Destinatários inconfessáveis
Prólogo
Remexendo meus alfarrábios, na tentativa de selecionar alguns dos melhores textos para publicação de um livro comemorativo aos 45 anos de minha insistência em escrever, e 40 de persistência em lançar livros, descobri que não faz muito tempo, escrevi, sem me dar conta, dois artigos, de conteúdos distintos, porém com mais ou menos a mesma pegada, e o que é pior, com exatamente o mesmo título: “Carta para mim mesmo”.
Agora, passando por uma das curvas decisivas de minha vida, a dos 60 anos, resolvi escrever um texto especificamente para alguns destinatários inconfessáveis.
Ensaio
Fico imaginando qual foi o maior ensinamento que alguém pode ter conseguido ao assistir a série alemã, “Dark”, uma das mais badaladas obras da televisão mundial do momento.
Em meu modesto ponto de vista, “Dark” nos oferece uma lição bem simples, em contraponto com sua intrincada montagem e a seu bem elaborado enredo. Trata-se da devida atenção que precisamos ter ao decidirmos os rumos que escolhemos tomar, pois isso definirá o caminho que trilharemos e estabelecerá o nosso destino. O menor desvio no roteiro, quanto ao tempo e ao espaço, mudará radicalmente toda a história.
São nossas escolhas que estabelecem nossa jornada, nossa trajetória e o lugar onde chegaremos, além das variáveis de como, quando e em que circunstâncias isso vai acontecer.
No final das contas, tudo é resultado das escolhas que fazemos e esse acaba por ser um tema recorrente em nossas vidas. Bem como “Dark”.
Outro detalhe importante é o fato de usarmos pesos e medidas diferentes em quase tudo que fazemos, principalmente quando julgamos nossas próprias ações e as comparamos com as ações das outras pessoas.
Essa forma assimétrica de agir é consequência do fato de sermos humanos e falíveis, o que de forma alguma pode servir de desculpa para nossos erros recorrentes.
Mesmo que inconscientemente exigimos limites para quase tudo, mas não costumamos cobrar de nós mesmos os limites que a vida precisa ter, para que esse “tudo” transcorra da melhor forma.
Esse assunto de limite é muito delicado, e penso que não devemos seguir os limites de ninguém, mas é indispensável que cada um de nós estabeleça os nossos e que eles sejam respeitados e cumpridos. Não ter limite, não pode ser considerado um limite!
Uma vez uma pessoa me perguntou o que eu escolheria: a realização pessoal com a conquista da felicidade ou a realização profissional com a obtenção do reconhecimento público. Na ocasião achei um papo meio piegas, e dei uma resposta filosófica. Passados alguns anos, vi que aquela pergunta fazia todo sentido. Hoje, sem dúvida alguma, escolheria o sucesso na vida pessoal, pois com ele garantido, eu teria mais paz e tranquilidade para pelo menos tentar conquistar o sucesso em qualquer âmbito da vida pública.
Não critico quem optasse por ter sucesso na vida empresarial em detrimento da vida pessoal. Cada um sabe de si. A única ressalva que faço é que essa escolha dificultaria de muitas formas a realização de uma felicidade mais completa e efetiva. Podemos viver sem o sucesso público, mas a vida sem a felicidade pessoal deve ser insuportável!
Epílogo
Li uma vez um texto onde uma pessoa muito sábia dizia que se alguém acredita, sinceramente, que não cometeu um determinado erro, é porque essa pessoa realmente não o deve ter cometido ou porque simplesmente ela não tem consciência do erro que cometeu. Mas há um consolo nisso tudo!… A tal pessoa do erro, o sábio que fez aquela observação, eu, que nada tenho com isso, e você que me lê agora, seres humanos, complexos e imperfeitos, temos a incrível capacidade de pensar, aprender e mudar.
PS: Finalmente entendi o significado daquela frase de Abraão, “Deus proverá”. Para Abraão, parecia não haver mais nenhuma esperança, a não ser acreditar que algo iria acontecer e resolver o seu problema.