Nasceu pra ser feliz!
Existem alguns fatos bastante curiosos em nossas vidas. Do momento em que nascemos até o momento em que constituímos família e geramos nossos filhos, tempo que varia de vinte e cinco a trinta anos, somos unicamente filhos de nossos pais. Dai pra frente, durante outros 25, 30 anos somos preferencialmente pais de nossos filhos. Ocorre que no período em que contamos com uma idade que vai de 50 a 55 anos, passamos a ser preferencialmente pais de nossos pais para em seguida, quando estivermos na faixa de 75 a 80 anos, se tivermos sorte, sermos filhos de nossos filhos.
Esse é o ciclo natural da vida. Mas há um motivo para eu estar aqui, hoje, comentando esse assunto com você, caro amigo(a). É que de um tempo para cá, desde que minha mãe completou 85 anos, me preocupo cada dia mais com ela, com sua saúde, com sua qualidade de vida e com o destino inexorável que espera por todos nós no final de nossas histórias, como protagonistas presentes e atuantes em nossos enredos.
Minha mãe já sobreviveu à ausência de meu pai por 22 anos e nesse tempo aprendemos mais com ela do que nos 33 anos antes desse fato.
Ela é uma mulher incrível, e não digo isso por ela ser minha mãe, digo isso pelo fato dela acabar sendo mãe postiça de uma infinidade de pessoas das mais diversas origens e procedências, pessoas que se afeiçoam a ela pelo seu jeito de ser e de agir, pelo seu coração de ouro e sua alma de cristal.
Outro dia recebi um telefonema de Teresa Nascimento, uma amiga minha de longas datas, pedindo para eu dizer à minha mãe que ela estava tentando falar com ela e não conseguia, seu celular chamava e ela não atendia. Teresa conhece minha mãe há muitos anos, mas as duas se tornaram muito ligadas graças às atividades da igreja.
O famoso padre Claudio, do Cantinho do Céu, trata minha mãe com deferência semelhante a que trata sua própria genitora, o mesmo ocorre com todas as pessoas de seu convívio naquela maravilhosa comunidade cristã, a qual, em que pese eu não ser frequentador, eu muito admiro. Em minha defesa poderia citar Margareth e Zé Reinaldo, este meu contemporâneo do Colégio Batista, hoje companheiro de minha velha nas obras da igreja.
Madrugada dessas acordei sobressaltado, com um peso no peito e um nó na garganta. Por um instante fiquei imaginando o que poderia eu estar sentindo, já que sempre me vi como um sensitivo bastante perspicaz. Poderia ter imaginado que algo teria acontecido com alguma de minhas filhas, principalmente com a mais nova que é roqueira… Nem cogitei! Poderia ter imaginado que fosse algo com meu irmão que toma umas cervejinhas nos fins de semana… Nada! Minha preocupação foi direto para minha mãe, que naquela hora estava dormindo tranquilamente em sua caminha.
Fiquei imaginando o que aconteceria comigo, com meu irmão, com todos que a amam se algo de ruim acontecesse com ela. Fiquei apavorado! Não consegui mais pregar o olho.
Dias se passaram e voltei a imaginar esse cenário catastrófico, mas dessa vez resolvi pensar com a cabeça de minha mãe, analisar isso tudo como se fosse ela e foi como se a ouvisse dizer: “Meu filho, eu nasci pra ser feliz e o serei enquanto Deus quiser”.
A única coisa que eu peço a esse Deus ao qual minha mãe dedica tanto trabalho e amor é que ele não permita jamais que ela sofra, pelo menos não mais do que ela possa dignamente suportar.
Gostaria que você soubesse, caro leitor(a), que quando comento isso com você não é na tentativa de me vangloriar pela mãe adorável que eu tenho. Cada um de nós tem a sua. Falo para que você saiba que as preocupações que você sente em relação aos seus entes queridos são comuns a outras pessoas e possa saber que o que você sente também é sentido por muita gente. Então, seja bem vindo ao seleto grupo dos que se preocupam com o bem estar de seus maravilhosos velhinhos.
PS: No que diz respeito ao quesito mãe eu e meu irmão somos felizardos. Tivemos três. Além de Clarice, que sentiu as dores dos partos, nós também tivemos duas mães de criação, que se dedicaram a nós com amor e devoção: Yolanda, que era uma espécie de enfermeira, e já se foi… E Estelita uma espécie de “disciplinadora”, que nos acompanha até hoje, com a qual temos as mesmas preocupações.