A Democracia do Almoço de Domingo
Chova ou faça sol, todo domingo, estando em São Luís, almoço na casa de minha mãe. Eu, meus irmãos Nagib, Lúcia e Jorge juntamente com nossas famílias, mulheres, marido, filhos, noras, genros, amigos e agregados. Alguns domingos somos umas trinta pessoas.
Nossa família é como toda família. Somos unidos mesmo tendo nossas diferenças. Torcemos por times diferentes, mas sempre juntos pela Seleção Brasileira… Se bem que um membro importante do nosso clã, um “maluco” que pouco ou nada entende de futebol e de política, achou que se a Seleção Canarinho fosse mal na Copa do Mundo o país iria melhorar… Tolo, não sabe que as coisas não acontecem assim, caso contrário seria muito fácil resolver certos problemas!
Um desses domingos, depois do almoço durante a sobremesa, surgiu o assunto da eleição. O tema foi pegando fogo e de repente resolveu-se fazer uma simulação de eleição com os presentes.
Fizemos várias rodadas de consultas. Começamos pelo cargo de presidente da República. Ao final da conferência chegou-se ao resultado de AN9, DR 8, EC1 e 3 disseram ainda não ter resolvido em quem votar.
A segunda rodada de votação foi para senador. 15 disseram que votariam em GV, 3 em RR e 3 disseram ainda não ter resolvido em quem votar.
Seguimos então na apuração dos votos da nossa Távola Retangular dominical. Para deputado federal a disputa seria mais acirrada, pois meu cunhado resolveu fazer boca de urna para seu candidato. Se eu não o amasse tanto, por ele ter a santa paciência de viver com minha irmã em paz e harmonia pelos últimos 40 anos, eu iria dar-lhe voz de prisão e proibí-lo de tomar o cafezinho da sogra. Ao final tivemos LM com 9 votos, PN com 6 (nessa época ele ainda era candidato), CT com 4 e os 2 outros votos foram dados a candidatos contrários ao meu grupo político e devo aqui justificá-los.
Não declinarei o nome dos eleitores, mas citarei seus candidatos e o motivo de seus sufrágios. Um dos eleitores disse que votava em JC por ser seu amigo e dever-lhe atenção e carinho. O outro eleitor divergente disse que votaria em JRT, pois há muitos anos este lhe deu um emprego. Fiquei com vontade de dizer-lhe que quem deu o emprego foi o prestigio que JS emprestou para o tal candidato. Calei.
O clima estava acalorado, a temperatura tinha aumentado e os ânimos estavam exaltados. Minha mãe ria!… Ela adora ter a família em torno dela. Meses antes ela havia pedido para ir ao TRE para se recadastrar, pois queria votar. Minha mãe de criação, Mãe Teté, resolveu não fazer o mesmo: “Não dou mais pra isso…”
A votação continuou. Era a hora de escolhermos nosso deputado estadual. Aqui aconteceu uma coincidência, pois dois dos candidatos votados tinham as mesmas iniciais. RC1 teve 12 votos e RC2 ficou com os outros 9, isso depois de minha cunhada e um amigo da família fazerem campanha para seus respectivos candidatos.
Quando chegou a hora de votar para o cargo de governador o que se viu foi um massacre. ELF 21 e FD zero.
Quis saber os motivos do voto de cada uma daquelas pessoas. Escolheram este candidato porque acreditam que ele realmente fará um bom governo? Alguns disseram que votam nele por não concordarem com os posicionamentos dos outros candidatos. Minha mulher vota nele por ele ser empreendedor. Minha segunda filha vota nele por crer que ele irá transformar o nosso estado sem usar armas como a hipocrisia. Alguém comentou que vota nele porque o ouviu discursando e se empolgou com sua fala. Minha tia solteirona disse que ele é um “gato”. Um sobrinho disse que ele passa confiança.
Ao final todos nós comemoramos a maravilhosa família que temos e a deliciosa democracia que desfrutamos. Uma democracia baseada no respeito e no amor.
Ao me despedir de minha mãe ela me puxou para o lado e me disse ao ouvido que ela acreditava que meu amigo iria ganhar a eleição. Disse que não será uma eleição fácil, mas que acredita que ele realmente possa fazer mais pelo Maranhão e sua gente, disse que eu posso contar com o trabalho dela e de suas amigas e amigos em mais essa campanha.
Saí da casa de minha mãe naquele domingo como saio sempre, feliz! Mas naquele dia a felicidade tinha um outro sabor. Não era do maravilhoso cuxá com peixe frito e torta de camarão. Não era o sabor do dulcíssimo abacaxi de Turiaçu nem do Romeu e Julieta, nem do cafezinho de nossa velha. O sabor que ficou em nossa boca era o sabor da alegria por termos uma família grande, que convive em harmonia.
Ao chegar a minha casa senti algo um tanto estranho. Era como se meu pai me falasse ao ouvido: “Fico feliz ao ver que tua mãe ocupou com perfeição o meu lugar à mesa…”
Em algumas ocasiões sinto falta de meu pai. Numa campanha política poucos eram tão bons quanto ele. Mas foi no convívio diário, nos almoços de domingo que minha mãe nos ensinou o valor da família e meu pai, a importância do debate e da democracia.