“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.
Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.
Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.
Cinéfilo inveterado, é autor do filme "Pelo Ouvido", grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.
Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.
Ontem presenciei a entrevista que o presidente José Sarney deu a Charly Braun, premiado roteirista e diretor de “Além da Estrada”, que está realizando para a Globoplay, uma série documental sobre a todo o período de transição política brasileira, do regime de exceção para a democracia, entre os governos Figueiredo e Sarney, e Sarney e Collor, sendo os cinco anos de governo de Sarney, aqueles que efetivamente consolidaram a construção de nossa democracia.
Depois de duas horas de um bate papo descontraído, ficou claro para quem viu a entrevista, assim como ficará patente para quem assistir à participação de Sarney nesta minissérie, que lucidez e coerência não são coisas que se possa encontrar com facilidade em qualquer pessoa, muito menos em qualquer político. Mais que isso, ficou claro que esses artigos raros e de luxo, lucidez e coerência, naquele homem lá das bandas do Pericumã, transbordam, e ainda vêm acompanhados de uma singela simplicidade, que coroa o alto de seus 93 anos.
Ouvi aquilo tudo que Sarney disse a Charly e pensei comigo mesmo, sobre o privilégio que tive por ter sido testemunha de alguns daqueles acontecimentos, principalmente aos ligados à Assembleia Nacional Constituinte. Enquanto ele falava, eu rebobinava a fita de minha memória e visitava eventos e fatos acontecidos naquela época, fatos e eventos que nem sempre foram entendidos da maneira que Sarney expunha agora, e sob a lente da maturidade e do bom senso, os reavaliava.
Quando cheguei em casa, minha mulher me perguntou onde eu estava, pois minha cara era de alguém que viu passarinho verde e eu lhe disse que estava em uma aula de pós-doutorado. Ela não entendeu nada, mas eu expliquei-lhe que cada encontro com Zé Sarney, equivale a uma aula de pós-doutorado em política, em sabedoria, e em compreensão das coisas da vida.
Agora, enquanto escrevo esse texto, me senti triste, porque muitos jovens não terão a sorte e a felicidade que eu e alguns outros tivemos, de conhecer pessoas como “José” e como “Sarney”, duas entidades que compõem esse gigante, que só terá reconhecido o seu devido valor, muitos anos depois que não mais pudermos agradecer a ele pessoalmente.
Dizerem que a liberdade de expressão não é um direito pleno e absoluto, que ela tem limites, é desrespeitar o nosso ordenamento jurídico, que estabelece esse direito como uma das cláusulas pétreas da Constituição de nossa República, fato que faz dela uma regra imutável por emenda constitucional, só podendo ser revista por uma outra Assembleia Nacional Constituinte.
Uma cláusula pétrea não aceita interpretação judicial. Ela é aquilo que os constituintes estabeleceram que fosse, e ponto final. Uma cláusula pétrea não aceita dosimetria nem qualquer forma de relativismo. Agir de outra forma, é subverter a ordem constitucional.
Querer limitar o direito de livre expressão é querer impedir que o cidadão brasileiro exerça um direito anterior ao nosso próprio ordenamento jurídico, um direito natural, inerente não apenas ao cidadão, mas à pessoa humana, um direito divino, antes de ser um direito meramente jurídico.
O pleno direito de expressão, no entanto, impõe ao cidadão que o exerce, as responsabilidades decorrentes dele, portanto qualquer pessoa pode dizer o que quiser e desejar, mas deverá se responsabilizar legal e criminalmente por tudo o que disser, na forma da mesma lei que estabelece que ele é livre para expressar seu pensamento e sua opinião.
Cometerá grave erro e até mesmo um crime, quem desejar ou tentar diminuir, reduzir ou restringir o direito de livre expressão e opinião de outrem, da mesma forma que alguém que no pleno uso de seu direito de livre expressão cometer algum crime, deverá ser responsabilizado por ele.
Só pode haver um verdadeiro Estado Democrático de Direito, se as garantias inerentes e inalienáveis ao cidadão forem asseguradas, sem que haja interpretação de qualquer natureza, viés político ou ideológico quanto a elas e às suas aplicabilidades. Qualquer outra coisa, é golpe, atentado frontal a democracia, tentativa torpe de não aceitar o pensamento do outro, o que por si só configura grave quebra do sistema democrático.
Qual é o problema de, em caso de necessidade, lançarem mão dos artigos 138, 139 e 140 do Código Penal Brasileiro, ao invés de simplesmente tentarem impedir o sagrado direito de livre opinião e expressão?
Abortar esse direito, ao contrário do dizem alguns, não garante a democracia, a estupra de forma inconcebível e aviltante.
Digo isso respaldado nas palavras que ouvi num debate entre dois parlamentares, colegas meus, Gervásio Santos e Edivaldo Holanda, quando de meu primeiro mandato de deputado.
A discussão era sobre um projeto de lei de autoria do Poder Executivo, uma lei delegada, que praticamente anulava a função do Poder Legislativo estadual. Em meio a uma calorosa discussão, Edivaldo tentava defender a proposta e a oposição de forma geral e organizada tentava impedi-lo de falar. Foi quando Gervasio interveio e conclamou seus parceiros a deixem o líder do governo cumprir sua árdua e inglória função de defender o indefensável, pois ao ter ele garantido o sagrado direito de dizer o que ele pensava e desejava dizer, estaria se obrigando a garantir igualmente direto dos demais de rebaterem e colocarem seu pensamento e sua opinião na balança das decisões.
Lembro claramente das palavras de Gervásio: “Discordo frontalmente de tudo que o nobre deputado Edivaldo Holanda diz, mas defendo com fervor o direito dele de falar tudo que deseja, para que o meu direito de fala seja igualmente respeitado.”
Depois daquela tarde, nunca mais cogitei a possibilidade de não permitir que alguém tivesse garantida sua liberdade de expressão, principalmente para que eu tivesse a minha garantida.
Só existem quatro candidatos com chances reais na disputa pela prefeitura de São Luís em 2024: Eduardo Braide com grande possibilidade de vencer novamente; Duarte Junior, para sustentar a cabeça de ponte de Flávio Dino na política maranhense; Edivaldo Holanda Junior, por seu histórico; e Neto Evangelista, que representa uma nova opção nessa disputa.
No entanto há um fator determinante e decisivo nesta disputa, o apoio do governador Carlos Brandão.
Um dia desses, ao abrir o meu Twitter, me deparei com uma postagem que perguntava a quem a estivesse vendo e lendo, se sabia qual era o nome da moça que aparecia na foto postada na página, uma das duas que ilustram esse texto.
Ao ler a tal mensagem, minha resposta foi taxativa: “Elona Musk”, irmã gêmea de Elon Musk. Minha reação foi imediata, da mesma forma que imagino foi a reação de todas as pessoas que como eu, têm um mínimo de informação e conhecimento neste setor.
Um dos homens mais ricos do mundo, Musk é um rosto bastante conhecido, da mesma forma que outros multibilionários, como Jeff Bezos e Bill Gates, o que já não acontece com o francês, igualmente podre de rico, Bernard Arnault, que é muito menos conhecido que as marcas de sua propriedade como Louis Vuitton, Christian Dior, Givenchy, Dom Pérignon, Veuve Clicquot, Tag Heuer e Tiffany & Co.
A pessoa que fez essa montagem, usando o rosto de um ícone mundial, mais que fazer uma brincadeira, expos uma faceta importante de nossa vida, que graças ao avanço tecnológico passou a ser completamente decisiva em nossas vidas: O poder da imagem.
A reprodução das imagens nos acompanha desde que os primeiros seres humanos rabiscaram desenhos de animais nas paredes das cavernas, e hoje mais que nunca ela faz parte de nossas vidas, vigiadas pelos bilhões de câmeras espalhadas por todos os lugares e principalmente nas mãos dos pouco ocupados adeptos dos smartsphones e das redes sociais.
Curioso que sou, fui ver as respostas das pessoas a pergunta proposta pelo dono daquela conta do Twitter e como imaginei, todas as respostas faziam alusão a Elon Musk, dizendo que a referida foto pertencia a uma irmã gêmea sua, descoberta que por milagre. A importância da imagem não deve ser perdida de foco. Ela deve ser usada para o engrandecimento da humanidade, para a educação e o entretenimento, e até para brincadeiras como essa, mas jamais em nosso desfavor.
Eu sempre tive uma vontade muito estranha! Uma imensa vontade de estar presente em meu velório! É que gostaria muito de ver quem iria estar lá presente. Gostaria de observar meticulosamente quem demonstraria que iria sentir saudade, e quem deixaria claro desde logo que sentiria mesmo era falta de mim. Estando lá iria observar quem rememoraria os bons e até os maus momentos compartilhados com o de cujus.
Seria realmente uma coisa espetacular se fosse possível estarmos presentes em nossos velórios. Para uns seria espetacular no bom sentido da palavra, mas para outros o espetacular seria sinônimo de desastroso.
Quanto a mim, em meu velório, tenho certeza de que não haverá aquela fila de mulheres lamuriosas, pois se não as fiz felizes em vida, na morte a única coisa que elas vão querer é se lembrar dos fatos ocorridos ou dos que ficaram por acontecer, mas em ambos os casos penso que os saldos são positivos.
No dia do nosso velório pode até haver quem compareça por mera obrigação, como eu mesmo faço em alguns casos protocolares, mas certamente haverá que vá como eu infelizmente tenho ido, em alguns velórios de pessoas a quem muito estimo. É estimo, usando o verbo no presente do indicativo, pois os verbos não são conjugados no passado sobre quem se ama.
Não ficarei feliz se em meu velório tiver choro triste. Fica desde já estabelecido que lá só poderá haver choro motivado pela alegria de ter havido vida e realizações que ligam os ainda presentes com aquele agora inanimado corpo. Podem chorar o quanto quiser, mas de alegria por se recordarem das presepadas que compartilhamos na infância ou das descobertas que fizemos na adolescência, descobertas todas boas. Ninguém que vá se lembrar de um jogo de basquete que perdemos, a não ser se for para lembrar que, apesar de termos perdido, jogamos melhor e com fair play.
Espero que não esteja presente em meu velório a minha mãe, pois ela não aguentaria perder um filho, mas que estejam presentes meu irmão, Nagib, o primeiro pedaço de mim, minha filha, Laila, meu segundo pedaço e minha esposa, Jacira, meu pedaço último e total, da mesma forma que desejo que meus queridos amigos lá estejam.
Espero que aqueles que eu admiro, respeito e amo sobrevivam a mim, mesmo que algum não esteja presente ao meu velório, mas que eu não sofra a dor de comparecer ao velório deles.
No final o que importará mesmo ao comparecer em meu velório será poder experimentar mais uma vez, talvez a última, os sentimentos que ligavam aquelas pessoas ali presentes a mim, e isso é estar vivo.
Algumas pessoas bem-intencionadas, no afã de fazerem sua defesa de pautas sociais através de posições mais ideológicas que coerentes, cometem graves equívocos, enquanto outros mal-intencionados tentam subverter a ordem jurídica.
Ouvi recentemente de uma pessoa, um verdadeiro absurdo. Ela disse não só para mim, mas para todos os presentes naquela oportunidade, que o crime de preconceito racial não pode ser comparado ao crime de preconceito religioso, pois o primeiro é cometido contra uma “minoria”, enquanto o crime de preconceito religioso é cometido contra uma “maioria”, sendo que, em seu entendimento, o segundo nem deveria ser considerado crime, enquanto o primeiro o é.
Aquela pessoa que parecia ser bem instruída, culta e elegante, disse isso exemplificando o fato de um certo humorista tripudiar e enxovalhar a figura de um líder religioso, e sendo os adeptos daquela religião parte de um extrato social mais bem posicionado na sociedade, e representarem uma “maioria”, tais atos não configurariam crime de preconceito religioso, ficariam restritos ao direito de livre opinião e manifestação, a tal liberdade de expressão, enquanto o fato de um outro humorista tripudiar e enxovalhar pessoas de uma determinada raça, por essas pessoas fazerem parte de um extrato social menos bem posicionado na sociedade, por serem parte de uma “minoria”, isso se configuraria, segundo ela, um grave crime de preconceito. Acontece que nos dois casos, o que ocorre são crimes tipificados e constantes dos mesmos parágrafos e incisos da lei brasileira, qualificados com o mesmo nível de gravidade. O que ocorre é que para um crime a sociedade faz vista grossa, enquanto o outro é repudiado peremptoriamente.
Tentar majorar a importância de um tipo de crime de preconceito ou desvalorizar a importância do outro, configura grave erro quando cometido de boa-fé, mas se estabelece como já disse, grave atentado ao estado de direito e a ordem jurídica.
Dizer e defender o que aquela pessoa disse e defendeu é o mesmo que dizer que o assassinato de uma pessoa negra, homossexual e pobre é crime, pois ela faz parte de uma “minoria” e que o assassinato de uma pessoa branca, heterossexual e rica não é, só por ela fazer parte da “maioria”.
Isso não é igualdade e nem equidade. É simplesmente um delírio do bonito e do aparentemente politicamente correto, defendido por pessoas completamente despreparadas para o produtivo debate de assuntos tão importantes para nossa sociedade.
A noção de equidade deve estar sempre presente em todos os aspectos de nossa vida, arraigada a todas as nossas ações, mas no que diz respeito especificamente a aplicabilidade DIREITO NATURAL, a equidade não pode jamais ser aplicada de forma absoluta, por isso se opor ao fundamento básico desse mesmo direito, previsto em nossa constituição em seu artigo 5º e presente em todas as boas cartas magnas do mundo, que declara que todos são iguais perante a lei.
Igualdade e equidade não são palavras e ideias que possam ou devam ser aplicadas apenas em relação a uns em detrimento de outros, pois se assim ocorrer, essas palavras e as ideias que elas representam, perdem completamente o sentido, a razão e a aplicabilidade.
A equidade é a realização plena e suprema da igualdade. É quando a lei reconhece que a realidade desiguala as pessoas e por isso corrige esse fato, sem jamais quebrar o preceito da igualdade. É quando os mais bem colocados espontaneamente ou por força de lei, abrem espaços e oportunidades para os que não estejam bem colocados e possam a eles se igualar em posição e oportunidades.
Alguns amigos meus, frequentemente, têm me pedido que volte a escrever sobre política, assunto que tenho evitado pelo imenso grau de radicalização que esse setor sofreu nos últimos tempos e pelo fato de eu dizer coisas que acabam desagradando a todos, característica peculiar das pessoas que falam verdades, e verdades geralmente não são coisas agradáveis de serem ouvidas, e que transformam quem as dizem em personas non gratas, coisa que eu não desejo ser.
Nos últimos tempos tenho me dedicado exclusivamente aos meus projetos cinematográficos que estão em andamento, uma vez que os negócios de minha família estão sendo tocados, e muito bem, diga-se de passagem, por meu irmão e minha esposa.
Mas como meus filmes me deram uma folguinha nos últimos dias, até porque essa atividade, de tempos em tempos, exige certo distanciamento, para que se possa ver as coisas em perspectiva, resolvi parar para analisar alguns poucos aspectos da política, assunto que como todos sabem, muito me agrada, principalmente em seu aspecto estratégico e filosófico, uma vez que, já faz algum tempo, sou completamente refratário à prática diária da política, o tal corpo a corpo.
A política nacional está uma verdadeira loucura. Lula que era um craque da política, no bom e no mau sentido, dá claros sinais de senilidade, falando e fazendo coisas que nem ele mesmo aceitaria, mesmo em seu piores momentos.
Alguns de seus ministros, ouviram o sino tocar, mas não conseguem encontrar a igreja, enquanto outros, estes competentes e bem-preparados, tropeçam em suas idiossincrasias mais atávicas e acabam por demonstrar desequilíbrio e destempero, características que não podem estar presentes no perfil daqueles que desejam ser verdadeiros líderes, faróis na noite escura da política brasileira.
O poder legislativo no âmbito federal, mais do que nunca é um balcão de negócios. Seus comandantes ou são covardes oportunistas ou são ávidos negocistas. É triste esse panorama.
No âmbito estadual, nunca se viu uma situação de tamanha hegemonia. Não que eu me lembre. Mas isso que pode ser muito bom por um lado, pode ser péssimo por outro. Eu explico, ou pelo menos vou tentar.
Quando se atinge a hegemonia através de uma luta renhida, uma disputa “sangrenta”, quando ela é resultado de uma conquista monumental, ela normalmente é boa e as partes, as facções, as pessoas que compõem esse grupo, sabem o que as levaram até ali e têm um compromisso maior. Quando a hegemonia é decorrente da dissolução dos grupos políticos anteriormente constituídos, quando ela é construída nos escombros do que havia antes, mesmo que ela tenha a frente um líder experiente, cauteloso e bem-intencionado, como é o caso de Carlos Brandão, ela é na verdade uma hegemonia frágil, que até aparenta ser forte, mas que traz sérios e graves problemas de manutenção, normalmente ligados ao aspecto financeiro de um grupo gigantesco, onde cada uma de suas partes reivindica um cadinho, deixando por conta do seu comandante a solução de problemas gigantescos e quase insolúveis a curto e médio prazo.
No caso desse tipo de hegemonia, o que ocorre é que quem perdeu o protagonismo só aguarda a dissolução dela, só espera que o tempo passe para voltar ao centro das atenções como salvador da pátria.
Comentei esse fato com um amigo e ele me perguntou qual seria a solução para esse problema e eu disse que a solução, em primeiro lugar é reconhecer que há um problema, pois muitos não conseguem perceber e outros, os que percebem, tiram proveito disso e, portanto, não se importam.
A segunda coisa que deve ser feita nesses casos é a escolha de seu efetivo, não falo de amigos ou parentes, falo de um exército capaz de enfrentar o por vir, pois numa hegemonia pouca gente se preocupa com isso.
A eleição de prefeitos do ano que vem é a primeira trincheira e será mais do que nunca decisiva para o futuro da política local, e veja que isso não é uma questão de semântica! É uma questão de prática, tanto que acredito que quem melhor esteja pensando nisso seja o deputado Kleber Verde, que deseja candidatar o prefeito Eduardo Braide, pelo MDB.
Braide é um político relevante, mas não tem um grupo em torno de si, não tem uma base sólida, que o apoie. Ele sozinho configura-se como uma equação politicamente inexequível, mesmo que tenha boa perspectiva eleitoral a curto prazo.
Nesse cenário, lembro que o MDB hoje pertence a base mais bem alicerçada do governo. Partido que já foi comandado pela então governadora Roseana Sarney, que apesar de ter perdido o poder, por vários e vários motivos, juntamente com seu agora reduzido grupo, ainda é uma força que não pode ser descartada.
Como disse antes, pessoas como eu normalmente desagradam a todos, não por simplesmente estarem erradas, pois quem está errado nem é levado em consideração, mas por dizerem verdades, coisas que normalmente incomodam.
Mas vá lá! Seja o que Deus quiser, se é que ele se mete nessas coisas.
Um amigo meu, sujeito bastante engraçado e espirituoso, me ligou dizendo que existem algumas coisas que o fazem rir e outras que o tiram do sério, e que existem ainda algumas coisas que de tanto lhe fazerem rir acabam por lhe tirar do sério.
Dizia ele que a prova disso era a engraçada situação que está ocorrendo exatamente agora. Disse que na década de 1970, meu pai, que foi um grande amigo dele e de toda sua família, andava pelo Maranhão em um fusquinha com duas cornetas de som, irradiando jogos de futebol fictícios, jogando bombons para as crianças, “sacolejando o espinhaço em cima dos palanques” e dizendo ao microfone que: “Nagib chegou! Nagib chegou de novo! Nagib é que é o deputado do povo! Nagib é o caboclo do Pindaré, acostumado a comer tapioca e mandubé”.
Ele comentou que pelo jeito bonachão de ser de meu pai, ele era tido como brega, folclórico e era pouco levado a sério por determinado tipo de pessoa e de político, mas que hoje, passados 50 anos, dizer ser bonachão, dizendo que faz parte dos “Vingadores” é tido como algo cult, de bom gosto, que essa é uma atitude lavada muito a sério e aplaudida por aquele mesmo tipo de pessoa que achava Nagibão brega e folclórico.
Segundo esse meu amigo, de duas uma! Ou Nagibão não era brega nem folclórico ou esse pessoal dos “Vingadores”, é tão folclórico e brega quanto diziam que “o caboclo do Pindaré” era, e arrematou dizendo que o deputado Nagib Haickel havia estudado pouco, que ele se vangloriava em dizer que não era doutor, que o único diploma que tinha era o da faculdade da vida.
Existem algumas perguntas que precisam ser respondidas e as respostas a elas devem ser analisadas com total isenção, sem víeis ideológico ou político de qualquer natureza, sob pena de desqualificar tanto as respostas quanto as perguntas.
Existem em nosso país políticos corruptos?
Existem em nosso país juízes corruptos?
Existem em nosso país promotores ou procuradores corruptos?
Existem em nosso país funcionários públicos corruptos?
Existem em nosso país jornalistas corruptos?
Existem em nosso país empresários corruptos?
Existem em nosso país religiosos corruptos?
Existem em nosso país artistas corruptos?
Depois de respondidas essas perguntas, e analisadas minuciosa e detalhadamente suas respostas, outras perguntas se farão necessárias.
Existe um nível ou quantidade ou qualidade de corrupção aceitável?
Há diferença entre um corrupto pequeno, médio ou grande?
É lícito distribuir verbas públicas para conseguir apoio político?
É lícito distribuir verbas públicas para conseguir apoio eleitoral?
É lícito, para defender a lei, subvertê-la?
Qual deve ser a pena para atos de corrupção?
O que fazer para diminuir a incidência de atos de corrupção?
Existe uma forma eficaz e eficiente de separar os corruptos dos menos corruptos e estes dos não corruptos?
Existem muitas outras perguntas, que como essas precisam ser respondidas e analisadas, mas penso que por hoje essas sejam suficientes para nos fazer pensar um pouco.
Mas para finalizar, depois de se fazer todas essas perguntas e de respondê-las, fazendo as análises recomendadas, você poderia me dizer, em sã consciência, se você acha justo e correto criminalizar a prostituição e o jogo do bicho?
Nos últimos dias senti uma dor que já fazia trinta anos que não sentia. A dor da perda da presença física de uma pessoa. Em 1993 perdi meu pai, Nagib Haickel, e no último dia 23 de abril, perdi meu “irmão” Celso Borges.
No caso da morte de meu pai, eu perdi o chão embaixo de mim. Perder Celso me tirou a lateralidade e a visão em profundidade, em perspectiva.
A perda de meu pai me obrigou a, em alguns aspectos, tomar o lugar dele, a perda de Celso faz de mim um inútil, pois nada que ele fazia eu posso minimamente imitar.
Há mais de quarenta anos eu conheci um garoto de seus vinte e poucos anos, magrinho, lourinho, risonho. Literalmente um garoto, coisa que ele, para o seu bem e para o bem de quem com ele convivia, jamais deixou de ser.
As pessoas se identificam com as outras por suas semelhanças e havia muitas entre nós. Assim como havia diferenças, que não servindo para nos identificar, estabeleceram os parâmetros que nos fizeram buscar a compreensão e o entendimento.
Eu e Celso, desde sempre construímos nossa amizade baseados na admiração por nossas semelhanças e no respeito por nossas diferenças. Eu sempre pude beber da fonte da pureza e da inocência dele e ele sempre pode aproveitar de meu celeiro de praticidade e objetividade.
Em 1982 reunimos um seleto grupo e resolvemos fazer um programa de rádio, onde só tocaríamos músicas maranhenses e só falaríamos de arte e de cultura de nossa terra. Foi o “Em tempo de guarnicê”. No ano seguinte, transformamos o programa de rádio em uma revista, a “Guarnicê”. Junto com ela vieram uma gráfica, uma editora e uma produtora de audiovisual e mais que isso, vieram Kenard, Paulinho Coelho, Érico Junqueira Ayres, Cordeiro Filho, Dulce Brito, Ronaldo Braga, e tantos outros amigos e parceiros, que durante toda a vida iriam, de uma forma ou de outra, caminhar conosco.
O tempo passa e passa muito depressa, e nem sempre se percebe as mudanças que ele traz consigo.
Eu que já era deputado estadual, em 1986 me elegi deputado federal constituinte e nossa aventura editorial teve fim, mas nossa amizade não, mesmo que fosse ser modificada, primeiro pela distância e depois pelo tempo.
Cada um tomou seu rumo. Eu fui para Brasília, Celso foi para São Paulo, Kenard para o Rio de Janeiro, Paulinho foi trabalhar com Antônio Carlos, na Gráfica Minerva, Érico continuou dando aulas e fazendo seus maravilhosos desenhos… A vida iria continuar e cada um de nós iria em busca de seu destino. O meu foi durante trinta e poucos anos, a política, com suaves e discretas incursões na literatura. O de Celso foi a poesia e a fecundidade… Em todos os aspectos. Com cinco filhos, ele tem mais que eu, Kenard, Paulinho e Érico juntos! Fecundo em tudo.
Fico falando do Celso da década de 80, porque é nele em que o meu sentimento se reflete. No irmão, com quem dividíamos nossas famílias. Nossas mães, amigas de infância eram nossas.
É verdade que eu era mais filho de “Marrenha” que CB de “Cici”. É que a timidez dele o fazia desfrutar pouco daquilo que eu muito desfrutava: do convívio com a família dele, onde todos, menos “seu” Mário, me chamavam de “Rua”, apelido que ele e Kenard me deram, em homenagem a Joaquín Murieta, uma espécie de Robin Hood do velho oeste, que era visto por uns como um revolucionário patriota e por outros como um bandoleiro mexicano. Bem como acontece realmente comigo.
Lembrar dessas coisas é um balsamo para a dor latejante que tenho em meu peito e em minha cabeça. Melhor que essas lembranças, só a certeza de que CB realizou quase tudo a que se propôs. Digo quase tudo porque em nenhuma agenda cabem os planos que ele tinha.
Mesmo que não tivéssemos o mesmo convívio dos anos 1980, continuamos realizando muitos trabalhos juntos. Participei de vários projetos literários de e com Celso. Produzi pra ele um disco com poemas de Tribuzi adaptados e musicados por ele e seus parceiros. Ele fez comigo e Beto Matuck diversos filmes, entre eles, dois inéditos, um sobre o próprio Tribuzi e outro sobre músico Miguel Damous. Além disso estávamos começando a trabalhar num documentário sobre o mestre Catulo da Paixão Cearense. Eu e Beto teremos um grande problema: Arrumar alguém que minimamente possa fazer o mesmo trabalho sensível de Celso, quanto aos textos para este filme.
O espaço está acabando e eu ainda não disse quase nada efetivamente sobre Celso, mas pelo menos preciso dizer que seus amigos estão programando fazer uma homenagem para ele no próximo dia 18 de maio, quando ele COMPLETARÁ 64 anos, algo que deixe claro que a nossa alegria por ele ter existido e por nós termos podido desfrutar de sua companhia, é infinitamente maior que a tristeza que sentimos por ele ter partido.
Para o ano que vem, quando Celso COMPLETARÁ 65 anos, quem sabe possamos exibir um documentário completo, e apoiarmos sua família a lançar um livro de poemas dele, com suas poesias inéditas ou talvez com suas obras completas.