Sensação de dever cumprido

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Mais abaixo vou reproduzir para você, que me lê agora, uma mensagem que recebi recentemente, via WhatsApp, de um grande e querido amigo meu, Vadequinho.

Para quem não sabe, nós a chamamos de Vadequinho por ele ser filho de “seu” Vadeco, que foi diretor do Grêmio Lítero Recreativo Português e do Maranhão Atlético Clube e que fez história em nossa cidade, no tempo em que ela ainda tinha menos de meio milhão de habitantes.

Conheci Vadequinho quando, oriundo da secretaria de Assuntos Políticos no governo Lobão, fui nomeado para secretaria de Educação, no governo Fiquene, em 1994. Vadequinho era chefe da assessoria jurídica da SEDUC, e logo ficamos amigos, principalmente por ter reconhecido nele uma pessoa séria, um funcionário público correto, um amigo leal e um grande conhecedor do caráter e da alma humana. É verdade que ele é um pouco zangado, mas apenas com quem merece, coisa que para mim era primordial, devido a meu temperamento parcimonioso e contemporizador. Minha parceria com ele se tornou perfeita, pois fazíamos bem os papeis daqueles estereotípicos policiais americanos, o bonzinho e o malvadão. Eu era o bonzinho, até porque era eu quem tinha ambições políticas e eleitorais.

Waldimir Costa de Jesus Filho é o nome de batismo de Vadequinho, que durante vinte anos, entre 1994 e 2014, ficou conhecido também como “Senhor Vadeco, o cão de guarda do deputado Joaquim Haickel”.

Todo político, todo agente público deveria ter um Vadequinho, tanto como colaborador quanto como amigo.

Como colaborador Vadequinho era ao mesmo tempo a segunda e a última linha de operação de meu gabinete. A pessoa era recebida na recepção e encaminhada a ele, que filtrava os assuntos e os trazia para mim, qualquer que fosse a natureza dele e eu decidia o que fazer. Caso fossem necessárias mais ações em referência ao assunto, eu pedia que Vadequinho acompanhasse o desenrolar e me mantivesse informado.

Eu e Vadequinho desenvolvemos um sistema que depois de algum tempo passou a funcionar como uma orquestra sinfônica, cujo maestro era eu e ele era o pianista ou o primeiro violino, ou o solista, qualquer que fosse o instrumento. Ele só não poderia ser designado para alguma tarefa política propriamente dita, pois ele não suportava as tolices e asneiras das pessoas nesse setor.

O certo é que Vadequinho muitas vezes era tido como “Deputado”. Tudo bem que ele não pudesse entrar no plenário, fazer discursos, propor leis ou votá-las, mas quase todo o resto ele fazia.

Depois que deixei de ser deputado, fui praticamente obrigado a aceitar o cargo de Secretário de Esportes e Lazer, e na SEDEL meu adjunto era Alim Neto, responsável por toda parte esportiva da secretaria, Monica Gobel era responsável por toda a parte administrativa e financeira e Vadequinho era responsável pelo funcionamento do gabinete do secretário, trazendo tudo para mim só no ponto de eu finalmente decidir e assinar ou não (Durante os 20 anos que trabalhamos juntos, eu só assinei um papel, qualquer que fosse ele, depois de passar pelo crivo de Vadequinho). Essa equipe funcionou durante quatro anos, com quase nenhum recurso financeiro e sem nenhuma força política, mas funcionou muito bem.

Quando em 2020, Eduardo Braide me convidou para ser Secretário de Comunicação da Prefeitura de São Luís, os primeiros dois nomes que pensei para me ajudar nessa tarefa foram os de Vadequinho e Mônica. Ambos recusaram.

Mas voltemos a mensagem que Vadequinho me enviou:

“Depois de um longo e tenebroso inverno, eu e Rosa fomos a um arraial de São João, e o escolhido foi o do Ipem. Achei tudo lindo. Ficamos maravilhados. Tudo perfeito e uma multidão radiante com o evento. Mas uma coisa me chamou atenção logo na entrada. Vi que mais uma vez, e isso já acontece desde 2012, portanto há 10 anos, o São João, assim como o Carnaval e todos os eventos culturais e esportivos, como construção de campos de futebol e quadras polivalentes, festivais de música e shows por todo o Maranhão, só acontecem por causa das leis que você idealizou, construiu, propôs e aprovou na Assembleia legislativa: As Leis de Incentivo à Cultura e ao Esporte, que por minhas contas, juntas já injetaram nestes setores, aproximadamente 1 bilhão de reais em 10 anos. Você deveria se sentir orgulhoso, pois eu me sinto por ter participado dos trabalhos que desenvolveram e criaram tais leis, que em minha opinião são os sustentáculos da cultura e do esporte do Maranhão. Sem elas não teríamos atividades nestes setores. A cultura e o esporte de nosso estado devem muito a você e não vejo ninguém reconhecer isso. Mas a vida é assim mesmo. Te conheço, sei que sentes orgulho do trabalho que realizamos e sei que só isso já te satisfaz. Grande abraço, do teu amigo e irmão, Vadeco”.

Enquanto lia a mensagem de Vadequinho, fui me emocionando, minha garganta travou, comecei a chorar miudinho e depois tive um acesso de riso, que voltou a se misturar a um choro emocionado, até que fui me acalmando.

Dias depois eu fui ao Arraial do Ipem, pois minha esposa Jacira queria ver o Boi Pirilampo e tomar mingau de milho. Logo na entrada vi as logomarcas da Equatorial, do Mateus e da Cola Jesus, junto da marca do Governo do Estado e imediatamente me lembrei de Vadequinho, e do orgulho dele e do meu, por aquilo tudo estar acontecendo, pelo menos em parte, por um trabalho que realizamos, já faz 10 anos.

A sensação do dever cumprido, é uma das melhores sensações que uma pessoa pode sentir.

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Nem morfologia, nem sintaxe. Lógica!

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Resolvi analisar uma postagem de Lula, feita no Twitter, na tentativa de entender o que ele pensa de nós. Quem e como ele imagina que sejamos.

Dividi o texto postado por ele em três frases, para que a compreensão se torne mais fácil, sem dar margens para muitas dúvidas.

Vejamos:

“Eu quero ser presidente de um movimento pelo restabelecimento da democracia”.

Em primeiro lugar a democracia brasileira nunca esteve tão forte, pois ela tem aguentado ataques vindos de todos os lados e não dá demonstração alguma de enfraquecimento!

Ela tem sido atacada por quem deveria proteger a lei que a instituiu; é atacada pelo destempero de quem deveria administrar as ações que acontecessem por causa dela; é atacada pelo desleixo daqueles que deveriam trabalhar para aprimorá-la; é atacada pelos que deveriam noticiar a verdade sobre os acontecimentos gerados por sua existência; e por fim, inacreditavelmente, é atacada por aqueles que deveriam ser seus beneficiários.

Nesta frase, o autor tenta incutir na cabeça do leitor desavisado, a necessidade de termos um salvador, um messias, alguém que venha nos salvar de alguma coisa que ele diz que existe, mas que todos sabem que não é real.

Em segundo lugar, se alguém atenta contra a democracia, são aqueles que descumprem as leis estabelecidas, a lei civil, a lei penal, a lei constitucional, como tem sido comprovado recorrentemente, como é o caso do autor da frase e de seus asseclas.

Tudo bem que hipocrisia e mentira não são crimes tipificados em nossos códigos, pois se fossem, quase todos seriam criminosos.

“Que a gente possa colocar no coração de cada um de nós a indignação contra a miséria, a pobreza e o desalento que está caindo hoje nesse país”.

Ora!… Nosso país foi governado durante 24 anos por partidos de ideologia esquerdista, dezesseis dos quais pelo PT, partido do autor desta frase. A pergunta que precisa ser feita, é por que nos 16 anos que eles estiveram no poder, e seu poder foi imenso naquela ocasião, eles não acabaram ou pelo menos minimizaram “a miséria, a pobreza e o desalento” do povo deste país? Como é que “a miséria, a pobreza e o desalento” de agora podem ter surgido repentinamente, se ela já não existisse desde antes?

Existem várias respostas para essa pergunta. A primeira é que esse tipo de pessoa, e principalmente de político, só consegue manter o poder se houver miséria, pobreza e desalento, pois a ideologia deles é quase uma religião. Eles vendem esperança, a eterna esperança, aquela mesma que para existir, precisa que a realização do objetivo aventado, jamais se realize.

Como alcançar o objeto da esperança é muito difícil, o tempo inteiro o indivíduo fica cativo desse tipo asqueroso de político, que lhe oferece um fio de esperança, dando-lhe pequenas porções de alento, para causar-lhe uma leve sensação de conquista, que logo se apaga, necessitando de mais injeção de esperança e assim sucessiva e eternamente. Uma verdadeira escravização.

Se não houvesse miséria, pobreza e desalento, e existisse em contrapartida, abundância, riqueza e conforto, não precisaríamos de grandes disputas políticas e todos poderíamos ser “socialistas”, pois todos seriam minimamente desiguais, e se isso acontecesse, não precisaríamos de políticos para nos prometer redenção e nos iludir com esperanças fugazes e falsas.

A imagem que me vem à mente quando leio, vejo ou ouço essas pessoas, me remete às revistinhas em quadrinhos de minha infância, onde um cocheiro segura uma vara de pescar com uma cenoura pendurada na ponta, colocada à frente de um animal que arrasta a carroça, fazendo com que o pobre coitado trabalhe na esperança de pegar o alimento.

Ora, se é verdade que o objetivo dessa gente é acabar com a desigualdade, a injustiça, a dificuldade, se eles realmente acabarem com essas mazelas, qual poder eles vão almejar? Entender isso é indispensável para a compreensão do contexto político, o nosso e o de todos.

Esse tipo de gente, essa esquerda, busca uma coisa que não deseja realmente encontrar, até porque se o fizerem, destroem-se a si mesmos!

Em muitos aspectos a esquerda brasileira é diferente de esquerdas de países como Estados Unidos e Dinamarca, por exemplo, que conseguem se manter numa linha mínima de ação, com coerência e lógica, e veja que ao dizer isso, não estou generalizando.

Mesmo que eu discorde e me oponha a eles, existem esquerdistas, socialistas e até comunistas que não são mal-intencionados, que não são criminosos, que não são canalhas.

Na frase final da postagem, o autor diz:

“Vamos juntos pelo Brasil. Bom dia!”

Em minha modesta opinião, Lula foi um bom governante em seu primeiro ano de governo, entre 2003 e 2004, enquanto estava fascinado com o efetivo poder. Nos anos seguintes, rendeu-se ao lado negro da força e enveredou por um caminho onde a manutenção do poder era a única coisa que interessava a ele e aos seus comparsas, e não ao povo brasileiro e ao Brasil.

PS: Antes que algum palhaço venha reclamar, quando digo “lado negro da força” faço uma referência a Star Wars, de George Lucas. Minha frase nada tem de preconceituosa. Quem desejar, pode substituir a expressão usada por Lucas por outra, como “obscuro”.

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Amigos, juçara e queijos

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Eu gosto de cultivar hábitos, para com eles estabelecer e cumprir, no limite do possível, rotinas que estabilizem e normatizem meu dia a dia. Isso não significa que eu seja um sujeito enquadrado e engessado, isso nunca! Jamais!…

Faço jejum intermitente de no mínimo 20 horas às segundas, terças, quintas e sextas. Nas quartas, sábados e domingos, eu folgo! Reunimos a família para almoçar na casa de minha mãe, que com 92 anos, faz questão de ajudar no preparo das delícias que nos oferece.

Nas quartas ela alterna um maravilhoso cozidão maranhense, com tudo dentro (rabada, patinho e chã; vinagreira, repolho, jerimum, maxixe, quiabo, chuchu, cenoura, batata, macaxeira, milho, banana e quando tem, ela coloca até caju), e uma extraordinária carne de grelha, Melhor até que a da famosa Diquinha, com arroz branco e feijão mulata gorda, sem contar os acompanhamentos e complementos. Salada de alface, rúcula, tomate e pepino, camarão seco ou charque com ovos, purê de batata ou de jerimum ou ainda feijão peneirado, uma especialidade inventada por minha avó, Maria Haickel, inspirada no homus libanês.

Aos domingos o cardápio é muito mais variado, pois o comparecimento é sempre maior. Nesses dias temos coisas como cuxá, vatapá, caruru, mocotó e feijoada, passando pela célebre galinha, ao molho pardo ou no leite de coco babaçu, pela carne de porco assada, as tortas de camarão, caranguejo, carne, miúdos, descambando para lasanhas e estrogonofes, para agradar a meninada. A celebre carne assada de panela com molho ferrugem não falta nunca. Isso sem contar o macarrão e as farofas, de farinha seca ou de farinha d’água, itens que meu saudoso cunhado Antônio mais apreciava.

Disse isso só para deixar vocês com água na boca e para finalmente falar do dia de sábado.

Aos sábados, minha mãe não almoça comida normal, do dia a dia. Neste dia, por estar antecipando o preparo da comida que servirá no domingo, ela toma juçara com camarão seco ou jabiraca e farinha d’água. E não adianta tentar chamar de açaí, que ela não aceita. Esse hábito ela cultiva a muitos anos, desde quando era menina e ia passar férias no sítio de uma tia dela, Tia Nádia.

Normalmente eu vou tomar um pouquinho de juçara com ela, mesmo que eu tenha outro compromisso para o almoço, com amigos, o que é frequente.

Comentei isso com meu amigo Altevir Mendonça e sua esposa Manú e eles mandaram para minha mãe alguns litros de sua Nut Açai, que eu confesso, foi o melhor que eu tomei em toda minha vida, e não digo isso para agradar a Manú e Altevir, mas é porque o açaí deles é realmente maravilhoso.

Altevir está cultivando uma variedade de açaí em uma de suas fazendas na baixada. Uma coisa extraordinária de se ver. É o poder do agronegócio usando as mais modernas tecnologias disponíveis de cultivo e irrigação.

Comentei sobre o presente de Altevir e Manu com meus amigos Nelson e Cris Frota e eles perguntaram o que minha mãe costuma servir nas sobremesas de nossos almoços em família e eu disse-lhes que além de frutas, bolos e café, não falta doces de goiaba, caju, banana e leite.

Nelson e Cris então mandaram para minha mãe uma coleção dos Queijos Eldorado, que acabaram de ganhar diversos prêmios em concursos internacionais. 

Com uma mãe como essa e com amigos como esses, só fazendo mesmo quatro dias de jejum intermitente por semana, caso contrário vou chegar rápido aos 200 quilos!…

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Em quem votar!?…

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Outro dia, em uma reunião na casa de amigos, uma senhorita pensou que iria me constranger, ao me perguntar em quem eu irei votar para presidente.

Eu disse à bela e aparentemente inteligente moça que me fez tal pergunta, que eu ainda não sabia em quem iria votar, mas que tinha certeza daquilo que a pessoa em quem votarei precisa ter para conseguir minha atenção e meu voto.

Disse a ela que não importa o sexo do candidato, pode ser homem, mulher ou outro qualquer; que precisa ter o mínimo de coerência entre seus pensamentos, falas e ações; que seu partido não pode estar nas extremidades do espectro político nacional, pois não admito extremismos, e dou preferência às ideologias posicionadas em torno do centro, um pouco mais para à esquerda ou à direita, tanto faz. Que seja uma pessoa que defenda os valores da cidadania, a democracia, a livre iniciativa, as liberdades individuais; que não seja sectário, maniqueísta ou hipócrita.

Enquanto eu falava, podia ouvir as engrenagens do cérebro da tal moça e de outras pessoas presentes estalarem, computando o gabarito da prova a qual estavam sendo submetidos com a minha resposta à pergunta que me havia sido feita em tom de desafio.

Ao final me dirigi a senhorita que me fez a pergunta: “Você discorda de mim quanto aos ingredientes que um candidato precisa ter para que pessoas inteligentes, esclarecidas, do bem e de bem, como nós, eu e você inclusive, possamos votar?

Ela sorriu e de certa forma aquiesceu, mas a impressão que eu tive é que ela vai votar em uma pessoa na qual ela tem certeza de que não possui os ingredientes e as qualidades que eu citei. Fiquei com a impressão que ela vai votar para eliminar da cena política alguém que ela acredita ser mais nocivo que outros candidatos. Nessa hora eu me identifiquei muito com ela, mesmo sabendo que há uma grande possibilidade de votarmos em candidatos diferentes.

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Uma conversa esclarecedora

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Recentemente encontrei com um conhecido militante do Partido dos Trabalhadores em um restaurante de nossa cidade, e ele fez a maior festa para mim, dizendo-se admirador de meu trabalho como escritor e cineasta, e até mesmo como político, por segundo ele eu manter coerência entre minhas palavras e minhas atitudes, apesar de não comungarmos das mesmas ideologias.

Achei estranha a abordagem dele, pois em que pese nos conhecermos há muitos anos, nunca mantivemos um contato estreito, a não ser os protocolares da cordialidade e da boa educação.

Ele me convidou a sentar a sua mesa e disse que gostaria de saber de mim o que eu estava sentindo sobre a eleição deste ano.

A princípio, imaginei que o papo seria sobre Lula e Bolsonaro, mas ele disse logo que queria saber sobre as eleições do Maranhão.

Como faz algum tempo que eu estou afastado do ambiente político, com poucas informações sobre as composições dos grupos de contendores, preferi, como diria o velho Odorico Paraguaçu, uma “manobra diversionista”, para poder saber onde eu estava entrando. Dei corda e não demorou muito, meu falante interlocutor, me deu as deixas que eu precisava para me posicionar naquela conversa.

Ele me perguntou em quem eu vou votar para governador, e eu lhe disse que votarei em Brandão. Expliquei-lhe que sou amigo dele, de seus irmãos e irmãs, desde os tempos de Colégio Batista, e que meu pai era muito amigo do pai de Carlos, que foram colegas de Assembleia, no tempo do governador Nunes Freire, grande amigo de ambos.

Lá pelas tantas ele me disse que teve acesso a pesquisas realizadas por uma empresa, segundo ele bastante confiável, e que o “imponderável”, palavra usada por ele, iria acontecer.

Perguntei qual era esse imponderável, ao que ele respondeu sem titubear: “Grandes possibilidades de Flávio perder para Roberto”.

Eu não me controlei e sorri, desdenhando da afirmação dele, pois apesar de não saber que pesquisa era aquela a que ele se referia, eu tinha certeza de que ela estava errada.

Disse-lhe que não acontecerá o imponderável nas eleições majoritárias, no primeiro turno, no estado do Maranhão.

Disse que ele escrevesse o que eu lhe diria e que ele me cobrasse depois, pois caso eu estivesse enganado, pagaria um almoço para ele naquele mesmo restaurante.

Disse-lhe que no primeiro turno, Bolsonaro terá pouco mais da metade dos votos de Lula, que Brandão e Weverton passarão para o segundo turno com diferença pequena de votos entre si, e que Flávio, por ter uma eleição em apenas um turno, vencerá a disputa para o senado, mas sua vitória não será acachapante como ele gostaria que fosse. Mesmo ganhando, o resultado vai ferir os brios e a vaidade dele.

Disse a ele que muitas pessoas vão aproveitar a oportunidade dessa eleição para fazer com Flávio, pelo menos um pouquinho, do que ele fez com elas, mas que mesmo assim, o poder e os recursos represados por ele e pelos seus apoiadores durante seu governo, serão decisivos para sua vitória.

Ele arregalou os olhos, talvez imaginando que eu fosse ficar feliz com a notícia da tal imponderabilidade que ele me trazia, acreditando que eu fosse achar boa a notícia de que Flávio Dino poderia perder a eleição para senador.

É que ele, assim como muitas pessoas, não me conhece. Não é por Flávio ter cerceado minhas ações enquanto produtor cultural durante pelo menos seis de seus sete anos de governador, que eu vou desconhecer a realidade.

Já estando eu mais seguro naquela conversa, por saber que tipo de raciocínio meu interlocutor tinha, disse a ele uma coisa que mais uma vez o deixou de cabelo em pé.

Disse que havia grande probabilidade de que muitos daqueles políticos que agora estão deixando de apoiar Weverton e passando a apoiar Brandão, no segundo turno fazerem o caminho inverso, e deixarem de apoiar Brandão e voltar a apoiar Weverton, uma vez que quem trai um compromisso, facilmente trai dois. Se alguém que durante muito tempo esteve alinhado em um grupo, e que por algum motivo, qualquer que seja ele, o abandona, muda de lado, pode muito bem, em seguida mudar de lado novamente.

Sabendo que iria deixar meu interlocutor ainda mais assustado, disse que o que está faltando nesta eleição em nosso estado, são políticos, que nem de um lado nem do outro existem políticos, pessoas que saibam operar os mecanismos da política, até porque nos sete anos do governo de Flávio e nos quatorze de Roseana, eles dois, cada um por seus motivos e razões, resolveram aniquilar os políticos. Principalmente os bons. Nessa hora, só comigo, lembrei de Herodes.

Disse a ele ainda mais uma coisa que o deixou visivelmente pensativo. Disse que a eleição de Brandão no segundo turno dependerá principalmente do apoio que ele terá ou não, daqueles que não pertencem ao grupo de Flávio Dino. Disse a ele que a eleição de Brandão dependerá principalmente de Roseana, que o apoia, mas é pouco prestigiada e tem pouco espaço em seu governo, e de políticos não alinhados ao dinismo, como Lahesio, Edvaldo e até mesmo Braide.

Meu interlocutor olhou pra mim com uma cara curiosa, e pediu uma outra cerveja ao garçom. Eu me levantei, e estiquei a mão para cumprimentá-lo. Ele levantou-se, apertou a minha mão, puxou-me para me dar um abraço e disse: “Você pode até estar errado em suas análises e conclusões, mas que elas nos fazem pensar, isso faz!…”

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Nem sonhando!…

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De tanto falar sobre política, acabei sonhando com ela.

Durante vários dias, nas mais diversas rodas de amigos, meu assunto foi recorrentemente política. Todo mundo debatendo o futuro de nosso país, dilacerado por uma radicalização absurda, que anestesia e cega até as pessoas mais inteligentes e sensatas, que se deixam levar pela ideologia ou pela paixão, coisas incompatíveis com o debate sadio de ideias e a boa convivência.

Tenho uma teoria bastante simples sobre a observação e a análise dos fatos e dos cenários políticos, independentemente da posição em que se encontre o observador ou o analista. O fato é que quem se dispuser a observar, analisar e comentar a política, não pode para isso, jamais usar o coração, o fígado, ou o bolso, nesse intento.

Na análise da política deve-se usar tão somente o cérebro, de forma pragmática e cartesiana, caso contrário o trabalho será contaminado pelas enzimas provenientes dos citados órgãos. Do coração, metaforicamente falando, podem advir sentimentos, emoções e paixões que certamente comprometeriam a observação e a análise, desvirtuando os comentários que se fizesse.

Da mesma forma, o fígado não pode ser usado, pois a mágoa, o rancor, e a raiva (metaforicamente) produzidas neste órgão embaçariam qualquer conclusão a que se pudesse chegar.

O bolso, em que pese não ser um órgão intrínseco do corpo humano, é um órgão essencial para nossa sobrevivência, mas nem mesmo assim se pode pensar em política alavancado por ele, sob pena de pendermos para o lado em que iremos enchê-lo, e ficarmos contra aquele que irá esvaziá-lo.

O certo é que em meio àqueles dias conturbados de intensos debates políticos, exausto, fui para casa e simplesmente apaguei, depois de tomar um demorado e relaxante banho.

Naquela noite, o sonho que tive foi muito revelador. Sonhei que eu era o apresentador de um programa de entrevistas em um grande canal de televisão e que naquele dia estava recebendo a visita de dois importantes convidados, dois dos maiores expoentes políticos do país, um esquerdista e outro direitista.

Eram políticos acima de qualquer suspeita. Homem íntegros, corretos, coerentes e respeitados por suas posições sinceras em cada um dos dois campos antagônicos da política.

Eu havia me preparado para aquele programa em especial, pois admirava os dois entrevistados, principalmente por sermos nós três, antigos e bons amigos.

Aquele programa teria uma sistemática diferente. Eu faria algumas perguntas para cada um deles separadamente, para que a resposta de um não influenciasse, limitasse ou possibilitasse que o outro se aproveitasse das respostas de seu antagonista.

Assim foi feito. Perguntei ao primeiro se ele, sendo uma pessoa tão correta, não se sentia de alguma forma constrangido por apoiar e votar em um candidato que é tido como homofóbico, misógino, racista, além de fascista, sem contar que ele é abertamente negacionista.

Ao segundo entrevistado perguntei algo bastante semelhante. Uma vez que todos sabiam de sua retidão de propósitos e de princípios, se ele não se sentia de alguma forma constrangido por apoiar e votar em um candidato que, tendo sido durante oito anos presidente da república e comandante de um grupo político que governou o país por quase 16 anos, aparelhou o governo, minou as instituições, quase destruiu nossa economia, tirou de nós a condição de bons parceiros comerciais, deixou esse país com 13 milhões de desempregados e foi condenado por corrupção, entre outras coisas.

Na segunda rodada perguntei a cada um dos dois convidados, se eles acreditavam que seus candidatos a presidente da república teriam condições de reverter as expectativas que o eleitor bem informado e consciente tem sobre cada um deles.

A terceira e última pergunta que fiz a cada um dos entrevistados, cada um separadamente, foi um pouco mais complicada. Perguntei se eles avalizariam seus respectivos candidatos quanto às seguintes questões: Se o primeiro poderia garantir que seu candidato deixaria de ser irascível e boçal; Se ele não mais se portaria de forma vexatória e ridícula, jogando na lama a liturgia do cargo presidencial; Se ele deixaria de ser preconceituoso no que diz respeito a raça, sexo, gênero e outros assemelhados; se ele poderia garantir que seu candidato se manteria fiel ao juramento que fez de defender a república e a democracia.

Ao segundo entrevistado a pergunta foi semelhante no sentido do aval, mas os itens a avalizar foram diferentes. Perguntei se ele poderia garantir que seu candidato não voltaria a operar as mesmas práticas que fizera no passado, como estabelecer esquemas de fraude e corrupção nas instituições e empresas nacionais; Se ele poderia garantir que os interesses nacionais não mais seriam colocados de lado, dando prevalência para a construção de uma sistema supra nacional de politica comunista, financiando países estrangeiros; Se seu candidato não iria usar o poder que tivesse nas mãos para romper a liberdade individual dos cidadãos, a liberdade de opinião, a liberdade jornalística, inclusive estabelecendo formas de controle da imprensa e da mídia.

Quando eu iria, ainda no meu sonho, começar a segunda parte do programa, no qual eu chamaria os dois entrevistados, meus amigos, para sentarem-se comigo à mesa do debate, eu despertei assustado, como se tivesse presenciado algo absurdo. Uma verdadeira tragédia.

A sensação com a qual fiquei, foi que os entrevistados daquele programa onírico, teriam dito que acreditavam piamente que seus candidatos são os políticos mais corretos, coerentes, honestos, bem preparados e aptos a dirigir nosso país da melhor maneira possível, que nada do que se diz sobre eles, tem o menor fundamento, que tudo é narrativa para manchar suas imagens de grandes políticos, cidadãos dignos de receberem o voto da população brasileira.

Até em sonho eu estou decepcionado com a classe política, pois não aceitar a verdade é uma coisa inadmissível, para qualquer pessoa comum, muito mais para uma que interfere diretamente em nosso destino.

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Vergonha minha e dos outros

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Raramente faço críticas violentas, procuro ser sempre centrado, comedido e elegante, mas hoje, depois de presenciar mais uma vez a degradação de um belo e rico patrimônio da coletividade, resolvi esbravejar a plenos pulmões e chamar a atenção do Governo do Estado e principalmente o Ministério Público, que se arvora de defensor da sociedade e do cidadão, para o abandono em que se encontra uma coleção de obras de arte a céu aberto, que vem se deteriorando, e que está se acabando por falta de zelo e manutenção.

Em primeiro lugar, chamar a atenção do Governo do Estado, que passou os últimos anos gastando fortunas em propaganda e não teve a competência nem a decência de proteger um bem que é seu e que pertence ao povo do Maranhão!

Trata-se da coleção de totens de concreto, que registram manifestações artísticas, culturais, folclóricas e brincadeiras populares, de autoria de um dos maiores e mais importantes artistas plásticos maranhenses, Jesus Santos, que se encontra em exposição permanente na Avenida Litorânea.

Por outro lado, o ministério público, a defensoria pública e o juizado a quem compete esse caso, que se arvoram de defensores e protetores do direito da sociedade e dos cidadãos, nunca fizeram nada em defesa dessas obras que estão visivelmente sendo destruídas pelo vento, o sol, a chuva e a maresia.

O ministério público, a defensoria pública e o juizado correspondente “adoram” defender a sociedade no que diz respeito a causas que dão notoriedade e audiência, mas cultura, patrimônio artístico e cultural não é um desses, até porque eles não costumam agir contra o Estado, mas contra os cidadãos comuns ou o empresariado, nisso eles são craques.

Quero ver quem é que vai levantar essa bandeira e promover a recuperação dos totens da Litorânea, ou será que eles acham que só porque são feitos de concreto, não é arte e não tem valor!?

Quando estávamos gravando “Arcanos”, levei alguns atores e diretores para comerem uma caranguejada na Lenoca, e passando por um dos totens, um daqueles deteriorados, um dos convidados elogiou o belíssimo trabalho, louvou a iniciativa e lamentou o abandono. A mim só restou quase morrer de vergonha.

Em anexo, fotos de alguns totens, como eram e como estão.

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“O Caso Celso Daniel”

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Assisti recentemente a excelente minissérie “O Caso Celso Daniel”, uma obra como poucas, produzida em nosso país, sobre um evento contemporâneo tão importante.

Acredito que essa minissérie traz em si todos os ingredientes e principalmente o equilíbrio necessário e indispensável que uma obra deste tipo e desta importância deve ter para que seja considerada uma obra de referência honesta sobre fatos de nossa história.

Realizada o mais possível sem paixões políticas ou cores ideológicas, todos os oito episódios de “O Caso Celso Daniel”, mostram quase tudo que é possível um levantamento jornalístico abranger num caso como este.

Ao final de uma maratona de mais de 400 minutos, ou seja, mais de seis horas e meia de filme, cheguei às minhas conclusões sobre tal evento, coisa que qualquer pessoa que use minimamente o bom senso poderá fazer e chegar a uma conclusão bem parecida com a minha.

O prefeito de Santo André, Celso Daniel, foi vítima de um crime urbano, muito comum na Grande São Paulo no começo dos anos 2000, crime de extorsão mediante sequestro, não tendo havido participação de nenhuma figura envolvida nos esquemas de propina e corrupção implantados na prefeitura de Santo André, até porque estes nada ganhariam com isso, uma vez que fica claro durante a minissérie, que o esquema funcionava normalmente e com o conhecimento, consentimento e integral apoio do prefeito.

O que houve foi uma inacreditável falta de sorte de Celso e de seu parceiro Sérgio Gomes, que estavam no lugar errado e na hora errada, naquela noite.

Pontos claros sobre os fatos:

  1. Ao atacar o carro onde estava o prefeito, os sequestradores dispararam indiscriminadamente contra o veículo e poderiam ter atingido o motorista, que segundo o ministério público, seria o mandante do crime.
  2. Ainda sobre o carro de Sergio ter tido problema, isso é completamente plausível. Eu mesmo já tive um veículo deste tipo e a inabilidade em seu manuseio causou, em algumas ocasiões situação semelhante, pelo fato de sem querer esbarrar na alavanca de redução do carro, fazendo-o perder completamente a tração.
  3. Depois do sequestro realizado, se isso tivesse sido feito para intimidar e controlar o prefeito, ele teria sido solto em seguida, pois o recado já teria sido dado, e a morte dele colocaria um corpo estranho na armação, o vice-prefeito, que poderia trazer seu grupo para operar o esquema.
  4. A presença do Sérgio no momento do sequestro, faria dele um suspeito automático, coisa da qual ele não precisaria, bastava armar tal ação de outra forma.
  5. A tese da libertação mirabolante de um perigoso criminoso de uma penitenciária de Guarulhos, para comandar aquela ação, completamente atabalhoada, realizada por bandidos mequetrefes, dois dias antes do sequestro, é completamente delirante.
  6. As acusações feitas pelos irmãos do prefeito assassinado, motivadas pela vontade de descobrir a verdade sobre o caso, se deixou contaminar por suas vontades, fato que ocorreu também com os promotores do caso e com os empresários prejudicados pelo esquema de corrupção implantado na prefeitura de Santo André.

E por aí vão as inúmeras inconsistências do caso formulado pelo ministério público. Por outro lado, a série apresenta de forma orgânica, como nunca vi antes em uma obra cinematográfica brasileira, policiais, advogados e promotores incrivelmente capacitados e hábeis em suas explicações.

Em resumo:

  1. Havia um pesado esquema de extorsão e de corrupção estabelecido na prefeitura de Santo André e o prefeito Celso Daniel sabia dele, no mínimo o aceitava, como forma de manutenção de seu grupo político.
  2. A morte do prefeito foi uma fatalidade, ocorreu como tantas outras que acontecem em nosso país.
  3. O PT não é o responsável pela morte do prefeito de Santo André, mas se beneficiava do esquema de corrupção ali implantado.
  4. O ministério público criou neste caso uma narrativa para justificar seu trabalho.

Só me resta parabenizar os realizadores dessa obra, que além de muito boa do ponto de vista cinematográfico, é indispensável para o conhecimento e entendimento desses eventos, e olha, quem diz isso é alguém que imaginava que a morte de Celso Daniel era uma queima de arquivo, por parte de seus comparsas empresários ou partidários, coisa que com esta série fica claro que não é. Celso na verdade era parte importante do esquema de manutenção do da estrutura empresarial e partidária.

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Positivista, pero non mucho!…

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Quanto mais eu penso e estudo, mais acredito que as minhas certezas são unicamente provenientes das dúvidas que lhes deram origem, e olhe, minhas dúvidas são muitas, viu?

O fato de eu ser agnóstico, ter uma fé que não é vinculada diretamente a nenhuma religião formal, me faz reconhecer o quanto estou perto de ser realmente um positivista, principalmente por acreditar que a vida e o mundo serão sempre melhores se tiverem o amor como princípio, a ordem como base e o progresso como meta. Em tese essas coisas estão arraigadas a todas as ideias dos percussores das religiões, a diferença é que em mim, não há por trás delas, uma estrutura de igreja formal.

Quanto mais eu penso e estudo, mais acredito que de modo algum eu sou um ortodoxo, um radical. Procuro ser flexível, ouvir as versões e ponderar as soluções. A minha mente é tão aberta e permeável que não admite intervalos fechados. Nada de parênteses ou colchetes em minhas equações de vida, pois sempre é possível se repensar uma situação, revisar os números e agregar novos conhecimentos e novas práticas, sem mudarmos necessariamente a nossa essência.

Não se pode jamais desconhecer a história nem a ciência, mas é preciso entender que a história possui seus recortes, muitos dos quais provenientes de quem a relata, e a ciência fria, sem a luz da ética não basta para que possamos ter seu pleno e efetivo uso na vida humana.

Quando digo não aceitar religiões, não quero dizer que rejeito a ideia de uma entidade superior, uma espécie de catalizador, um maestro de uma orquestra sem músicos, mas repleta de timbres sonoros, um pintor cuja paleta é capaz de conter todas as cores do universo, sem ter que misturá-las, um professor que conhece todas as perguntas, porque saber as respostas seria muito fácil.

Quando digo que Jesus não precisa ser filho de Deus, não estou blasfemando. Simplesmente estou repetindo o que disse ele mesmo, o meu irmão galileu. Deus é amor, Deus é paz, compreensão… Deus está dentro de cada um e ninguém precisa de uma religião para ter Deus consigo, como Jesus provou que não precisava do judaísmo desvirtuado, professado pelos sacerdotes do Templo de Salomão.

Veja, nenhuma religião será suficiente para conter Deus. Ao estudarmos o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, descobriremos enormes semelhanças entre eles e é fácil compreender que as diferenças são apenas e tão somente temporais e culturais. As três religiões possuem a mesma base, mas o fato de terem sido estabelecidas e praticadas em momentos diferentes, por civilizações distintas, e sofrido influências próprias, fez com que cada uma se moldasse às suas próprias condições e circunstâncias.

Se Mohandas Karamchand não tivesse nascido na Índia e sua família não professasse a religião hinduísta, ele jamais teria sido o Gandhi que conhecemos hoje, e o fato dele não seguir os padrões daquele que escolhi como régua e compasso, não significa que eu não possa ou não deva, admirá-lo e exaltá-lo, pelo menos naquilo que eles têm de semelhantes.

Costumava dizer que se me fosse dada uma única possibilidade de visitar o passado e testemunhar um fato da história, gostaria de ver com meus próprios olhos o que realmente aconteceu na vida de Jesus. Hoje já não penso mais assim. A verdade sobre Jesus não vai mais mudar meu entendimento sobre o significado de sua mensagem. Agora eu gostaria de saber o que realmente aconteceu na vida de Maomé, para quem sabe poder entender por que seus seguidores divergem tanto entre si mesmos, e como poderia encontrar um denominador comum entre eles e todos nós.

Quando eu era ainda bem jovem e alguém me perguntava o que eu tanto pensava ou escrevia, respondia garboso, querendo parecer sofisticado: “O pensamento é uma estrada que não cobra pedágio e nos possibilita fazer viagens rápidas e seguras”. É nisso que tenho me confiado em todos esses anos, mais que nos maravilhosos ensinamentos de Comte ou mesmo nos engrandecedores exemplos de Rondon.

Uma coisa é certa! Dois profetas da religião que poderia ser o criador, nos oferecem ensinamentos que devem ser ouvidos, assimilados e seguidos. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena” e “Eles passarão, eu passarinho”, ao que meu eu polêmico, argumenta: Qual alma, cara-pálida!? Quem são eles, Passarinho!?

No final me resta uma certeza: na vida, não deve haver intervalos fechados.

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Releituras

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Já faz muito tempo que eu tenho vontade de tratar sobre um assunto que acredito atormentar pessoas que, como eu, ama versões originais, sejam elas de músicas ou filmes.

Recentemente estivemos em um pequeno paraíso onde uma alameda iluminada por luzes amarelas pipocavam nas árvores formando cachopas de lâmpadas que pendiam em diferentes alturas, iluminando duas dúzias de restaurantes típicos e gourmets num povoado de meio milênio de idade.

Estávamos em Trancoso, passando pequenas férias em família. Passávamos os dias ao redor da piscina, numa casa dos sonhos, e as noites íamos para o “Quadrado”, o centro do povoado, onde ficam os restaurantes e uma grande quantidade de lojinhas de marcas nacionais e internacionais, além de muitas barraquinhas de vendedores locais de artesanato e utensílios.

Até aí, tudo bem. O problema começava quando nos dirigíamos aos restaurantes e os cantores de cada um deles, em volumes elevados tentavam mostrar suas habilidades.

Pior mesmo foi quando escolhemos um lugar para jantar. Sentamos, uma simpática moça trouxe os cardápios… Foi aí que observamos – ouvimos – um rapaz, sentado ao fundo, dedilhando um violão, interpretando músicas de renomados compositores.

Nem vou comentar sobre o que comemos naquela noite. Em Trancoso não achamos nenhum lugar onde a comida fosse ruim. É verdade que existem lugares bem melhores que outros, mas ruim não conhecemos nenhum. O foco de meu texto de hoje é as apresentações musicais, ao vivo dos restaurantes que frequentamos.

Naquela noite especificamente, o rapaz que lá cantava era até esforçado, tinha iniciativa, mas ao constatar isso lembrei do que dizia Napoleão sobre os tipos de soldados que existiam em seu tempo e que ainda hoje devem povoar os exércitos pelo mundo.

Bonaparte dizia que havia quatro tipos de soldados: Os inteligentes com iniciativa; os inteligentes sem iniciativa; os burros sem iniciativa; e os burros com iniciativa.

Os inteligentes com iniciativa eram feitos seus comandantes. Os inteligentes sem iniciativa serviam como seus oficiais superiores, aqueles que recebiam ordens e as cumpriam correta e fielmente. Já os burros sem iniciativa eram colocados na frente de batalha, eram os buchas de canhão. Já os burros com iniciativa, esses Napoleão odiava e não os queria em seus exércitos, pois eram capazes de cometerem as maiores loucuras em nome da crença que serem bons no que fazem, sendo que não o são, pelo contrário.

A mesma coisa se pode dizer em relação a alguns artistas, músicos, escritores, pintores, diretores de cinema e até a artistas da política, já que este universo também tem a ver comigo.

O fato é que o cantor que se apresentava naquele restaurante resolveu fazer releituras de todas as músicas que apresentava e assassinava a todas as composições de deuses da musica baiana e nacional.

Assassinou músicas de Gil, Caetano, Ivete. Assassinou composições de Dorival Caymi e de Os Novos Baianos.

Não satisfeito o rapaz seguiu destruindo as músicas que cantava. Jogou no lixo Adoniran Barbosa, Martinho da Vila, Cartola, Wilson Simonal, Jorge Benjor e até de Pixinguinha e Noel Rosa.

O certo é que a releitura das músicas, a revisitação atabalhoada das melodias, dos compassos, dos andamentos, das entonações,  e até das letras, fazia com que clássicos da nossa música se tornassem sabujos, exclusivamente pela vontade do “artista” querer “inovar”.

Ao ouvir a tentativa desastrosa do rapaz, lembrei das tentativas igualmente desastrosas de refilmagens de clássicos do cinema, como “Ben-Hur”, “Spartacus”, “A fantástica fábrica de chocolate”, “O grande Gatsby” e tantos outros.

Releituras trazem em si o peso da necessidade de pelo menos se igualar ao sucesso conseguido pelos gênios que criaram o produto original, que só é passível de releitura porque foi, em seu tempo um grande sucesso de crítica e de público, e isso é muito, muito, muito difícil de ser conseguido.

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