Cinéfilo!?… Sim!…

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Fui assistir ao filme “Green Book” e não me decepcionei! Pelo contrário, adorei!

Sou daqueles que de tão calejado, conhece um filme de diversas maneiras: pelo título, pelo elenco, pela sinopse, e até pelo cartaz. Outro dia um ogro, na tentativa de me ofender, disse que eu era apenas e tão somente um mero cinéfilo e para o desespero do referido infitético eu me realizei com o insulto, até porque se alguém ama o que faz, o faz com mais devoção e consequentemente com mais entrega, o que já é meio caminho andado para que se alcance o sucesso. Mas, deixemos os recalcados em sua tábula rasa (rasa não no sentido que deram Aristóteles ou Locke, que acreditam que a mente ou o intelecto, começam vazios e depois se enchem, mas rasa no sentido de que assim sendo, não tem muito espaço para encher com nada).

Sobre “Green Book”, aconselho que vá assistir, pois qualquer briefing que eu der sobre ele será insuficiente. Li em algum lugar que esse filme lembrava “Conduzindo miss Dayse”! Pode até ser que algum saudosista ache isso, mas as maiores semelhanças entre estes filmes são em relação ao fato da história se passar quase toda dentro de um carro! No mais, o fato dos dois personagens de cada filme terem uma incrível complexidade, ao mesmo tempo em que são perfis característicos de suas épocas e circunstâncias. A sensibilidade, a devoção, a amizade, o respeito que se sobressai no decorrer da história, são outros aspectos que estão nas duas obras.

Já tive oportunidade de comentar aqui sobre um outro filme que como “Green Book” está entre os melhores de 2018 e como ele, concorre ao Oscar deste ano. Falo do sensacional “Roma”.

Conversando com meu amigo, Marcio Salem, um dos nossos melhores críticos de cinema, comparamos os dois filmes e ele achou “Roma” melhor que “Green Book”. É completamente possível que essa opinião esteja correta. Inclusive, concordo com ele no que diz respeito ao trabalho de reconstituição de época. Enquanto o trabalho desenvolvido em “Roma” mostra uma Cidade do México em 1971, em planos abertos, com uma cenografia e direção de arte perfeitas, “Green Book” mostra Nova York e algumas outras cidades americanas em 1962, mas em planos fechados, sem a mesma riqueza de detalhes que o filme de Alfonso Cuarón apresenta. Em contrapartida, o filme mexicano se baseia nas impressões do autor sobre sua infância, o que o torna intimista, falando algumas vezes apenas a ele mesmo e a algumas pessoas que viveram experiências parecidas, enquanto o filme americano fala de sentimentos universais, comuns em todos os tempos, em todos os lugares e a todas as pessoas.

Decidir qual filme é melhor entre produções magistrais como essas é tarefa muito difícil ou no mínimo delicada, pois essas produções, bem como outras, tão boas quanto elas, quando colocadas em julgamento, tendem a ter pontuação bem semelhante, sendo diferenciadas por detalhes que para alguns podem parecer insignificantes.

No caso em questão, o roteiro de “Green Book”, em minha modesta opinião de cinéfilo, é mais bem estruturado que o de “Roma”, que é mais pessoal e ilustrativo da vida do autor. As performances de Mahershala Ali e Viggo Mortensen são melhores que as de Yalitza Aparício e Marina de Tavira. Já o trabalho de recriação de época de “Roma”, bem como a direção de Alfonso Cuarón, superam os mesmos itens em “Green Book”. Aparentemente há aqui um empate que deve ser decidido milimetricamente no final.

A minha sugestão é no sentido de que vocês assistam a todos os filmes que concorrem ao Oscar deste ano para tirarem suas próprias conclusões. E não se esqueçam de assistir também o grande sucesso da temporada, “Muleque té doido – Mais doido ainda”.

PS: Uma grande injustiça foi cometida! Nem sequer indicaram o filme “Jangada” para concorrer na votação que decidiria qual o filme brasileiro participaria da seleção para o Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano! Que coisa feia!…

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Um maluco beleza chamado Erlanes

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Em 2014 apareceu lá pelo MAVAM (Museu da Memória Audiovisual do Maranhão) um sujeito que ninguém conhecia, dizendo que estava desenvolvendo o projeto de um filme e que gostaria de contar com a nossa ajuda para realizar a tal produção. Perguntei-lhe sobre o conteúdo do curta-metragem que ele pretendia fazer e ele meio sem jeito me disse que não era um curta, e sim um longa! Espantado, continuei querendo saber sobre o projeto! Imaginei que seria um documentário, mas ele me afirmou que seria um filme ficcional e eu fiquei imaginando só comigo: “Tem cada doido nesse mundo! O cara nunca fez nem um curta e já quer fazer um longa-metragem e logo num gênero que requer muito conhecimento e técnicas específicas e apuradas!” Perguntei qual o assunto e ele me disse ser uma comédia, que se chamaria “Muleque Té Doido” e que retrataria um grupo de amigos bem peculiar de nossa cidade, de forma despretensiosa e escrachada. Foi aí que vi que ele sabia exatamente o que pretendia.

Aquele sujeito era Erlanes Duarte, naquele mesmo dia ganhou o meu respeito e já saiu do MAVAM levando alguns equipamentos importantes para realização de seu primeiro filme.

Para quem não sabe, o Museu da Memória Audiovisual do Maranhão, da Fundação Nagib Haickel, tem como objetivo pesquisar, coletar, preservar, digitalizar e difundir a memória maranhense em meios audiovisuais, e uma das formas que nós encontramos de fazer isso é apoiando produções desse setor em nossa terra. Nesse sentido, funciona lá o Polo de Cinema do Maranhão que conta com a participação de diversas produtoras e indivíduos que fazem cinema por aqui. Esse polo agora conta com o importante apoio do Núcleo de Produção Digital do Maranhão, que é gerido pelo IFMA-MA e pela FNH.

Mas, voltando ao “Muleque Té Doido”!… Do sonho deste maluco beleza, o Erlanes Duarte, e de sua trupe, não saiu apenas aquele filme que fez de cara um incrível sucesso de público, pois falou de forma direta e simples exatamente o que uma boa e grande parcela da população gostaria de ouvir e ver. Em 2016 saiu o segundo filme, “A lenda de Dom Sebastião” que obteve um sucesso pelo menos cinco vezes maior que o primeiro em termos de público e conseguiu a façanha de ser o 15º filme mais visto nos cinemas do Brasil naquele ano, superando produções de alguns dos grandes estúdios internacionais. Agora em 2019 eles lançam o “Mais doido ainda” que terá seu lançamento alavancado por um verdadeiro marco do nosso cinema: osegundo filme da franquia será o primeiro filme maranhense exibido em emissora de televisão com sinal aberto, fato que ocorrerá no sábado, dia 26 de janeiro, na faixa Supercine da afiliada Globo do Maranhão, a TV Mirante!

A franquia “Muleque Té Doido” estabeleceu um parâmetro alto no cinema maranhense, no que diz respeito a sucesso de audiência, fato que não ocorre com outras produções de nossa terra, que, em que pese sejam provenientes de um tipo de cinema bem mais sofisticado e autoral, com produções que primam pela existência de roteiros de grande valor literário e artístico, se servindo de temáticas polêmicas, sociais ou históricas, não conseguem a mesma penetração que esse cinema mais simples, despretensioso, pastelão e escrachado, feito por Erlanes e sua turma.

O Cinema maranhense, já faz mais de 10 anos, desde 2008, com a realização de “Ai que vida!”, de Cícero Filho, e “Pelo Ouvido”, deste humilde redator que vos escreve, vem evoluindo de maneira constante e sempre exponencial. Cineastas autorais como Frederico Machado, Arturo Saboia Daniel Drumont, realistas ou naturalistas como Beto Matuck, Breno Ferreira, Francisco Colombo, Leandro Guterres, Mavi Simão, os mais jovens como Lucas Sá, Marcos Pontes, Breno Nina, Al Danúzio, Taciano Brito, Áurea Maranhão, o pessoal da animação, como Beto Nicácio, Iramir Araújo e Adriano Pinheiro, formam a linha de frente de nosso cinema, que conta com muito mais gente, tão capacitada quanto os aqui citados, isso sem contar com profissionais de altíssimo nível que dão suporte e vida aos nossos projetos, como diretores de fotografia, de arte, cenografia, e de produção.

Erlanes Duarte e seus moleques doidos são parte importante do nosso cinema e recebem de mim, e acredito que devam receber de todos que fazem cinema no Maranhão, o mais profundo respeito e os aplausos por conseguirem realizar, com sucesso, aquilo que se propuseram!

Quando analiso um filme, a primeira coisa que observo é se o realizador da obra conseguiu fazer aquilo que se propusera. No caso do “Muleque Té Doido”, esse intento sempre foi alcançado com sobra.

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As ilustrações substituem o título…

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Hoje me sinto obrigado a escrever sobre um assunto que já abordei aqui já faz alguns meses. O título do artigo foi “A importância do voto ideológico”, no qual digo que, “não simpatizo com a forma do candidato Jair Bolsonaro se expressar, nem com algumas de suas posições perante a vida e a sociedade. Ele é desprovido do verniz necessário para uma boa convivência, no entanto, vejo em alguns outros posicionamentos seus, lato sensu, coerência e objetividade. Jamais cogitaria votar nele se houvessem boas alternativas, que, garantidamente, impedissem a vitória de um candidato de esquerda à Presidência da República. Anteriormente, eu havia declarado que votaria no candidato que fosse o menos pior, uma vez que não via entre os postulantes quem se classificasse na categoria de bom. Na época, disse que o candidato de minha escolha seria o Geraldo Alckmin, que infelizmente não se viabilizou eleitoralmente”.

E continuei explicando que “o voto ideológico é aquele que o eleitor dá, baseado nas propostas defendidas pelo candidato que mais se identifica com o seu jeito de pensar. Há, no entanto, outro tipo de voto ideológico, um que se contrapõe diametralmente a este citado anteriormente. É aquele que eu chamo de voto anti-ideológico, praticado por um eleitor que deseja que não se eleja um candidato de uma determinada ideologia da qual ele discorda e não quer vê-la predominando na política de seu país, sendo aplicada pelo gestor de seu Estado, de forma que regule as relações da sociedade. É este o tipo de voto que eu exercerei e é ele que eu defendo para este momento em que o Brasil se encontra, tão fragilizado, há tanto tempo torto e capenga para o lado esquerdo”.

E me aprofundei dizendo que estava recebendo, “através de conversas presenciais, ligações telefônicas, mensagens de WhatsApp, comentários nas diversas redes sociais, apelos e manifestações para que eu não vote em Bolsonaro. Pessoas amigas chegam a me dizer que alguém inteligente como eu, um homem de bem e do bem, não pode votar num sujeito como esse. Eu tenho dito a todas essas pessoas que eu não votarei nele! #EleNão! Votarei contra o candidato do partido que defende a ideologia que instalou em nosso país o aparelhamento do Estado, transformando-o em mera ferramenta partidária, patrocinadora de ações que até parecem ter um conteúdo saudável e justo, revestidas de uma capa de correção e honestidade, mas que no seu âmago é só desfaçatez, só desvio de conduta, mentira, corrupção, ações e posicionamentos não republicanos e completamente antidemocráticos”.

Naquela ocasião disse; “Não votarei em Bolsonaro! Votarei num candidato que tenha condição de impedir que a esquerda continue destruindo nosso país e suas instituições”.

Jamais disse ou pensei que Bolsonaro iria resolver os problemas do Brasil. O que eu queria era alguém que possibilitasse que aqueles que durante quatro eleições enganaram o povo brasileiro, não mais continuassem a fazê-lo.

Quem imaginou que o desmonte do aparelhamento sistemático instituído pelo PT e seus asseclas seria fácil, se enganou amargamente! Cada errinho cometido por este governo vai ressoar como se fosse um pecado mortal e uma calamidade pública. Cada safadeza ou real desvio de conduta abrirá a porta do inferno. Esse é o preço que tem que ser pago por Bolsonaro, por ele ter se atrevido a desmontar o esquema de privilégios e concupiscência que foi implantado pelo PT para se manter no poder.

Hoje ao ler algumas postagens no Twitter, batendo forte em Bolsonaro, algumas com razão e sentido, lembrei-me desse texto, que escrevera antes da eleição de 2018, e iria postar os comentários, aspados a seguir, quando resolvi escrever algo mais reflexivo que um Tuite:

“Errou quem votou em @jairbolsonaro achando que ele iria salvar o Brasil! Errou igualmente quem votou contra Bolsonaro achando que ele é um fascista, e iria piorar o Brasil! Acertou quem votou em Bolsonaro pra se livrar dos esquerdopatas! Agora é só torcer e esperar 4 anos!”

E continuaria: “Roma”, o filme, não agradará a todas as pessoas que o assistirem, mas acredito que no ano de 2018, não haverá nenhum filme melhor que ele!…O mesmo ocorre com @jairbolsonaro! Há quem não goste dele, mas em 2018 não havia nenhum candidato mais viável para escolhermos!…

E para finalizar eu postaria: “Bolsonaro é um mal necessário! Sem ele o Brasil continuaria coxo e caolho… Não que @jairbolsonaro vá resolver todos estas mazelas, mas pelo menos não vai continuar a fazer aquelas que faziam os esquerdopatas! Não!?…”

Assim espero!…

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A difícil arte de gostar de filmes!…

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Algumas pessoas têm me indagado, de diversas formas e maneiras, umas com muito tato, outras um tanto constrangidas, outras ainda de forma muito explícitas e até indignadas, se eu gostei do filme “Roma” de Alfonso Cuarón, e eu tenho respondido que sim… Porém!… O que vem depois dessa conjunção adversativa é que é o problema! O motivo que pode me colocar em desacordo com muitos daqueles que adoraram o filme e que se perguntados por qual motivo vão se enrolar ao explicar.

Eu gostei do filme, mais por sua extraordinária reconstituição de uma época do que por qualquer outra coisa. A reconstrução cênica da Cidade do México no ano de 1971 não ficou restrita a uma ou outra tomada, feita em enquadramento fechado, em uma ou duas locações. Neste aspecto o filme é monumental e generoso, a câmera passeia e nos mostra sequências inteiras acompanhando Cléo, a empregada que é a personagem central da história, pelas ruas da cidade. Nestas cenas, a impressão que temos é que o filme realmente foi realizado nos primeiros anos da década de 1970, ou seja, quase 50 anos atrás.

Estamos acostumados a filmes de época, que normalmente nos mostram ambientações, cenografias, guarda-roupas, penteados, que nós não conhecemos, e que não temos possibilidade de sabermos se estão corretos! São filmes ambientados na era vitoriana, ou histórias sobre o Velho Oeste ou a Idade Média, ou mesmo na época de Jesus e até antes dele, tempos em que não temos como realmente saber como eram as coisas e a vida. Neste caso, os anos de 1970 ficaram em nossa memória, vivenciamos eles!

Não me lembro de um filme de época, contemporâneo, com uma defasagem de tempo tão grande do fato, feito com tanta competência quanto este. “Hair” é um dos melhores que me ocorre, mas em muitos aspectos tem vantagem por ser um musical e por ter sido realizado poucos anos depois dos eventos que o motivaram! Ele não foi tão difícil de fazer quanto “Roma”.

Só para você ter uma ideia, “Hair” foi lançado em 1979, deve ter sido produzido em 1978 e os seus fatos geradores principais, o Festival de Woodstock e a Guerra do Vietnã, aconteceram no intervalo de dez anos.

Neste aspecto “Roma” é uma das melhores produções de reconstituição de uma cidade e uma época da história do cinema, fato que foi imensamente ajudado pela inteligente escolha do diretor, o genial Alfonso Cuarón, por fazer um filme sem cores fortes, apenas em preto, cinza e branco.

Nos anos de 1970, com o advento da televisão colorida, nossas vidas pareciam ter até mais cores que realmente tinham. As cores eram berrantes. O vermelho, o laranja, o amarelo eram mais vibrantes e o azul e o verde, mais vivos. O fato do filme não ser colorido faz com que possíveis erros de produção passem despercebidos, e os tons de cinza que foram usados acalentam as nossas lembranças, nos remetem a fotos antigas.

Os objetos de cena, os utensílios, os carros, os jogos das crianças, o pôster da Copa do Mundo de 1970, os cortes de cabelos, as roupas, tudo que é visto no filme está de acordo com a situação e a época. Somos testemunhas disto.

Quanto à história propriamente dita, é uma boa história, enredo de muitas pessoas e famílias daquela época. A história de Cléo, interpretada por Yalitza Aparicio, e a relação de amor entre ela e a família não é apenas verossímil, mas é verdadeira e realmente aconteceu muitas e muitas vezes pelo mundo afora. Com a minha família, foi Santana e Raimundinha.

A delicadeza e a poesia de Cuarón, ao contar o que dizem ser parte de sua própria história, faz o diferencial no filme que também tem pontos fracos como a lentidão e as sequências grandes demais, mas são coisas que não estão colocadas de forma aleatória no filme. Era exatamente assim que o roteirista e o diretor queriam que fosse feito.

Este é eminentemente uma obra de autor, quase amadora em sua mais profunda concepção, até porque o roteirista, o produtor, o diretor, o fotógrafo e o montador são a mesma pessoa.

“Roma”, de Alfonso Cuarón, é um grande filme, e parece que no ano de 2018, poucos foram aqueles tão bons quanto ele.

PS: Depois comentarei sobre “Bird Box”.

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Preparando a tela para pintar

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O jogo político é sempre intrincado!… O quadro surgido depois da eleição de outubro de 2018 confirmou o estabelecimento de um novo poder hegemônico na política maranhense. Destrona-se o grupo Sarney, e agora, ao que parece, definitivamente, passa a reinar o grupo Dino.

A última frase do paragrafo anterior pode confundir e enganar os incautos, mas os astutos e experientes sabem que o novo coronelato de nossa política assume também os ônus do poder, e não apenas os bônus, coisa que alguém mais desatento possa não ter imaginado.

A hegemonia traz em si doenças que são comuns a todas as de sua espécie. Gigantismo, hipoglicemia, pressão alta, diabetes, enfisema, depressão… Isso, se nós formos comparar o grupo no poder com pessoas, ou seja, muita gente para aquinhoar, muita gente precisando de “docinhos”, intolerância ao sal do suor, intolerância ao açúcar da compreensão, pouca capacidade de respirar, devido certas intoxicações, desespero por ver que a situação está complicada… Isso sendo metafórico ou ao constatar os defeitos, idiossincrasias e necessidades de alimentar e manter uma tropa composta de peças assim tão díspares, como sempre ocorre em casos como esse.

A primeira coisa que acontecerá logo nos próximos meses é a sedimentação do novo grupo. Os mais tolos dirão: como assim, novo grupo!?… Eu, pacientemente, explico! Flavio Dino foi muito astuto ao ter passado os seus primeiros quatro anos de governo, como se estivesse ainda na oposição, mas agora que ele sucede a si mesmo, isso será muito difícil de fazer! As pessoas, não mais vão aceitar que ele coloque na conta de seus adversários, todas as mazelas que nos assolam! Essa é a sedimentação de que falei!

A segunda coisa que irá acontecer é a construção e o estabelecimento de torres de poder nas muralhas do novo castelo da política maranhense. Uma dessas torres será construída pelo político que pode ser visto como a luz no fim do túnel, o político por cujas mãos, irremediavelmente, passará, de um jeito ou de outro, a decisão de rumo e futuro deste grupo, e quem sabe de todo nosso estado, o vice-governador Carlos Brandão.

A outra torre será construída pelo jovem senador Weverton Rocha, único político deste grupo que tem pessoalmente a capacidade de articulação partidária e política consolidada, excetuando-se, é claro, o governador.

Apaixonado por história lembro-me das dezenas de vezes em que um rei velho teve que administrar as tensões entre seu herdeiro natural e seu duque mais poderoso… Mas imagino que esse rei ainda não esteja velho o suficiente para essa comparação e que o herdeiro natural e o duque mais poderoso irão se entender, para seu próprio bem.

Ocorre que, como já disse diversas vezes, a mecânica da política não faz distinção de pessoa, grupo, ideologia ou modus operandi. Como a natureza, ela flui como sempre fez, faz e fará para sempre.

Flavio Dino vai dirigir seu grupo como sempre o fez, mas a cada dia que se passar, vai enfraquecendo, à proporção que os ocupantes das torres ao seu redor irão se fortalecendo. Isso é natural e acontece com todos na mesma condição.

O único jeito de Carlos Brandão não ser o fiel da balança deste grupo, será se Flavio Dino não se desincompatibilizar ao final deste mandato para se candidatar a outro cargo eletivo!

O único jeito de Weverton Rocha perder espaço e poder será se ele não conseguir eleger uma boa quantidade e qualidade de prefeitos em municípios importantes, na eleição de 2020.

Como afirmo no título desta crônica, ela corresponde apenas ao trabalho que o pintor de quadros realiza ao preparar uma tela para nela colocar sua obra.

 

PS: Poderia ter citado outros personagens que compõem esta “pintura”, mas ao seu tempo comentarei sobre os deputados Eduardo Braide e Josimar de Maranhãozinho, entre outros.

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Memória gastronômica afetiva

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Recentemente, conversando com alguns amigos, empresários, jornalistas e escritores, os conclamei a escrevermos um guia memorial e afetivo sobre as comidas de nossa cidade, os locais onde elas eram preparadas e servidas e as pessoas que as faziam com dedicação e esmero, como forma de registrar a nossa história gastronômica. Para minha surpresa recebi em um grupo de WhatsApp a lista abaixo que eu passo a reproduzir, acrescendo alguns itens, que serão vistos entre parênteses.

Faço isso em homenagem ao jornalista Lourival Bogéa, que postou o texto, conclamando-o, assim como a outros, a fazermos esse trabalho que julgo ser de suma importância para a preservação da memória de nossa cidade.

“50 SABORES E LUGARES QUE MARCARAM O LUDOVICENSE.
A abundância de informações culinárias ou gastronômicas que aparecem nos canais de televisão atiça o paladar e seduz aquele que de restrições alimentares sobrevive. O pecado da gula transcende a razão de qualquer um. São Luís tem o charme e a tipicidade própria do maranhense no quesito gourmet. A cidade tem paladares e odores inconfundíveis. Lugares e características que contam história e fascinam quem nasceu aqui ou teve o privilégio de morar na ilha mais bonita do Brasil. Pontuei 50 situações gastronômicas que marcaram a vida do maranhense ludovicense e dessas, imagino que pelos menos 10 você conheça. Delicie-se e não morra de saudade.

1-Jantar no Restaurante Palheta; 2-Pão cheio recheado com camarão seco vendido nas ruas do centro; 3-Cachorro quente do Companheiro, (do Boliviano) e do Sousa; 4-Caldo de ovos do João do Caldo; 5-Galeto da Base do Rabelo.
6-Caldeirada do Germano (e do Edilson); 7-Sorvete de coco na casquinha;
8-Quebra-queixo; 9-Pirulito enrolado com papel de seda; 10-Peixe-pedra cozido ou frito; 11-Peixe-serra frito com arroz de cuxá; 12-Torta de camarão seco (ou fresco); 13-Torta de caranguejo; 14-Sururu no leite de coco;
15-Juçara com farinha d’agua e camarão seco (ou jabiraca); 16-Em tempos de politicamente incorreto e sem compromisso com o meio ambiente, arroz de jaçanã (ou casquinha de mussuam); 17-Galinha de parida com pirão (ou ao molho pardo); 18-Peixada da Peixaria Carajás (ou da Fátima); 19-Caldo de cana do abrigo ou do Bar do Cajueiro na Rua Afonso Pena; 20-Queijo de São Bento; 21-Cola-Guaraná Jesus; 22- Frango assado na brasa (com Batipuru) do Restaurante Frango Dourado no Anil; 23-Feijoada do Baiano; 24-Costela de porco (e a carne de grelha com feijão mulata gorda) da Base da Diquinha; 25-Gelado do Reviver; 26-Bolachinha da Padaria Santa Maria e da Padaria Nossa Senhora de Fátima; 27-Cuscuz Ideal; 28-Roleto de cana vendido na Praça da Matriz em São José de Ribamar; 29-Descascar e comer uma tanja na porta da Igreja de São José; 30-Quibe do Abdon na Praça da Misericórdia ou de dona Nilza na antiga padaria do Anil; 31-Manga de fiapo com farinha d’agua (manga bacuri ou manguita); 32-Tiquira da feira da Praia Grande; 33-Jeneve; 34-Sorveteria Elefantinho; 35-Pastel do garoto do Bigode na Praça Deodoro; 36-Murici amassado com açúcar; 37-Pamonha; 38- A Churrascaria Filipinho; 39-Sorvete de ameixa no bar do Hotel Central; 40-Quem está na casa dos 70 não esquece o sanduiche de pernil do extinto Moto Bar; 41-O caranguejo da Base da Lenoca; 42-Espetinho de camarão do Jaguarema ou do Lítero; 43-Ingá, Maria pretinha, canapu, (tucum) e guajuru; 44-Pizzaria Internacional na Cohab ou na Cohama; 45-Mocotó, sarrabulho ou cozidão do Mercado Central; 46-Bar do Amendoeira e o seu tradicional bode no leite de coco servido na calçada do bar, no Olho d’Agua; 47-Quem frequentava a Praia da Ponta d’Areia não se esquece do Bar Tóquio, das peladas, da cerveja e do caranguejo; 48-Mocotó e feijoada da Base do Binoca no Vinhais Velho; 49-A novidade do Hibiscus, na Vila Palmeira na década de 1980; 50-Restaurante La Boheme frequentado pela turma da moda e do poder político da época; (sem esquecermos os quitutes da maior banqueteira do Maranhão, Dona Henriqueta, os doces de Salomé, o Restaurante do BEM, as delícias da Maria Castelo, o camarão com ovos do Gago, os flambados do Hotel Quatro Rodas, o L`Aquários, o Solar do Ribeirão, aquele sanduíche que havia na Deodoro que esqueci o nome, o Ali Babá, o Flerte, o milk shake do Crepes, os salvadores ovos fritos das madrugadas, no abrigo da João Lisboa…)

Lembre-se que a sua memória afetiva e gustativa estão sempre preservadas. Alguns se perderam com o processo de crescimento da cidade,  outros ainda resistem bravamente e nos identificam culturalmente.

Bom apetite e boa diversão!”

 

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Aberta a temporada de caça

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As eleições municipais de 2020 devem transcorrer mais ou menos da mesma maneira de sempre. Haverá uma decisiva interferência da política estadual e nacional em algumas cidades importantes, como é o caso de Imperatriz, São José de Ribamar, Caxias, Timon, Santa Inês, Codó, Balsas, entre outras.

No caso de São Luís a coisa será bem mais complicada, pois será este o cenário que servirá de laboratório para a eleição de governador em 2022.

Flávio Dino escolheu para seu vice um político de sua confiança, alguém que se não é uma potência eleitoral, o é quanto ao seu conhecimento do bom jogo da política. Carlos Brandão é peça fundamental no cenário político estadual.

Enquanto de agora em diante o poder e a importância do governador só vão caindo a cada dia, do vice, só vão crescendo, pois ele DEVERÁ estar sentado na cadeira de primeiro mandatário do estado na eleição de 2022.

Em outra cadeira, não tão importante quando a de Brandão estará o senador Weverton Rocha. Sua cadeira não tem uma coisa que a de Brandão tem, o poder da caneta, em compensação tem outro poder que a de Brandão não possui, o poder do tempo, ou seja, quatro anos a mais.

Digo isso para estabelecer os contendores da eleição de prefeito de São Luís, e veja que eu ainda não citei os dois maiores mandatários executivos do cenário, o governador e o prefeito!

Para Flávio Dino a eleição é importante, mas para Edivaldo ela é crucial, só não sei se ele tem consciência disso.

Há uma outra peça de fundamental importância neste intrincado jogo de tabuleiro. O recém-eleito deputado federal Eduardo Braide. Quem conseguir a vantagem de tê-lo ao seu lado como seu candidato terá dado um passo decisivo para vencer a eleição de prefeito de São Luís em 2020.

Quando eu digo quem conseguir ter a vantagem de tê-lo como seu candidato, penso imediatamente em Flávio Dino e Weverton Rocha, pois o primeiro irá querer eleger seu sucessor e este pode muito bem não ser o segundo!… Ou não!… E a prefeitura de São Luís é importante para isso.

Quem conhece Carlos Brandão sabe que ele é leal a Flávio Dino, mas não cometerá haraquiri político por ninguém. Com mais de 60 anos, jamais terá outra chance de ser governador, e estando ele sentado na cadeira mais alta do estado, abrir mão de uma automática candidatura, só se for para ser algo que seu pai foi antes dele, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão. Pode ser que aconteça! Quem sabe!?

Mas, há a possibilidade de Flávio Dino querer eleger para seu sucessor, alguém seu, de sua mais irrestrita confiança, e tendo deslocado Brandão para o TCE, colocando em seu lugar esse tal alguém, eleito governador tampão, na Assembleia, como Roseana deveria ter feito com Luís Fernando em 2014, Flávio abrirá caminho para eleger quem deseje!

É aí que entra Weverton, Edivaldo, e quem sabe Eduardo Braide, aglutinados no PDT, partido que se fortalecerá mais nos próximos meses, quando se tornará o carro chefe da oposição a Bolsonaro.

Nesta possibilidade o valor de Braide vai ficar cada vez mais elevado para todos os contendores, pois a oposição no Maranhão vai pensar a mesma coisa e vai fazer de tudo para aproximar Braide do governo federal, blindando-o aos acenos e seduções tanto de Flávio Dino que não deveria tê-lo descartado, quanto de Weverton que sabe jogar o jogo, mas não tem tanto poder de convencimento quanto o ocupante do Palácio dos Leões.

PS: Antes que algum desavisado tire conclusões erradas, isso são apenas e tão somente conjecturas e vislumbres do que poderá acontecer!… Pauta para conversas sobre o futuro de nossa política.

 

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Balanço

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Em 2010 resolvi deixar a política e não mais me candidatar a mandato eletivo, mas não consegui suportar a pressão dos amigos que me pediam que aceitasse o cargo de secretário de estado de Esporte e Lazer.

De 2015 para cá, política só nas análises que faço, de quando em vez, sobre as conjunturas e os cenários locais e nacionais, ou sobre algum fato específico que eu pense ter relevância.

A mais nova decisão que tomei neste setor foi a de ceder aos insistentes apelos das três mulheres de minha vida, minha mãe, minha filha e minha mulher, e não mais fazer críticas contundentes em relação a ninguém, principalmente ao governador Flávio Dino e a ex-governadora Roseana Sarney…

Prometi a elas que de agora em diante, quando comentar sobre política, vou fazê-lo o mais filosoficamente possível e me limitar a analisar fatos e cenários sem tecer opiniões mais pontuais ou pontiagudas sobre ninguém.

Para inaugurar essa nova fase mais dialética de minha crônica política, eu vou fazer um balanço da eleição de outubro passado.

Devo antes lembrá-los que do ponto de vista das ideias de Platão, filósofo com que mais eu me identifico, a dialética é o processo de debate entre interlocutores comprometidos com a busca da verdade, através da qual a alma se eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou ideias. Já Aristóteles, em contraponto ao mítico mestre de seu mestre, Sócrates, diz que a dialética consiste no uso do raciocínio lógico que, embora coerente em seu encadeamento interno, está fundamentado em ideias apenas prováveis, e por esta razão traz em seu âmago a possibilidade de ser contradito.

Assim sendo, nada que eu diga aqui são verdades absolutas, que não possam ou não devam ser debatidas, apuradas ou melhoradas. Ressalto que defendo minhas ideias, da mesma forma que respeito e defendo o direito das outras pessoas defenderem as suas.

Mas vamos ao tal balanço!…

Sobre a eleição nacional de outubro passado, penso que ficou clara a escolha feita pelo eleitor brasileiro. Ele disse não à política implementada pelos três últimos presidentes, eleitos que foram para dois mandatos consecutivos cada, totalizando assim 24 anos de gestões com viés esquerdista.

Em outubro passado o povo brasileiro votou por três motivos básicos: contra o PT, seus camaradas e a corrupção generalizada; contra Bolsonaro, os sentimentos e ações que ele fez com que as pessoas acreditassem que ele defende e os aplicará; e contra os políticos de qualquer tonalidade e viés ideológico.

Muito raramente o eleitor votou a favor de alguma coisa. O voto foi CONTRA, o que não é o melhor tipo de voto que se pode dar.

No Maranhão o eleitor deixou claro que desejava virar a última página de um capítulo de nossa história! Porém, não entendo que ele tenha feito algum juízo de valor definitivo sobre o capítulo superado na virada dessas tais páginas, lidas e relidas nos últimos 50 anos de nossa história. Nem vejo que o eleitor maranhense tenha optado por esse novo capítulo pelo fato dele ser melhor ou diferente, mas por ele ser simplesmente outro!

A derrota eleitoral acachapante do grupo Sarney, em minha modesta opinião, não diminui em nada a importância de José Sarney na história do Maranhão, nem as boas coisas realizadas por ele e por seu grupo nos anos em que predominaram em nossa política.

Veja, passei os últimos meses dizendo que Roseana não seria candidata ao governo do estado e no final das contas eu estava certo! Ela não foi REALMENTE candidata, ela só cumpriu tabela! E o fez de uma forma melhor que eu jamais pensei que ela fosse capaz.

Sempre comentei com amigos, jamais em público, que a eleição seria ganha por Flávio Dino! Sempre disse que gostaria que ela acontecesse apenas no segundo turno. Não foi o que aconteceu.

A polêmica do momento é a disputa pelo comando do MDB maranhense. Penso que Roseana não deva se candidatar. É hora de deixar novas lideranças tocarem o barco e a única genuína nova liderança que eu vejo no MDB hoje, é o Assis Filho, atual secretário nacional de juventude. Os demais são mais do mesmo…

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Apesar de tudo, o que é bom merece ser dito…

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O fato de eu não concordar com a forma hipócrita, arrogante e prepotente de Flávio Dino agir, não me impede de comentar sobre alguma coisa que ocorra em relação a seu governo que eu acredite ser relevante, e possa exaltar.

Mesmo que o governador do Maranhão seja um camarada sectário, maniqueísta e messiânico, existem pessoas em seu governo, de boa qualidade, como é o caso de Ted Lago, Marcellus Ribeiro, Felipe Camarão e Carlos Lula, e é exatamente sobre o trabalho desenvolvido por um segmento da Secretaria de Saúde, comandada por este último que citei que recai o meu texto de hoje.

Minha querida Mãe Teté, mulher que ajudou nossa mãe a nos criar, e que hoje tem 84 anos, frequenta o Centro de Reabilitação do Olho D’Água já faz algum tempo, e quase diariamente, em conversas conosco, ela não se cansa de elogiar os funcionários e o trabalho que eles realizam em prol das pessoas que frequentam aquele lugar. Ela fica iluminada quando comenta elogiando a limpeza, a simpatia, a presteza, o carinho e a atenção de todos para com os idosos que naquele estabelecimento vão em busca de tratamento ou mesmo de desenvolver alguma atividade compatível com sua idade e condição física.

Fiquei curioso e procurei saber do que se tratava, uma vez que Teté não soube me dizer se o centro de reabilitação pertencia ao governo municipal ou estadual.

Num dia desses, durante o café da manhã na casa de minha mãe, resolvi saber mais sobre esse lugar. Liguei para um médico, dr. Villas, de quem Teté gosta muito, e ele me deu algumas informações. Descobri que o Centro Especializado em Reabilitação e Promoção da Saúde do Olho D’Água foi criado pelo ex-secretário Ricardo Murad, ainda no governo de Roseana. Descobri que ele desenvolve atividades direcionadas a pessoas de todas as idades, com foco nos idosos e nas crianças. Descobri que lá é realmente o paraíso para alguns de nossos idosos que precisam de uma atenção especial, como é o caso de mãe Teté.

Em seguida liguei para meu bom amigo Carlos Lula, secretário de Saúde do estado, que me explicou detalhadamente como funciona aquela unidade. Enquanto falava com Lula, os olhos de Tetê brilhavam de felicidade, não sei se pelo fato de nós estarmos nos informando sobre suas atividades, ou se por gratidão pelos benefícios que ela vem obtendo nos tratamentos realizados naquele local. Confesso que eu também me emocionei, até porque eu que critico tanto Flávio Dino por seu jeito tirânico e perseguidor, mesmo eu que não lhe poupo críticas, devo reconhecer que existem coisas boas que estão sendo realizadas em sua administração.

Depois de tomarmos café naquela manhã, Mãe Teté nos abraçou, pegou sua bengalinha e disse: “Tchau, agora vou para minha aula!…” Aquela frase nos fez rir e nos reafirmou a certeza de que nossas velhinhas são felizes, além de muito amadas e bem tratadas.

Ao sair da casa de minha mãe naquele dia, liguei novamente para Carlos Lula e lhe agradeci pelo bom trabalho que o seu pessoal do centro de reabilitação do Olho D’água vem fazendo e reafirmei meu respeito e amizade por ele.

 

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Deveres e Direitos

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Eu estava entre os vinte e um maranhenses, designados por nosso povo para redigir a nossa nova carta constitucional brasileira. Em 1986, vinte de nós, fomos eleitos para esse fim. Um, João Castelo, já exercia mandato de senador desde 1982.

Os 20 eleitos em 1986 foram Albérico Filho, Antônio Gaspar, Cid Carvalho, Haroldo Saboia, Joaquim Haickel, José Carlos Saboia, Onofre Correa e Wagner Lago, pelo PMDB; Costa Ferreira, Enoc Vieira, Eliézer Moreira, Francisco Coelho, Jayme Santana, José Teixeira, Sarney Filho e Vitor Trovão, do PFL; Davi Alves Silva e Vieira da Silva, do PDS. Edson Lobão e Alexandre Costa foram os senadores eleitos pelo PFL. Os suplentes Edivaldo Holanda e Mauro Fecury, ambos do PFL, também participaram dos trabalhos da ANC.

No começo dos trabalhos, os constituintes foram distribuídos em comissões e subcomissões que tratariam de assuntos específicos. Esses assuntos seriam propostos, apresentados, debatidos, emendados, votados e aprovados previamente e depois seriam levados a uma comissão de sistematização, que montaria nossa constituição de modo estrutural e orgânico, para que tivéssemos um conjunto de normas primordiais para o funcionamento do Estado Brasileiro e para regulamentar a nossa vida em sociedade.

Tendo em vista este ser um assunto muito extenso e abrangente, hoje vou me ater apenas a um aspecto do trabalho da comissão da qual participei e que, não por esse motivo, em minha modesta opinião, foi a mais relevante das comissões, pois de nosso trabalho exaustivo e árduo, resultou a quadra mais importante de toda nossa carta magna, inclusive foi ela que deu origem ao apelido dado por Ulisses Guimarães: A Constituição Cidadã.

Falo do artigo quinto da CF, onde se estabelecem todos os direitos e deveres que os brasileiros são detentores. É neste artigo que se encontram todas as prerrogativas nas quais o cidadão brasileiro se materializa como agente de sua vida e de seu destino.

Ele foi elaborado pela Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher, que se dividiu em três subcomissões, a da Nacionalidade, Soberania e Relações Internacionaisa dos Direitos Políticos, Coletivos e das Garantias; e a dos Direitos e Garantias Individuais, esta última foi aquela em que eu trabalhei.

Em sua nomenclatura reside um dos nossos mais graves problemas contemporâneos. Saídos de um regime autoritário, nossos líderes, imbuídos de um espirito que exaltava os maiores e melhores valores humanos e não afeitos a ceder a pequenas concessões semânticas ou retóricas, não incluíram no nome desta subcomissão a palavra DEVER, fazendo com que se imaginasse que direitos e garantias individuais, não têm suas contrapartidas nos deveres que as sustentam.

Quando o velho Ulisses proferiu aquele emocionante discurso no dia 5 de outubro de 1988, ele não se esqueceu de falar nos nossos deveres, mas ele deu tanta ênfase aos direitos que a nossa constituição resgatava e garantia para nossa gente, que muitos de nós nos esquecemos de que sem o imprescindível balanço entre direitos e deveres, jamais teríamos uma sociedade equilibrada, que manca e caolha ela não iria funcionar corretamente.

Sarney, presidente da República de então, disse que a nossa obra, a Constituição Federal, faria do Brasil um país ingovernável. Se ele não estava totalmente certo, pelo menos apontou as dificuldades que nossa lei maior acarreta na prática, pois tenta fazer conviver em um mesmo sistema de governo, princípios e dogmas do direito europeu e da práxis americana; Regime presidencialista com inúmeros dispositivos parlamentaristas; Ideias liberais e socialistas nas aplicações de ações e iniciativas que se contradizem. Tudo isso obriga que a CF seja observada e interpretada com mais argúcia e sempre pelo ponto de vista do legislador original, que antes de tudo queria um estado justo e a valorização do cidadão.

Sobre nossa constituição, o que posso dizer, é que na parte dela onde eu mais trabalhei, reside todo o seu espírito, toda sua essência. O artigo 5º de nossa Carta Magna deveria ser mais divulgado e explicado, para que todos entendessem sua real dimensão, mas sem nos esquecer de que é nos deveres nele implícitos que se consolidam os direitos nele assegurados.

 

PS: Existem muitos outros aspectos a serem tratados sobre a Constituinte de 1988. Voltarei a eles em outras oportunidades.

 

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