Eu, Othon e Vieira

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Vejam um pedacinho da gravação que fizemos com o grande ator Othon Bastos, lendo trechos de sermões do Padre António Vieira, para a nossa série que em breve será lançada e exibida pela Prime Box.

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Meu texto de hoje, no aniversário de minha amada São Luís.

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Meu mundo no Face

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As redes sociais vieram para ficar e para mudar as nossas vidas e o mundo. Sabendo disso resolvi que esta semana, de segunda a sexta-feira, eu iria postar em minha página no Facebook, matérias com as quais eu pudesse conferir, medir e sentir a reação das pessoas quanto a elas, e com isso tentar mensurar a importância de minhas postagens no panorama da vida da cidade e das pessoas.

Na segunda-feira comentei sobre algo muito pessoal. Falei sobre o que havia acontecido comigo naquela manhã. O fato de ter sido reconhecido na rua, por três pessoas diferentes em lugares e circunstâncias bem distintas.

Aquilo para mim foi ao mesmo tempo chocante e gratificante, pois não imaginava que depois de 14 anos distante da política, as pessoas ainda se lembrariam do “deputado Joaquim Nagib Haickel.”

Mais interessante ainda foram os comentários de muitos amigos que imaginaram e até sugeriram que eu deveria voltar a concorrer a um cargo eletivo, fato que está fora de qualquer cogitação, mas fiquei orgulhoso e comovido com tamanho carinho e respeito, além da repercussão ter sido enorme.

Na terça-feira, postei uma foto minha com o grande Haroldo Tavares, o melhor prefeito que nossa cidade já teve, e a reação das pessoas foi maravilhosa.

Comentei que Haroldo foi um excelente gestor público e que rezo para que o próximo prefeito seja minimamente parecido com ele, que tinha os pés fincados naquele que era o seu presente, lá na Areinha, no Centro Histórico, no sistema viário, mas a cabeça voltada para o futuro, no Maracanã, na Cidade Operária, no Itaqui, e na Ponta D’Areia…

Realizamos em 2015 um filme sobre Haroldo Tavares cujo subtítulo é “Aquele que ousou sonhar”. Haroldo era realmente um sonhador, mas em seus sonhos acabou por realizar coisas importantes para nossa cidade e para nós. Coisas que 50 anos depois continuam a surtir grandes e bons efeitos.

Quarta-feira publiquei um trechinho de um filme de Lindberg Leite, onde aparecia meu querido amigo Maia Ramos, conhecido de muito pouca gente. Maia Ramos era um artista plástico naife, naturalista e autodidata. Pintava paisagens e esculpia em galhos de madeira de mangue.

Numa daquelas noites de terça ou quinta, depois dos nossos jogos de tênis no saudoso Clube Recreativo Jaguarema, Maia me convidou para ir a sua casa, pois queria me dar um presente.

Cheguei lá e ele me apresentou um belo quadro com faunos e fogo. Agradeci a ele, mas observei que havia entre suas telas uma paisagem que me era muito familiar, um lugar que eu ia quando criança. Era a velha cidade de São José de Ribamar. Quis comprar o quadro, mas ele não me vendeu e acabei saindo de lá com dois presentes, quadros que tenho expostos nas paredes de minha casa.

Maia Ramos será um dos artistas que pretendemos retratar em uma nova temporada sobre os artistas plásticos do Maranhão. A reação com aquela postagem teve infelizmente pouquíssima repercussão.

Na quinta-feira falei sobre o comissário de bordo da Gol e a polêmica da hidroxicloroquina.

Foi uma espécie de piada sobre um assunto batido, que chega às raias da chatice, e envolve intolerância de quem é contra, a favor e até aqueles que são muito pelo contrário. A reação das pessoas foi mediana.

Sexta-feira comentei sobre a eleição para prefeito de São Luís. Fui sucinto, mas direto. Fui objetivo, mas didático. Fui enfático, mas prudente. A repercussão foi menor que eu esperava, mas maior do que eu merecia. Este é um assunto ao qual voltarei mais adiante.

PS: Sugiro que vocês leiam o texto que escrevi especialmente para o caderno em homenagem aos 408 anos de São Luís, que este jornal fará circular no próximo dia 8 de setembro.

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Ganhei o dia!…

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Hoje me aconteceu uma coisa bem prazerosa!

A última vez que concorri a um cargo eletivo foi em 2006, portanto há 14 anos e por isso pensei que as pessoas já houvessem se esquecido de mim.

Ocorre que saí bem cedo para ir ao médico e ao entrar no prédio, um senhor passou por mim, acenou com a cabeça e disse: “Bom dia deputado Haickel”. Fiquei em desvantagem, pois só pude responder “Bom dia”, já que não sabia o nome dele.

Ao sair da consulta, fui a uma farmácia que jamais havia ido antes e ao estacionar, o moço de uns 50 anos, me perguntou: “O senhor é o deputado Nagib Haickel, amigo dos Folhas, de São Domingos, não é!?…” Fiquei pasmo, mas disse-lhe que sim, e que gosto muito daquela boa gente.

Pra completar, tendo eu passado depois num supermercado, uma senhora, dirigindo-se a mim disse: “Leio seus textos todo sábado no jornal, mas o que eu mais gosto é quando o senhor fala de política…” Expliquei-lhe que nem sempre posso tratar desse assunto, por ter me afastado um pouco dele.

Fico feliz que meus 32 anos de atividade política tenha valido algum respeito e a boa lembrança por parte das pessoas.

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Sentimentos e ações

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Às vezes eu faço uma certa confusão entre coisas que não sei ao certo se são sentimentos ou ações. Por exemplo, altruísmo, é uma coisa que se sente ou que se faz? O oposto de altruísmo, o egoísmo, é claramente uma ação, mas é também um sentimento.

Foi com esse pensamento que acordei numa dessas manhãs e me dediquei a cavucar essa ideia para ver onde iria chegar.

Todas as pessoas, indistintamente, inclusive você e eu, agimos em primeiro lugar por motivos pessoais, egocêntricos ou por conveniências. Não digo isso como forma de crítica ou de reclamação. Digo por simples constatação, pois essas ações fazem parte da forma e da essência da nossa natureza humana.

O altruísmo é uma ação composta de um pequeno percentual de instinto de empatia e uma grande porção de um sentimento de devoção positiva que alguns de nós desenvolvemos para com as pessoas mais próximas e mesmo em relação àquelas que se encontram distante no espaço e até mesmo no tempo.

Os políticos, por sua natureza, imediatista e pragmática, não são altruístas. Eles são naturalmente egoístas. Precisam ser, devido a sua função e suas atividades. O altruísmo que algumas vezes demonstram são na verdade hipocrisia e perfídia, resultados dessa mesma função que exercem, que apesar de nobre, resvala muitas vezes em lodo e fezes.

Para algumas pessoas o pensamento positivista, derivado de noções do iluminismo, tenta inserir no humanismo os modelos das ciências como a matemática, a química, a física, a biologia, mas para outros, é simplesmente a tentativa de romantizar as ciências, tornando-as mais acessíveis, compreensíveis e aceitáveis.

O pai do positivismo é o filosofo francês Augusto Comte, que também é o criador da sociologia, o que nos faz entender logo a relação de um com o outro. O positivismo é uma doutrina altruísta, científica e industrial, que tem por objetivo incrementar o progresso do bem-estar moral, intelectual e material das pessoas, indistintamente.

No final da vida, Comte propôs o positivismo como uma nova religião, que pregava “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”.

Por causa de sua definição, o positivismo não prosperou em termos políticos e eleitorais, tendo sido aprimorado em sua faceta filosófica, se transformando efetivamente em religião, coisa que normalmente eu abomino, se bem que a religião positivista é, junto com o budismo, as que eu menos antipatizo.

Preciso fazer aqui uma pequena digressão. Você conseguiu identificar em minhas palavras nos parágrafos anteriores, alguma conexão entre os preceitos da religião positivista e a bandeira brasileira? Observe!

Fico imaginando se um dos maiores brasileiros, em meu modesto entendimento, Cândido Mariano Rondon, fosse presidente da República, se ele conseguiria colocar em prática, quando estivesse no poder, o positivismo que professava em sua mente e em sua vida.

Consigo até ver seus opositores chamando-o de militar violento e obtuso, de genocida, que “debaixo de vara” submeteu os indígenas, aniquilando suas culturas e tomando suas terras.

Política e humanismo são coisas muito difíceis de combinar. Positivismo é filosofia e religião, e não combina com ideologia política. Egoísmo é nossa essência e altruísmo é nossa meta.

É assim que penso. É assim que sinto e é assim que tento agir.

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Sobre Salvio… De Jesus

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Meu pai ainda era vivo quando herdei dele alguns de seus bons amigos.

Imagino que muitos saibam que ele era bastante espirituoso, mas certamente poucos sabem que ele gostava de colocar apelidos carinhosos nas pessoas.

Em três de seus amigos deputados ele colocou apelidos que tinham relação com seus próprios nomes: José de Ribamar Elouf, Celso da Conceição Coutinho e Sálvio de Jesus Dino, a quem ele chamava apenas por, De Ribamar, Da Conceição e De Jesus, fazendo alusão as figuras religiosas.

Meu pai morreu em 1993 e a minha herança de lá para cá veio se esvaindo. Primeiro perdi De Ribamar, no ano passado, fiquei sem Da Conceição e hoje perdi De Jesus.
Todos três foram meus colegas na Assembleia Legislativa do Maranhão e com De Jesus também dividi o amor pela literatura, nas Academias Imperatrizense e Maranhense de Letras.

Hoje minha herança paterna e fraterna ficou ainda menor e nós ficamos mais pobres.

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Uma tentativa inútil

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O revisionismo histórico é uma das ações equivocadas mais comuns e graves que podem existir nos dias de hoje, em que pese ela sempre ter sido tentada.

Com frequência essa tentativa, feita por pessoas quase sempre esclarecidas, é amplamente defendida por pessoas não tão esclarecidas, sendo que todas elas parecem ser incapazes de entender os mecanismos, não apenas da história, mas principalmente da física elementar.

Os revisionistas não conseguem entender que um fato histórico não pode ser mudado!

Mas antes de qualquer coisa precisamos concordar com o que seja um fato histórico. Sou daqueles que acredita que ele é simplesmente um acontecimento que tendo efetivamente ocorrido, gera consequências, estabelece mudanças e fixa parâmetros.

Para ser fato histórico um acontecimento não precisa ser um daqueles fatos marcantes que estudamos na escola. Fato histórico pode ser algo simples como o casamento de pessoas comuns como o pedreiro João e a garçonete Maria ou algo de relevância como o casamento de Nicolau e Alexandra, czar e czarina da Rússia.

Fatos históricos, relevantes ou não, são imutáveis. O casamento de João e Maria pode ser anulado, mas ele sempre terá acontecido, uma vez que ele ocorreu em um tempo e em um espaço específico, e gerou consequências. Com o casamento de Nicolau e Alexandra aconteceu o mesmo, tanto que ele virá a ser um dos fatos geradores da revolução russa e por isso não pode ser revisionado. Esses dois fatos, esses dois casamentos, não podem simplesmente ser eliminados do contexto da história em que eles estão encrustados.

Fato histórico pode também ser aleatório, acidental ou natural. Um esbarrão aleatório, no meio da rua fez com que João e Maria se conhecessem e acabassem por se casar. Anos mais tarde, João caiu acidentalmente de um andaime e morreu. Maria criou sozinha seu filho. Num dia chuvoso, Maria foi atingida por evento natural, um raio, e morreu. Tudo isso aconteceu e como consequência, seu filho órfão de pai e mãe passou a ser criado pelo tio, ex-jogador de futebol que incentivou o sobrinho a ser jogador. O garoto tornou-se um craque e chegou à seleção.

Por outro lado, Nicolau que amava enormemente sua esposa Alexandra, e realizava todos os seus desejos, aceitou que ela trouxesse o monge Rasputin para tratar de seu filho doente, fato aparentemente sem importância, mas que acabou por gerar consequências que mudaram a história mundial.

Uma das mais antigas e sólidas instituições do mundo, a igreja católica, tem feito diversos reconhecimentos dos erros que cometeu em seus dois mil anos de história, como por exemplo no caso das Cruzadas, da Inquisição e mais recentemente no caso dos escândalos de pedofilia de muitos de seus padres.

Essa é uma das poucas coisas eficientes que podem ser feitas, mesmo que sem muita eficácia ou eficiência, quanto às consequências dos acontecimentos já ocorridos. Neste caso, a tríade da correção fica sem uma de suas pernas, a efetividade, que cede lugar ao bom senso, com o paliativo do sincero pedido de desculpas que deve ser sempre feito.

Seria maravilhoso que fosse possível corrigir erros históricos, como a escravização dos negros africanos, fato que gerou tantas e tão graves consequências, mas infelizmente isso não é possível. Os pedidos de desculpa o são. Além disso, a luta contra o preconceito racial deve ser parte desse resgate.

Mais importante que o revisionismo histórico é o entendimento histórico, a tentativa de entendermos os acontecimentos que o geraram e suas consequências, além de amplo esclarecimento, acessível a todas as pessoas.

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Planos para a eternidade

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Toda essa loucura que tem sido a pandemia de Covid-19 e os falecimentos de alguns de meus queridos amigos, me fez pensar sobre como eu desejo ser velado e como eu gostaria que minha matéria transplantasse o portal do tempo.

Lembrei que meu pai, em algum momento, havia dito que gostaria de ser cremado, porém na comoção de sua morte nem nos lembramos disso. Sinto que falhei com ele nesse aspecto.

Lembrei também da dedicatória que li ainda garoto, na primeira página daquele que considero ser o melhor livro escrito por um brasileiro, Memórias Póstumas de Brás Cubas, onde o mestre criador, Machado de Assis, fala por sua criatura: Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas.

Todas essas lembranças me fizeram desejar não ser enterrado e que nenhum verme roesse as minhas frias carnes.

Minha vaidade nunca se consubstanciou no fato de usar roupas e sapatos de marcas finas, ostentar relógios caros ou ter carros possantes e importados. Minha vaidade está ligada ao reconhecimento, ao respeito, a confiança e ao bom crédito que sempre quis ter junto aos meus amigos e as demais pessoas.

Dito isso, afirmo que desejo ser velado em algum lugar que para mim tenha sido importante: O prédio do Museu da Memória Audiovisual do Maranhão, que representa aquela que acredito ser a minha mais importante contribuição para o meu estado e sua gente; o prédio da Academia Maranhense de Letras, instituição de que muito me orgulho em ser membro; ou o plenário da Assembleia Legislativa do Maranhão, onde busquei defender os melhores interesses de meus eleitores e do povo de minha terra, e onde vi serem aprovadas por unanimidade as duas leis mais importantes de minha autoria: A lei de incentivo à cultura e a lei de incentivo ao esporte.

No entanto, é indispensável que por lá passem meus colegas de infância, lá do Outeiro da Cruz, meus amigos do Colégio Batista e do Dom Bosco, além dos companheiros do curso de Direito da UFMA. Iria querer ver, lá de onde eu estivesse, Paulinho, Celso, Kenard, Érico, Cordeiro, e todos os parceiros do tempo do Guarnicê.

Não poderiam faltar meus parceiros de festiva adolescência do Jaguarema, do Lítero e das praias de minha amada São Luís. Não poderiam faltar as poucas namoradas que tive e as muitas mulheres que amei, seja no sentido literário, seja no sentido bíblico (minha amada Jacira, tenho certeza, não sentirá nenhum tipo de ciúme, pois sabe que meu coração, naquele momento já inerte, pulsou apenas por ela, desde que a conheci).

Não poderiam faltar meus amigos do esporte, do basquete, do tênis, e de todas as outras modalidades que tentei praticar, sem tanto sucesso. Nem meus confrades da AML, do IHGM e meus colegas deputados. Correligionários e adversários, sem distinção, gostaria que passassem por lá. Gostaria que lá estivessem os poucos e bons sócios que tive e os muitos e queridos amigos que cultivei.

Só não gostaria que estivesse em meu velório a minha mãe, pois uma dor como essa seria demais para ela.

Não gostaria de ver ninguém triste ou chorando.

Desde já, saibam que quando eu não mais estiver por aqui, a lembrança de mim deve ser apenas pelo fato de ter vivido intensamente, de ter feito sempre o que desejei fazer, de ter tentado ser sempre uma pessoa honrada e nobre, como um galante personagem de Alexandre Dumas, a quem invejava como contador de histórias e queria como pai ficcional.

Não quero tristeza nem pranto em meu velório, só as lembranças das coisas que tentei ser e fazer, e que se não consegui, foi por incapacidade própria, mas que todos saibam que eu tentei sempre fazer o meu melhor.

Faltava resolver o que fazer com as minhas frias carnes! Decidi então que desejo ser cremado e que minhas cinzas sejam jogadas aos pés de uma árvore frutífera, plantada em uma praça que pretendo doar à minha cidade, para que pessoas, como eu, que não desejem ser enterradas, possam contemplar a eternidade e adubar o futuro.

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Morto, só quem é esquecido

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Em meio a toda essa loucura causada pela pandemia de Covid-19, nós da Academia Maranhense de Letras perdemos três amigos queridos. Cabral Marques, Valdemiro Viana e Milson Coutinho.

Cabral, aos 90 anos e já há algum tempo debilitado, faleceu no dia 27 de maio, momento em que a pandemia estava em seu ápice e nem pudemos nos despedir como ele tanto merecia. Valdemiro faleceu na noite do último dia 3 de agosto, em consequência da leucemia que o fustigava há mais de um ano. Milson, que era portador de um aneurisma de aorta, teve complicações cardíacas e faleceu na manhã do dia 4.

Quando as pessoas morrem, seus pecados desaparecem e somente suas qualidades são lembradas e citadas. Isso pode até ser verdade em muitos casos, nestes não, pelo simples fato de que estes homens, se cometeram algum pecado, todos foram simplesmente provenientes do fato de serem humanos.

Tenho imensa dificuldade em fazer elogios gratuitos e tecer loas a quem não as mereçam, por isso acreditem piamente no que vou relatar sobre estes homens, que se por um lado nada tinham de santos, e isso jamais quiseram ser, eram pessoas tão queridas e amáveis, que simplesmente falar deles, de como eles viveram e como encararam a vida, já é uma homenagem, não a eles, mas a nós, que tivemos o privilégio de sua convivência.

Cabral ocupou importantes cargos, sempre ligados à educação e ao ensino. Foi secretário de Educação do Maranhão e do Amazonas, além de reitor de diversas universidades, entre elas a Universidade Federal do Maranhão. De personalidade firme, era rígido em suas posições, mas no trato pessoal era uma pessoa afável e um homem merecedor do respeito e da admiração de quem o podia conhecer na intimidade.

Valdemiro era um dos nossos melhores romancistas. Dono de uma impressionante capacidade de narrar e transformar fatos que as pessoas comuns têm por corriqueiros, em verdadeiras pérolas de marcante prosa.

Em seu velório, conversando com sua amada Iara, descobri que ele deixou um livro inédito de poemas, que certamente iremos publicar. Cronista refinado, colocava as palavras em um texto como um mestre pedreiro coloca um tijolo em uma construção.

Autor de obras memoráveis, Valdemiro fará falta no nosso mundo literário por sua irreverência e inventividade. Dono de um grande senso de humor e uma imensa alegria, fará falta em nosso convívio, pelos mesmos motivos. Além disso, sentiremos falta também dos deliciosos sábados de mocotó e seresta em sua casa.

Do inventário de meu pai, suas amizades sempre foram para mim as heranças preferidas, e entre elas estava Milson Coutinho, um dos homens mais corretos que tive o prazer e a honra de conhecer. Uma pessoa sobre a qual o poder e a gloria não subiram à cabeça.

Além de jornalista, Milson fez um importante trabalho de pesquisa e registro da história de nossos poderes Legislativo e Judiciário. Foi presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão e da Academia Maranhense de Letras.

Essas três figuras, tão diferentes umas das outras, cada uma ao seu modo, cada uma ao seu tempo e em seu espaço de atuação, tinham traços comuns que delineavam bem suas personalidades. Os três, cada um com suas histórias, cada um com suas circunstâncias e enfrentando as consequências delas, eram homens respeitados, confiáveis, alegres e generosos.

Não se tem mais feito gente assim com frequência!… Infelizmente!…

A imortalidade deles não se deve simplesmente ao fato de terem sido membros da Academia Maranhense de Letras. Eles serão imortais tanto quanto eu e você que me lê agora, desde que jamais sejamos esquecidos. 

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Destinatários inconfessáveis

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Prólogo

Remexendo meus alfarrábios, na tentativa de selecionar alguns dos melhores textos para publicação de um livro comemorativo aos 45 anos de minha insistência em escrever, e 40 de persistência em lançar livros, descobri que não faz muito tempo, escrevi, sem me dar conta, dois artigos, de conteúdos distintos, porém com mais ou menos a mesma pegada, e o que é pior, com exatamente o mesmo título: “Carta para mim mesmo”.

Agora, passando por uma das curvas decisivas de minha vida, a dos 60 anos, resolvi escrever um texto especificamente para alguns destinatários inconfessáveis.

Ensaio

Fico imaginando qual foi o maior ensinamento que alguém pode ter conseguido ao assistir a série alemã, “Dark”, uma das mais badaladas obras da televisão mundial do momento.

Em meu modesto ponto de vista, “Dark” nos oferece uma lição bem simples, em contraponto com sua intrincada montagem e a seu bem elaborado enredo. Trata-se da devida atenção que precisamos ter ao decidirmos os rumos que escolhemos tomar, pois isso definirá o caminho que trilharemos e estabelecerá o nosso destino. O menor desvio no roteiro, quanto ao tempo e ao espaço, mudará radicalmente toda a história.

São nossas escolhas que estabelecem nossa jornada, nossa trajetória e o lugar onde chegaremos, além das variáveis de como, quando e em que circunstâncias isso vai acontecer.

No final das contas, tudo é resultado das escolhas que fazemos e esse acaba por ser um tema recorrente em nossas vidas. Bem como “Dark”.

Outro detalhe importante é o fato de usarmos pesos e medidas diferentes em quase tudo que fazemos, principalmente quando julgamos nossas próprias ações e as comparamos com as ações das outras pessoas.

Essa forma assimétrica de agir é consequência do fato de sermos humanos e falíveis, o que de forma alguma pode servir de desculpa para nossos erros recorrentes.

Mesmo que inconscientemente exigimos limites para quase tudo, mas não costumamos cobrar de nós mesmos os limites que a vida precisa ter, para que esse “tudo” transcorra da melhor forma.

Esse assunto de limite é muito delicado, e penso que não devemos seguir os limites de ninguém, mas é indispensável que cada um de nós estabeleça os nossos e que eles sejam respeitados e cumpridos. Não ter limite, não pode ser considerado um limite!

Uma vez uma pessoa me perguntou o que eu escolheria: a realização pessoal com a conquista da felicidade ou a realização profissional com a obtenção do reconhecimento público. Na ocasião achei um papo meio piegas, e dei uma resposta filosófica. Passados alguns anos, vi que aquela pergunta fazia todo sentido. Hoje, sem dúvida alguma, escolheria o sucesso na vida pessoal, pois com ele garantido, eu teria mais paz e tranquilidade para pelo menos tentar conquistar o sucesso em qualquer âmbito da vida pública.

Não critico quem optasse por ter sucesso na vida empresarial em detrimento da vida pessoal. Cada um sabe de si. A única ressalva que faço é que essa escolha dificultaria de muitas formas a realização de uma felicidade mais completa e efetiva. Podemos viver sem o sucesso público, mas a vida sem a felicidade pessoal deve ser insuportável!

Epílogo

Li uma vez um texto onde uma pessoa muito sábia dizia que se alguém acredita, sinceramente, que não cometeu um determinado erro, é porque essa pessoa realmente não o deve ter cometido ou porque simplesmente ela não tem consciência do erro que cometeu. Mas há um consolo nisso tudo!… A tal pessoa do erro, o sábio que fez aquela observação, eu, que nada tenho com isso, e você que me lê agora, seres humanos, complexos e imperfeitos, temos a incrível capacidade de pensar, aprender e mudar.

PS: Finalmente entendi o significado daquela frase de Abraão, “Deus proverá”. Para Abraão, parecia não haver mais nenhuma esperança, a não ser acreditar que algo iria acontecer e resolver o seu problema.

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