Fátima e Quíron

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Há dois anos tive a ideia de escrever aquele que seria meu primeiro e único romance, uma vez que não pretendia me embrenhar definitivamente nesta seara, pois tenho consciência que sou eminentemente um contista que escreve crônicas com alguns toques de poesia. Romance é coisa pra gente GRANDE!

Naquele dia, como faço todas as manhãs até hoje, acordei!… E como quase sempre, acordo com uma ideia na cabeça, como se durante a noite um anjo ou quem sabe um demônio, se é que eles existem, tivesse semeado na cera de meus ouvidos uma ideia para que eu desenvolvesse e acabasse por colocá-la no papel.

A ideia que me veio naquela manhã foi escrever algo no estilo de meu bom amigo Mário Prata, um texto ágil, sofisticado, cheio de referências pessoais e culturais, que falasse de pessoas, traçasse seus perfis, desenhasse seus habitats, dissecasse seus relacionamentos, tudo sempre com muito bom humor, mas também com grande elegância e precisão literária. Imaginei um conto grande, com todas as ondulações que levasse os leitores a subir e a descer as ladeiras da efervescente curiosidade e da satisfação de identificarem os detalhes que estivessem em comum com os personagens.

Achei muita responsabilidade para alguém que como eu reconhece suas limitações, qualidade da qual não abro mão e não me acho cabotino ao evocar pra mim.

A história que me veio à cabeça naquela manhã, já pronta e acabada, foi a de Fátima, uma ludovicense do Desterro que desejava ser artista e fugiu de casa para tentar o sucesso no Rio de Janeiro. Queria ser atriz ou cantora, mas acabou se tornando apenas e tão somente uma das mais belas mulatas do Sargentelli.

Os personagens saiam de minha cabeça como que por mágica. Seu marido, Lindoval, Lindo para umas e Doval para outros, ganhava a vida imitando Sidney Magal; sua irmã, Nazareth, essa sim com talento para a música, uma cantora pronta e acabada, era também uma grande cozinheira, além de Filha de Santo.

Naquela manhã, criei de estalo uma dúzia de personagens periféricos que viriam para encher de brilho aquela constelação.

O tempo se passou, as carnes amoleceram, Sargentelli morreu, e Fátima tinha que continuar a vida. Como aprendera a jogar Tarô, passou a dar consultas em seu minúsculo apartamento, em Copacabana. Era uma embusteira. O que sabia dessa arte era meramente mímica e papagaiagem.

Existem muitos outros detalhes sobre essa história! São tantas coisas, que não dá pra contar em uma crônica de fim de semana. O certo é que antes mesmo de terminar de escrever o primeiro capítulo do tal romance, ele se transformou em uma minissérie em duas temporadas de 12 episódios de 26 minutos, que versará sobre a história da mesma Fátima, cujo nome será Arcanos, pois usarei os arcanos maiores do Tarô para contar a história dos personagens que desfilarão pelo cenário.

Já fiz o argumento da série, escrevi as sinopses dos 24 episódios e registrei na Biblioteca Nacional para resguardar meus direitos de criador e autor, mas precisarei de muita pesquisa e ajuda de consultores e outros roteiristas para que possa realizar esse que tenho certeza será um belíssimo trabalho, que deverá ser realizado em parceria com uma grande produtora do sul do país.

Recentemente, quando fazia pesquisas sobre esse assunto, revisitei uma passagem que sempre me emociona, algo com o qual me identifico muito.

Como bom sagitariano, sinto uma afinidade muito grande com um ser mitológico, o centauro Quíron, a quem tenho como uma espécie de padrinho. Segundo a lenda, Quíron é filho do Titã Cronos e da Ninfa Filira, e foi mestre de vários heróis gregos, como Teseu, Hércules, Jasão, Aquiles e Enéas.

Quíron é descrito como um grande preceptor. Inteligente, sábio e culto, era um gênio das artes, da filosofia, da magia e da medicina, além de um grande guerreiro. Era civilizado, pacífico e bem humorado, o que o diferenciava dos demais centauros, tidos com beberrões e sátiros.

Em uma desavença na caverna de Folo, no monte Pélion, durante a execução do quarto dos 12 trabalhos de Hércules, este teria atingido Quíron em uma das pernas com uma flecha banhada no veneno da Hidra de Lerna. Imortal, Quíron sobreviveu, mas a ferida envenenada lhe causava dores violentas. Então, Hércules, apiedou-se dele e pediu a Zeus que trocasse a imortalidade de Quíron pela mortalidade de Prometeu, o senhor do fogo, cujo fígado era devorado por uma águia todos os dias e se regenerava todas as noites. Zeus fez o que Hércules pediu, trocou a imortalidade de Quíron pela de Prometeu, mas tomou a alma do centauro para formar, no céu, a constelação de Sagitário.

Bem, com um patrono como este, não será difícil dar vida a Fátima e sua turma!?…

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Improvável Superação

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Eu com eles

Muitos estudiosos do comportamento humano, entre antropólogos, sociólogos, filósofos e psicólogos estudam e analisam a relação entre pais e filhos há muito tempo, tendo descoberto e estabelecido padrões desses relacionamentos. Recentemente li um material muito interessante sobre isso, inclusive mostrando o exemplo icônico do gigante da indústria americana e mundial, Henry Ford, e de seus filhos e netos.

Sobre essa tentativa de superar os feitos de seus pais, posso dizer que superei meu pai em mais um item da vida. Vivi o suficiente para completar 60 anos, coisa que ele não conseguiu, pois morreu três meses antes de alcançar tal façanha.

Eu já o havia superado algumas vezes antes, quando me formei advogado, quando ingressei na Academia Maranhense de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, coisas que só o fiz por ele ter me dado as ideais condições para fazê-lo.

Do mesmo modo, graças a ele, fiquei a seu nível, no que diz respeito a termos sido deputado estadual e federal, mas jamais o superei naquilo que era o mais importante, quanto ao amor, ao carinho, ao respeito e a devoção que seus eleitores tinham para com ele. Quanto a isso fico conformado e orgulhoso, pois sei que ele tinha qualidades que nem eu, nem nenhum político, de seu tempo ou de hoje em dia, tinha ou têm.

É que ele compreendia verdadeiramente o seu povo, ele era realmente um deles, estava perfeitamente afinado e alinhado com seus anseios, pensamentos e necessidades. Eu não! Eu era apenas o representante daquelas pessoas, alguém que procurava realmente entendê-las para bem representá-las.

Meu pai não tinha propriamente o que se poderia chamar de ideologia. Não uma estabelecida por um filósofo ou uma corrente de pensamento alicerçada na teoria de algum deles. Ele tinha uma ideologia própria, desenvolvida, criada e estabelecida por ele mesmo, e nisso eu jamais o superarei. Ele dizia que não importava quem estivesse no governo, ele estaria atrelado sempre a ele, pois só assim poderia levar a seus amigos e eleitores os benefícios que apenas os governos podem, como acesso à educação, saúde, segurança, infraestrutura…

Como eu, um filhote dos anos 60, criado em uma sociedade manipulada pela mídia, com as mais avançadas técnicas de patrulhamento ideológico gramscista, iria transpor tais barreiras!? Impossível!…

Posso ter superado meu pai por ter tido um melhor resultado econômico e financeiro que ele, graças ao alicerce que ele mesmo deu a mim e a meu irmão, seu verdadeiro herdeiro no que diz respeito ao empreendimento braçal do comércio, mas jamais o superarei no que diz respeito à realização de um trabalho corajoso, inovador, inventivo, revolucionário e único, pois meu pai era um trabalhador incansável, um gigante da atividade comercial maranhense de seu tempo, que aprendeu com os melhores dessa atividade, gigantes como Wadi e Eduardo Aboud.

Na política, ele foi um autodidata que graças a sua incrível inteligência soube observar e juntar-se a gente como Clodomir Millet e Nunes Freire, para deles apreender suas maiores qualidades: correção, dedicação e lealdade.

Se superei meu pai em tempo de vida, acredito que jamais superarei minha mãe neste quesito. Ela já passou dos 90 anos, marca que não tenho a pretensão de igualar, pois imagino que não estarei nas mesmas boas condições físicas e espirituais que ela, quando eu começar a me aproximar dos 25.000 dias de uso desta carcaça aqui.

A respeito de minhas superações em relação a minha mãe, elas são prosaicas, todas meramente circunstanciais, resultado de coisas que eu realizei e que a ela não foi permitido ou possível. Se fosse, não a superaria.

Mas há um item no qual ela é realmente insuperável: Fé. Talvez seja por causa da fé que ela tenha na existência de um Deus que eu ainda insista em ser apenas agnóstico e não ateu. É pela inabalável certeza dela que permaneço com a minha sagrada dúvida.

Há, no entanto, itens comuns nas vidas de meu pai e de minha mãe que jamais superarei. Jamais conseguirei ter a sua extrema disponibilidade para com as pessoas, mesmo que me esforce muito, como o faço. Jamais conseguirei me doar, nem ser tão generoso como eles o foram e o são.

Completar 60 anos é um marco em minha vida. Se por um lado saio das filas das pessoas comuns, por outro vejo que as novas filas para as quais eu entro estão cheias de gente, e que eu preciso me adaptar.

Olho para trás e vejo um caminho mais longo que aquele que tenho pela frente, mas não acho isso ruim. Só espero que minha memória permaneça intacta para que jamais esqueça, enquanto vivo for, das coisas boas que vivi, dos bons lugares onde estive, das boas pessoas que conheci e das boas emoções que senti.

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A quem pertence o Futuro?

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Faz uns três meses, fiz um desses estudos de perfis, tão comuns hoje em dia, e o “diagnóstico” foi no sentido de que tenho uma grande possibilidade de desenvolver bons relacionamentos com as pessoas através da minha habilidade de comunicação e diplomacia, mesmo que muitas vezes eu seja franco demais, causando certo constrangimento nas pessoas.

Além disso, me foi dito que tenho boa aptidão para desenvolver análises de cenários sejam elas sociais, políticas ou culturais. Em resumo, sou capaz de entreter as pessoas em uma agradável conversa sobre literatura e cinema, ou em uma análise sobre o comportamento humano ou os fatos da política.

Recentemente, em um delicioso e aprazível jantar, pude comprovar que aquele perfil estava certo por um lado, mas por outro deixava bastante a desejar, uma vez que nem todas as pessoas estão dispostas a falar sobre assuntos tão controversos.

Nem vou comentar o que aconteceu naquela noite. Vou tratar de um outro ponto, tão controverso quanto aquele: o futuro, que alguns insistem em dizer que a Deus pertence, fato do qual discordo por dois motivos. Por achar que se Deus existe mesmo, não vai ligar muito para essas coisas, e por ser a política tão afeita a mudanças e interferências, que é melhor definida por aquela controversa “Teoria dos Jogos”, que nada mais é que uma espécie de equação matemática que estuda situações estratégicas, onde jogadores escolhem diferentes ações na tentativa de melhorar sua possibilidade de sucesso.

Não sou especialista na Teoria dos Jogos, mas há muito me dedico a analisar cenários políticos e é isso que farei aqui hoje.

Perguntaram-me quem pode vir a ser o futuro governador do Maranhão, e respondi que em minha modesta opinião só existem dois candidatos com reais chances de ocupar este posto a partir de 2023. Carlos Brandão e Weverton Rocha.

Os dois pertencem ao mesmo grupo político, o que em tese, caso haja disputa eleitoral entre eles, isso pode vir a fragmentar seu grupo, fato que seria perigoso para sua hegemonia.

É inteligente que se imagine que eles deverão chegar a um acordo, o que deverá resultar em vantagem para Brandão, que na ocasião estará ocupando o cargo de governador, em substituição a Flávio Dino. A Rocha caberá indicar o candidato a vice, que possibilitará acesso dele ao governo, quatro anos depois. Além disso, ele deverá indicar o candidato a senador, caso Flávio Dino venha realmente a ser candidato a um cargo a nível nacional, como presidente ou vice.

Nessa altura da leitura, há quem se pergunte se eu estou maluco, pois todos sabem do arrojo, da coragem e da capacidade política do jovem senador do PDT! Por quais motivos ele abriria mão de concorrer ao governo, já que ele é mais forte eleitoralmente que Brandão!? Pelo simples fato de que o vice-governador estará no exercício do governo, o que lhe dá uma capacidade política incrível, caso ele saiba, e ele sabe muito bem, manejar os instrumentos do poder no sentido de garantir sua vitória na eleição de 2022. Duvidar disso seria uma aposta muito arriscada que poderia destruir seu grupo político, e muita gente vai trabalhar para que isso não aconteça.

Restam outras perguntas. Quem Rocha indicará para vice de Brandão? Quem será o seu nome para disputar o Senado, na ausência de Dino.

Para o Senado o candidato já está escolhido, é Othelino Neto, seu mais graduado correligionário.

No caso de vice, existem algumas opções. O presidente da Famem, Erlanio Xavier, o presidente da Câmara Municipal de São Luís, Osmar Filho, e o deputado Marcio Honaiser, uma vez que nenhum dos três teria carreira para se engraçarem da cadeira de governador e cogitar não estender o tapete vermelho que levaria Rocha a ocupar a cadeira que já pertenceu a João de Barros, André Vidal de Negreiros, Fernando de Noronha, Luís Alves de Lima e Silva, Benedito Leite, José Sarney, Jackson Lago e Flávio Dino.

O observador mais arguto se perguntaria: por que Joaquim não analisa primeiro o cenário da eleição de prefeito que ocorrerá dois anos antes da eleição de governador!?

Simples! Porque no caso de São Luís, a guerra será de tal sorte feroz que poderá mudar todo o panorama, não permitindo que eu analise a eleição de governador de maneira mais descomprometida. Se bem que acho que a eleição de 2020 só reforçará a existência do cenário que prevejo para 2022: fortalecimento eleitoral do PDT de Weverton Rocha, que deverá ser derrotado por Eduardo Braide, em São Luís, e apoio de Flávio Dino para seus correligionários, tendo Brandão à frente da campanha.

E o grupo Sarney? Perguntariam! Sem forças para eleger muitos prefeitos em 2020 e ter candidato próprio em 2022, passa a ter o papel primordial de “fazer filho na mulher dos outros”, como se diz na gíria. O grupo Sarney pode estar muito enfraquecido, mas ainda pode vir a ser o fiel da balança!…

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6 Pautas em 15 dias

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As duas últimas semanas foram muito agitadas, como de resto têm sido quase todas deste ano complicado, e como não consegui me decidir sobre qual assunto tratar em meu texto de hoje, fiz um resumo de algumas pautas.

1 – O Deputado Federal mais votado da história do Brasil, Eduardo Bolsonaro, que por acaso é filho do atual Presidente da República, verborragiou desatinos sobre um possível retrocesso democrático, movido principalmente por mera falta de tato, de tino, de capacidade de entender o enredo desta tragicomédia, que ele, sua turma e seus adversários, são os protagonistas, enquanto nós e o Brasil, as vítimas.

2 – A Rede Globo, exibiu uma matéria especulativa e facciosa, onde ela mesmo colocava em dúvida suas próprias declarações e notícias. Fez isso na tentativa de envolver o presidente e seus filhos no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco, e para isso usa milenar tática da fofoca e não as técnicas do bom jornalismo.

Uma matéria tão asquerosa que conseguiu o repúdio até de pessoas que se opõem a Bolsonaro, deixando claro que parte da imprensa está realmente orquestrando uma campanha contra o presidente e seu governo, não que ele não lhes dê bastante motivo para isso!

3 – Enquanto isso, Cazuza não me deixou esquecer que O Tempo Não Para! Continuamos trabalhando na produção da série A Pedra e a Palavra, que enfoca a vida e a obra do Padre António Vieira. Nessa etapa, entrevistamos em São Paulo, Adma Muhana, João Adolfo Hansen e Alcír Pécora, professores geniais, que são alguns dos maiores especialistas em assuntos relacionados àquele que segundo o poeta Fernando Pessoa é o Imperador da Língua Portuguesa.

Mas foi a quinta-feira, 7, o dia mais intenso desta quinzena!

4 – O presidente Jair Bolsonaro resolveu retirar as atribuições do antigo Ministério da Cultura, do Ministério da Cidadania, mas incoerentemente, ao invés de vinculá-las ao Ministério da Educação, as transferiu para o Ministério do Turismo. E aqui outra coisa causa estranheza! Por que ele não fez o mesmo em relação às atribuições do antigo Ministério do Esporte, que figurava em similaridade com a cultura, no Ministério comandado pelo Deputado Osmar Terra?

Ainda sobre esse fato, vale lembrar que Bolsonaro comete o mesmo erro perpetrado por seu desafeto, Flávio Dino em seu primeiro mandato como Governador do Maranhão, quando juntou Cultura e Turismo, imaginando que apenas os calendário de eventos culturais e turísticos seria justificativa suficiente para juntar na mesma pasta atividades tão distintas. Dino demorou, mas reviu seu erro!

Acredito que Turismo estaria melhor junto com Industria, Comércio e Economia, enquanto Cultura e Esporte deveriam ser geridos juntos com Educação. Uma coisa tão simples quanto somar um mais um!

5 – Em outro acontecimento marcante, o jornalista Glenn Greenwald, chamou o também jornalista Augusto Nunes de covarde, ao vivo, no Programa Pânico, da Jovem Pan. Descontrolado, o insultado, depois de advertir seu ofendedor, para que não o insultasse, deu-lhe um bofete, e os dois protagonizaram uma daquelas briguinhas características do programa Os Trapalhões.

Esse seria um outro assunto que eu poderia abordar aqui hoje. A dosimetria e a hierarquia dos direitos ou o que é mais grave, um insulto moral ou um tapa na cara!? Polêmica garantida!

6 – Por fim, o Supremo Tribunal Federal se desdisse pela terceira vez. Estabeleceu que aquilo que havia dito antes, sobre a prisão de réus condenados em segunda instância, à partir de agora, seria novamente diferente, permitindo que fiquem livres os condenados por um juiz e um tribunal revisor.

Eu, que fui Deputado Federal Constituinte, tive a honra de assinar, no dia 5 de outubro de 1988, a Constituição da República Federativa do Brasil, (ao contrário de Lula e alguns de seus colegas petistas, que não a assinaram) e acredito que o que aconteceu de mais importante com aquela Constituição, foi o apoio popular que ela teve, a vontade dos políticos de então, em estabelecer de forma pacífica e ordeira, um regime verdadeiramente democrático em nosso país, depois de vivermos durante vinte e um anos em um regime de exceção.

Continuo acreditando que naquele momento, colocarmos no texto constitucional uma série imensa de direitos, era o mais correto e sensato a ser feito, pois primeiro precisávamos que a democracia que nós estávamos ali plantando, germinasse, crescesse, florescesse e frutificasse.

Agora, trinta anos depois, tendo nossa democracia já sido testada diversas vezes, de diversas formas, em diversas crises, e tendo ela alicerces e fundações, profundas e sólidas, é hora de repensarmos alguns parâmetros que estabelecemos naquela ocasião, sob pena de ao invés de fortalecermos nossa democracia, nós a fragilizarmos, por interesses meramente políticos partidários, que visam a defesa de projetos de poder de alguém ou de alguns.

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Pilares e Vigas

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A arte não pode ter seus pilares fundados em ideologias políticas. O mesmo ocorre no que diz respeito ao vigamento dessa que é a suprema manifestação do espírito humano.

Isso não pode acontecer, sob pena da arte perder a sua mais importante função, que é a de representar o espírito humano em sua plenitude, livre de qualquer amarra, padrão ou de qualquer coisa que possa segregar, não só pessoas, mas também ideias e pensamentos.

Em contrapartida ao fato da arte não poder ter seus pilares e suas vigas corrompidas por ideologias, a sustentação transversal dela, ou seja, suas lajes, aquilo que seria em alguns casos o piso, ou de outro ponto de vista, o teto dessa intrincada construção, estas sim, podem ser amalgamadas por ideologias, quaisquer que sejam elas.

Resumindo, enfatizando e usando ainda o sistema pilar-viga-laje, como metáfora, repito: a arte não pode nunca, jamais ou de qualquer forma, ter seus elementos estruturais, verticais e horizontais, contaminados por ideologias, mas seu terceiro elemento, este transversal, pode e até deve, ter aspectos e ingredientes filosóficos e ideológicos.

Lajes não se sustentam sem pilares e vigas.

O problema é que no intuito de conquista, dominação e hegemonia da sociedade, a arte sempre foi usada como vetor, como arma, às vezes de forma sutil, às vezes de forma descarada, às vezes de forma aceitável, e algumas vezes de forma inadmissível.

São as pessoas para as quais a arte é apresentada, que podem ou não gostar dela, podem assimilá-la ou não, podem classificá-la de forma positiva ou negativa. Mas a arte não pode trazer em si alguns ingredientes comuns a outros setores da vida humana, tais como a propaganda, o marketing, a hipnose, o aparelhamento, sob pena dela deixar de habitar o nobre espaço que lhe é reservado, e passar a habitar uma outra dimensão, nada nobre.

Quando na antiguidade, os escultores clássicos entalharam em pedra seus deuses, heróis, governantes, filósofos e personagens, eles nos legaram a sua visão, com pouquíssima influência ideológica.

Quando no século XV, durante o renascimento, os artistas tentaram continuar a tradição artística grega e romana, a igreja católica, poder hegemônico daquela época, interferiu em muitos casos, inclusive obrigando os artistas a encobrirem os órgãos genitais, expostos em seus quadros, afrescos ou esculturas, com panos ou folhagens, incidindo assim de forma política sobre a criação artística.

No século XVII, pintores como Caravaggio, Rubens, Rembrandt, Velásquez e Vermeer, pintaram o que lhes era comum. Em sua obra há ingredientes políticos? Há, mas eles não são os pilares e as vigas mestras de sua arte. São ingredientes de suas lajes.

Nos anos de 1800, a humanidade começava a atingir um certo nível de maturidade e sofisticação. Foi nessa época que começaram a aparecer as mais diversas escolas artísticas.

O Romantismo, o Realismo, o Impressionismo e o Expressionismo revolucionaram as artes plásticas, e como um rastilho de pólvora incendiaram todas as expressões artísticas. Nessa mesma época aconteceu um grande ressurgimento filosófico no mundo, impulsionado de forma favorável ou contrária, pela revolução industrial.

De um lado, o que temos nessa época, são figuras como Goya, Delacroix, Manet, Coubert, Renoir, Monet, Van Gogh, Lautrec, Munch e Modigliani e do outro, Nietzsche, Freud, Camte, Darwin, Emerson, Marx, Engels e Weber. Artistas que estabeleceram e firmaram suas escolas, e filósofos que em seu campo de atuação, fizeram a mesma coisa, mas não necessariamente se influenciaram mutuamente.

Já o que aconteceu no século XX, em relação ao Cubismo, ao Dadaísmo, ao Surrealismo e à Pop Arte, foi uma total interferência filosófica e ideológica, principalmente pelo fato dos artistas terem passado a personificar sua arte, como foi o caso de Picasso, Duchamp, Dali e Warhol. Ainda assim era aceitável.

A partir daquele momento, os artistas passaram definitivamente a ser partes integrantes de suas artes, confundindo as pessoas que começaram a ser influenciadas pelos ingredientes ideológicos impregnados nelas, muitas vezes inconscientemente, pelas teorias hegemônicas e controladoras da sociedade de António Gramsci.

Hoje, quando se vê um artista que constrói sua arte com pilares e vigas ideológicas, não se vê na verdade um artista, nem se aprecia uma arte. O que se vê é um militante e o que se admira, ou não, é a sua bandeira.

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Simplesmente Coringa!

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Finalmente consegui um tempinho para assistir ao tão esperado filme “Coringa”, e sem mais delongas, posso lhes garantir que ele vai ganhar pelo menos os prêmios de melhor roteiro e melhor ator em todos os festivais de cinema em que participar!

Postei a afirmação acima em minha página no Facebook, e quase que imediatamente meu querido primo Bruno Tomé Fonseca saiu, muito pertinentemente, em defesa, da impecável direção de arte e da cenografia do filme, fato do qual ninguém pode discordar.

Realmente, os trabalhos de ambientação, cenários e figurinos que colocam “Coringa” nos tempestuosos anos 80, numa Gothan City, irmã gêmea de Nova York, estão muito bem executados neste filme. Porém, os trabalhos mais técnicos no caso desta obra são menos importantes, se comparados à riqueza multifacetada do enredo, à escolha da abordagem, que, diga-se de passagem, é apenas uma entre diversas que o autor poderia ter escolhido, e principalmente do trabalho de interpretação deste pedaço de argila em forma de homem, chamado Joaquin Phoenix.

O fato é que não vi este ano nenhum filme mais instigante que este!… Na verdade, faz muito tempo que não vejo nada parecido. Pensando bem, nem sei se já vi algo semelhante, uma vez que se trata de um personagem secundário, de uma franquia que tem mais tempo de vida que mais de 90% da população mundial!

Quando eu era criança, o Batman era Adam West, ator fraquinho que cumpria à risca o que seus diretores mandavam. Já naquele tempo o Homem-Morcego era menos importante do que os vilões que infernizavam a vida das pessoas na cidade do Chefe Gordon, uma vez que o Pinguim era interpretado pelo genial ator Burgess Meredith, o Charada era o elétrico Frank Gorshin, o Cabeça de Ovo era simplesmente o estupendo Vincent Price, a Mulher Gato era a bela Julie Newmar e o Coringa, ninguém menos que o já então grisalho latin lover, César Romero.

De lá para cá tivemos alguns bons Batmans, mas como que, por uma sina, os vilões, notadamente o Coringa, sempre foi interpretado por atores acima da média, como Jack Nicholson e Heath Ledger, sendo que este último parecia que entraria para a história do cinema como o ator que melhor interpretou esse personagem. Esse fato agora provou-se superado, não sei se feliz ou infelizmente.

Digo isso porque o que Joaquin Pheonix faz com o seu corpo na interpretação desse Coringa, é algo surpreendente e extraordinário, comparado apenas com as interpretações fisiológicas de Robert de Niro, em O Touro Indomável, Matthew McConaughey em Clube de Compras Dallas e Crinstian Bale em O Lutador. Saliento que quando digo “comparado”, me refiro ao mero trabalho físico, fisiológico… Bengala que os atores usam para apoiar suas interpretações.

Mas neste caso meu homônimo vai mais longe que os atores que citei, todos ganhadores de Oscars, por aqueles filmes. Ele desenha como poucos o personagem que interpreta, dando a ele uma profundidade extraordinária. O esculpe em camadas, fazendo com que o espectador veja e sinta em detalhes o que se passa com ele, mesmo que a história, pela sua própria natureza, se anuncie momentos antes para nós, atentos a tudo, na sala escura.

O trabalho do diretor é extraordinário, principalmente pelo fato dele não se permitir ser a estrela do filme e deixar a história e o ator brilharem em seus lugares. O diretor se coloca na função de mero condutor do trem… Melhor seria eu dizer, condutor de uma sinfonia, que mesmo estando, como maestro, postado na frente da orquestra, com a batuta em punho, a usa como um simples lápis, para apenas sugerir e esboçar os tons e os sentimentos de cada nota que devem lançar mão seu extraordinário grupo de músicos.

O diretor Todd Phillips, que também assina o roteiro, com Scott Silver, tem na simplicidade e na discrição suas maiores e mais relevantes qualidades.

Resumindo, Coringa se anuncia como o melhor filme do ano!

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Moura e Tarantino. Carlos e Charles.

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Passado algum tempo e já tendo se dissipado o calor em torno do assunto, resolvi entrar na polêmica do filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, a quem reputo um de nossos mais completos atores.

O fato de discordar ideologicamente de Moura e muito mais ainda do guerrilheiro Carlos Marighella, retratado por ele em seu filme, em nada invalida o talento do ator-diretor nem a qualidade artística de sua obra.

Acho importante que todos possam assistir a este filme, até porque o obscurantismo nunca ajudou ninguém em nenhuma época e nem em qualquer situação. Vejam o que aconteceu com o fechamento da União Soviética para o mundo! Essa tática é a dos comunistas, não a dos liberais.

Isso não quer dizer que iremos aceitar a verdade deles só porque eles são quem o são.

Na verdade, o grande ator Wagner Moura tem agido de forma asquerosa, maculando a imagem de nosso país, na tentativa de atingir objetivos políticos, ideológicos e partidários, o que é deplorável.

O filme de Wagner Moura sobre Marighella é na verdade uma obra de propaganda ideológica e, como tal, traz em si uma série de erros grosseiros e propositais, tanto de contexto quanto de historicidade, como o fato de um ator negro, Seu Jorge, encarnar um personagem que no máximo poderia se dizer moreno. Marighella era filho de pai italiano e mãe mulata!

Resumindo a opereta: sou contra a tentativa de restringirem e boicotarem o lançamento e a exibição do filme “Marighella”. Penso que todos devam ter o direito de assistir a todos os filmes que porventura sejam produzidos. No entanto, é importante que fique muito claro que existem filmes históricos que são feitos seguindo critérios respeitáveis e confiáveis, outros que são feitos como alegorias de algum fato ou personagem histórico, onde o autor insere alguns detalhes e ingredientes ficcionais para melhor construir a dramaticidade da obra, e outros que são meramente filmes de propaganda ideológica, de doutrinação e aparelhamento social, como é o caso deste.

Enquanto escrevia este texto, recebi de um amigo uma montagem onde aparecem, lado a lado, o guerrilheiro Marighella e o quadrilheiro Marcola. Percebe-se bem a semelhança física entre eles. Seus modus operandi são bem semelhantes e conhecidos, pois os quadrilheiros aprenderam com os guerrilheiros todas as suas táticas.

Por outro lado, assisti recentemente ao mais novo filme de Quentin Tarantino, “Era uma vez em Hollywood”, onde o diretor se baseia em um fato real, para contar uma história ficcional, que na verdade é o retrato da realidade sobre um aspecto da indústria cinematográfica americana.

Tarantino cria dois personagens ficcionais encarnados por dois atores ícones de nosso tempo, Leonardo Di Caprio e Brad Pitt, para contar uma história, velha conhecida nossa: a montanha-russa que é a vida dos astros de cinema. Nessa aventura, ele conta alguns fatos da história de astros do cinema, que aparecem de soslaio, como Steve McQueen, Roman Polanski e Sharon Tate.

Incrivelmente, a criação alucinada desse controverso diretor distorce propositalmente a realidade e impede que a “família” de Charles Manson, mate Sharon e seus amigos, em uma noite sombria, de loucura, violência desmedida e magia negra.

Ao fazer isso, descaradamente, Tarantino é honesto, pois claramente nos oferece um filme de ficção sobre uma realidade conhecida, enquanto Moura, em seu “Marighella”, pretensiosamente construído na intenção de nos apresentar sua versão sobre esse personagem como sendo a verdadeira, tenta estabelecer com este filme uma verdade histórica que passe a ser aceita por todos.

Enquanto o diretor americano usa da ficção para ressaltar a verdade sombria do fato na cabeça das pessoas, o diretor brasileiro usa sua concepção ideológica para impingir ao espectador a verdade que ele deseja estabelecer.

É bem aí que consiste a diferença básica entre o sucesso do bom (mas intrincado, para quem não conhece a história) filme de Tarantino e o fracasso da tentativa panfletária de Moura ao contar a sua versão da história de Marighella.

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Sobre política e políticos

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Estou ficando cansado!… Cansado de ver, de ouvir e de saber de tanta idiotice e barbaridade cometidas em nome do direito e da democracia, quando na verdade esses atos torpes são perpetrados simplesmente em nome de uma “política” que na verdade deveria ser chamada de politicalha, que serve tão somente para levar uma pessoa, e o grupo em que ela se apoia, ao poder.

O caso envolvendo os moradores do Cajueiro demonstrou isso de forma repugnante! Quem antes, na oposição, defendia panfletariamente os moradores e ocupantes daquela área, hoje, no governo, defende o direito de propriedade da empresa que ali irá construir um porto! Quem antes, no governo, defendia os interesses da empresa proprietária, hoje defende os ocupantes das terras! Todos uns canalhas!…

A palavra política, “politiké” em grego, abrange tudo o que é relacionado a grupos específicos que integram a pólis, a Cidade-Estado, que no apogeu da civilização grega clássica, era o que hoje se entende comumente como nação, como país.
Um político, “politikós” na língua de meus amados tios Samuel e Giovane, deveria ser algo maior que isso que temos hoje. Deveria ser na prática o que prevê o sentido grego de sua concepção: “Cidadão hábil na administração de negócios públicos”. E esta habilidade não deve ser entendida como a artimanha capaz de simplesmente levar o tal cidadão ao poder, mas antes de qualquer coisa, precisa ser a capacidade desse cidadão saber o que deve ser feito para proporcionar segurança, crescimento, emancipação e progresso para as pessoas e para o Estado, como fizeram grandes homens a exemplo de Clístenes, Temístocles e Péricles.

O termo política é derivado do grego antigo, politeía, que indicava todos os procedimentos relativos à pólis, que por extensão poderíamos entender como comunidade, coletividade ou sociedade.
Politeía é, curiosamente, o título original do livro A República do grande filósofo grego Platão, do qual só tivemos conhecimento graças à luz que seu discípulo, Sócrates, aquele filósofo humilde que reconhecia que pouco ou nada sabia, colocou sobre suas ideias. Já Aristóteles, o mais importante dos alunos de Sócrates, acabaria por gravar em pele de carneiro e pedra, a frase que estabeleceria o nosso entendimento comum e banal sobre políticos: “O homem é, naturalmente, um animal político”.

Ao dizer isso, Aristóteles estabeleceu duas verdades soberanas em nossos dias: Todo homem QUER SER POLÍTICO e todo homem É ANIMAL, infelizmente em suas concepções menos sofisticadas.

Nos dias de hoje e no sentido comum, vago e às vezes um tanto impreciso, política, como substantivo ou adjetivo, compreende a arte de guiar ou influenciar o modo de governar e organizar um grupo ideológico ou partido político, pela influência da população, normalmente através de eleições.

Na conceituação erudita, lato sensu, política, segundo Hobbes, é a utilização dos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem, ou “o conjunto de meios que permitem alcançar os efeitos desejados”. Já para Russell, política é “a arte de conquistar, manter e exercer o poder”, tese que se baseia na noção dada, mas jamais dita explicitamente, por Maquiavel, em O Príncipe.

Numa conceituação moderna, política é a ciência moral, normativa do governo e da sociedade.

Depois de queimar as pestanas estudando, tenho que me contentar com a realidade que esfrega em minha cara que a política, como forma de atividade ou de práxis humana, está estreitamente ligada ao poder. E que o poder político é, em primeira e em última análise, o poder de um homem sobre outro homem, ou pior que isso, de um homem à frente de um grupo ideológico, sobre todos os homens de uma nação, de um país, de um Estado.

Estou cansado! Principalmente por intuir que é muito difícil que se mude a realidade em que vivemos, pois aqueles que exercem a política hoje em dia, além de não saberem nada disso, não estão nem um pouco interessados em saber como transformar os enunciados do que é política e do que são os políticos, em algo bom para a sociedade, pois eles visam somente chegar e se manterem no poder. O poder para eles é o fim e não o meio para que façam como fizeram Clístenes, Temístocles e Péricles… O que de melhor puderam fazer para protegerem e servirem os seus pares.

PS: Se esses caras não sabem quem foram Clístenes, Temístocles e Péricles, sem recorrer ao Google, como vão saber votar ou estabelecer metas governamentais, sobre qualquer assunto, em defesa dos cidadãos!?

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Um tradutor para o presidente, please!

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De tudo que vi e ouvi nas últimas semanas, o que mais me chamou a atenção foi o comentário que o presidente Jair Bolsonaro fez a um de seus ministros.

Aparentemente, Bolsonaro usou o termo “paraíba” para se referir aos governadores do Nordeste. Em minha opinião essa expressão traz em si o mesmo sentido de chamarmos militares de “milicos”, palmeirenses de “porcos” ou um cearense de “cabeça chata”! Nada mais!…

É bem verdade que isso não é coisa que um presidente da República deva dizer, mas para isso não acontecer nós deveríamos ter elegido no lugar do Bolsonaro o Sergio Vieira de Melo, mas infelizmente ele já morreu. Na verdade, mesmo eu adoraria ter o Sergio Vieira de Melo como nosso presidente, mas temos que nos contentar com Bolsonaro, por enquanto.

Sobre o presidente, preciso dizer a você que me homenageia com sua leitura, que eu consigo entender perfeitamente o que ele fala. Entendo sem nenhuma das distorções causadas por sua falta de tato e de polidez. Consigo entender a sua intenção, o texto por trás do subtexto e do contexto dos quais ele não consegue se desenredar, pelo contrário, ele se enrola cada vez mais. Eu o entendo pelo fato de que meu pai era um homem muito direto e às vezes até pouco polido. Reconheço que as pessoas que não estão acostumadas a esse tipo de gente terão muita dificuldade de entender as suas colocações, e o que é pior, ele não faz nenhum esforço para fazer-se compreender.

Pouco diplomático, o presidente Jair Bolsonaro, não deseja ser diferente, no que está completamente equivocado, pois seu estilo direto e pontiagudo, ao contrário de só ser uma vantagem, está se mostrando ser aquilo que seus adversários precisam para desacreditá-lo e desqualificá-lo. Em última análise, ele é o seu maior e pior adversário. O pior é que ele não vê isso!

Outro grave erro do presidente é acreditar que não é importante qualquer coisa que possam dizer seus adversários, sejam eles dos partidos políticos de esquerda, da imprensa, ou mesmo pessoas comuns que não sendo destas facções, discordem pontualmente de sua forma de agir. É importante sim! É muito importante, pois o que seus adversários dizem pode acabar se tornando mais decisivo que qualquer coisa que o presidente e seu governo possam vir a fazer de bom para o Brasil e para nossa gente.

Sobre ele ter se referido a governadores como “de Paraíba”, confesso que ele fala tão mal que a princípio nem entendi. Depois aceitei que ele estivesse falando dos governadores do Nordeste, menos por serem nordestinos, mas por serem todos de esquerda, todos seus adversários, que lhes chamam de nazista. Não identifiquei nisso nenhuma forma ou intenção de racismo.

Sobre ele citar o governador do Maranhão como sendo o pior de todos, não consegui entender em sua fala uma discriminação específica contra o Estado do Maranhão ou a nossa gente.

O presidente tem o direito de achar Flávio Dino o “pior de todos”, da mesma maneira que Flávio Dino não se cansa de proclamar suas opiniões, sempre demeritórias sobre o presidente do Brasil.

“Não tem que ter nada para esse cara” é uma frase política, que em minha interpretação significa simplesmente o seguinte: Não faremos nada no Maranhão através do governo do Estado. Tudo que tivermos que fazer lá, deve ser feito diretamente pelo governo federal, como a duplicação da BR-135, as obras de melhoria da cidade de São Luís, que já estão sendo realizadas pelo IPHAN, o apoio direto aos municípios e às instituições, como o Hospital Aldenora Bello e nossas ações na Ferrovia Norte-Sul, o que levará as riquezas do Maranhão para o sul, por preços mais competitivos!

Ao dizer isso, Bolsonaro imita o próprio Flávio Dino, quando o governador do Maranhão se refere a um ou outro produtor cultural que busca apoio para um projeto por meio da lei de incentivo a cultura do Estado: “Não tem que ter nada para esse cara”. É triste, mas é do jogo!…

Eu não me arrependo de ter votado em Bolsonaro! Se alguém deveria se arrepender de alguma coisa é ele! Não só se arrepender, mas também parar de dizer e fazer tanta bobagem, correndo o grave risco de desperdiçar a grande oportunidade de soerguimento do Brasil que ele mesmo está propiciando!

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Celso Antônio, brasileiro.

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Nada sabia sobre Celso Antônio de Menezes. Muito pouca gente sabe sobre ele. Desde que tomei conhecimento de sua incrível história, tive vontade de realizar um documentário que possibilitasse às pessoas conhecerem esse gênio da arte brasileira, que nasceu na cidade de Caxias, no Maranhão.

Realizar este filme passou a ser uma de minhas metas. Comecei a procurar por Celso Antônio, a pesquisar tudo o que dissesse respeito a ele e o livro de Eliezer Moreira sobre Celso foi o estopim. Joaquim Itapary, sabendo de meu interesse, passou-me o endereço de um site de leilões de obras de arte e lá arrematei todas as peças do escultor que estavam disponíveis. Saí comprando tudo que pude encontrar, feito por ele.

Era minha intenção doar o acervo que adquiri, inclusive, parte dele da família de Celso, para o governo do Maranhão, para que ele colocasse em exposição permanente em um espaço dedicado às artes de nossa terra, mas o governo não se mostrou sensível a essa ideia.

As pessoas costumam valoriza pouco as funções de produtor executivo, de produtor, de diretor de produção… Isso é um grande erro. Nenhum diretor pode fazer bem o seu trabalho se não tiver por trás de si bons produtores. Sabendo disso resolvi escalar meu parceiro Joan Carlos Santos, da produtora Play Vídeo, para produzir comigo este filme que resgatará a história deste gênio esquecido de nossa arte.

Precisávamos de um diretor detalhista, minucioso, que beirasse a chatice no esmero da narrativa da história. Precisava de um poeta do cinema. Alguém que soubesse intercalar silêncio e som, longas sequências imagéticas com os necessários depoimentos que compusessem a tela que retrataria a nossa história. Afortunadamente eu tinha esse diretor. Beto Matuck, da Matuck & Yamaji Filmes, meu parceiro de muitos, grandes e bons projetos foi a escolha perfeita.

Essas três empresas integrantes do Polo de Cinema do Maranhão, a Play, enquanto proponente do projeto, a M&Y, se responsabilizando pela direção artística e a Guarnicê, na produção executiva, se valeram do indispensável apoio do MAVAM para realização deste filme, que temos certeza será um marco na história do cinema e das artes do Maranhão.

O filme Celso Antônio, brasileiro, é um sobrevoo sobre a trajetória do escultor maranhense Celso Antônio de Menezes, que viveu entre 1896 e 1984 e participou intensamente do movimento modernista, juntamente com Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Manuel Bandeira, entre outros, mas apesar de aclamado como um importante artista de vanguarda, sua obra é hoje refém do desconhecimento.

Nosso documentário refaz o caminho do escultor, investigando o que teria provocado o seu declínio e impedido que sua obra ficasse registrada mais profundamente no cenário das artes brasileiras.

Duas passagens são as mais controversas na vida do nosso personagem. A primeira, no governo Vargas, quando o renomado arquiteto francês Le Corbusier, que era amigo de Celso Antonio desde quando este morava em Paris, o convidou para fazer uma estátua que deveria ficar em frente ao prédio sede do Ministério da Educação… A obra se chamaria O homem brasileiro. Assistam ao filme e descubram o que aconteceu.

A outra grande polêmica foi quando, no governo do presidente Dutra, o escultor foi convidado para fazer uma escultura que simbolizasse o nosso trabalhador. Ela seria colocada em frente ao Ministério do Trabalho, no Rio de Janeiro.

Nesta imensa escultura em granito Celso Antônio usou como referência a figura de um homem mulato, atarracado, de feições fortes, com as mãos para trás, o que por si só fez da obra objeto de polêmica em torno de como deveria ser representado o tipo racial brasileiro. Dias após e inauguração a escultura foi retirada de seu local, sendo transferida para um parque em Niterói e caiu no esquecimento.

Um dos objetivos deste filme é sensibilizar o governo do Maranhão para que faça tratativas no sentido de trazer essa obra para São Luís e colocá-la em um local onde possa ser admirada por todos.

O lançamento de Celso Antônio, brasileiro será neste sábado, 27 de julho, às 10 horas da manhã, no Cinépolis, no São Luís Shopping. A entrada é franca.

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