Justiça ao Geia

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Quem ama a justiça, passa além e acima de qualquer diferença ou divergência de ordem pessoal.

Meu velho pai, que tinha a fama infundada de ser um homem pouco fino, era reconhecido por todos como um cidadão extremamente inteligente, dotado da incrível sabedoria dos homens simples e grande conhecedor da alma humana. Entre tantas lições que nos deixou, uma ficou marcada na memória de meu irmão e na minha: que em nossos julgamentos jamais nos deixássemos levar por qualquer preconceito ou sentimento que nos fizesse perder o sentido da justiça e da verdade, qualquer que fosse o caso, situação ou pessoa.

Lembro de como ele nos ensinou essa lição. Sendo ele presidente do Moto, eu torcedor do Sampaio, e meu irmão Nagib Filho maqueano, ele deu o exemplo. “Vejam bem: Djalma é do Sampaio, mas é craque. Hamilton, do Maranhão, é gênio. Acontece que meu time é o Moto, e vou fazer tudo para ganhar o campeonato, mas nunca vou deixar de fazer justiça, de dar o devido valor a quem merece”.

Nagibão criou um personagem e se escondeu atrás dele. Quem o conhecia de perto sabia de todas as suas qualidades (e defeitos). Com ele, eu aprendi a ser justo, e hoje vou fazer justiça a uma instituição que acredito realizar uma obra extremamente importante em nossa terra.

Refiro-me ao Instituto Geia.

O fato de eu não ter nenhum laço de amizade que me ligue ao presidente do Instituto Geia, o senhor Jorge Murad, mesmo sendo ele marido da governadora Roseana Sarney (a quem secretario no setor de Esporte e Lazer) me deixa em situação extremamente confortável para tecer algumas considerações que acredito serem necessárias a respeito daquela instituição.

O Instituto Geia é uma associação de 24 grandes empresários (podia ser muito mais) reunidos com o propósito de realizar ações que eles acreditam ser importantes para a coletividade maranhense.

É sobre um dos campos de forte atuação desse Instituto que eu quero falar especificamente hoje: do setor escolar, da cultura letrada, da literatura e da história.

Por tudo o que tem feito de bom e importante em prol da cultura e da educação em nosso Estado o Geia tem se destacado de forma exemplar.

O Maranhão exporta hoje, para o Brasil e para o mundo, não apenas o alumínio ou o ferro de Carajás, exporta também os livros produzidos pelo Instituto.

A Coleção Geia de Temas Maranhenses já lançou mais de 20 obras substanciais de nossa bibliografia. Quem quiser ter à mão a crônica fiel do que foi a rendição dos franceses pelos portugueses em 1615 tem que ler o Relatório de Alexandre Moura, feito diretamente ao rei de Portugal, e publicado entre nós, pela primeira vez, pelo Instituto Geia.

Quem precisar de uma obra seminal que nos dê conta das possibilidades e dificuldades dos homens de negócio durante o nosso Período Colonial, não pode dispensar-se de ler, anotando, a edição, também anotada, do Compêndio histórico-político de Gaioso, que é de 1818 e só tinha tido uma reedição até agora, do Geia, que tem a vantagem da ortografia atualizada.

Quem quiser nome, biografia e descendência de todos os fidalgos e homens da nobreza maranhense da Colônia e fim do Império, basta consultar os Fidalgos e barões, de Milson Coutinho, publicado em grosso volume do Geia.

O mesmo se diga para quem quiser conhecer a Balaiada por dentro: é só reler Astolfo Serra, um dos nossos clássicos, publicado mais de 50 anos depois da última edição.

A mesma coisa quanto ao que realizaram os governos maranhenses, do Império ao fim da Primeira República. Para isso, leia Administrações maranhenses, de Henrique Costa Fernandes, um livro que fazia falta. E o que dizer das Memórias de Humberto de Campos, reunidas num só volume, e do seu Diário secreto, que, passados mais de 60 anos, retorna a público, e é mais que apenas uma obra de literatura, pois é também o depoimento sofrido de uma vida em dor e o testemunho iluminador do que foi, no fim das contas, o golpe de Getúlio, que a História consagrou com o nome de Revolução de 30. E ainda tem a História do Maranhão, os três volumes de Carlos de Lima, e o Lavardière e a França Equinocial, de Vasco Mariz, a que faz boa companhia o último livro, A Ilha e o Tempo, obra premiada por um Concurso Nacional aberto pelo Instituto Geia para comemorar os 400 anos de São Luís.

Iria longe se pretendesse resenhar toda a bibliografia do Geia. Mas não posso deixar de lado os álbuns magníficos, brinquedos encantados, com fotos maravilhosas sobre a cultura negra maranhense, São Luís, Alma e História e Alcântara, Alma e História.

Mas não paremos aqui. Em todo mês de agosto, já se vão 10 anos, a cidade de Ribamar tem sido sacudida pelo Festival Geia de Literatura.

Esse evento não é só de Literatura, nem é mais só de Ribamar. Atualmente, começa em São Luís, atraindo uma multidão de estudantes em torno de autores que são best-sellers, como Laurentino Gomes e Mary del Priore. O encontro é muito produtivo, porque, antes dele, os alunos já se obrigaram a ler a obra desses escritores, junto com os seus mestres. O significado dessa prática só poderá ser entendido plenamente quando os jovens de hoje forem adultos amanhã, pais e mães de família. É uma memória para sempre, um convite que arrasta com a força do maior e melhor exemplo.

Analogamente ao ensinamento de meu pai, vejo que não ser do time do senhor Jorge Murad em nada importa, pois sou daqueles que independente de time, gosto mesmo é de aplaudir os grandes escretes, de vibrar com as grandes atuações e reconhecer o mérito de quem realmente é capaz de fazer grandes jogadas e ganhar jogos importantes, como tem feito e espero que continue fazendo o Instituto Geia.

Pelo fato de fazer com que o Maranhão volte, em parte, a ter o prestígio dos tempos em que a velha Província era um centro cultural e editorial de grande importância no país, e em tempos mais próximos de nós, quando ainda existia o Sioge, de saudosa memória e importância essencial, o Geia merece nosso reconhecimento, nosso respeito e nossos agradecimentos.

Parabéns aos idealizadores e sustentadores do Instituto Geia, e obrigado pelo importante trabalho que tem realizado para benefício da educação, da literatura, da história e da memória do Maranhão.

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Santo!? Nem tanto.

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Há uns quarenta anos, creio eu, assisti a um filme que me impressionou imensamente: O homem que não vendeu sua alma.

Naquela época, é bom que se diga, a televisão brasileira propiciava acesso a alguma cultura através de sua programação cinematográfica…

Pois bem, aquele filme narrava parte da vida de um personagem a quem passei a admirar desde então: Thomas More.

O que dizer de Sir Thomas? Advogado, diplomata, homem de Estado, lorde, chanceler da Inglaterra sob o reinado de Henrique VIII. Grande humanista, escritor, autor de vários livros, entre eles, uma das mais importantes obras literárias de todos os tempos, Utopia. Católico fervoroso, foi canonizado santo pela Igreja Católica em 1935, é patrono e padroeiro dos políticos e governantes (quem dera que a maioria de nós honrasse nosso padroeiro!). Decapitado por ordem de seu amigo, o rei Henrique, por recusar-se a jurar obediência ao ato de supremacia que criava a Igreja Anglicana separando os católicos ingleses do papa e de Roma, transformando seu rei em chefe da nova religião.

More é uma personalidade fascinante, ainda mais para um adolescente que, através de um magnífico filme histórico, passava a conhecer sua história de coragem, nobreza, justiça e honra.

A partir dali, eu quis muito ter aquelas qualidades que vi estampadas naquele personagem apaixonante, um homem a quem foi oferecida muita coisa, e em troca foi pedido um simples juramento, que bem poderia ser falso. Mas ele não cedeu.

Através daquele filme, a televisão estava indiretamente ajudando a forjar meu caráter, soprado pelo fole de uma família equilibrada e correta.

A teatralização de pequena parte da vida de um personagem tão ilustre fez com que o adolescente Joaquim viesse a ler Utopia, livro de difícil entendimento para um garoto inquieto. Esse fato me obrigou a lê-lo novamente mais tarde, quando eu já tinha adquirido mais sossego e algum suporte cultural capaz de me fazer entender de que tratava todo aquele louco sonho. Até hoje, não sei ao certo qual o significado mais preciso para a palavra utopia (etimologicamente não lugar), se sonho, algo ideal ou se loucura, no sentido de coisa impossível.

Recentemente voltei a me encontrar com Sir Thomas e com seu livro, desta vez em audiobook, ouvido no carro, em capítulos do tamanho dos meus trajetos, com direito a voltar para não perder o fio da meada.

Desde o dia em que vi aquele filme, passando pela minha dolorida primeira leitura de Utopia, pela esclarecedora segunda lida, até a mais recente, fui conhecendo mais e mais o autor da obra, o humanista, e dediquei alguns instantes a pesquisar mais sobre ele e seu tempo.

Nesse intento, há uns 20 anos, descobri coisas horríveis. O meu ídolo era menos inteligente, menos coerente, menos honrado e menos nobre do que eu imaginava. Continuava sendo corajoso e justo, até porque coragem não depende de ponto de vista, enquanto senso de justiça só se pode analisar do ponto de vista do personagem.

Minhas pesquisas comprovaram que More foi diretamente responsável pela morte de vários homens considerados por ele, e pelos seus iguais, como hereges. Fiquei ultrajado.

Ainda bem que só vim saber mais sobre Thomas More quando já tinha maturidade e poderia entender todas as circunstâncias que envolviam os fatos concernentes a ele.

A perseguição às pessoas que pensam diferentemente de nós é um dos maiores e piores crimes que pode haver contra a humanidade. É a derrubada do principal pilar dessa mesma humanidade: o direito de pensar o que se quiser, como se quiser. É a destruição do livre-arbítrio, aquilo que, segundo os teólogos, nos liga a Deus e dele nos distingue.

Como poderia um homem de Deus, tão justo, nobre e honrado, ser tão covarde e negar a seus semelhantes o direito de ser, dom que o mesmo Deus, que ele tanto amava, lhes deu?

Total incoerência, só é possível em mentes que praticam a religião com fanatismo. Como meu ídolo humanista poderia ser um fanático religioso, assassino de pessoas que não pensavam como ele?

Mais recentemente fiz meu próprio julgamento de Thomas More. Excomunguei-o com os poderes a mim delegados pelo Pai todo-poderoso, no qual ele acreditava mais do que eu creio. Rebaixei-o à condição de homem comum, passível de erros comuns e o bani de minha lista de heróis.

No entanto não posso desconhecer que ele, com seu livro Utopia, nos fez, e faz acreditar que é possível almejar um lugar e um tempo melhores.

Sir Thomas More pode não ter vendido sua alma a Henrique VIII, mas a vendeu para uma equivocada crença da Igreja Católica, a mesma que quase matou Galileu e que jamais poderia ter patrocinado a perseguição àqueles que professavam outra fé, ou mesmo outras doutrinas da mesma fé.

Ontem sonhei com Thomas More. Ele usava o mesmo colar dourado do filme, a mesma roupa escura e o mesmo chapéu engraçado. Ele estava em pé em um jardim, num lugar alto, de onde se via uma linda praia. Parecia ser a ilha Utopia, nome que significa não lugar, habitada pelos aleopolitas, cidadãos sem cidade e governada por Admeus, príncipe sem povo.

Ele sorriu para mim e então eu acordei.

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Aparas do tempo

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Meu método de criação literária é um tanto exaustivo. Quando tenho vontade de abordar um assunto, o coloco no papel e volto a ele quantas vezes forem necessárias para que as ideias utilizadas nele quase se transformem em granito, onde eu possa exercitar uma técnica literária bem parecida com a da escultura. É como se ao invés de escritor, me transformasse em um escultor de ideias, usando palavra, frase e sentença como fossem martelo, cinzel e lixa, com as quais construísse minha obra.

Recentemente notei que, ao contrário de antes, meus textos tem ficado maior que o normal e descobri que deve ser efeito colateral de minha abstinência de tribuna. Meno male! Que me faltem tribunas formais e que as informais se proliferem.

A seguir vou relacionar três trechos que fui obrigado a retirar de crônicas recentes, ou por falta de espaço ou por opção de abordagem, mas que acredito que devam ser publicadas aqui até como sugestão de pautas, para mim e para você.

1 – Do texto sobre Haroldo Tavares:

Acho que estou perdendo a mão!

Antes, meus textos fervilhavam dentro de mim e pulavam pra fora com arroubo e volúpia tão fortes, que com seu calor, faziam a tinta das canetas se fixarem no papel.

Agora, eu claudico “catando milho” em um notebook que teima em não aceitar alguns pensamentos e sentimentos meus. Teima ainda mais em não aceitar algumas das formas com as quais tento exprimi-los.

Nesses anos todos tenho falado de muita coisa. Já até tentei escrever menos, mas alguns assuntos se impõem contra minha vontade e minha necessidade de resguardo.

Vinte anos atrás falei da morte de meu pai, no calor da hora. Depois, comentei sobre política, cinema, sobre as relações das pessoas, sobre filosofia, sobre o dia a dia, e até sobre a lembrança do cheiro do pão de minha infância. Hoje vejo que tudo isso, que escrever, para mim, nada mais é do que a feitura do diário de minha humilde existência. Falando dessas coisas, falo essencialmente de mim de minhas circunstancias e de suas consequências.

O artista é um egoísta. O pintor se pinta, o cineasta se filma e o escritor se escreve. Ou pelo menos eles tentam.

Hoje vou tentar ser menos egoísta e vou falar de…

2 – Do texto sobre a reforma política:

A função de gestor público é bem parecida com a de pai e mãe. Não que eles devam ser paternalistas, isso não. Refiro-me ao fato de que aqueles que dependem dos pais, ou seja, os filhos, em primeiro lugar, antes de amá-los, devem respeitá-los. Esse respeito gera a confiança que os filhos precisam para seguir os pais, criando assim uma forte relação onde um e outro se sentem parte de um mesmo grupo, sentem uma interdependência que se transforma em uma força quase insuperável, capaz de suplantar muitas dificuldades. Assim deveria ser a relação entre o povo e seu mandatário.

Quando isso acontecer, e não vou dizer que isso é fácil, mas não é impossível, teremos um sistema político menos imperfeito.

Quando um pai perde o respeito do filho a família está condenada à ruptura.

Quando o mandatário perde o respeito de seu mandante, ele tem que ser substituído. Isso, numa democracia, se faz é na eleição subsequente. Qualquer outra forma de agir estará indo de encontro com a nossa carta constitucional que…

3 – Do texto sobre as manifestações que ocorrem pelo Brasil afora:

Um provérbio antigo originário de diversas culturas diz que só se costuma fechar a porta depois que a casa é assaltada.

É isso que está acontecendo em nosso país. Todos sabiam que era preciso tomar providências efetivas, eficientes e eficazes em vários setores, mas precisou que o povo se revoltasse e fosse para as ruas para que os governantes tentassem fazer alguma coisa.

Quem não sabe que as ações de saúde executadas pelos governos, nos três níveis da administração pública, não se efetivam, são ineficientes e ineficazes? Quem não sabe que o mesmo ocorre na educação, na segurança, no saneamento básico, no transporte…

Essa realidade é amplamente conhecida e o que se tem feito para resolver tudo isso? Temos tomado algumas medidas paliativas e localizadas, inventamos ações com nomes bonitos e atalhamos na tentativa de conter a maior parcela da população instituindo “Bolsas”.

Depois da redemocratização do país, a grande mídia elegeu um presidente da República e em seguida tratou de derrubá-lo. A Globo e as outras redes de televisão, na ida e na volta, manipularam a população.

Primeiro, deram ressonância ao discurso do candidato das Alagoas fazendo guerra contra os marajás e direcionaram os anseios por tempos melhores dando-lhe a cara de um político jovem, bem apessoado, escondendo o que sabiam há tempos que se tratava de um homem descontrolado.

Depois, na hora de destituí-lo, usaram sem cerimônia a mesma técnica utilizada para elevá-lo, sempre respaldados na massa, sempre facilmente manipulável.

Ora, se a massa é facilmente manipulável quando a mídia quer, imagine o quanto essa mesma massa terá de poder quando der a essa mídia motivos para repercutir uma verdadeira e genuína revolta. Não sei se podemos chamar de círculo vicioso ou virtuoso, onde quem protesta usa quem comunica e quem comunica o protesto usa os protestantes.

Mas essa é apenas uma ínfima parte do problema. Do problemão que hoje…

 

PS: Tempos atrás já havia observado esse fenômeno “esculturista” acontecer comigo e naquela época cometi um pensamento em forma de poesia que bem exemplifica esse fato: Quando se tira mais do que se põe, o poema vira escultura.

 

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Projeto HOLT

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Hoje quero falar de um gênio na mais pura concepção da palavra: Haroldo Olympio Lisboa Tavares.

Mas não vou me deter falando de sua doce mãe nem de seu importante pai, mesmo tendo ele também sido, algumas décadas antes do filho, prefeito de São Luís.

Não me deterei falando de seu cunhado, Pedro Neiva de Santana, também prefeito da capital e governador do Estado do Maranhão. Não comentarei sobre sua irmã nem sobre seu sobrinho que também tiveram sua importância em nossa história

Quero falar menos do jovem engenheiro que tendo se formado fora, veio ser aos trinta e três anos, em 1966, no governo de José Sarney, Secretário de Viação e Obras Públicas. Nem vou lhe contar que ele foi chegando e foi logo criando moda. É que aqui não havia escola de engenharia e ele se achou na obrigação de criar uma, já que as obras que o Maranhão iria precisar para sair do século XIX não poderiam ser feitas apenas por mestres de obras, por melhores que eles fossem.

Esse mesmo jovem que em apenas quatro anos comandou a construção do Porto do Itaqui, das pontes do São Francisco e do Caratatíua, da Barragem do Bacanga. Que saneou, urbanizou e implantou bairros como o Anjo da Guarda, a Areinha, o São Francisco e a Ponta D’areia. Que iniciou a construção dos muitos Conjuntos Habitacionais de nossa cidade. Que pavimentou a rodovia São Luis-Terezina e que construiu a São Luís-Açailandia, ajudou a transformar o Maranhão.

Não vou me deter aqui falando do sujeitoque para uns era visionário, para outros, sonhador, para outros ainda, era um louco. Vou simplesmente dizer a você que me lê agora e não conheceu Haroldo, que não sabe o que ele fez, que ele era tudo isso, em maior ou menor quantidade e intensidade, mas digo também que ele era, apesar disso tudo, um pragmático que preferia sempre a obra civil à obra de arte. Ou seja, preferia o aterro e a barragem ao invés da ponte ou do viaduto, pois acreditava em soluções simples, naturais e mais baratas.

Será impossível não falar aqui que aos trinta e nove anos ele assumiu a prefeitura de São Luís e a frente dela realizou obras tão importantes que se não fossem elas, o caos em que nos encontramos hoje seria muito maior e pior.

Nem vou lhes dizer que ele, anos antes de se tornar realidade, aventou a possibilidade da construção da Estrada de Ferro Norte-Sul, que deveria ficar quase no mesmo paralelo em que portugueses e espanhóis dividiram o Brasil quinhentos anos antes, fazendo com que as riquezas do centro-oeste brasileiro e do sul do Maranhão ganhassem o mundo pelo Porto de Itaqui, que ele, por ordem de Sarney, construiu para nós.

Chamá-lo de doido passou a ser uma prática corriqueira na cidade. É que as pessoas não estavam acostumadas com alguém que pensasse para frente, que fizesse agora o que precisaríamos amanhã, até mesmo porque o hoje já estava comprometido.

Diziam que Haroldo rasgava avenidas que ligavam nada a lugar algum. Sem essas obras, hoje não teríamos avenidas como Franceses, Holandeses, Africanos, Guajajaras, artérias pelas quais escorrem as nossas vidas.

Durante o tempo em que Haroldo Tavares esteve à frente da Prefeitura de São Luís ele não cuidou apenas da construção de obras físicas. Preocupou-se também com a valorização de nossa arte, nossa tradição, nosso patrimônio histórico e arquitetônico. Fez exposições de obras dos nossos pintores e escultores, festivais de música popular, apoiou as manifestações folclóricas, gravou discos de diversos sotaques de bumba boi, criou as festas da juçara e da mandioca, escolinhas de artes e esportes, e criou um cinturão viário em volta do centro histórico, protegendo nosso casario.

Uma vez perguntaram para Haroldo qual seria, em sua opinião, a obra mais importante que ele realizou. Todos pensaram que ele iria dizer ser o porto, a barragem, a ponte ou o anel viário, ele saiu com uma conversa de que era a obra de contenção da Lagoa da Jansen, uma obra menor, menos importante. Ele disse isso simplesmente pelo fato dela não ter custado quase nada e ter sido feita em um final de semana.

Quero falar de outro Haroldo Tavares. Quero falar do marido de Vera, moça bonita e rica que roubou seu coração. De Márcia, de Cristina, de Adriana, de Valéria e de Jaime, filhos que tiveram a sorte de ter um pai que conhecia, como poucos em nossa terra, a história, as artes, a filosofia e que puderam na convivência com ele desfrutar de seu oásis.

Gostaria de falar de sua paixão pela música, pela obra do seu compositor favorito, a quem ele chamava carinhosamente de “João Sebastião Bar”, da prática do violino que abandonou há muitos anos.

Devo falar do empreendedor, do industrial, do construtor de tratores anfíbios, de bugres, de barcos de pesca e de catamarãs de luxo.

Preciso falar do Haroldo que tinha fé, que acreditava na existência de uma força maior, mas que desprezava todas as formas de escravização do homem através da religião.

Durante o tempo em que convivi com a família Martins Tavares, enquanto namorei Cristina, pude conhecer e aprendi a admirar não apenas o ex-prefeito, o ex-secretário, mas o homem, a pessoa de Haroldo Tavares. Genial maluco beleza. Visionário, irônico e pragmático.

Sarney acertou em cheio ao convidar Haroldo para ser seu secretário em 66, mas errou redondamente em ter escolhido outro engenheiro para ser seu menino de ouro. Sarney sabia que por trás da loucura de Haroldo havia sua clara genialidade, coisa que pouco combina com a função política formal. Ele então optou por um burocrata medíocre que ao invés de ter ideias geniais, dizia amém a tudo que seu mestre mandava, até que, taludo, abandonou o velho mestre.

Até hoje eu acreditava que o rompimento entre Sarney e Pedro Neiva havia sido uma tolice. Coisa da política. Agora vejo que foi muito mais que isso, que se não tivesse acontecido o rompimento entre eles, talvez os amigos de Haroldo tivessem conseguido concretizar o projeto HOLT que consistia em transformar Haroldo Olympio Lisboa Tavares em um verdadeiro político e quem sabe fazê-lo governador do Maranhão.

Conhecendo Haroldo, sabendo como ele pensava e agia, seria praticamente impossível fazer com que ele jogasse o jogo da política como deveria ser jogado.

Pessoas como Haroldo não morrem. Vão em uma viagem sem volta, mas deixam para nós sua maravilhosa obra e sua eterna lembrança.

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Sobre a Reforma Política

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Já faz bastante tempo que muita gente boa vem dizendo que precisávamos urgentemente de uma reforma política. Ela, entre outras coisas, nos garantiria mais segurança e legitimidade no que diz respeito ao sistema de escolha e de regulação de nossa representação parlamentar e executiva.

Fico feliz de ter sido um dos primeiros a levantar essa bandeira e mais ainda por vê-la agora desfraldada por muitos daqueles que quando eu conclamava a todos para essa empreitada, se faziam de surdos.

Agora quase todos concordam que precisamos redefinir os parâmetros políticos de nosso país. Para isso temos que discutir e pautar uma extensa e complexa agenda.

Qual deve ser o perfil de nossos mandatários? Qual deve ser a importância dos partidos políticos nesse sistema? Pode haver candidatos avulsos? Qual deve ser o tipo de financiamento das campanhas eleitorais? Qual é o tipo de governo queremos? Quais responsabilidades devem ter aqueles que forem nos dirigir? Qual o tempo de duração dos mandatos? O voto deve ser facultativo? Devemos fazer eleições gerais, fazendo com que haja coincidência entre os mandatos de prefeitos, governadores, presidente, senadores, deputados e vereadores? Deve haver reeleição para cargos majoritários? Os senadores suplentes devem ser os segundos e terceiros colocados nas eleições, ou devemos, para efeito de substituição destes cargos, obedecermos à chapa partidária?

São muitas questões. Muitas, delicadas e complicadas. Acredito que ao Congresso que ai está não se deva dar a tarefa de emendar nossa Constituição. Devemos eleger um novo Congresso ordinário e dar-lhe incumbência para tanto.

Mesmo não sendo uma Assembleia Nacional Constituinte o próximo Congresso Nacional deverá ser formado por parlamentares que tenham o pensamento num patamar mais elevado, que sejam donos de uma visão mais abrangente e de uma consciência comprometida com a cidadania.

O mais grave nessa história toda é querer-se fazer reforma de qualquer coisa através de plebiscito. Este dispositivo deve ser usado pontual e topicamente. Em um plebiscito não pode haver mais de duas ou no máximo três perguntas e ainda assim que elas sejam totalmente conexas, sob pena de se perder a segurança e a objetividade.

Você acredita que a população brasileira seria capaz de responder de forma verdadeira em um plebiscito, com o mínimo de conhecimento das causas e de seus efeitos, sem sofrer coação irresistível por parte da mídia, dos partidos, dos grupos de pressão, das redes sociais, às perguntas que constam no quarto parágrafo deste texto? Você sabe sobre todos os assuntos constantes daquele parágrafo? Se você sente alguma dificuldade para entender o que está contido ali, como você acha que se sentirá o eleitor médio brasileiro quando essas perguntas forem feitas para ele, colocando diretamente sobre os ombros dele, a responsabilidade da decisão de uma coisa que ele não conhece nem entende?

Um político com mandato ou que estivesse almejando um, jamais diria o que acabo de dizer. Isso seria suicídio político e eleitoral. Como não sou candidato a nada e como ocupei cargos no Legislativo por muitos anos, sei do que estou falando e falo mais. São poucos, mesmo dentre vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores, governadores, e até a presidente, que sabem sobre essas coisas de maneira clara. Imagine o eleitor médio, o caboclo do meu Pindaré ou do meu São Domingos!? Eles estão mais preocupados é com o dia a dia. Eles não têm tempo para essas coisas. Depositam suas esperanças em homens de sua confiança e os mandam para Brasília para representá-los. E é isso mesmo que eles devem fazer. Escolher bem seus representantes, com critérios sérios, sem venalidade.

Você acredita que esses manifestantes pacíficos que pedem por melhorias pelas ruas de nossas cidades, sabem realmente o que é isso? Eles sabem é que tem muita coisa errada, que a corrupção campeia, que não há saúde, que a educação é fraca, que o preço do transporte público é impagável.

E os vândalos? Você acha que eles sabem algo sobre isso? Será que eles estão pelo menos interessados em saber?

Por favor, não vamos usar os anseios de nossa boa gente, de nosso povo valoroso, contra eles mesmos.

Ano que vem, além de ser ano de Copa do Mundo, será também tempo de se eleger uma nova bancada para o Congresso Nacional. A nossa Constituição prevê que ele, o CN, pode alterar seus dispositivos desde que sejam obedecidas as precauções nela previstas: três quintos de votos favoráveis em duas votações consecutivas na Câmara dos Deputados e depois no Senado Federal.

Fazendo isso teremos a vantagem de sabermos antecipadamente que vamos eleger um Congresso que irá fazer mudanças importantes para nossas vidas, e por isso mesmo, poderemos procurar escolher melhor os nossos representantes do que normalmente temos feito ultimamente.

Os que agora estão apressados em fazer alguma coisa para agradar a massa, podem cometer um erro tremendo querendo reformar a CF antes de 3 de outubro de 2013, em um prazo de menos de 120 dias. Esse tempo é insuficiente para isso. E como todos sabem, a pressa é inimiga da perfeição.

Os gritos das ruas não vão mudar só porque resolveram fazer uma reforma que já podia ter sido feita há muito tempo. Ruim será fazermos uma emenda pior que o soneto, usando de um lado o medo e de outro a pressão como desculpa para encobrir nossos erros e fugirmos de nossas responsabilidades.

São muitas as coisas sobre as quais devemos nos aprofundar para que possamos realizar uma reforma política tão boa, que se passem muitos anos até que os avanços da sociedade nos exija uma outra.

Uma coisa é certa. Esse negócio de plebiscito é conversa pra boi dormir. Vivemos em uma democracia representativa. O povo tem que eleger seus representantes e estes devem resolver por eles qual o melhor caminho para se seguir. Fazer diferente disso é golpe contra o sistema constitucional e democrático que está em vigor em nosso país desde 1988. O mesmo sistema que elegeu e cassou Collor e que fez Itamar Franco substituí-lo; o sistema que elegeu duas vezes Fernando Henrique Cardoso e levou para o governo Sergio Mota e os seus; o mesmo sistema que criou o Plano Real e colocou a inflação sob controle, fazendo com que o Brasil figurasse entre as grandes economias do mundo; o mesmo sistema que elegeu duas vezes Lula e implantou as “Bolsas”; o mesmo que elegeu Dilma, a primeira mulher a nos governar.

O problema não está no sistema democrático, republicano e constitucional vigente. O problema é de controle, de afinação, de detalhes.

Não me venham mexer onde não devem. Façam o que tem que ser feito e nada além disso. E façam isso da forma correta, pois de nada irá adiantar fazer o certo da forma errada. É indispensável que o certo seja feito da forma correta. É isso que garante a sua legitimidade.

Não me matem a vaca mocha na intenção de acabar com a praga de carrapato!

 

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Matéria vencida, mas Importante

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Antes que a Câmara dos Deputados rejeitasse a PEC 37 eu estava escrevendo um artigo sobre esse assunto. Em grande parte ele ficou prejudicado, pois matéria vencida se arquiva. No entanto, ainda acredito que algumas considerações devam ser feitas a esse respeito.

Depois da queda do aumento das tarifas de transporte, a rejeição dessa PEC passou a ser o alvo prioritário das manifestações que tomaram conta do Brasil.

Minha sobrinha Pillar, de 12 anos é um desses jovens que se posicionaram contra a PEC 37.

Eu gostaria muito de saber se Pillar, assim como aqueles que se posicionaram contra, sabiam realmente do que se tratava. Gostaria de questionar o entendimento deles sobre esse assunto, não apenas sobre a notícia dele, pois ela, do ponto de vista jornalístico, na maioria dos casos, foi apresentada de forma falaciosa e ganhou a antipatia de quase toda gente.

Quem ouvisse falar de uma lei feita no intuito de proibir que se investigassem políticos e gestores públicos, uma lei que impediria o MP de processar e prender corruptos, enfraquecendo assim a democracia, quem tem essa informação como sendo verdadeira, é lógico que iria se posicionar totalmente contra essa lei.

Pois bem, vamos aos fatos.

A PEC 37 pretendia definir como competência “privativa” das polícias federal e civil as investigações criminais ao acrescentar um parágrafo ao artigo 144 da Constituição. A legislação constitucional brasileira já confere à polícia a tarefa de realizar investigações criminais, mas não atribui a ela exclusividade na realização dessa ação.

Outra verdade importante sobre este assunto, que quase ninguém quis abordar, é que dentre as atribuições constitucionais do Ministério Público não se encontrava antes e ainda não se encontra agora, a de oficialmente investigar crimes. Para saber disso basta ler os artigos 127, 128, 129 e 130 da Constituição Federal que tratam do MP.

A rejeição da PEC 37, por si só, não resolverá esse vácuo legislativo. Para que isso ocorra é preciso que outra PEC, nesse sentido, seja aprovada pelo Congresso Nacional, ou, que o STF supra essa lacuna da legislação, o que em minha modesta opinião seria uma ofensa aos preceitos constitucionais, já que legislar é função do Congresso Nacional.

Foram apresentadas nos últimos anos algumas propostas de emendas à Constituição Federal na tentativa de incluir nela as investigações criminais como sendo prerrogativa do Ministério Público. O CN rejeitou todas se respaldando no preceito de que era necessário e indispensável que se preservasse o equilíbrio do sistema de persecução criminal brasileiro, que se funda na separação de atribuições entre órgão investigador, acusador, defensor e julgador.

Os constituintes de 1988 estabeleceram com clareza quem deveria ter a prerrogativa da investigação criminal. A polícia. Quando eles foram estabelecer as incumbências do Ministério Público, não relacionaram entre elas a execução dessa atividade, talvez porque pensassem que essa atribuição conflitaria com sua função maior, a de fiscal da lei.

Caso se queira mudar essa realidade, incluindo como prerrogativa do Ministério Público a investigação criminal, isso tem de ser feito através de PEC, coisa que hoje tenho certeza não será difícil, pois quem votou contra a 37 certamente aprovará agora uma em favor do MP.

Só resta perguntarmos: por que o Congresso Nacional não fez isso antes, já que quase a unanimidade dos deputados demonstrou concordar com a tese de que o MP deve proceder a investigações de crimes de todas as naturezas.

Em resumo, o que havia até a rejeição da PEC 37 eram duas classes disputando uma mesma atribuição, a de investigar crimes judiciariamente. Venceu a que soube melhor se posicionar em relação à opinião pública.

Para isso, como bandeira contra a PEC 37, seus adversários usaram exaustivamente o mote da guerra contra a impunidade. Fizeram parecer que o Ministério Público só seria proibido de executar investigações criminais de corrupção, crimes praticados por políticos, funcionários públicos e empresários, quando na verdade essa proibição se estenderia a todos os tipos de investigação criminal. De roubo de galinha a jogo do bicho; de tráfico de drogas a assalto a banco; de assassinato a prostituição. Mas ninguém falou nisso. Repudiaram a PEC 37 como sendo um instrumento a serviço da impunidade, como se com a aprovação dela nunca mais fosse haver uma investigação contra políticos corruptos. O que é pior, passaram subliminarmente a sensação de que a sua rejeição iria acabar, como num passe de mágica, com a corrupção ou pelo menos teríamos a garantia de que todos os corruptos seriam presos.

O Ministério Público é uma instituição importantíssima. Tem ações nos mais diversos âmbitos. Existem procuradorias relacionadas ao meio ambiente, à saúde, à educação, às minorias… O MP atua nas Varas Criminais e Cíveis da justiça comum e especializada, e sua função é indispensável ao bom funcionamento do sistema judiciário brasileiro. Seria um desserviço ao país querer enfraquecê-lo ou podá-lo, mas por outro lado, desconhecer o que preceitua a Constituição Federal, é um desserviço ainda maior.

Quando a Câmara dos Deputados rejeitou a PEC 37 ouviu menos as vozes das ruas e sentiu mais as pedradas daqueles que mesmo não sabendo direito porque protestam, sabem que muita coisa está errada em nosso país.

Uma dessas coisas é o fato de que o STF tem legislado “mais” que o Congresso, fato que é culpa exclusiva da falta de ação efetiva, eficiente e eficaz do Poder Legislativo que tem deixado muito a desejar na execução de suas funções constitucionais.

Para mim é indiferente sobre quem recai a função da investigação criminal. O essencial é o respeito irrestrito às leis estabelecidas no país, principalmente à Constituição. Nesse caso específico só temo pelo desequilíbrio do sistema judiciário brasileiro.

Quem for contrário a uma determinada lei, que a mude da maneira correta. Quem almeja melhorias na educação, na saúde, na segurança, que eleja representantes no Legislativo e no Executivo que façam as mudanças desejadas.

Parem de eleger os Tiriricas da vida e seus assemelhados. Acredito que está mais do que provado que pior do que está sempre pode ficar!

Que venha logo a reforma política, a reforma do Judiciário, a reforma fiscal e tributária. Com elas poderemos consolidar ainda mais a democracia brasileira. Mas que venham da forma correta! Por favor! Não me venham inventar moda!… Bem, mas isso é tema para uma outra conversa.

 

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Primavera Sem Flores, Mas Com Frutos.

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O texto a seguir é resultado de meia dúzia de tentativas que tenho feito desde a última terça-feira (17/6/13) de escrever alguma coisa sobre essa serie de manifestações que vem acontecendo pelo Brasil afora.

Estando insatisfeito com os textos anteriores, resolvi descartá-los e começar este que, juro, será o último.

Descartei a primeira crônica que escrevi por achá-la simplista; outra por reputá-la preconceituosa; uma outra por ter nela sido radical, extremista; a quarta por tê-la aprofundado demais ao ponto de vê-la quase transformada em um ensaio sobre as reações populares, suas causas e consequências. A anterior à atual por ser o resultado infrutífero da exaustiva tentativa de definir o que realmente está acontecendo, de tentar saber o que realmente desejam os manifestantes. Eu não sei e creio que em sã consciência, quase a totalidade deles também não.

Como cronista, político ou simplesmente como cidadão não posso deixar de participar deste debate que foi proposto inicialmente por um grupo de jovens paulistanos, líderes de um pequeno movimento que luta para implantar um sistema gratuito de mobilidade urbana.

Tenho que dizer algo a respeito de tudo isso, afinal de contas esta é uma das características mais marcantes desse movimento. A necessidade que as pessoas estão sentindo de participar, de dizer sobre algumas de suas insatisfações, de protestar contra qualquer coisa, de postar nas redes sociais suas opiniões, algumas delas absurdas, verdadeiros despautérios, ou simplesmente repercutir as opiniões de alguém que nem sempre são pessoas que deveríamos seguir, nem mesmo virtualmente.

 Eu tenho que fazer parte disso de alguma maneira, e como não vou para as ruas, o farei daqui, dessa privilegiada tribuna, longe das balas de borracha e dos sprays de pimenta. Impregnado pelo mesmo espírito de brasilidade, de nacionalismo e de cidadania, mas tendo estes sentimentos completamente harmonizados com a realidade e a lógica dos fatos, patamar que muitos desses jovens só atingirão daqui a algum tempo.

Cerro fileiras do lado bom desse movimento e repudio peremptoriamente os atos de violência e vandalismo de uma minoria imbecil que quase desqualifica e invalida tudo o que está acontecendo.

Você que me lê agora pode esperar que mais adiante, antropólogos, sociólogos, psicólogos, cientistas políticos e jornalistas aparecerão com explicações acadêmicas complicadas para esse fenômeno que estremeceu as cidades brasileiras, principalmente as capitais, notadamente as maiores, sendo São Paulo o epicentro deste cismo.

Estou pasmo com a falta de preparo dos governantes para tratar com esse tipo de evento. Isso é um absurdo!

Parte do povo deste país cujo hino o diz “deitado eternamente em berço esplendido” é na verdade um bando de sonâmbulos que ingenuamente pensam estar acordados. Na última semana esse povo tem sido dirigido por um grupo de jovens idealistas que se tornaram vítimas de vândalos que invadiram seu sonho transformando-o em um pesadelo midiático.

São Paulo, assim como muitas outras cidades brasileiras, aumentou em vinte centavos de real os preços das passagens de ônibus. Esse teria sido o estopim dos protestos. Por isso a multidão saiu às ruas.

Vários dias após o inicio dos protestos, alguns dos líderes desse movimento sem cabeça disseram que se a prefeitura de São Paulo revogasse o aumento todos voltariam para casa. Pobres tolos, eles não sabem que arrombaram uma porta e que dela deixaram escapar um animal incontrolável. Um homem que busca uma causa pela qual lutar. Eles não imaginam o que começaram e o que é pior, não tem noção das consequências que podem advir disso.

O advento das redes sociais, neste caso serviu como fio condutor de tudo o que está acontecendo. Foram elas que serviram de assembleias para conclamar os manifestantes a comparecer aos eventos.

Lendo o que as pessoas postam em suas páginas, nos jornais de suas vidas, se vê, com total impotência, do que é capaz a massa, que como já pudemos observar no decorrer da história, é incontrolável. Assim foi quando tinha a sua frente grandes líderes e o é ainda agora com muito mais desenvoltura quando tem à sua frente a idealista e simpática garçonete e estudante de geografia da USP, Mayara Vivian.

É incrível que uma manifestação como essa corra a cidade, se espalhe pelo estado, invada o país de maneira tão incontrolável.

Repentinamente os protestos ampliaram e multiplicaram os seus focos. Passaram a ser contra os investimentos para a Copa do Mundo, contra a corrupção, contra a impunidade, contra a PEC 37, contra a cura gay, contra as bolsas do governo federal, em favor de maiores e melhores investimentos em educação, saúde, segurança pública, por uma reforma agrária imediata, e muitas outras coisas.

Aí, então, ficou fácil. Com isso o movimento agregou pessoas que jamais iriam para as ruas derramar lixeiras, quebrar vidraças e incendiar veículos. Entre essas pessoas posso incluir minha mãe, minha mulher e minha sobrinha de 12 anos.

Minha mãe é uma manifestante distante em favor de maiores investimentos em saúde, educação e segurança. Minha mulher se indigna com a corrupção e a impunidade. Minha sobrinha é contra os gastos com a Copa, a cura gay, a PEC 37, que na verdade ela assim como a maioria das pessoas não sabe o que é.

Eu também sou a favor de muitas dessas coisas e contra outro tanto delas, mas não apoio o tipo de manifestação, onde o manifestante busca aquilo que pensa ser seu direito destruindo o direito de outras pessoas. Evoca a democracia para em seguida assassiná-la em nome dos direitos que essa mesma democracia lhe garante.

Não me venham gritar que “violência não”, por parte da polícia, se muitos manifestantes não se controlam e usam de violência em um ato que se fosse pacífico seria perfeito, demonstraríamos amadurecimento cívico, republicano e democrático. Mas ainda é tempo.

Depois de ver várias agressões sofridas por jornalistas, saques, depredações e ações de vandalismo, depois de ver que um protesto verdadeiro, legítimo e pacífico foi infiltrado por radicais arruaceiros, violentos e até por alguns bandidos, acredito que ele possa até ter algumas conquistas, mas terá falhado fragorosamente na sua intenção de protestar pacificamente.

Repito: a participação de uma minoria violenta e vândala descaracteriza e descredencia esse movimento.

A Primavera Brasileira, no final, pode ficar sem flores, mas talvez já tenha dado frutos.

 

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Pra não dizer que não falei dos espinhos

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Já que ninguém quer se reunir para conversar sobre o que pode, e o que de uma forma ou de outra vai acontecer nos próximos meses na política maranhense, só resta a mim que sou como diz minha querida mãe Teté, “impertinente”, tentar suscitar aqui mais uma vez essa conversa, assim, um tanto que na marra, como já o fiz antes e em pouco eco resultou.

Nunca antes na história desse grupo político, o futuro dependeu de tantos eventos intrincados, complicados e delicados. É bem verdade que uma grande quantidade de sorte, aliada a um imenso volume de poder, exercido por quadros competentes e motivados, fazia com que as situações difíceis fossem facilmente solucionadas ou pelo menos atenuadas.

Agora as coisas parecem estar um pouco diferente, e não era pra menos. O tempo passa, as estruturas se desgastam, o elã enfraquece, laços se afrouxam, pessoas naturalmente se distanciam… É assim na vida, de um modo geral, nas famílias, nos casamentos, porque seria diferente na política?

Pois bem, no que diz respeito à próxima eleição para governador, tudo leva a crer que o candidato do grupo Sarney seja mesmo o secretário de infraestrutura Luis Fernando Silva.

Estabelecido isso, resta saber se a governadora Roseana completará a chapa majoritária sendo candidata ao Senado. Tendo uma eleição garantida seria tolice não concorrer.

Em seu lugar deveria assumir o vice, mas tudo indica que ele deverá ser nomeado para o Tribunal de Contas do Estado em vaga que se abrirá no final desse ano.

O cargo de governador, interinamente, por 30 dias, passará então às mãos do presidente da Assembleia Legislativa. Nesse prazo o primeiro vice-presidente da ALM, tendo assumido a presidência, convoca eleição indireta para escolha daquele que for governar o nosso Estado até 31 de dezembro de 2014.

Lógico seria o ocupante interino do governo, o presidente da ALM, deputado Arnaldo Melo, ser eleito governador substituto.

Essa é uma coisa que ainda pode acontecer, porém o que deve ser observado é que o que está em jogo aqui é muito mais que nove meses de mandato de governador. O que está em jogo é a continuidade da hegemonia política desse imenso grupo, que de tão grande e diverso, muitas vezes parece ser vários e não um.

Esse gigantismo causa distorções curiosas, como, por exemplo, o fato de algumas diferenças internas serem bem maiores que as eventuais discordâncias com outros grupos políticos.

Mas voltemos ao que mais interessa!

Será que alguém pode fazer mais pela eleição de Luis Fernando que o próprio Luis Fernando? A resposta é fácil! Não. É lógico que não. Logo quem deve ser eleito para completar o mandato de governador quando da renúncia de Roseana é o próprio candidato, no caso, Luis Fernando.

Agora vem um pequeno problema para o qual pouca gente está atentando. Acontece que se isso ocorrer dentro dos prazos normais, Arnaldo Melo será extremamente prejudicado, pois será atingido pela lei eleitoral no que diz respeito ao prazo vedado de desincompatibilização para concorrer a cargo eletivo.

Quem estiver no exercício de Governo do Estado de 4 de abril de 2014 em diante, só poderá concorrer no pleito daquele ano aos cargos de governador ou de presidente da Republica.

Para alguns pode parecer uma situação insolúvel, mas há uma forma simples de resolver esse imbróglio. Basta que tudo isso, todos os atos citados acima, da renúncia da governadora, passando pela eleição do governador interino até a posse do governador substituto, aconteça antes de 4 de abril de 2014.

Visto assim parece estar tudo certo. Como diria Garrincha, só precisamos “combinar com os russos”.

Há, no entanto, um problema ainda maior e mais grave. O PT!!! A aliança do PMDB com o PT é primordial para nossa vitória eleitoral.

O PT fará eleições internas no final de 2013. Os vencedores dessa eleição decidem com quem o partido marchará em 2014.

Se o vice-governador Washington Oliveira aceitar o cargo no TCE, a derrota do grupo do qual faz parte será quase certa. Consequência direta disso é a dissolução de nossa aliança.

Há quem pense que sendo governador, substituindo Roseana, Washington se fortaleceria, venceria as eleições internas do PT e no caso de fazer uma boa administração, com apoio do governo federal, acabaria trazendo Lula e Dilma para o palanque de Luis Fernando. Seeráááá???!!!

No frigir dos ovos uma coisa deixa gente como eu extremamente incomodada. É que ninguém fala sobre esses assuntos. Não se conversa, não se discute, não se pensa… Na hora H muitas coisas saem erradas por falta dessa prática que há muito não se cultiva nesse grupo.

Existe gente com grande poder de decisão em nosso grupo que não sabe como funciona as intrincadas engrenagens desse sistema.

Que mal há em conversar, trocar ideias, discutir pontos de vista, se abrir para outros pensamentos, ouvir outras opiniões, arejar os cérebros…

Falar de flores é fácil. Quero é ver o bom para falar de espinhos. Ter coragem para pegá-los nas mãos mesmo correndo o risco de se ferir, ou melhor, mesmo sabendo que vai se ferir. Mas que seja! Para alguma coisa deve valer ser assim.

Como disse Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

PS: Lembrando que existem algumas coisas que não se deve e outras que não se pode dizer em um artigo de jornal.

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Tempo de Debater!

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Os tempos são outros!

Não estamos nos idos de 1985, quando da transição democrática liderada por Tancredo Neves e levada a cabo por José Sarney. Nem estamos em 1988 quando da promulgação da Constituição Cidadã de Ulisses Guimarães.

O Brasil de 2013 é outro. Mudou mais nos últimos vinte e cinco anos que nos cem antes destes.

As instituições se fortaleceram, a sociedade aprendeu a se mobilizar de forma mais eficaz. Derrubou um presidente que pouco tempo antes havia levado ao poder, carregando-o nos braços, tanto na ida quanto na volta.

O estado democrático de direito é pleno, tanto que o tal ex-presidente depois de cassado, tendo cumprido o prazo de inelegibilidade previsto na lei, voltou ao cenário político e hoje é senador por seu estado.

O Brasil pode hoje ser chamado de país democrático. O que não se pode dizer é que a nossa política de hoje é diferente daquela de vinte e cinco anos atrás, de cem anos atrás, de quinhentos anos atrás… A política é sempre igual, assim como a condição humana. A grande arte, a suprema sabedoria, aqui como em tudo, é saber fazer a diferença.

Mudam os tempos, as instituições se aperfeiçoam, a tecnologia progride, avança o desenvolvimento, o meio ambiente míngua… É assim desde que o homem pulou das árvores para as cavernas. É assim desde que o mundo é mundo.

A tecnologia diminuiu distâncias. Em alguns casos aumentou o tempo, em outros o encurtou. Transformou jovens desconhecidos em milionários influentes da noite para o dia. Pequenas empresas se transformaram em mega corporações e o dinheiro continua seguindo a sua lógica. Onde tem dinheiro, mais dinheiro se junta a ele.

No Brasil há uma sensação de que as diferenças diminuíram. Em alguns aspectos diminuíram mesmo.

A miséria e a fome não diminuíram. Aumentaram na proporção do crescimento. Com a corrupção a mecânica é igual. A mecânica é igual em quase todos os eventos.

Mecânica é mecânica. Física é física. As leis fundamentais não mudam. As mudanças acontecem na margem, na especificidade. Os átomos ainda são constituídos por elétrons e prótons, mas estes têm partes ainda menores, e estas partes outras menores ainda.

PSDB e PT fazem a mesma coisa. FHC e Lula, cada um ao seu modo, com o seu estilo, fizeram a mesma coisa. Políticos de esquerda, de direita, mais a esquerda ou mais a direita, são regulados pelas circunstâncias do poder.

A diferença de Zé Dirceu para Sergio Mota é que o primeiro foi pego e o segundo morreu antes.

O “esquema” do PSDB iniciou a arrumação econômica de nosso país e o “esquema” do PT finalizou. Ambos usaram as mesmas armas, as mesmas estratégias, a mesma lógica.

Faço todo esse preâmbulo para falar sobre as duas Propostas de Emendas Constitucionais que tramitam no Congresso Nacional. A PEC 33 de autoria do deputado Nazareno Fontelles do PT do Piauí que tenta impor “limite” ao poder do Supremo Tribunal Federal de legislar.

Já a PEC 37, de autoria do deputado Lourival Mendes do PT do B do Maranhão pretende que a Constituição Federal desautorize procuradores e promotores de justiça se investir da condição de polícia judiciária, salvo em situações excepcionais.

A primeira coisa que deve ser dita é que não serei eu, muito menos em uma crônica de jornal, que vai ter a melhor ou a última palavra sobre o assunto, vou apenas expor alguns fatos que nem sequer culminam em uma opinião consolidada.

A segunda coisa que deve ser dita é que as duas PECs são legítimas, regimentais e constitucionais, propostas da forma correta, por parlamentares que conhecem o assunto e estão sendo analisadas e votadas pelos organismos legislativos competentes para tal. Se elas devem ser aprovadas, isso são outros quinhentos. Na verdade pouco importa se essas PECs serão aprovadas, mas que se discutam profundamente os assuntos que elas abordam.

A PEC 33 trata da ação legislativa praticada pelo Supremo Tribunal Federal, que, graças à inapetência e a incompetência do Congresso Nacional, acaba legislando mais que o poder constituído para tanto.

O legislativo vem se enfraquecendo. Os partidos escolhem mal seus candidatos, os eleitores elegem mal seus representantes e estes cumprem mal o seu papel enquanto parlamentares. A fraqueza do legislativo é a principal causa da distorção de termos um judiciário extremamente legislante.

Espero que a PEC 33 não tenha sido proposta como retaliação ao STF, mas sim em respeito à medida constitucional que prevê que os poderes têm funções específicas e que são independentes e harmônicos.

O STF pode e deve continuar processando, cassando e mandando prender políticos corruptos, mas deve diminuir sua prerrogativa legislativa.

A PEC 37 é tão polêmica quanto a 33, pois neste caso também se trata de fazer com que uma categoria, o Ministério Público, não exerça a função de polícia.

Sinceramente não sei o que é pior! Deixar a polícia como única dona da investigação ou permitir que o ministério público também aja nessa função. A primeira que historicamente tem alguns agentes seduzidos pela propina e o segundo que tem em suas fileiras membros que se notabilizam pela “politização” de suas ações.

Acredito que essas PECs não serão aprovadas, mas acho importante que se levante o debate em torno delas, na tentativa de mostrar os prós e os contras de cada uma.  

Gostaria que muitas pessoas, pensadores importantes, juristas, filósofos, a sociedade de um modo geral se pusessem a debater amplamente cada um desses aspectos, em que eles influenciam em nossas vidas, como por exemplo, a vitaliciedade e a inamovibilidade dos cargos do ministério público, fatos que podem vir, em alguns casos, a transformar procuradores e promotores em senhores da lei e não em servos dela.

Sou um otimista. Acredito que nosso país esteja proporcionalmente melhor, mas ainda há muito a se melhorar e uma das melhores maneiras de se fazer isso é através do debate. Momentos como estes são delicados, mas são únicos no sentido de nos fazer evoluir.

 

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Três palavras para toda uma vida

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Já era tarde. Estava exausto. Havia passado o dia inteiro andando, visitando vários estúdios de cinema em Hollywood. A noite estava sendo uma daquelas em que o sono teima em não vir. Foi então que aproveitei para colocar em dia minhas reflexões filosóficas, há muito tempo esquecidas, impondo a mim mesmo a tarefa de escolher três palavras que resumissem e simbolizassem o ideal de realização profissional de uma pessoa.

Deveriam ser três substantivos que consequentemente definissem os adjetivos de seu sujeito.

Durante algum tempo percorri as ruelas de meus conhecimentos e as alamedas de minha memória em busca das tais palavras. Munido de uma lanterna, como um Diógenes moderno, buscava não a verdade ou um homem honesto, mas, sim, coisas indispensáveis para que alguém pudesse ser tido como uma pessoa realizada, de sucesso.

Não demorei a chegar às palavras que para mim representam esse ideal. O complicado é que as tais vieram até mim acompanhadas de outras três, que se não são sinônimos destas, são complementos indispensáveis.

As palavras que para mim melhor simbolizam o sucesso e a realização profissional são capacidade, oportunidade e trabalho.

Para que uma pessoa tenha sucesso na vida, ela precisa ser capaz, tem que desenvolver sua incumbência efetivamente, com eficiência e eficácia. Essa pessoa deve ter a oportunidade de demonstrar sua capacidade, no lugar certo, no momento certo, para as pessoas certas. E por fim, que isso seja um trabalho, que ela o encare como fruto de seu esforço e pelo qual ela tenha devoção e consequente recompensa por realizá-lo.

Em seguida me vieram quase que como por sugestão mediúnica as outras três palavras, complementos de que falei anteriormente: talento, sorte e dedicação.

Não consegui dissociar capacidade de talento. São palavras siamesas. Estão irremediavelmente ligadas por uma conexão lógica e sintomática. Quem é capaz tem talento. Faz acontecer.

Da mesma forma ocorre com oportunidade e sorte. Quem tem oportunidade é porque teve a sorte de tê-la. Tem sorte aquele a quem não faltam oportunidades. Enquanto outros, muitas vezes até bem capazes e talentosos, não possuem a sorte de uma única oportunidade.

Por fim, a palavra trabalho, que de pouco vale se não estiver associada a uma outra: dedicação. Palavra que complementa o esforço do trabalho, que dá a ele o espírito e a nobreza que ele precisa para figurar entre as boas coisas da vida. Trabalho sem dedicação é algo mecânico, coisa de autômatos, não de humanos.

Imediatamente busquei exemplos no dia a dia.

Como já disse havia percorrido naquele dia vários estúdios e pude ver pessoas capazes e talentosas que não tiveram a sorte de ter uma oportunidade. Vi outros trabalhadores incansáveis, que ou não tinham a verdadeira dedicação ou faltava-lhes capacidade ou talento, ou tendo essas qualidades, faltava-lhes a sorte de uma oportunidade.

Conheci muita gente do cinema naquele dia. Mais que conhecer os estúdios, os cenários, as produções, conheci pessoas, gente que trabalha na arte que eu mais admiro.

Procurei ver neles pedaços de seus ofícios. Busquei reconhecer a luz no iluminador, as expressões no make-up, o produto no produtor…

Comprovei que nos bastidores as coisas são realmente mais cinzas. A cor está na luz de quem a vê.

Dias depois, estávamos passando pela calçada da fama quando vimos na porta do Teatro Chinês a movimentação da avant premier de “Gangster Squade”, com Sean Penn, Nick Nolte, Josh Brolin, Ryan Gosling, e Emma Stone. O glamour daquilo tudo fez até eu, que não sou de tietagem, parar para ver.

Naquela outra noite pude continuar meu exercício filosófico sobre a realização profissional.

Quando voltávamos de Los Angeles, embarcou em nosso avião o ator Rodrigo Santoro. Voltei a pensar naquelas palavras. Esse rapaz tem grande talento e capacidade, teve a sorte de ter tido a oportunidade de demonstrá-la para as pessoas certas, no lugar certo e trabalha com dedicação para merecer seu sucesso.

Bem, já que nem todos nós somos talentosos e capazes, que tenhamos pelo menos a sorte da oportunidade de tentar. Caso contrário, só nos restará o trabalho, que normalmente sendo assim, mecânico, não virá acompanhado da devida dedicação.

Essa é a vida!

 

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