórica que passe a ser aceita por todos.

Enquanto o diretor americano usa da ficção para ressaltar a verdade sombria do fato na cabeça das pessoas, o diretor brasileiro usa sua concepção ideológica para impingir ao espectador a verdade que ele deseja estabelecer.

É bem aí que consiste a diferença básica entre o sucesso do bom (mas intrincado, para quem não conhece a história) filme de Tarantino e o fracasso da tentativa panfletária de Moura ao contar a sua versão da história de Marighella.

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Sobre política e políticos

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Estou ficando cansado!… Cansado de ver, de ouvir e de saber de tanta idiotice e barbaridade cometidas em nome do direito e da democracia, quando na verdade esses atos torpes são perpetrados simplesmente em nome de uma “política” que na verdade deveria ser chamada de politicalha, que serve tão somente para levar uma pessoa, e o grupo em que ela se apoia, ao poder.

O caso envolvendo os moradores do Cajueiro demonstrou isso de forma repugnante! Quem antes, na oposição, defendia panfletariamente os moradores e ocupantes daquela área, hoje, no governo, defende o direito de propriedade da empresa que ali irá construir um porto! Quem antes, no governo, defendia os interesses da empresa proprietária, hoje defende os ocupantes das terras! Todos uns canalhas!…

A palavra política, “politiké” em grego, abrange tudo o que é relacionado a grupos específicos que integram a pólis, a Cidade-Estado, que no apogeu da civilização grega clássica, era o que hoje se entende comumente como nação, como país.
Um político, “politikós” na língua de meus amados tios Samuel e Giovane, deveria ser algo maior que isso que temos hoje. Deveria ser na prática o que prevê o sentido grego de sua concepção: “Cidadão hábil na administração de negócios públicos”. E esta habilidade não deve ser entendida como a artimanha capaz de simplesmente levar o tal cidadão ao poder, mas antes de qualquer coisa, precisa ser a capacidade desse cidadão saber o que deve ser feito para proporcionar segurança, crescimento, emancipação e progresso para as pessoas e para o Estado, como fizeram grandes homens a exemplo de Clístenes, Temístocles e Péricles.

O termo política é derivado do grego antigo, politeía, que indicava todos os procedimentos relativos à pólis, que por extensão poderíamos entender como comunidade, coletividade ou sociedade.
Politeía é, curiosamente, o título original do livro A República do grande filósofo grego Platão, do qual só tivemos conhecimento graças à luz que seu discípulo, Sócrates, aquele filósofo humilde que reconhecia que pouco ou nada sabia, colocou sobre suas ideias. Já Aristóteles, o mais importante dos alunos de Sócrates, acabaria por gravar em pele de carneiro e pedra, a frase que estabeleceria o nosso entendimento comum e banal sobre políticos: “O homem é, naturalmente, um animal político”.

Ao dizer isso, Aristóteles estabeleceu duas verdades soberanas em nossos dias: Todo homem QUER SER POLÍTICO e todo homem É ANIMAL, infelizmente em suas concepções menos sofisticadas.

Nos dias de hoje e no sentido comum, vago e às vezes um tanto impreciso, política, como substantivo ou adjetivo, compreende a arte de guiar ou influenciar o modo de governar e organizar um grupo ideológico ou partido político, pela influência da população, normalmente através de eleições.

Na conceituação erudita, lato sensu, política, segundo Hobbes, é a utilização dos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem, ou “o conjunto de meios que permitem alcançar os efeitos desejados”. Já para Russell, política é “a arte de conquistar, manter e exercer o poder”, tese que se baseia na noção dada, mas jamais dita explicitamente, por Maquiavel, em O Príncipe.

Numa conceituação moderna, política é a ciência moral, normativa do governo e da sociedade.

Depois de queimar as pestanas estudando, tenho que me contentar com a realidade que esfrega em minha cara que a política, como forma de atividade ou de práxis humana, está estreitamente ligada ao poder. E que o poder político é, em primeira e em última análise, o poder de um homem sobre outro homem, ou pior que isso, de um homem à frente de um grupo ideológico, sobre todos os homens de uma nação, de um país, de um Estado.

Estou cansado! Principalmente por intuir que é muito difícil que se mude a realidade em que vivemos, pois aqueles que exercem a política hoje em dia, além de não saberem nada disso, não estão nem um pouco interessados em saber como transformar os enunciados do que é política e do que são os políticos, em algo bom para a sociedade, pois eles visam somente chegar e se manterem no poder. O poder para eles é o fim e não o meio para que façam como fizeram Clístenes, Temístocles e Péricles… O que de melhor puderam fazer para protegerem e servirem os seus pares.

PS: Se esses caras não sabem quem foram Clístenes, Temístocles e Péricles, sem recorrer ao Google, como vão saber votar ou estabelecer metas governamentais, sobre qualquer assunto, em defesa dos cidadãos!?

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Um tradutor para o presidente, please!

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De tudo que vi e ouvi nas últimas semanas, o que mais me chamou a atenção foi o comentário que o presidente Jair Bolsonaro fez a um de seus ministros.

Aparentemente, Bolsonaro usou o termo “paraíba” para se referir aos governadores do Nordeste. Em minha opinião essa expressão traz em si o mesmo sentido de chamarmos militares de “milicos”, palmeirenses de “porcos” ou um cearense de “cabeça chata”! Nada mais!…

É bem verdade que isso não é coisa que um presidente da República deva dizer, mas para isso não acontecer nós deveríamos ter elegido no lugar do Bolsonaro o Sergio Vieira de Melo, mas infelizmente ele já morreu. Na verdade, mesmo eu adoraria ter o Sergio Vieira de Melo como nosso presidente, mas temos que nos contentar com Bolsonaro, por enquanto.

Sobre o presidente, preciso dizer a você que me homenageia com sua leitura, que eu consigo entender perfeitamente o que ele fala. Entendo sem nenhuma das distorções causadas por sua falta de tato e de polidez. Consigo entender a sua intenção, o texto por trás do subtexto e do contexto dos quais ele não consegue se desenredar, pelo contrário, ele se enrola cada vez mais. Eu o entendo pelo fato de que meu pai era um homem muito direto e às vezes até pouco polido. Reconheço que as pessoas que não estão acostumadas a esse tipo de gente terão muita dificuldade de entender as suas colocações, e o que é pior, ele não faz nenhum esforço para fazer-se compreender.

Pouco diplomático, o presidente Jair Bolsonaro, não deseja ser diferente, no que está completamente equivocado, pois seu estilo direto e pontiagudo, ao contrário de só ser uma vantagem, está se mostrando ser aquilo que seus adversários precisam para desacreditá-lo e desqualificá-lo. Em última análise, ele é o seu maior e pior adversário. O pior é que ele não vê isso!

Outro grave erro do presidente é acreditar que não é importante qualquer coisa que possam dizer seus adversários, sejam eles dos partidos políticos de esquerda, da imprensa, ou mesmo pessoas comuns que não sendo destas facções, discordem pontualmente de sua forma de agir. É importante sim! É muito importante, pois o que seus adversários dizem pode acabar se tornando mais decisivo que qualquer coisa que o presidente e seu governo possam vir a fazer de bom para o Brasil e para nossa gente.

Sobre ele ter se referido a governadores como “de Paraíba”, confesso que ele fala tão mal que a princípio nem entendi. Depois aceitei que ele estivesse falando dos governadores do Nordeste, menos por serem nordestinos, mas por serem todos de esquerda, todos seus adversários, que lhes chamam de nazista. Não identifiquei nisso nenhuma forma ou intenção de racismo.

Sobre ele citar o governador do Maranhão como sendo o pior de todos, não consegui entender em sua fala uma discriminação específica contra o Estado do Maranhão ou a nossa gente.

O presidente tem o direito de achar Flávio Dino o “pior de todos”, da mesma maneira que Flávio Dino não se cansa de proclamar suas opiniões, sempre demeritórias sobre o presidente do Brasil.

“Não tem que ter nada para esse cara” é uma frase política, que em minha interpretação significa simplesmente o seguinte: Não faremos nada no Maranhão através do governo do Estado. Tudo que tivermos que fazer lá, deve ser feito diretamente pelo governo federal, como a duplicação da BR-135, as obras de melhoria da cidade de São Luís, que já estão sendo realizadas pelo IPHAN, o apoio direto aos municípios e às instituições, como o Hospital Aldenora Bello e nossas ações na Ferrovia Norte-Sul, o que levará as riquezas do Maranhão para o sul, por preços mais competitivos!

Ao dizer isso, Bolsonaro imita o próprio Flávio Dino, quando o governador do Maranhão se refere a um ou outro produtor cultural que busca apoio para um projeto por meio da lei de incentivo a cultura do Estado: “Não tem que ter nada para esse cara”. É triste, mas é do jogo!…

Eu não me arrependo de ter votado em Bolsonaro! Se alguém deveria se arrepender de alguma coisa é ele! Não só se arrepender, mas também parar de dizer e fazer tanta bobagem, correndo o grave risco de desperdiçar a grande oportunidade de soerguimento do Brasil que ele mesmo está propiciando!

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Celso Antônio, brasileiro.

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Nada sabia sobre Celso Antônio de Menezes. Muito pouca gente sabe sobre ele. Desde que tomei conhecimento de sua incrível história, tive vontade de realizar um documentário que possibilitasse às pessoas conhecerem esse gênio da arte brasileira, que nasceu na cidade de Caxias, no Maranhão.

Realizar este filme passou a ser uma de minhas metas. Comecei a procurar por Celso Antônio, a pesquisar tudo o que dissesse respeito a ele e o livro de Eliezer Moreira sobre Celso foi o estopim. Joaquim Itapary, sabendo de meu interesse, passou-me o endereço de um site de leilões de obras de arte e lá arrematei todas as peças do escultor que estavam disponíveis. Saí comprando tudo que pude encontrar, feito por ele.

Era minha intenção doar o acervo que adquiri, inclusive, parte dele da família de Celso, para o governo do Maranhão, para que ele colocasse em exposição permanente em um espaço dedicado às artes de nossa terra, mas o governo não se mostrou sensível a essa ideia.

As pessoas costumam valoriza pouco as funções de produtor executivo, de produtor, de diretor de produção… Isso é um grande erro. Nenhum diretor pode fazer bem o seu trabalho se não tiver por trás de si bons produtores. Sabendo disso resolvi escalar meu parceiro Joan Carlos Santos, da produtora Play Vídeo, para produzir comigo este filme que resgatará a história deste gênio esquecido de nossa arte.

Precisávamos de um diretor detalhista, minucioso, que beirasse a chatice no esmero da narrativa da história. Precisava de um poeta do cinema. Alguém que soubesse intercalar silêncio e som, longas sequências imagéticas com os necessários depoimentos que compusessem a tela que retrataria a nossa história. Afortunadamente eu tinha esse diretor. Beto Matuck, da Matuck & Yamaji Filmes, meu parceiro de muitos, grandes e bons projetos foi a escolha perfeita.

Essas três empresas integrantes do Polo de Cinema do Maranhão, a Play, enquanto proponente do projeto, a M&Y, se responsabilizando pela direção artística e a Guarnicê, na produção executiva, se valeram do indispensável apoio do MAVAM para realização deste filme, que temos certeza será um marco na história do cinema e das artes do Maranhão.

O filme Celso Antônio, brasileiro, é um sobrevoo sobre a trajetória do escultor maranhense Celso Antônio de Menezes, que viveu entre 1896 e 1984 e participou intensamente do movimento modernista, juntamente com Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Manuel Bandeira, entre outros, mas apesar de aclamado como um importante artista de vanguarda, sua obra é hoje refém do desconhecimento.

Nosso documentário refaz o caminho do escultor, investigando o que teria provocado o seu declínio e impedido que sua obra ficasse registrada mais profundamente no cenário das artes brasileiras.

Duas passagens são as mais controversas na vida do nosso personagem. A primeira, no governo Vargas, quando o renomado arquiteto francês Le Corbusier, que era amigo de Celso Antonio desde quando este morava em Paris, o convidou para fazer uma estátua que deveria ficar em frente ao prédio sede do Ministério da Educação… A obra se chamaria O homem brasileiro. Assistam ao filme e descubram o que aconteceu.

A outra grande polêmica foi quando, no governo do presidente Dutra, o escultor foi convidado para fazer uma escultura que simbolizasse o nosso trabalhador. Ela seria colocada em frente ao Ministério do Trabalho, no Rio de Janeiro.

Nesta imensa escultura em granito Celso Antônio usou como referência a figura de um homem mulato, atarracado, de feições fortes, com as mãos para trás, o que por si só fez da obra objeto de polêmica em torno de como deveria ser representado o tipo racial brasileiro. Dias após e inauguração a escultura foi retirada de seu local, sendo transferida para um parque em Niterói e caiu no esquecimento.

Um dos objetivos deste filme é sensibilizar o governo do Maranhão para que faça tratativas no sentido de trazer essa obra para São Luís e colocá-la em um local onde possa ser admirada por todos.

O lançamento de Celso Antônio, brasileiro será neste sábado, 27 de julho, às 10 horas da manhã, no Cinépolis, no São Luís Shopping. A entrada é franca.

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Insônia Produtiva

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Quando se fala em insônia normalmente se imagina logo que ela é proveniente de preocupações e dificuldades pelas quais o insone deve estar atravessando, mas em algumas oportunidades, ela pode acabar nos dando alegrias.

Normalmente durmo por volta das 11 da noite e acordo em torno das cinco da madrugada, o que me garante seis horas diárias de bom sono.

Esta semana tive dias muito atarefados, mas também muito produtivos. Trabalhei uma média de 16 horas diárias de segunda e sexta e deverei ainda trabalhar umas 8 horas no sábado e no domingo, o que totalizará umas 96 horas de trabalho, nas diversas atividades às quais me dedico.

Estou realizando várias produções cinematográficas. Acabei de produzir dois longa metragens documentais, um sobre o genial escultor maranhense, Celso António, dirigido por meu amigo e parceiro Beto Matuck, e o outro, baseado em imagens do grande fotógrafo Lindberg Leite, no qual divido a pesquisa, a produção e a direção com Cinaldo Oliveira, Joan Carlos Santos e Fernando Baima, respectivamente.

A Guarnicê Produções está desenvolvendo outros projetos. Para a TV Difusora, uma série em parceria com a Freela Conteúdos, espécie de Reality-Road Movie-Musical-Adventure, onde apresentaremos a banda de reggae Raja, em turnê pela Rota das Emoções e em parceria com a Objetiva Filmes, um telefilme baseado no material que Lindberg Leite produziu para esta emissora nos anos de 1960 e 1970.

Estou também produzindo duas séries e dirigindo uma delas, para canais de repercussão nacional e internacional, a Prime Box Brasil e a Fashion TV. O primeiro sobre a vida e a obra do padre António Vieira e o segundo sobre moda produzida de forma artesanal e sustentável. Ufa!… Só relatar isso tudo já cansa, imagina só fazer!?

A Guarnicê Produções está também participando, como coprodutora, do filme Trópico que será realizado no Maranhão e contará com direção de Giada Colagrande e a participação de Willem Dafoe e grande elenco, além de atores e técnicos de nossa terra.

Tem mais! Depois de muito tempo trabalhando como voluntário na Fundação Nagib Haickel, pois antes, pelo fato de ser deputado, não quis assumir nenhuma função de direção naquela instituição, agora sou seu presidente e justo em minhas mãos, ela está atravessando tempos difíceis, como de resto todo mundo está.

Outra tarefa que assumi foi ajudar a Academia Maranhense de Letras a levar em frente seu plano editorial. Eu, Sebastião Moreira Duarte, Félix Alberto Lima e José Neres, presididos por Lourival Serejo, fazemos parte da comissão editorial da AML, que está editando e publicando alguns livros.

Só para vocês terem uma pequena ideia deste trabalho: Eu lhes garanto que editar um livro hoje é infinitamente mais fácil do que em meados dos anos 1980, mas está um milhão de vezes mais difícil convencer alguns escritores que as capas de seus livros não podem ser feitas por eles, mas por artistas gráficos capacitados!

A semana também foi recheada de compromissos empresariais, setor em que graças ao bom Deus de Moisés e Maomé, conto com a indispensável ajuda de meu irmão Nagib e de minha esposa Jacira, sem os quais eu estaria quebrado.

Pois bem! A insônia! Adormeci às 11 horas da noite, com o controle remoto da TV na mão, e do nada despertei uma hora da madrugada.

Fui até a cozinha, tomei água para enganar o estômago e não ter que comer nada. Não funcionou. Assaltei a geladeira, mas fui moderado. Comi apenas frutas.

Como vi que não iria mesmo conseguir dormir fui para o computador. Passeei pela internet. Dei parabéns para os aniversariantes do dia no Facebook, li as últimas notícias e fui ver a página do MAVAM no Youtube… Agora que começa o texto de hoje. Quase no final!

Deparei-me com 60 filmes sobre os radialistas e o rádio maranhense. Um trabalho de registro e preservação de memória que não pode ser mensurado em preço financeiro. Emocionei-me com o Xeleléu de Rui Dourado, com o grande Zé Branco e senti saudade do amigo Edmilson.

Mas vi também outros conteúdos que realizamos: Os 27 filmes sobre os artistas plásticos do nosso estado, os 24 filmes sobre escritores maranhenses, os 19 sobre personagens e fatos importantes de nossa história, os 120 recortes de memória histórica, além de muitos outros filmes ficcionais e documentais nos quais participamos como realizadores ou apoiadores.

Fiz uma continha rápida e cheguei ao número extraordinário de 250 títulos de diversas durações e formas, realizados de 2009 para cá. Aprofundei a conta e cheguei à casa de 3.600 minutos de material finalizado e mais de nove mil minutos de material bruto.

Naquela madrugada fui dormir às seis da manhã e acordei as oito pra pegar no batente. Dormi feliz e acordei realizado.

PS: Quando lerem este meu texto, meu irmão Nagib e minha mulher Jacira, que em última análise, financiam tudo isso, dirão: “Muito bem! Parabéns! Isso é muito importante e até muito bonito, mas esse negócio não consegue se sustentar sozinho!?” Ao que eu responderei: “Claro que sim! Ele sustenta parte de minha felicidade!”

Veja você mesmo: https://www.youtube.com/channel/UCEWQytLxhKZ2gLs-wGn55FQ/videos

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Morfologia e Sintaxe de um Filme

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Finalmente encontrei um tempinho para assistir ao badalado filme, Democracia em vertigem, de Petra Costa.

A obra é anunciada como um relato documental sobre os acontecimentos que envolveram a cassação da então presidente Dilma Rousseff, mas ao terminar de assisti-la, tive a impressão de ter visto um filme poético e sensorial sobre política. Algo realmente diferente e incomum, e é neste sentido que acredito repouse suas maiores qualidades, aumentadas por belas imagens, uma trilha sonora quase sacra, a narração em primeira pessoa da própria diretora, construída de forma inteligente, feita para cativar o espectador, levando-o a acompanhá-la em um passeio pelos caminhos de sua visão sobre acontecimentos políticos recentes do Brasil.

Embora cite a cassação de Dilma Rousseff, e apresente depoimentos de diversos outros políticos, na verdade Petra usa a si própria e a Lula, como fios condutores narrativos de seu filme.

A voz às vezes doce e até tímida da narradora, que constrói suas frases com engenharia milimétrica, para não demonstrar sentimentos extremados que a fizesse resvalar na raiva, aparenta não desejar estabelecer uma verdade histórica, o que transformaria seu filme num mero instrumento político. Aparenta!…

Petra é muito inteligente em sua forma de abordagem. Seduz o espectador a ouvi-la e ver as imagens que captou ou selecionou. Nos mostra imagens de filmes caseiros de sua família, estabelecendo conosco uma intimidade, e faz com que sintamos que ela não é uma dessas ativistas idiotizadas. Isso ela não é, e é muito mais perigosa exatamente por isso.

A autora assume abertamente o pecado da subjetividade e o tenta transformar em maior ativo de seu filme. As opiniões e os erros históricos que usa na tentativa de construir um cenário favorável para contar sua história, a princípio não me incomodaram. Já esperava isso. Mas foi sua forma narrativa que fez com que eu lhe fosse condescendente, mesmo tendo identificado fatos fora de contexto, distorções, edições maldosas, como nos casos da votação do impeachment de Dilma, do discurso de posse de Temer e do comício de Lula antes de ser preso.

É esperta ao nos contar que é neta de um dos fundadores de uma das maiores construtoras brasileiras, a Andrade Gutierres. Ao reconhecer o envolvimento dessa empresa com crimes de corrupção, usa a “franqueza” como antídoto para a má vontade de alguns, que, discordando de sua visão ideológica e política, peremptoriamente, pudessem descartar sua abordagem.

Conta sobre a posição antagônica de seus avós e de seus pais. Os primeiros colocados confortavelmente na direita, enquanto os segundos, ativistas de esquerda, que acabaram presos por envolvimento com a guerrilha.

Seu filme nos apresenta um magnífico trabalho de pesquisa imagética. Os passeios que sua câmera faz pelos ambientes, às vezes vazios, às vezes abarrotados de gente, os silêncios, a música, as falas de seus entrevistados, escolhidas com argúcia, e principalmente sua voz quase infantil, nos conduzem por onde ela deseja e imagina que nos leva.

Ela usa sua inconformação com os acontecimentos, sua indignação, a melancolia de seu sonho desfeito, como arma para tentar conquistar corações e mentes de quem possa se posicionar contra as forças que ela diz ser antidemocráticas.

Enquanto assistia ao filme de Petra Costa me veio uma ideia! Colocá-lo em uma timeline de edição e fazer com ele o que na hora chamei de “Morfologia e Sintaxe de um Filme”, indicando em cada sequência pontos de concordância ou discordância com aquilo que tenho não como verdade, mas como fato comprovado, possível ou plausível, como faria um documentarista.

Petra consegue levar seu filme de forma mais ou menos poética e ideológica durante os primeiros 80 minutos de seu tempo. Nos últimos 40 minutos do filme, ela perde a mão, e ele se transforma em um produto parcial e panfletário, mera propaganda política e partidária.

As belas imagens do começo dão lugar a discursos de defesa de Lula e do esquema de poder do PT.

Democracia em Vertigem não se aprofunda nos fatos. Sua autora não nos mostra o papel da mídia e do jornalismo como vetor de todo esse processo; não mostra o aparelhamento sofrido pelo estado; apenas cita ou resvala em assuntos densos, como o Mensalão, o Petrolão e nem fala do assalto ao BNDES; não analisa o fato de que Lula poderia ter conduzido o Brasil para um outro rumo, mesmo que usasse o caminho da esquerda; não cita o fato de que Dilma não deixou que Lula fosse candidato em seu lugar em 2014…

Este filme decididamente não é um documentário. Se o fosse não seria tão relevante.

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Referências!…

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Referências, para mim, são como bebida e comida, água e pasto… Cabe aqui uma pergunta para confrontar o poeta: “A gente tem sede de quê!? A gente tem fome de quê!?…”

Toda vez que assisto à série Billions, tenho mais certeza de como é importante sermos bem informados sobre tudo o que aconteceu e acontece no mundo. O conhecimento, a informação, o acesso sobre diversos pontos de vistas dos fatos históricos é, em minha opinião, uma das coisas mais importantes, enquanto somos passageiros desta nave chamada erradamente de vida.

A quantidade de informações salpicadas no decorrer de cada episódio de Billionsconstantemente nos confronta com essa necessidade!…

Imaginem estar em uma conversa sobre a atual situação e a importância dos índios americanos no contexto daquela nação, e falarem que os descendentes das tribos nativas da América do Norte não representariam tanto problema hoje em dia, se os administradores dos assuntos indígenas, nos idos do século XIX, tivessem distribuído a eles mais alguns cobertores contaminados! Só quem conhece um pouco da história e das versões sobre ela, comprovadas ou não, é capaz de entender esse texto e seu contexto.

Outro detalhe importante ocorreu quando personagens de Billions comentaram sobre basquetebol, referindo-se à importância que teve Larry Bird naquele maravilhoso time verde de Boston da década de 1970, os Celtics. Só os verdadeiros conhecedores de basquete saberiam sobre o que falavam!…

Nem vou comentar aqui a infinidade de referências sobre negócios, mercados financeiros ou termos legais de advogados e procuradores, assuntos e objetos principais da série. São tantas referências sobre esses temas que, se os quisermos acompanhar, só pausando o filme e recorrendo ao Pai Google, pois sobre a maioria delas, nós pobres mortais, nunca nem ouvimos falar.

Num episódio da quarta temporada, uma das referências chamou a minha atenção imediatamente, pois eu conseguia entender completamente o sentido do que estava sendo dito, mas não tinha a menor ideia sobre quem o Taylor e a Wendy estavam falando… Um tal de Kahn!…

Parei o vídeo e fui direto para o Google, pois não tenho mais nem a Delta-Larrouse, nem a Britânica, ou a Barsa ou a Mirador para recorrer… E se as tivesse, passaria horas até descobrir quem era o tal sujeito.

Só havia entendido a palavra Khan, e que o filho dele havia feito um filme a seu respeito, mas sabia também que o assunto envolvia urbanismo e arquitetura. Fui logo digitando o nomee apareceu: “Louis Isadore Kahn foi um dos grandes nomes da arquitetura mundial. Louis Kahn nasceu na Estônia, mas sua família mudou-se para os Estados Unidos, quando Kahn tinha apenas 5 anos. Foi naturalizado americano em 15 de maio de 1914”.

Mas isso não acontece só desta forma! Você, em uma conversa despretensiosa, se depara com assuntos de que jamais ouviu falar e para não ficar com cara de bobo, assim que pode, saca o smartphone, acessa algum espaço virtual que o coloque up-to-date sobre o papo, e de repente você está de volta, ligado e sincronizado!…

Outro dia dei uma carona para meu eterno mestre, Sebastião Moreira Duarte, que dos homens com quem convivo, é o mais culto, e estávamos conversando sobre a série que estou produzindo e dirigindo a respeito do padre jesuíta Antônio Vieira. No meio da conversa e inspirado por ela, comecei a viajar numa possível abordagem do tema jesuitismo… Repentinamente, Marcelo, meu motorista, deu uma freada. Olhei para ele e vi que ele ficou distraído com nossa conversa e se descuidou do volante, bem na hora em que eu e Sebastião comentávamos sobre as personalidades fortes tanto de Vieira quanto de Savonarola…

Savonarola!… Quem seria capaz de dizer quem foi Savonarola, mas sem recorrer ao Google!?…

Como comecei esse texto confrontando um poeta, quero encerrá-lo confrontando outro: “Ideologia! Eu quero uma pra viver!” Ao que respondo: Neste momento só a ideia pode nos livrar das ideologias, desgastadas e carcomidas por seu mau uso, meu caro amigo poeta, amigo do beija-flor.

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Justo reconhecimento

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J

É público e notório que faço restrições ao atual governo do Maranhão, mas é igualmente do conhecimento de todos que procuro sempre ser correto e justo em minhas ações e atitudes.

O fato de acreditar que o atual governo trouxe poucas mudanças para o quadro político do Maranhão, trocando algumas vezes o modus operandi e outras vezes o cenário dos acontecimentos, mas permanecendo na maioria das vezes com resultados idênticos aos de governos anteriores, não faz com que eu desconheça que em alguns aspectos aconteceram boas mudanças e até algumas evoluções.

Da mesma forma que vejo retrocessos em diversos pontos e igualdade em outros tantos, não posso negar que houve avanços.

Exemplo dessa escala pode ser visto claramente na SECMA. Se por um lado ela está completamente aparelhada, só dando apoio a quem se alinha de alguma maneira ao governo (vejam o caso do MAVAM), por outro lado ela continua prestigiando enormemente o Carnaval e o São João, coisa que governos anteriores já faziam.

Eu não seria correto se não reconhecesse a boa mudança que tem acontecido no setor audiovisual. Primeiro por ter sido implantada no IEMA, uma escola de cinema, mesmo que de forma precária (tanto que os primeiros equipamentos daquela escola, foram doados exatamente pelo MAVAM), é uma ação que demonstra interesse por esse importante setor da cultura e da economia criativa.

Há outro fato que deve ser citado. Em 2015 foi realizado o 1º Arranjo Regional entre a ANCINE e a SECTUR. A Agência disponibilizou 2 reais para cada 1 real aportado pelo Maranhão, o que resultou em 3 milhões de reais em projetos audiovisuais.

Este ano a ANCINE mudou a proporção, e como o Maranhão vai aportar novamente 1 milhão de reais, ela contribuirá com 5 milhões para o novo projeto de Arranjo Regional.

Mas há ainda outro fato que deve ser mais louvado. O município de São José de Ribamar se candidatou a participar do Arranjo Regional 2019, aportando 500 mil reais nele. Por ser um município que não é capital de estado, tem o privilégio de receber da ANCINE 6 reais para cada um que conveniar, o que totalizaria 3,5 milhões de reais a mais circulando no setor audiovisual do Maranhão. Ocorre que a prefeitura de Ribamar, devido à crise que aflige nosso país, iria desistir de participar deste projeto por não conseguir o montante pelo qual se comprometeu.

Foi aí que surgiu uma pessoa extraordinária! Uma mulher incansável! Uma produtora audiovisual incrível, que chamou para si a responsabilidade de resolver esse problema e buscou sensibilizar pessoas que pudessem ajudar o setor audiovisual do Maranhão a não perder 3,5 milhões de reais.

Sheury Manu falou com diversas pessoas, e conseguiu para a causa do audiovisual maranhense a simpatia do deputado Duarte Junior, a quem eu também faço restrições comportamentais e políticas, mas reconheço que neste caso ele ajudou bastante.

Por sorte Manu encontrou-se em um evento com o governador e conseguiu expor-lhe a questão, que pelo que me contaram, entendeu imediatamente o caso, com uma incrível praticidade cartesiana, que resultou na solução do problema.

Com o convênio que será feito com a Prefeitura de São José de Ribamar, o Maranhão aportará nos projetos de Arranjos Regionais de 2019 a quantia de 1,5 milhão de reais e a ANCINE entrará com 8 milhões, o que colocará no setor audiovisual maranhense 9,5 milhões de reais em projetos a serem aprovados por editais.

Não há como negar os fatos. Quando se faz necessário, não há como deixar de aplaudir ou de agradecer.

PS: Meia dúzia de babacas vão já dizer, nas redes sociais, que estou me oferecendo para Flávio Dino… É que estas pessoas não são capazes de entender o que é correto.

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Ainda sobre o MAVAM

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Fiz grande esforço para não tocar neste assunto, mas não aguentei e sucumbi!

A Fundação Nagib Haickel fez circular um documento comunicando que a partir de 1º de julho, o MAVAM – Museu da Memória Audiovisual do Maranhão suspenderá suas atividades, por não mais estar conseguindo manter satisfatoriamente em funcionamento este serviço, prestado gratuitamente à comunidade maranhense.

Depois de publicado o comunicado começaram a chover telefonemas, postagens nas redes sociais, mensagens de diversas formas e provenientes de diversos remetentes, todas de surpresa, mas principalmente de apoio, solidariedade e esperança de que em breve o MAVAM volte a funcionar regularmente.

O secretário geral da Academia Maranhense de Letras, Sebastião Moreira Duarte, publicou na semana passada um maravilhoso artigo tratando deste assunto, porém ressalto que outras tantas mensagens foram também muito significativas para nós.

Recebi um e-mail da ex-primeira dama do Maranhão, dona Eline Murad, onde ela dizia estar penalizada com o acontecido e nos oferecia sua solidariedade. Fiquei muito sensibilizado por ser a remetente uma pessoa tão respeitada e querida por todos.

Vi também o comentário de Kassandra Benevides, na página do MAVAM no Facebook, que dizia o seguinte: “Amo este lugar com todas as minhas forças!”. Amei essa declaração de Kassandra!

O colecionador e membro do IHGM, Antonio Guimarães, publicou em sua página no Facebook um belo texto que bem retrata essa situação, vista pelo prisma de alguém que vive neste segmento cultural.

Não foi surpresa saber dos bons sentimentos de Adson Carvalho, um dos voluntários no MAVAM. Surpresa foi ler o belo e emocionante relato dele, um rapaz tímido e recatado, falando numa rede social sobre sua experiência no tratamento de nossos acervos fotográficos: “Faz pouco mais de três anos que eu venho colaborando como voluntário, com o MAVAM… Tenho executado ações de conservação, limpeza, reprodução, digitalização, guarda e catalogação de fotografias… Tenho me dedicado a cuidar de três coleções… Que já serviram de auxílio para conclusão ou complementação de monografias, dissertações, teses e até mesmo trabalhos pessoais de diversas pessoas que procuram nossa instituição, buscando apoio nas imagens de seus acervos… Enfim, esta instituição tem um papel primordial para preservação da história e da memória maranhense e nacional…”

Outro que se manifestou, desta vez em mensagem pessoal diretamente para mim, foi Ângelo Guimarães Rosa, que durante algum tempo, antes de se transferir para Curitiba, foi um dos que voluntariamente ajudaram o MAVAM:“Não é fácil ver algo tão bonito não florescer da forma que merece… A grandeza dos projetos que participei não era medida pelo montante da verba ou equipamentos empregados, mas sim pelo sonho em fazer parte de um momento único… O MAVAM significou esse sonho, estávamos construindo o retrato da história passada em nosso presente e isso era o que nos motivava ainda mais a participar deste projeto… A força motriz da nossa inspiração era sem dúvida a sua audácia e comprometimento… Por vezes eu vi você bancar um projeto e seguir até o fim com ele sem medir consequências, tudo em prol da realização do objetivo maior do ideal… Por fim, queria deixar claro o meu agradecimento por todas as realizações que fizemos juntos, e as oportunidades que o MAVAM me proporcionou…”.

O comentário no Facebook, de um experiente e calejado produtor audiovisual, Joan Carlos Santos, resume tudo: “Amigos, estou aqui pensando no MAVAM e comecei a contabilizar mentalmente a quantidade de material que existe lá. Acervos fotográficos de Edgar Rocha, Antonio Guimarães, Ribamar Alves, milhares de outras fotos das mais variadas procedências; O acervo do escultor Celso Antonio; Acervo de áudio de Talvane Lucato; Acervos de vídeos de Lindberg Leite, da VCR, da Phocus, de diversos cineastas; A produção de filmes próprios e com diversos parceiros, isso sem contar com o apoio que o MAVAM sempre deu a TODOS que o procuram! Imagino que por baixo, exista lá algo em torno de 100.000 fotografias em diversos formatos e mídias, umas 500 horas de acervos de áudio, umas 4.000 horas de vídeos não editados ou tratados e umas 200 horas de material finalizado”.

A mim só resta agradecer a todos que se solidarizaram conosco, nas pessoas de Sebastião, Dona Eline, Kassandra, Guimarães, Adson, Ângelo e Joan.

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Aquele que não devia morrer

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Esclarecimento necessário

Na reunião da Academia Maranhense de Letras, na última quinta-feira, dia 6 de junho, fui surpreendido por meu querido professor, amigo e confrade naquela Casa de Cultura, Sebastião Moreira Duarte, com a leitura do texto abaixo, sobre o MAVAM, Museu da Memória Audiovisual do Maranhão.

Antecipo ao prezado leitor que a generosidade que Sebastião demonstra para com a minha pessoa neste texto é demasiada, uma vez que as minhas atitudes quanto a este assunto são pura e simplesmente uma quetão existencial.

De qualquer maneira fico muito grato ao autor desta bela peça literária, e estendo este agradecimento a AML, por todo apoio e solidariedade que tem sido dado à Fundação Nagib Haickel, ao MAVAM e particularmente a mim.

Aquele que não devia morrer.

Sebastião Moreira Duarte

Escrevo estas linhas à beira-mágoa, como diria o poeta. Recusei-me, de início, a escrevê-las, sem saber se o que me afligia mais era a mágoa em si, ou a sua causa inesperada e inexorável.

Encontrei-me ausente de São Luís, por alguns dias. De volta, retomando uma pauta de trabalhos adiados e inadiáveis, amanheço batendo as aldrabas da porta grossa do Mavam, o Museu da Memória Audiovisual do Maranhão, aos pés da igreja do Desterro. Preciso de imagens para ilustrar algumas publicações próximas da Academia Maranhense de Letras.

Bato, e ninguém me ouve. Bato e insisto. Abre-me a porta, relutante, alguém que estava ali só para deixar a notícia: o Mavam bateu portas. Encerrou as suas atividades.

Desabo em desalento. (Nos tempos do velho Machado, eu diria: “enfiei!” – para dizer: “estremeci, fiquei pasmo!”)

E eu bem que podia evitar o longo percurso – quase 20 km! – até as portas fechadas do Mavam. Bastaria ter tido tempo para ler, nos jornais que se acumularam à minha espera, a nota pesarosa dada à imprensa pela pesarosa, mas ingênita elegância de Joaquim Haickel.

Desde a sua ideia inicial, o Mavam é grande e generoso como Joaquim Haickel, o seu criador, amparado, desde o prédio que o abrigava, até às instalações e equipamentos que o faziam funcionar, pela fundação que leva o nome de seu pai, o imenso Nagib. Como Joaquim Haickel, o Mavam era feito de teimosia. Seguia adiante movido por teimosia, a acendrada convicção que parecia ecoar, às margens do Bacanga, a expressão famosa que um dia Alfieri pronunciou ao pé dos Alpes, explicando-se a si próprio: “Eu quis. Eu quis sempre. Eu quis fortissimamente.” Desde menino, Joaquim Haickel queria o Mavam, desde estudante, desde os tempos dos filmes em super-8, desde o primeiro até o último Festival Guarnicê, Joaquim Haickel queria o Mavam. Joaquim queria fortissimamente o Mavam.

Muita gente pensava – e continuará pensado – que o Mavam era um órgão público. E não está/estava sem razão: trata-se de uma das mais públicas de nossas instituições privadas. (Em comparação, só a própria Academia, já pra mais de centenária, e que não tem outra razão de ser senão oferecer-se sempre, de portas abertas, ao público).

Não sei quantas vezes eu vi Joaquim Haickel se movimentando de um lado para outro – é quase impossível encontrá-lo parado! – atrás de velhos acervos familiares e profissionais, à cata de material para guardar e preservar no Museu de tantos usuários. Eu mesmo, já nem sabia mais que tinha tido sido comerciante em São Luís, quando um dia me vejo, em pulsante renovação de vida, junto com meu pai e meu irmão, cortando a fita inaugural de uma loja de eletrodomésticos que ia de uma rua a outra, no centro de São Luís. Que emoção, rever-me, ainda em sonhos de mocidade, resolvendo fazer-me rico em meio aos meus familiares! Quantas outras pessoas terão tido, poderiam ter, emoções iguais!

Foi por causa do Mavam que os maranhenses de ontem e de agora puderam ver as imagens da velha capital maranhense explodindo de dentro de seu centro histórico congestionado, abrindo-se pela ponte e pela barragem, por bairros e avenidas cuidadosamente calculados (e por imprevistos desvios da ideia original), segundo planos de um engenheiro teimoso chamado Haroldo Tavares. Tudo ficaria esquecido, irremediavelmente perdido, não fosse o cuidado de pesquisar, encontrar, adquirir e manter disponíveis documentos que tão facilmente se perdem e perecem.

Escolas de nossa rede pública e privada, instituições públicas e particulares podem dispor, ainda agora, de material insubstituível para aprender a História de sua terra, graças ao trabalho realizado pelo Mavam.

Mas o Mavam era, muito, Joaquim Haickel. Não vem ao caso indagar aqui por que dar-lhe fim, por lenta asfixia e final estrangulamento. Basta saber que a entidade era o indivíduo, a criatura era o criador. Este seria abatido, abatendo-se a sua criação.

Aprendi, desde os bancos escolares, que Y-Juca Pirama significa “aquele que deve morrer”. Queria saber como se diz, em língua de índio, “aquele que NÃO deve morrer”, para, assim, proclamar por sobre todos os telhados da Taba dos Timbiras: O Mavam NÃO deve morrer! O Mavam NÃO pode morrer!

E se, em definitivo, não for possível reabrir mais as portas do nosso Museu da Imagem maranhense, que se grave em seu epitáfio o que um amigo incomparável – e incomparável amigo do Maranhão, e seu historiador – mandou escrever sobre o seu túmulo: “Aqui dorme Carlos de Lima. Sob protestos”.

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