Cidade linda, comida ruim, papo bom.

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Estávamos eu e Jacira em uma taverna, em Siena, no coração da Toscana, fazendo uma das coisas que mais gostamos de fazer quando estamos viajando.

Observamos os ambientes e as pessoas à nossa volta. Demos conta de que se tratava de um prédio realmente muito antigo, talvez tivesse uns 600 anos. Localizava-se em uma das ruelas próximas ao Doumo da cidade, numa ladeira íngreme.

O atendimento variava de sofrível a péssimo. O pão italiano característico tinha menos sal que de costume, fomos salvos pelo bom azeite toscano, sal e pimenta. Fizemos escolhas erradas no cardápio, mas às 16 horas quase todos os lugares já estavam fechados para o almoço.

Aquele foi o pior almoço de toda a viagem. Culpa nossa. É praticamente impossível comer mal na Toscana.

Como compensação à má comida e ao rude atendimento pudemos desfrutar de um debate acalorado travado pelos ocupantes de uma mesa que estava ao nosso lado.

Quando chegamos observamos que alguns casais discutiam de forma italianesca. Bem poderia ser “a La” napolitana, milanesa, calabresa ou siciliana. O assunto versava sobre arte. Eles comentavam a importância da arte, alguns pareciam bastante cultos e faziam colocações que renderiam horas de debate.

Em certo momento eles se embrenharam em uma polêmica sobre a fotografia. Uns argumentavam que fotografia não poderia ser considerada arte e outros tratavam de defender a ideia de que ela era sim uma das artes modernas.

Jacira identificou entre os personagens daquela discussão uma moça que parecia ser fotografa, pois trazia para si o foco do debate. Não chegamos a uma conclusão definitiva se ela era realmente fotógrafa ou apenas uma apreciadora dessa atividade, mas isso pouco importa.

Já estávamos sendo mal servidos, famintos, cansados e passamos a conversar a respeito do mesmo assunto, e quando podíamos observávamos o que diziam os patrícios de Paolo Rossi.

Fotografia é ou não é arte? Existem argumentos de sobra para provar que sim, fotografia é arte, mas para bons argumentadores sempre há espaço para transformar um assunto, aparentemente tão simples e bem resolvido, em uma polêmica acalorada que na pior das hipóteses nos faz pensar e quanto a mim e a minha mulher, naquela tarde nos distraiu, fazendo com que o serviço ruim e a má comida não maculassem uma viagem tão maravilhosa.

Os macarronistas que defendiam a tese que fotografia não é arte eram mais incisivos e duros, como compete a todos aqueles que desejam demolir uma tese que parece ser aceita como verdadeira pela maioria das pessoas.

Para eles arte era música, dança teatro, literatura. Compraram e vendiam a tese de que arte era tudo aquilo que os gregos estabeleceram como sendo arte. Argumento insuficiente e frágil, tendo em vista que o estabelecimento dessa lista de artes se deu há 3.000 anos e no mundo de hoje outros fazeres humanos podem e devem ser considerados arte.

Alguém contra-argumentou que se assim fosse o cinema não poderia ser considerado arte, pois não há cinema sem fotografia. Fez-se silêncio e em seguida um exaltado polemista diz que a fotografia é apenas uma engrenagem da intrincada máquina da arte cinematográfica.

Nessa hora quis intervir, mas o olhar de Jacira me desautorizou. Ainda bem que o que eu ia dizer foi dito por outro participante daquela mesa: A literatura, através do roteiro, e o teatro, através da encenação dramatúrgica, são engrenagens da intrincada máquina da arte cinematográfica e individualmente também são artes, logo a fotografia pode também ser considerada arte.

Nessa hora saltou o exaltado e disse que arte é tudo o que a inventividade humana cria, não apenas o que ela opera ou administra. Que para ser considerada artística a atividade humana tinha que ser transformadora e criadora. Que o artista deveria ser uma espécie de Deus criador, que colocasse palavras onde não as tinha que esculpisse e pintasse que coreografasse movimentos e que criasse sons.

Fez-se novamente silêncio só interrompido quando aquela moça que pensamos ser fotógrafa perguntou ao seu oponente se ele acredita que pelo fato de um fotógrafo captar o instante de uma paisagem, de uma pessoa, de objetos, se nisso por si só já não havia na fotografia o poder criador dos deuses? Indagou se ele já havia pensado que se pra nada servisse a fotografia ela não deveria ser considerada arte pelo simples fato de esculpir o tempo, desenhar sentimentos, poetizar imagens, dramatizar cenas.

Por fim eles já estavam discutindo a qualificação e a valoração da arte e da fotografia, tema delicado e perigoso que não fiquei para ouvir, pois a conta chegará e nós tínhamos uma cidade belíssima para conhecer.

Não sei se foi o político Joaquim Haickel, se foi o artista, escritor e cineasta, quem mais gostou daquele debate. O político gostou da polêmica, das teses e das antíteses. O artista gostou do tema. O gourmet glutão gostou pelo fato de ter tirado minha atenção da comida não recomendável.

Continuamos a nossa viagem conhecendo algumas das pequenas cidades da Toscana. Em nenhum outro lugar comemos tão mal, mas travamos conhecimento com muitas outras pessoas interessantes.

Para mim fotografia é arte e fotógrafo é artista. Quem bem exerce essa atividade é mestre de uma das mais complexas formas de expressão criadora do homem.

Para provar definitivamente que fotografia é arte, basta compará-la às artes tradicionais. Ela tem as mesmas funções das demais e como as demais engrandece o ser humano.

Para mim, um apaixonado por memória, por lembranças, a fotografia perpetua o tempo nos permitindo voltar nele. Isso é coisa de artista, de um deus criador.

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Novela da Vida Real

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Faz muito tempo que tenho vontade de escrever sobre as novelas produzidas pelas Redes de Televisão brasileiras, e essa oportunidade parece-me perfeita para falarmos do produto artístico que identifica bem essa poderosa indústria que em nosso país é vista pela grande maioria da população como simples produtora de entretenimento e por alguns estudiosos da sociologia e da antropologia como meros produtores de alienação da massa inculta e incauta.

Em todo o mundo as empresas desse setor se transformaram em poderosas corporações porque dominaram a informação jornalística, na maioria dos casos por serem orientadoras e opinativas, acabam por criar uma “consciência social” ou ao defenderem posições ideológicas, políticas, econômicas, religiosas e sociais, funcionam como uma espécie de maestro da grande orquestra humana no raio do alcance de sua audiência.

O que vemos hoje em nosso país, como ocorre já faz algum tempo, é o grande predomínio de uma empresa sobre as demais, tanto no setor jornalístico quanto no ramo do entretenimento.

Mas chega de entretantos e vamos logo aos finalmentes. O assunto específico sobre o qual quero tratar hoje é o dos personagens de novelas, figuras que extraídas da vida real se transformam em ícones de nossa raça, espelhos nos quais vemos a nós e aqueles que convivem conosco, ou mesmo que não fazendo parte de nosso mundo, somos capazes de descobrir e identificar neles um trejeito familiar, uma característica peculiar a alguém.

Os personagens do bem, as boas moças e os bons rapazes representados normalmente por espécimes humanos quase perfeitos, são fáceis de serem identificados e agradarem a todos. Difícil é transformar a sempre boazinha da Lilia Cabral numa mulher rude, que para sustentar a família é obrigada a encarnar uma “faz tudo”, “o Pereirão”, uma operária que conserta pias, troca lâmpadas e fiação elétrica, resolve problemas em sistemas de refrigeração e permanece boa e doce, chegando a se tornar elegante e sofisticada. O inverso é o que acontece com personagens como o da belíssima e estonteante Cristiane Torloni que deu vida a Teresa Cristina, uma ricaça de dinheiro, mas paupérrima de princípios.

Nos primórdios das telenovelas os vilões não causavam tanto fascínio nos expectadores, mas com o passar do tempo, autores e diretores foram humanizando esses personagens ao ponto de os transformarem nos pontos altos de seus folhetins.

Perguntei a alguns amigos meus, escritores e roteiristas, entre eles José Louzeiro, Mario Prata e Di Moretti, qual o segredo de um bom roteiro para uma novela do horário nobre e eles foram unânimes em dizer que a única coisa que o autor tem a obrigação de ter em mente quando escreve um argumento e depois um roteiro é escolher bem o ponto da tensão, o caso em torno do qual os personagens devem desenvolver as suas trajetórias.

O ciúme, a inveja, o rancor, a vingança, o medo, tudo isso de um lado, e o desprendimento, a generosidade, a fraternidade, o perdão e a coragem do outro, sentimentos antagônicos que pautam as vidas, normalmente de pessoas próximas, irmãos, amigos, estão em qualquer folhetim televisivo que se preze, assim como no nosso dia a dia.

Odete Roitman é muito provavelmente o maior símbolo de vilania da Televisão brasileira. Do lado dos personagens do bem aparece a emblemática Maria da Graça.

Falemos dos vilões.

Na vida real existem muitos desses personagens de novela. Gente que pensa que é normal, que não consegue enxergar que não tendo “salgado a santa ceia” salgou a sua própria vida ao não olhar as coisas pelo melhor lado, com os melhores olhos.

Alguém que prefere esconder suas deficiências e os erros consequentes delas, imputando a outros os seus pecados, cujos maiores deles nem são mortais. São simplesmente a burrice e a falta de capacidade de bem se relacionar com as pessoas!

Existe um teste para que você possa descobrir se você daria um bom personagem maligno de novela. Basta que verifique se você sente a amargura do ciúme em sua garganta, se já sinta o calor da inveja em seus braços, se é comum sentir o calafrio do medo do abandono e do desprezo em sua espinha. Isso por si só não fará de você um importante vilão ou vilã de novela da Globo, mas deveria chamar sua atenção, pois esses são claros sintomas de que algo muito sério e difícil está acontecendo com você.

Se tudo isso vier agregado ao cultivo de relações problemáticas com seu parceiro, esposo ou esposa; se você cultivar uma inveja indisfarçável por um parente próximo ou por um amigo antigo; se você insistir em implicar com sua nora ou genro, tentando transformar a vida dela ou dele em um inferno sem pensar no mal que pode fazer para seus filhos e netos; se o apego por alguém transformar você em um trapo dependente da atenção, do amor e do carinho dessa pessoa; se você for uma pessoa amarga, mesquinha, intriguenta, desagregadora e ainda por cima incapaz de reconhecer que precisa de ajuda médica, ai sim!…Você estará bem perto de se transformar em matéria-prima para a próxima novela do horário nobre da Rede Globo, isso se você for uma pessoa citável, pois se for uma pessoa sem nenhum charme, talvez seu personagem só seja digno de uma rede de televisão bem menos importante.

Se você que me lê agora pensa que personagens como os descritos acima são difíceis de encontrar, entre em contato comigo que passarei a você uma lista imensa…

 

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Padre Nosso pra Vigário

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Aproxima-se o prazo limite para a filiação partidária daqueles que desejarem ser candidatos a um cargo eletivo no pleito de 2014. A data é 5 de outubro, um ano antes da eleição.

Os cidadãos brasileiros elegerão ano que vem seus representantes à Presidência de República e aos governos de estados e distrito federal, além de deputados estaduais, federais e um senador em cada unidade da federação.

Uma grande rearrumação vem acontecendo nos bastidores partidários já faz algum tempo, fato que configura o primeiro passo para quem deseja se eleger, ou para quem pelo menos deseja competir tendo alguma chance de sucesso.

A lógica partidária para uma eleição majoritária é diferente daquela que deve seguir quem almeja um posto proporcional. Explico: quem quiser ser candidato a presidente, governador ou senador, deve buscar um partido grande, forte, bem estruturado, com diretórios no maior número possível de municípios, com bastante tempo de propaganda no rádio e na televisão, com uma boa cota do fundo partidário, fatores que ajudam na eleição.

Já quem concorre a um cargo proporcional, ou seja, para deputado federal ou estadual, deve procurar um partido que o acolha e lhe proporcione a possibilidade de concorrer com uma mínima chance de se eleger. Quem tiver a garantia de uma votação expressiva deve escolher as legendas mais fortes, pois em qualquer hipótese sua eleição é mais viável. Quem tiver uma razoável musculatura eleitoral pode optar também por entrar nos grandes partidos que ainda assim terá boas chances de se eleger ou ficar em uma suplência que possibilite sua ascensão. Os candidatos de pouco coturno eleitoral devem se agrupar nos pequenos partidos para que juntos possam fazer o maior número de legendas, o que possibilitará eleger os mais votados de suas agremiações ou das possíveis coligações que esses partidos possam vir a fazer. Candidatos de grande poder eleitoral buscam pequenos partidos no intuito de vencer fazendo menos força. Os pequenos são pequenos, mas não são burros. No máximo um ou dois fortes candidatos são aceitáveis nos pequenos partidos para que estes tenham o sucesso que pretendem.

Dizer tudo isso é chover no molhado para quem é do ramo, mas o digo hoje para algumas pessoas que onde me encontram pedem que eu explique como funciona uma eleição, principalmente a proporcional que ainda causa muitas dúvidas não só nos eleitores, mas também em candidatos de pouca experiência.

No caso do Maranhão as candidaturas majoritárias postas são as de Luis Fernando e Flavio Dino, havendo a possibilidade de um terceiro nome concorrer ao governo do estado: Eliziane Gama.

Aqui aparece a primeira grande questão do pleito do ano que vem: quem será mais beneficiado com uma terceira candidatura ao governo do estado? Acredito que será a própria Eliziane, que certamente se fará mais conhecida e estará se credenciando para concorrer à prefeitura da capital, a uma vaga de senadora ou mesmo ao governo nas eleições subsequentes para estes cargos. Além dela quem mais se beneficiaria? O governo ou a oposição?

A existência de três candidatos efetivos ao governo certamente empurrará a eleição para o segundo turno. Quem se beneficiaria com isso? Responda quem souber ou quem puder. Confesso que não sei a resposta para essa questão.

Quanto ao Senado, se a governadora Roseana for candidata, não haverá concorrência relevante. Se ela não for, a disputa entre o candidato da oposição, Roberto Rocha, e o do governo, Gastão Vieira, será equilibrada, sem previsão de vencedor.

Há aqui outra questão que deve ser analisada com muito cuidado. Roseana ajuda mais seu candidato ao governo disputando o Senado ao seu lado, correndo o estado pedindo votos ou no controle da administração até o último dia de seu mandato? Eis aqui outra questão que não sei responder. Diga quem souber!

Inclusive, há nesse caso desdobramentos perigosos. Em caso de Roseana ser candidata ao governo quem deve sucedê-la? O vice-governador ou um governador eleito indiretamente na Assembleia? Em sendo a segunda opção, quem seria o escolhido? O próprio presidente do Poder Legislativo ou outra pessoa?

São muitas perguntas difíceis a serem respondidas, por isso me obrigo a ficar comentando sobre a disputa eleitoral no que diz respeito às coligações proporcionais, onde me sinto mais confortável para opinar.

Ressalto que mesmo fazendo meros prognósticos, um ano antes do pleito, tenho muito mais segurança no resultado deles que na conjectura do que pode acontecer no pleito majoritário.

Acredito que a futura composição da Assembleia Legislativa contará com 11 deputados eleitos pelos partidos do grupo conhecido como Chapão e outros 15 deputados eleitos pelos pequenos partidos ligados ao governo, acomodados em varias coligações ou em voos solos. As outras 16 vagas deverão ser preenchidas por deputados de partidos de oposição agrupados em duas ou três coligações. O resultado seria 26 x 16.

No caso da Câmara Federal o desenho será parecido com o do último pleito, sendo que a oposição deverá fazer um deputado a mais desta vez, ficando o placar em 11 x 7.

Antecipar os acontecimentos pode não ajudar muito, mas enquanto se pratica esse passatempo somos obrigados a analisar com mais cuidado o que acontece hoje, o que nos faz entender as circunstancias e consequências dos fatos e algumas vezes nos permite corrigir rumos e repensar formas de atingirmos os nossos objetivos.

 

PS: O texto acima não visa ensinar ninguém o seu ofício, visa apenas registrar um ano antes do fato acontecer, uma previsão bastante plausível sobre seus resultados, além de também registrar as dúvidas que nos perseguem e que caso não sejam dirimidas a contento podem acabar por nos prejudicar eleitoralmente.

 

 

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A intrincada arte da política.

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Herdamos a noção original de arte da cultura grega que nos foi transmitida graças à colonização romana que aconteceu nos primeiros quinhentos anos da era cristã e se alastrou por quase todo o mundo.

Diz a tradição que eram seis as artes no tempo de Sócrates, Platão e Aristóteles: arquitetura, escultura, pintura, música, dança, e teatro, que era visto também como literatura, já que o hábito da leitura não era muito difundido e o conhecimento da escrita era bastante restrito. No final do século XIX, com a invenção das máquinas de fazer imagens em movimento surgiu o cinema, tido como a sétima arte, espécie de síntese apoteótica das seis artes primordiais.

No início da civilização humana havia uma grande aplicabilidade das artes no âmbito doméstico. A pintura de vasos, de estátuas, a construção de painéis e assoalhos de mosaico, todas essas coisas eram também consideradas arte, como realmente o são.

Em meio às artes decorativas helênicas existem duas que gostaria de usar como metáfora em minha abordagem de hoje: A arte da joalheria e a arte da tapeçaria.

Comparar metaforicamente a política com essas duas ocupações artísticas me dá oportunidade de voltar a dois dos assuntos que mais prezo: cultura e política.

Para mim o bom político pode ser comparado a um joalheiro ou a um tapeceiro, um artesão na melhor concepção da palavra, aquele que realiza o seu trabalho com conhecimento e arte.

O joalheiro assim como o político é um fundidor que domina o fogo e a forja onde derrete as substâncias com as quais trabalhará. Metais preciosos como ouro e prata. Ele escolhe e lapida as melhores e mais preciosas pedras coloridas. Ele planeja o que fará com antecedência e com cuidado. A improvisação nessa arte é um risco inconcebível. Enquanto você não domina a arte da joalheria, a improvisação é até aceitável, você está treinando, aprendendo, mas quando você coloca a sua oficina e começa o seu trabalho profissional, nada que não seja objetivo e prático é aceitável.

Assim é também em relação à arte da tapeçaria. Os melhores artistas dessa arte eram disputados pelos mais ricos e poderosos a elevado custo. Usando fios de lã, algodão ou outro tipo qualquer de fibra, tecidas em tramas perfeitas, manipulando agulhas, pinças e teares, os tapeceiros colocavam sua arte nos pisos e nas paredes de Atenas e Esparta sem se preocuparem com as divergências que reinavam entre eles.

Um bom tapeceiro poderia criar belas cenas de batalhas, iguais as que encontramos hoje nos museus decorando finos vasos de cerâmica, mostrando deuses, semideuses, heróis e personagens épicos que marcaram a história do povo que nos legou a filosofia, a antropologia, a sociologia e a política, isso sem falarmos da forma republicana de governo e do regime democrático, onde os cidadãos “iguais” e “livres” já decidiam os destinos de suas cidades-estados e de seus pares e escravos através do voto. Ainda hoje é mais ou menos assim.

A análise da história nos traz dificuldades incríveis. Talvez a maior delas seja a compreensão temporal dos fatos. Muita coisa que era comum, banal, simples, há 2.500 anos hoje é inconcebível. Coisas que eram práticas comuns 200 anos atrás não fazem o menor sentido nos dias de hoje. Ações que aconteciam normalmente há 50 anos, hoje caracterizam crimes inafiançáveis.

Em compensação, existem regras básicas que são imutáveis e olhe, não estou falando das leis da física, ciência na qual matemáticos e filósofos egípcios e gregos foram os precursores. Arte do conhecimento na qual romanos e árabes continuaram evoluindo, que ingleses e alemães aprimoraram e que hoje toda a humanidade pode desenvolver e desfrutar delas. Falo das leis básicas da antropologia, misturadas com as da sociologia, combinadas com as da psicologia, que acabam por resultar nas formas com que se apresenta a política, essa joalharia, essa tapeçaria, essa arte de construir “ambientes” onde as pessoas vivem e convivem.

Não falo aqui da política eleitoral e partidária, departamento menor dessa organização intrincada. Falo da política em lato sensu, a arte de conviver em sociedade, em grupo. Arte fundada na capacidade humana de compreensão e aceitação de suas causas, circunstâncias e limitações.

Um joalheiro ou um tapeceiro, assim como um político, quando bons em suas artes, são capazes de executar grandes obras.

O político, para se igualar ao artista, deve, antes de tudo, possuir e saber manejar os instrumentos de sua arte, tais como o raciocínio lógico, a coerência, a sensatez, a coragem, a honradez, a humildade e a sabedoria. Cada uma dessas coisas deve ser usada no momento certo e da forma exata, para que surtam o efeito desejado.

E qual deve ser o efeito desejado como resultado da arte da política?

Em minha opinião, o artista da política, incapaz de fundir joias ou tecer tapetes, incompetente para arquitetar prédios, pintar quadros, esculpir estátuas, compor músicas e cantar canções, coreografar danças ou escrever poemas e peças teatrais, tem como obrigação de artista desenvolver o ambiente onde as pessoas, beneficiárias dessas artes, possam viver em paz e harmonia, com dignidade e respeito.

Escrevendo esse texto eu tento desesperadamente convencer a mim e a você que me lê agora que aquilo que eu busco fazer com afinco e dedicação pode ser incluída na lista das artes humanas. Que a política pode realmente ser vista como a arte de harmonizar a vida das pessoas, fazendo com que elas, as pessoas, possam ter a real oportunidade de buscar e conseguir a tão almejada felicidade.

Posso, com esse texto, parecer ingênuo, mas prefiro ser assim que me juntar aos hipócritas ou aos cínicos.

Que aqueles que detêm, bem como aqueles que buscam o poder saibam que existem pessoas que “pensam”, e que elas estarão sempre preparadas para enfrentá-los… Empunhando as suas artes.

 

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A vaidade de não ser

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Hoje, depois de 35 anos trabalhando em política – comecei assessorando meu pai na Assembleia Legislativa, no final do governo Nunes Freire – vejo que por um lado, muita coisa mudou, mas constato que muita coisa ainda continua como dantes no Quartel de Abrantes.

Se fosse começar hoje não poderia fazê-lo trabalhando com meu pai. Teria perdido essa oportunidade devido à lei do nepotismo. Hoje jamais “estudaria” numa escola cujos professores eram Sarney, Millet, Pedro Neiva de Santana, Zé Burnet, Alexandre Costa, Bayma Serra, Raimundo Leal, Zé Bento Neves, Gervásio Santos, entre tantos, quase todos mortos.

Os filhos sucederem os pais é coisa comum. Isso acontece faz milênios. Artesãos ensinavam seus filhos a sua arte; os filhos dos escribas aprendiam o oficio dos pais; saltimbancos faziam dos filhos seus sucessores em cantoria, dança, teatro e acrobacia. Antigamente dizia-se que aqueles que não saiam aos seus degeneravam.

Muitos filhos continuam sucedendo os pais nos mais diversos setores da vida. Filhos de médicos seguem a mesma carreira dos pais, filhos de empresários da construção civil constroem com seus genitores, donos de padaria colocam filhos com a mão na massa, comerciantes tem seus filhos lhe ajudando em seus negócios.

Na leva de políticos do final dos anos 70 começo dos 80, havia muitos filhos. Entre eles os filhos de Sarney, Alexandre Costa, Vieira da Silva, Pires Saboia, Artur Carvalho, Nagib Haickel, Albérico Ferreira…

Hoje os filhos são os de Sálvio Dino, Edivaldo Holanda e Lobão; filho de Zequinha e neto de Sarney; Filhos de Pedro Fernandes, Lourival Mendes, Carlos Braide, Fufuca e Rubem Pereira; filhos e neto de Luiz Rocha; Neto de Eugenio Barros, filho de Filuca, sobrinho de Cafeteira, além de uma infinidade de parentes em todos os graus de prefeitos e ex-prefeitos espalhados Maranhão afora.

Seguir os passos do pai não é reprovável em nenhuma cultura, nem em relação a qualquer profissão.

Tenho orgulho de ter começado pelas mãos de meu pai, de ter aprendido com ele as regras básicas de como me portar na vida e na política.

Em 1982, aos 22 anos, fui deputado estadual. Em seguida elegi-me deputado federal constituinte. Depois disso passei um tempo assessorando o então governador Lobão na Secretaria de Assuntos Políticos.

Bem aí, nesse momento, meu pai morreu e eu fiquei por conta própria. Tinha que cuidar de mim mesmo e o que é pior, tinha que cuidar de minha família e dos amigos que ele me legou.

Depois de arrumar a casa, voltei à Assembleia para mais alguns mandatos e então resolvi não mais me candidatar.

Estava desiludido com a política, porém aceitei, sob grande pressão de amigos e correligionários, o cargo de secretário de Esportes do estado.

No começo fiquei meio chateado porque acreditava que essa secretaria não era a que eu mereceria. Imaginava que por ser escritor e cineasta, por ter sido tantos anos deputado e ter excelente trânsito junto à classe política, por ter um projeto audacioso de educação a distância, eu poderia ser mais bem aproveitado na Secretaria de Cultura ou nos Assuntos Políticos ou ainda na Secretaria de Ciência e Tecnologia, quem sabe até na Educação.

Como fui tolo! Como a vaidade nos cega! Não sabia eu que com as dificuldades inerentes à administração pública, pouco ou nada poderia eu fazer naqueles cargos.

Em relação a essas outras secretarias, a pequenina Sedel é muito mais operacional, eficiente e eficaz. Nela as imensas dificuldades financeiras são muito menores que nas outras secretarias. Lá, mesmo com os poucos recursos e os muitos problemas é possível fazer alguma coisa, o que jamais seria possível fazer em outras áreas.

Não é fácil ser gestor público. Você se depara com situações inacreditáveis, coisas insólitas que você jamais pensou pudessem existir ou acontecer. Cito algumas: um determinado projeto de construção prevê uma viga num lugar que se construída impediria a passagem das pessoas, o que gera grande atraso; uma chuva derruba um muro e a licitação para reconstruí-lo demora quase o tempo de um parto; um cidadão urina na pia de um dos banheiros do estádio e o secretário é cobrado pela falta de educação do torcedor; pessoas de certa comunidade obstruem a saída da drenagem de uma praça esportiva fazendo com que a água emposse e cause grande prejuízo; vândalos quebram os banheiros de outra praça esportiva no dia de sua reinauguração; os dirigentes de certa federação e de importantes agremiações esportivas se desentendem, fato que prejudica o esporte maranhense que vem passando por uma boa fase.

Vez em quando fico esmorecido. Tenho vontade de largar tudo e tocar minha vidinha, mas teimoso, acabo continuando.

Na semana passada, almoçando com um querido amigo, ele na tentativa de me seduzir a voltar a disputar mandato eletivo, disse-me uma coisa que me deixou comovido. Disse que o bom em relação a minha pessoa é que onde quer que ele chegue e fale em mim, as pessoas dão crédito. Não querendo desmotivá-lo nem tão pouco ser deselegante, respondi-lhe dizendo que atualmente a minha maior vaidade é resistir aos insistentes convites de amigos e correligionários para que eu volte a ser candidato a deputado.

Na verdade, por enquanto ainda não apareceu e acho que não irá aparecer o motivo que me faria deixar o conforto de minha vida atual.

Além dos projetos de relativo sucesso frente à Sedel, há a paixão com que tenho me dedicado ao trabalho de descobrir, resgatar, catalogar e preservar fotografias e filmes antigos sobre nossa terra e sua gente, além do prazer que tem sido a possibilidade de realizar filmes sobre importantes personalidades maranhenses como Haroldo Tavares, Terezinha Rêgo, Eliezer Moreira, os membros da AML, os artistas plásticos do Maranhão, nossos radialistas, nossos fotógrafos…

Esses são tempos difíceis, mas extremamente felizes. Pra que mudar isso!?

 

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Vinte anos sem Nagibão

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Vinte anos atrás, no dia sete de setembro de 1993, morria na cidade de Coroatá, depois de participar das comemorações do dia da Independência do Brasil, o então presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, deputado Nagib Haickel, meu pai.

Em meio à comoção em torno de seu falecimento, lembro que respondendo à pergunta de um repórter, disse que a sensação que tinha naqueles dias era a de que ele havia saído em uma grande viagem, pois sua presença era tão marcante que a morte parecia não apagar.

Hoje, passados vinte anos, essa sensação sobre a suposta viagem que ele estaria fazendo continua presente. Vez em quando sonho que ele telefonou, mandou telegrama, cartão postal ou escreveu uma carta, quase sempre falando sobre o assunto do momento pelo qual passamos. Outro dia sonhei que ele estava em Paris e mandou-me dois postais, um da Torre Eiffel onde dizia, “Só quem tem coragem de sonhar constrói torres…” e outro da Ponte Alexander III, onde terminava a frase: “… e pontes. Que nunca lhe falte coragem de sonhar, pois se seus sonhos forem justos e verdadeiros, eles se realizarão”.

As pessoas continuam falando sobre ele com a mesma desenvoltura, e olhe, não estou me referindo às pessoas da nossa família. Onde quer que eu chegue e alguém fale sobre ele é sempre num tempo verbal que não deixa lá muito claro que está falando de um personagem já falecido há vinte anos.

Os fatos em torno dele são tão curiosos e saborosos! Guardam o frescor das frutas que ele tanto apreciava e fazia questão de servir em seu gabinete na ALM, aquele mesmo gabinete que ele mandou retirar as portas, como já havia feito antes em sua loja a Meruoca, na intenção de dizer aos amigos, fregueses e usuários que ele estava sempre de portas abertas para receber a todos, sem distinção de sexo, raça, religião, classe social ou preferência política e ideológica.

Para quem não sabe, Nagib Haickel era filho de imigrantes libaneses e nasceu na cidade de Pindaré-Mirim em dezembro de 1933. Foi comerciante e político e em suas duas atividades sobressaiu-se por sua imensa criatividade e pela maneira sempre alegre e extrovertida de ser.

Costumava brincar dizendo que só cursara até o primeiro ano do curso médio de contabilidade, mas que se formara na universidade da vida, tendo estudado com alguns dos professores mais gabaritados de seu tempo.

Em sua escola de comércio teve como mestres Wadi, Eduardo e César Aboud. Além deles teve seus pais Elias e Maria, o primeiro, mestre na matéria correção e seriedade nos negócios e a segunda, catedrática na arte de conquistar o freguês e vender suas mercadorias. Na escola dos Aboud se vangloriava de seus colegas de turma, Alberto Aboud e William Nagem, enquanto na escola dos Haickel se mirava nas primas Loury e Celeste.

Na política, atividade posterior ao comércio, pela qual se apaixonou de igual modo e com a mesma intensidade, ele deve ter tido mais dificuldade de aprendizado, pois entrou nela por uma porta lateral, levado pelas mãos de seu irmão Zé Antonio, um ano mais velho que ele, que resolveu em 1965 se candidatar a prefeito de sua cidade, na tentativa de fazer chegar até lá o então Novo Maranhão que apregoava o deputado e candidato a governador, José Sarney. Pindaré passou a ser um dos melhores municípios da região.

Na política também aprendeu tudo pelo ensinamento prático. Teve poucos mestres entre os quais se destacam o próprio Sarney, Alexandre Costa e Clodomir Milet.

Ele foi contaminado pelos micróbios concernentes às atividades que desenvolveu de forma total e definitiva. Era e é impossível imitar ou até mesmo tentar acompanhar o ritmo do comerciante ou do político Nagib Haickel.  Eu que o diga, pois foi exigido de mim que eu tentasse igualá-lo, mas tenho certeza que ele, no fundo, sabia que eu não conseguiria. Acredito que ele tinha sensibilidade suficiente para saber que eu não deveria tentar imitá-lo ou mesmo acompanhá-lo. O que ele queria no fundo era dividir comigo um pouco de sua arte e de seu conhecimento, para que ao meu modo, do meu jeito pudesse utilizar seus ensinamentos, o que pode parecer pouco, mas não é.

Meu pai teve muitos apelidos. Em casa, pelo irmão e irmãs era chamado de “seu Ziba”; Na beira do rio Pindaré, pelos amigos, era conhecido por “Tijibú”, alusão a um touro bravo; Na Chames Aboud e na Fábrica Santa Isabel, pelo jeito irrequieto e brincalhão, “Nagib Doido”; Nas ruas alguns o chamavam de “Carcamano”, por sua ascendência libanesa; Na política, pelo fato de distribuir toneladas de bombons para as crianças, “Nagib Bom-Bom”; Depois de algum tempo, todos que o conheciam ou até quem nunca o tinha visto, o chamava simplesmente de “Nagibão”.

Aqui, nesse restrito espaço de jornal é impossível tentar desenvolver um texto que possa resumir a história de vida de uma pessoa, ainda mais sendo de uma tão controversa e polêmica quanto Nagib Haickel.

Só para você ter uma ideia, comecei a fazer um filme sobre ele, para apresentar agora. O filme que teria vinte e seis minutos passou para cinquenta e dois e agora eu e meus colaboradores chegamos à conclusão de que o filme não poderá ser realizado se não em quatro episódios de vinte e seis minutos, pois são tantos e tão bons depoimentos sobre os fatos de sua vida que não podemos deixar de mostrá-los.

Há uma coisa que já disse antes e que gostaria de repetir agora, pois acredito ser o fato mais importante da vida de meu pai.

Dentre tudo que ele legou a mim e a meu irmão, três são os patrimônios mais valiosos: a oportunidade de termos nascido em uma família amiga e carinhosa; A escolha de uma mulher maravilhosa para ser nossa mãe, bem maior que nós temos; e uma legião de amigos verdadeiros e sinceros, cultivados com lealdade e dedicação.

Meu pai tinha duas frases que usava como roteiro de sua vida. Uma simbolizava seu trabalho e sua dedicação: “O fácil já fizeram; o difícil se faz logo; o impossível demora um pouco mais”. A outra representava seu compromisso, sua coragem, sua honra e sua lealdade: “Dou um boi para não entrar numa briga, mas uma boiada para não sair dela”.

Reconhecido como um homem extremamente generoso, ele foi vitima do órgão que o representava mais fielmente, o coração. Seu coração metaforicamente grande cresceu fisicamente e tirou-lhe a vida três meses antes dele completar sessenta anos.

Se você me perguntasse agora quem foi meu pai, eu poderia responder-lhe simplesmente como ele faria: “Caboclo do Vale do Pindaré, acostumado a comer Tapiáca e Mandubé”, mas ficaria faltando muito para desenhá-lo com mais precisão, então eu lhe digo, leia seu livro de cabeceira, “Como Influenciar as Pessoas e Fazer Amigos” de Dale Carnegie, quem sabe assim você possa descobrir quem foi Nagib Haickel. 

 

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Acalanto selecionado para outro festival.

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Parabéns Arturo!

Bogocine: Cortometraje Internacional

“(Dí)vida” de Cleber Almeida. Brasil
“9546 Km” de Sergio Garcia Locatelli. Peru
“Acalanto” de Arturo Saboia. Brasil
“Boca Fechada” de Elder Fraga. Brasil
“Caperucita y el Leñador en el Monte (despues del final feliz)” de Sofia Bertotti y Juan Manuel Dominguez. Argentina
“Dozdi” ( “El Ladrón”) de Mohammad Farahani. Iran
“El Año Pasado en Mardelplá” de Santiago Korovsky. Argentina
“El Revés” de Gonzalo Perdomo. Perú
“First Contact” de Matt Richards. Australia
“Five ways to kill a man” (“Cinco Maneras de Matar a un Hombre”) de Christopher Bisset. Estados Unidos
“Gold Field” de Alan King. Australia
“Hermeneutics” de Alexei Dmitriev. Rusia
“I´m dead” de Francesco Picone. Italia
“Mura“ de Ben Pase. Italia
“Nao deixe joana só” (No te vayas Joana”) de Cecilia Engels. Brasil
“O Fim do Filme” (“El Fin del Film”) de André Dib. Brasil
“O pesar da Dúvida” de Rafael Nani. Brasil
“Perder” de Javier Colongo y Hugo Meyer. Argentina
“Porno Star” de Yashim Bahamonde y Nelson Mendoza. Perú
“Shift” de Juan Carlos Zaldivar. Estados Unidos
“The Last Day of the Dragon” (“El Ultimo Dia del Dragón”) de Jamil Hendi. Rumania
“The Real Thing” (“La Cosa Real”) de Yamil Julian Cure. Reino Unido
“Two Weeks Tops” (“Dos semanas Tope”) de Danny Hecht. Israel
“When the music´s is over” (“Cuando se acaba la música”) de Shahar Gross. Israel
“Camionero” de Sebastian Milo. España.

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Acalanto para uma outra São Luís.

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Republico abaixo o texto que escrevi depois de assistir o filme “Acalanto” do cineasta maranhense Arturo Saboia.

“Acalanto” e Arturo acabam de ganhar seis prêmios no festival de Gramado, um dos mais importantes festivais de cinema do Brasil e da América Latina. 

De parabéns Arturo e toda a equipe que participou desse projeto e de parabéns o Maranhão que passa por um período bastante rico e produtivo no que diz respeito as realizações cinematográficas

Enganar-se-á redondamente quem imaginar que o título acima se refere a um tema político. Estará equivocado aquele que pensar que eu desejo hoje abordar algum aspecto de nossa cidade usando a vertente partidária ou ideológica. Cairá em erro quem supor que eu vá hoje vociferar contra o abandono do centro histórico, contra a inação dos governos em suas três esferas de descaso para com o nosso patrimônio cultural, histórico e arquitetônico.

A outra São Luís de que falo nos chegará hoje pelo foco da sensível e competente lente de um de nossos maiores cineastas.

A São Luís dele é a cidade das calmas ruas do centro. Nela se materializam os personagens do belíssimo drama concebido na genial cabeça de Mia Couto, maior escritor cabo-verdiano. Uma outra São Luís, um doce cenário que se adequa perfeitamente a quase todas as histórias que já tenham sido escritas ou que ainda venham a ser, tendo o ser humano, suas circunstâncias e suas conseqüências como pano de fundo.

Falo da São Luís de Arturo Saboia, cineasta que compõe a elite do cinema maranhense. Nesse ofício ele encontra-se ao lado de Frederico Machado, Francisco Colombo, Beto Matuck, Breno Ferreira, João Paulo Furtado, Zé Maria Eça de Queiroz, Junior Balbi, Ione Coelho, Denis Carlos, entre outros, sempre inspirados no trabalho de pioneiros como Murilo Santos, Euclides Moreira Neto, Ivan Sarney, João Ubaldo de Moraes… Tenho certeza que você leitor amigo pouco conhece sobre o cinema e os cineastas maranhenses. A culpa não é sua. Espero que muito em breve essa realidade mude. Tenho fé de que logo isso vai acontecer.

Recentemente Arturo chamou a mim e a Jacira à sua casa para assistirmos ao seu novo filme, “Acalanto”. Uma verdadeira obra prima.

Arturo que estreou com o também excelente “Borralho”, baseado em um conto do mesmo Mia Couto, é um cineasta cuja maior qualidade, longe de ser a única, é a forma delicada e sensível com que aborda os temas aos quais se debruça. Ele faz isso mais uma vez com maestria em seu novo filme.

Roteirista minucioso, desenha as palavras de seu guião de tal forma, que de posse dele, qualquer um possa realizar um belo filme.

Tive o prazer e a honra de trabalhar com Arturo na confecção dos roteiros de alguns de meus filmes e posso garantir-lhe que ele é sensível, culto, aplicado, humilde e generoso, qualidades que fazem com que ele seja um grande artista.

Quanto ao filme, sem correr o risco de desmanchar o prazer de quem vier a vê-lo, posso dizer que é a declaração de amor fraterno mais doce que vi ultimamente no cinema. Digno de produções grandiosas. Devo dizer que este curta metragem bem que poderia fazer parte de um longa que retratasse essa temática, que desfolhasse a flor do amor simples e singelo que a maioria das pessoas nem percebem que existe, bem ao nosso lado.

Arturo com o seu “Acalanto” dá um salto qualitativo e quantitativo imenso em relação ao seu primeiro filme, “Borralho”. Este que já era bom, agora passará a ser uma referência filmográfica importante, pois o segundo é perfeito.

Dizer isso mais que um mero elogio é um desafio ao autor, para que ele se supere também no próximo, coisa que tenho certeza, ele fará.

Quanto ao desempenho dos dois atores em cena, ele é irretocável. Luiz Carlos Vasconcelos e Léa Garcia estão perfeitos em seus papeis. Tempos atrás eu havia sugerido a Arturo que chamasse Laura Cardozo para viver Dona Luzia. Não foi possível e acabou por ser melhor. Léa Garcia está soberba. Para mim e para quem viu o filme ela arrebatará muitos dos prêmios que disputar.

O mesmo deve ocorrer com “Acalanto”, que tendo um tempo de duração elevado para um curta metragem – eles devem ter até quinze minutos, o filme de Arturo tem vinte e três – mesmo assim, ele deve ser o filme curto maranhense mais premiado do ano.

“Acalanto” é um filme do qual gostaria de ter participado em qualquer função, mesmo que trabalhasse como operador de Travelling ou como um simples continuísta. Por isso a Fundação Nagib Haickel e a Guarnicê Produções se responsabilizarão pelo custeio do envio dessa obra para alguns dos mais importantes festivais de cinema do Brasil e do Mundo.

Fico orgulhoso de, em nossa terra, termos pessoas como Arturo Saboia, capazes de realizar uma obra tão importante. Sinto-me privilegiado e orgulhoso de fazer parte desse grupo, de ser amigo desses meninos que tanto honram a nossa tradição cultural.

Vai demorar algum tempo até que eu perdoe Arturo por não ter me chamado para que, mesmo de longe, eu pudesse presenciar a realização dessa bela obra. Vai demorar muito tempo para que eu perdoe a mim mesmo, por não ter à minha disposição o tempo necessário para fazer essas coisas que tanto me aprazem.

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“Acalanto” do maranhense Arturo Saoia é eleito melhor curta em Gramado

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Produção maranhense inspirada em conto de José Eduardo Agualusa, “Acalanto”,
de Arturo Saboia, foi eleito melhor curta do 41° Festival de Gramado.
O filme recebeu seis prêmios.

Confira a lista de curtas premiados:

Curta
Filme: “Acalanto”, de Arturo Saboia
Júri popular: “Acalanto”
Prêmio especial do júri: “Os filmes estão vivos”
Diretor: Arturo Sabóia (“Acalanto”)
Atriz: Lea Garcia (“Acalanto”)
Ator: Kauê Telloli (“A navalha do avô”)
Roteiro: “A navalha do avô”
Fotografia: “Arapuca”
Montagem: “Merda!”
Direção de arte: “Acalanto”
Trilha sonora: “Tomou café e esperou”
Desenho de som: “Acalanto”

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Justiça ao Geia

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Quem ama a justiça, passa além e acima de qualquer diferença ou divergência de ordem pessoal.

Meu velho pai, que tinha a fama infundada de ser um homem pouco fino, era reconhecido por todos como um cidadão extremamente inteligente, dotado da incrível sabedoria dos homens simples e grande conhecedor da alma humana. Entre tantas lições que nos deixou, uma ficou marcada na memória de meu irmão e na minha: que em nossos julgamentos jamais nos deixássemos levar por qualquer preconceito ou sentimento que nos fizesse perder o sentido da justiça e da verdade, qualquer que fosse o caso, situação ou pessoa.

Lembro de como ele nos ensinou essa lição. Sendo ele presidente do Moto, eu torcedor do Sampaio, e meu irmão Nagib Filho maqueano, ele deu o exemplo. “Vejam bem: Djalma é do Sampaio, mas é craque. Hamilton, do Maranhão, é gênio. Acontece que meu time é o Moto, e vou fazer tudo para ganhar o campeonato, mas nunca vou deixar de fazer justiça, de dar o devido valor a quem merece”.

Nagibão criou um personagem e se escondeu atrás dele. Quem o conhecia de perto sabia de todas as suas qualidades (e defeitos). Com ele, eu aprendi a ser justo, e hoje vou fazer justiça a uma instituição que acredito realizar uma obra extremamente importante em nossa terra.

Refiro-me ao Instituto Geia.

O fato de eu não ter nenhum laço de amizade que me ligue ao presidente do Instituto Geia, o senhor Jorge Murad, mesmo sendo ele marido da governadora Roseana Sarney (a quem secretario no setor de Esporte e Lazer) me deixa em situação extremamente confortável para tecer algumas considerações que acredito serem necessárias a respeito daquela instituição.

O Instituto Geia é uma associação de 24 grandes empresários (podia ser muito mais) reunidos com o propósito de realizar ações que eles acreditam ser importantes para a coletividade maranhense.

É sobre um dos campos de forte atuação desse Instituto que eu quero falar especificamente hoje: do setor escolar, da cultura letrada, da literatura e da história.

Por tudo o que tem feito de bom e importante em prol da cultura e da educação em nosso Estado o Geia tem se destacado de forma exemplar.

O Maranhão exporta hoje, para o Brasil e para o mundo, não apenas o alumínio ou o ferro de Carajás, exporta também os livros produzidos pelo Instituto.

A Coleção Geia de Temas Maranhenses já lançou mais de 20 obras substanciais de nossa bibliografia. Quem quiser ter à mão a crônica fiel do que foi a rendição dos franceses pelos portugueses em 1615 tem que ler o Relatório de Alexandre Moura, feito diretamente ao rei de Portugal, e publicado entre nós, pela primeira vez, pelo Instituto Geia.

Quem precisar de uma obra seminal que nos dê conta das possibilidades e dificuldades dos homens de negócio durante o nosso Período Colonial, não pode dispensar-se de ler, anotando, a edição, também anotada, do Compêndio histórico-político de Gaioso, que é de 1818 e só tinha tido uma reedição até agora, do Geia, que tem a vantagem da ortografia atualizada.

Quem quiser nome, biografia e descendência de todos os fidalgos e homens da nobreza maranhense da Colônia e fim do Império, basta consultar os Fidalgos e barões, de Milson Coutinho, publicado em grosso volume do Geia.

O mesmo se diga para quem quiser conhecer a Balaiada por dentro: é só reler Astolfo Serra, um dos nossos clássicos, publicado mais de 50 anos depois da última edição.

A mesma coisa quanto ao que realizaram os governos maranhenses, do Império ao fim da Primeira República. Para isso, leia Administrações maranhenses, de Henrique Costa Fernandes, um livro que fazia falta. E o que dizer das Memórias de Humberto de Campos, reunidas num só volume, e do seu Diário secreto, que, passados mais de 60 anos, retorna a público, e é mais que apenas uma obra de literatura, pois é também o depoimento sofrido de uma vida em dor e o testemunho iluminador do que foi, no fim das contas, o golpe de Getúlio, que a História consagrou com o nome de Revolução de 30. E ainda tem a História do Maranhão, os três volumes de Carlos de Lima, e o Lavardière e a França Equinocial, de Vasco Mariz, a que faz boa companhia o último livro, A Ilha e o Tempo, obra premiada por um Concurso Nacional aberto pelo Instituto Geia para comemorar os 400 anos de São Luís.

Iria longe se pretendesse resenhar toda a bibliografia do Geia. Mas não posso deixar de lado os álbuns magníficos, brinquedos encantados, com fotos maravilhosas sobre a cultura negra maranhense, São Luís, Alma e História e Alcântara, Alma e História.

Mas não paremos aqui. Em todo mês de agosto, já se vão 10 anos, a cidade de Ribamar tem sido sacudida pelo Festival Geia de Literatura.

Esse evento não é só de Literatura, nem é mais só de Ribamar. Atualmente, começa em São Luís, atraindo uma multidão de estudantes em torno de autores que são best-sellers, como Laurentino Gomes e Mary del Priore. O encontro é muito produtivo, porque, antes dele, os alunos já se obrigaram a ler a obra desses escritores, junto com os seus mestres. O significado dessa prática só poderá ser entendido plenamente quando os jovens de hoje forem adultos amanhã, pais e mães de família. É uma memória para sempre, um convite que arrasta com a força do maior e melhor exemplo.

Analogamente ao ensinamento de meu pai, vejo que não ser do time do senhor Jorge Murad em nada importa, pois sou daqueles que independente de time, gosto mesmo é de aplaudir os grandes escretes, de vibrar com as grandes atuações e reconhecer o mérito de quem realmente é capaz de fazer grandes jogadas e ganhar jogos importantes, como tem feito e espero que continue fazendo o Instituto Geia.

Pelo fato de fazer com que o Maranhão volte, em parte, a ter o prestígio dos tempos em que a velha Província era um centro cultural e editorial de grande importância no país, e em tempos mais próximos de nós, quando ainda existia o Sioge, de saudosa memória e importância essencial, o Geia merece nosso reconhecimento, nosso respeito e nossos agradecimentos.

Parabéns aos idealizadores e sustentadores do Instituto Geia, e obrigado pelo importante trabalho que tem realizado para benefício da educação, da literatura, da história e da memória do Maranhão.

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