Relatos de um sábado à noite
Numa dessas noites comuns de sábado, em que os amigos não nos convidam para nenhum evento, eu e minha mulher fomos ao cinema assistir ao filme “Fome de Poder”, sobre o fundador da rede de lanchonetes McDonald’s. Quanto ao filme, apenas devo dizer que não lhe fará nenhum mal assisti-lo!
Ameaçava chuviscar e eu torcia para achar uma vaga o mais perto possível num dos acessos ao shopping. A sorte, que sempre me sorri, me deu um ótimo local para estacionar.
Logo ao descermos do carro encontramos uma amiga que não via fazia anos e tive uma gostosa sensação de saudade dos tempos do Colégio Batista, quando, muito jovens, brincávamos alegremente, sem nem imaginarmos os caminhos por onde nossas vidas nos levariam.
Num piscar de olhos minha memória me levou para passear lá pelo João Paulo. Lembrei-me das professoras, da equipe de estudos e trabalhos, dos recreios, do sanduiche de queijo com Q-suco de framboesa, dos jogos, de seu Zé e seus picolés, do professor Emilio, dos amigos, das namoradinhas… Naquele rápido abraço, trocamos anos de cumprimentos, palavras de carinho e afetos sinceros.
Minha mulher sempre ficou surpresa com a quantidade de pessoas que me conhecem! Ela sempre se impressionou com o fato de muita gente, muita mesmo, passar por mim e cumprimentar-me. Naquela noite, até eu mesmo fiquei impressionado e depois do terceiro cumprimento, resolvi contar. No trajeto entre o estacionamento e a sala de exibição, foram seis acenos de cabeça, quatro apertos de mão e duas paradas para uma rápida conversa.
Naquela noite encontrei o deputado Bira do Pindaré e sua esposa. Ele perguntou-me que filme recomendaria a eles, e eu, que pra falar de cinema só preciso de uma deixa, desfiei o rosário de minhas resenhas.
Ele, por sua vez e para minha surpresa, disse ser fã dos filmes de super-heróis da Marvel! Já eu, preconceituoso, imaginei que um deputado socialista só gostasse de filmes engajados!
Bira disse que iria assistir “Logan” e lhe disse que já o havia visto e que achei um filme pouco Marvel, com um toque sentimental e profundo. Até com metalinguagem, usando o clássico “Os brutos também amam” para metaforizar a fúria do personagem de unhas grandes.
Depois da tradicional pipoca entramos na sala. Sobre as compras feitas na lojinha dos cinemas, apenas a constatação que eles não vendem entretenimento, mas sim, guloseimas, pois elas são mais caras que os ingressos.
Depois de assistirmos ao filme fomos comer um delicioso sushi, para em seguida tomarmos o rumo de casa.
Saindo do restaurante, quase chegando ao carro, ouço alguém dizer: “Como vai deputado!”. Virei-me e vi que era o motorista de um táxi estacionado, à espera de passageiro.
Cumprimentei-o com o meu tradicional “E aí cumpade!”, ao que ele respondeu que estava tudo bem.
Ato contínuo, ele perguntou por que eu não havia mais me candidatado e nem deixou que eu respondesse e já foi arrematando: “Um homem como o senhor não devia deixar a política!”. Meu ego quis se inflar, mas ele nem deixou que eu agradecesse e demonstrando estar inteirado dos assuntos da política, mandou outra: “E a mulher!? Ela vai voltar, não vai!?”
Vi que a conversa poderia continuar em um barzinho e que minha mulher não iria gostar nada daquilo, portanto, me limitei a perguntar apenas o que ele achava! Se ela deveria voltar! Ele respondeu com um sorriso largo: “Claro! Nós éramos felizes e não sabíamos! Eu mesmo votei contra ela, mas não adiantou nada! Fez foi piorar! Aumentaram foi os impostos!…”
Dei-lhe um aceno de mão, entrei no carro e fui pra casa! Tinha muito no que pensar.