A importância da História

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Fiquei imaginando qual é a nota que se poderia dar, de zero a dez, para filmes baseados em fatos reais, no que diz respeito ao conhecimento, aprendizado que eles possam nos oferecer ao assisti-los. Imaginei isso no tocante às portas e janelas que eles possam abrir para nós, mesmo que algumas vezes até conhecemos o enunciado do assunto, mas quase sempre desconhecemos os detalhes sobre eles.

Cheguei à conclusão que muitas respostas podem ser dadas a essa pergunta, mas posso garantir que nenhuma será igual a zero. Não existe nenhum filme, por pior que seja, por mais mal feito que possa ser, que não agregue conhecimentos e aprendizados para quem o assistir. 

Observei que muito poucas deverão ser as notas iguais a 1, 2 e 3, e essas não estarão relacionadas a filmes ruins, mas àqueles que se apropriam de um determinado fato real para desenvolver em torno dele uma forte carga dramática. Essas podem até parecer notas baixas para filmes tão importantes, mas não são. “Tróia”, “Barrabás”, “Quo Vadis”, “Coração Valente”, “…E o Vento Levou”, “Sem Lei, Sem Alma”, “O Encouraçado Potemkin”, “Doutor Jivago”, “O Discurso do Rei” e “Cidadão Kane”, são perfeitos representantes deste tipo e desta categoria de filme. 

Estabeleci que notas 4, 5 e 6 deveriam ser as pontuações de filmes que usam em seus enredos apenas algumas dramatizações e licenças poéticas, como é o caso de “Ben-Hur”, “Spartacus”, “El Cid”, “1492, a Conquista do Paraíso”, “A Rainha Margot”, “Titanic”, “Carruagens de Fogo”, “Reds”, “O Vento será tua Herança”, e “O Império do Sol”. Todos, filmes baseados em fatos reais, que se apoderam das narrativas literárias e cinematográficas para mais e melhor envolver o público, dando asas à dramatização, mas mantendo-se bem fiéis ao fato histórico enfocado. 

Vi que poderia dar notas 7, 8 e 9, para filmes que estão em patamares quase totalmente ancorados em fatos reais, mas com uma pegada mais próxima da documentação histórica, não do documentário, e sim com menos preocupação com os artifícios literários do roteiro ou com os recursos próprios da cinematografia, como, “A Missão”, “Amistad”, “Tora, Tora, Tora”, “O mais Longo dos Dias”, “A Queda – as últimas horas de Hitler”, “O Julgamento de Nuremberg”, “Malcolm X”, “JFK – A Pergunta Que Não Quer Calar”, “Os Gritos do Silêncio” e Attica.

As notas 10, em minha opinião, devem ser atribuídas a filmes que agradam quase a unanimidade das pessoas graças a sua abordagem bem ajustada, limpa, sem ruídos, irretocável, como é o caso de “A Guerra do Fogo”, “Agonia e Êxtase”, “O Homem que não Vendeu sua Alma”, “Amadeus”, “Os Eleitos”, “O Último Imperador”, “Lawrence da Arábia”, “Gandhi”, “Patton” e “A Lista de Schindler”. 

É importante que se ressalte que quem tiver o privilégio de assistir a esses 40 filmes, pode se considerar não só um felizardo, mas ficar certo de ter tido acesso a algumas das páginas mais importantes da história da humanidade. 

Preciso dizer também, sendo um pouco gabola, que assisti a todos estes filmes e a mais algumas centenas deste mesmo tipo, que é o meu favorito. Os vejo sempre com o espírito crítico bem aguçado, procurando analisar neles, o que é verdade e o que é obra literária e cinematográfica. Sugiro que se pesquise a respeito dos fatos envolvendo os filmes baseados em eventos reais ou históricos, faço isso frequentemente e essa é uma outra grande satisfação que tenho com o cinema: a pesquisa histórica.

Abordei esse assunto hoje porque durante a semana que passou, assisti a dois filmes baseados em fatos reais, os quais eu, que sou tido por algumas pessoas como um sujeito culto, bem informado, além de cinéfilo de grande monta, nem imaginava que existissem. Os filmes e muito menos os fatos que os motivaram.

Não vou fazer spoilers! Só vou dizer que os filmes, “Jodotville” e “O Banqueiro da Resistência”, são imperdíveis, menos pela arte cinematográfica que expressam, e muito mais pelas extraordinárias e surpreendentes histórias que contam. 

Esses dois filmes estão disponíveis na Netflix. Não deixe de assisti-los, e descubra o quão pouco nós conhecemos a história de nosso mundo e comprovem a crueza de nossa condição humana. 

PS: Depois que acabei de escrever esse texto, quando fui lê-lo novamente para revisá-lo, constatei que a maioria dos 42 filmes que usei nele, como exemplos, têm de alguma forma envolvimento com conflitos bélicos. Parece que essa infelizmente é uma marcante e triste condição humana. 

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Conversas de Carnaval

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Durante o carnaval, minha esposa, Jacira, leu para mim, uma postagem em uma rede social que relacionava uma série de expressões como formas sutis, subjetivas e indiretas de preconceito.

Muitas eu conhecia e não as ligava a preconceito, como denegrir. Para mim denegrir era apenas um verbo que significava macular, difamar, falar mal de alguém. Algumas eu conhecia e até ligava a preconceito, mas num sentido meramente simbólico e até de certa forma positivo, como judiar, expressão que significa maltratar, mas pensava que essa expressão fosse usada no sentido de nos fazer lembrar como foram perseguidos os judeus, não para induzir a crueldade para com eles.

Até o dia que minha mulher leu para mim a tal postagem, acreditava que uso da palavra negra associada as palavras magia, lista, mercado e coisa, eram meras associações deste substantivo ou adjetivo feminino como sinônimo de oculta, perigosa, ilegal e difícil! Em minha cabeça essas expressões jamais foram uma tentativa de marginalizar uma raça, diferentemente de coisa de preto, mulata, ou cabelo de nego, essas sim, claramente eivadas de preconceito.

Mas entre todas aquelas expressões, uma me deixou perplexo pelo fato de não conhecer o motivo histórico de tal termo ser usado, ou seja por total falta de conhecimento, de cultura mesmo, de minha parte, como acredito que ocorra neste caso específico com a maioria das pessoas. Soube naquela ocasião que o nome criado-mudo, atribuído ao móvel que colocamos ao lado das camas, é proveniente de um hábito escravocrata, de quando os “senhores” colocavam seus escravos postados, durante toda a noite, ao lado de suas camas segurando uma bilha com água e um copo. Eu jamais poderia imaginar que alguém pudesse ter uma ideia tão absurda e estapafúrdia como essa. Muito mais prático seria colocar-se um banquinho para esse fim!

Pois bem! Ao saber que o outro nome dado à mesinha de cabeceira fazia referência a uma atitude repugnante do tempo da escravidão, fiquei chateado comigo mesmo, por desconhecer tal fato. Além disso fiquei indignado por ser considerado preconceituoso por usar essa expressão, pois, uma vez que não sabia que ela tinha essa conotação, não poderia ser acusado por tal atitude, mas de qualquer modo, daquele dia em diante, só me referirei ao móvel colocado ao lado das camas como mesinha de cabeceira, a magia é oculta, a lista é perigosa, o mercado é ilegal e a coisa tá difícil!

Outro assunto foi tema de nossas conversas durante o carnaval. A existência de um tal do Lugar de Fala, que em minha modesta opinião é uma invenção que tenta limitar a liberdade de expressão de uns em relação a pretensos direitos de outros. É como se algumas pessoas, resolvessem que há uma hierarquia entre alguns direitos fundamentais do cidadão, estabelecidos no artigo quinto da Constituição brasileira, que trata de nossos direitos e garantias individuais e fundamentais. Falo desse assunto usando o mesmo argumento das pessoas que inventaram e defendem esse tal Lugar de Fala, pois fui membro da comissão de parlamentares que durante dois anos trabalhou na confecção desta quadra de nossa Constituição.

Algumas pessoas estabeleceram que alguns direitos, de certos cidadãos, são mais importantes que outros direitos de outros cidadãos, o que é um contrassenso, além de tornar o exercício desses tais direitos subordinados ao uso social deles, transformando-os em poderosos instrumentos de poder de uns cidadãos iguais, contra outros que deveriam também ser igualmente cidadãos.

A tese do Lugar de Fala estabelece que só pode falar ou se manifestar sobre um determinado assunto quem o tenha vivenciado. Nenhum homem pode falar sobre assuntos de mulheres, como por exemplo, menstruação, gravidez, cabelos no sovaco… Nenhum homem pode se dizer feminista! Um teólogo protestante, não pode comentar sobre uma religião de matriz africana… Um filósofo, sociólogo, antropólogo ou psicólogo heterossexual não pode tecer comentário, nem aqueles que sejam aceitos ou favoráveis, sobres assuntos homossexuais, por não ter legitimidade.

Estou vendo a hora alguns tentarem impedir que um cidadão reclame da forma como outros desestabilizaram, corromperam e destruíram a sociedade, que pertence igualmente a todos. Imagine se tentarem impedir que o torcedor de determinado time reclame da chatice de outro, ou um pai de bem educar um filho.

Acredito que eu tenha Lugar de Fala, enquanto pessoa, cidadão cumpridor de minhas obrigações e respeitador das leis, ao dizer que este mundo em que vivemos está muito chato, que tenho saudade do tempo em que lutávamos pela liberdade que não tínhamos, e hoje que a temos, a limitamos de tal forma que acabamos por perdê-la para nós mesmos, o que é um grande absurdo, uma imensa tragédia.

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BBB

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Escrevo este texto na madrugada da terça-feira anterior ao sábado, de carnaval, dia em que ele não só estará publicado na página de opinião do Jornal O Estado do Maranhão, mas também estará postado em minhas janelas nas redes sociais.

Ressalto o sábado de carnaval, pois este texto não trata das folias de Momo. Eu o escrevo exatamente para aqueles que não se interessam muito por elas e preferem dois dedos de uma prosa leve sobre a nossa vidinha, sem confetes nem serpentinas.

Faz tempo que gostaria de falar sobre este assunto, e logo quando resolvo fazê-lo, descubro que meu amigo, confrade e professor de direito penal, José Carlos Sousa Silva, já o fez antes de mim. Posso não tratar de assunto inédito, mas o abordarei do meu jeito. O assunto é o BBB!…

Calma!… Não se trata do reality show da Rede Globo. O BBB de quem falo é o Benedito Bogéa Buzar, um dos amigos que herdei no vasto inventário de meu pai, que, diga-se de passagem, se nos deixou alguns bens materiais, nos fez ricos de preciosas amizades.

De ascendência libanesa como eu, Buzar nasceu na cidade de Itapecuru Mirim. Eleito deputado quando para isso não se precisava mais que uns mil amigos, e tendo na juventude ideias libertárias, foi acusado de comunista e cassado, junto com outros tão comunistas quanto ele: Sálvio Dino e Ricardo Bogéa.

Tive o prazer, enquanto deputado, de receber simbolicamente de volta na ALM, Buzar, Sálvio e Ricardo, recolocando a história nos trilhos de onde jamais deveria ter sido tirada.

No último dia 17 de fevereiro, Buzar completou 82 anos, muitos dos quais dedicados ao jornalismo, à política, ao registro histórico de personagens e acontecimentos marcantes de nossa terra. Nisso fazemos parelha. Ele é colaborador preferencial do Museu da Memória Audiovisual do Maranhão. É sempre a primeira pessoa a quem recorremos para tirar alguma dúvida sobre este ou aquele fato, ou para descobrir quem está em um filme ou em uma foto antiga. Fico triste e preocupado por saber que um dia, que espero ainda demore bastante a chegar, não teremos mais quem nos diga que naquele filme de Lindberg, ou que naquela fotografia de Azoubel ou Valdo Melo, quem aparece é Carlos Vasconcelos ou Matos Carvalho.

Nos últimos anos tenho convivido bastante com Buzar. Fazemos parte do Senadinho da Fribal, que se reúne aos domingos na Ponta D´Areia, comandados por Aparício Bandeira; do grupo de ex-deputados do MDB, dirigido por Remi Ribeiro e secretariado pelo mesmo Aparício, que se reúne uma vez por mês em lautos almoços; temos a honra de fazer parte de um grupo extremamente restrito de amigos, que sempre que pode se reune com o presidente Sarney; e principalmente, ele, Buzar, tem sido nos últimos anos, presidente da Academia Maranhense de Letras, onde realizou um maravilhoso trabalho, não apenas administrativo, mas principalmente diplomático, pois apascentar o ego e o temperamento de outras 39 criaturas, todas com muita cultura, informação, e das mais diversas formações e conformações, não é tarefa muito fácil!…

Nosso convívio na AML, graças ao seu jeito contemporizador, tem sido de grande valia para mim, pois tenho podido ajudar da maneira que mais gosto: descompromissado, sem cargo ou patente, sem responsabilidade e por isso mesmo com compromisso comigo mesmo, com uma patente de amor e devoção dada por mim, e com a responsabilidade que eu me exijo. O jeito simples de Buzar me propicia isso!

Ele tem para comigo muita consideração e sempre me dá relíquias históricas, como os documentos e fotos do Senador Clodomir Milet, grande amigo dele e de meu pai. Livros sobre cinema e política, assuntos pelos quais muito me interesso.

Estava pensando em escrever essas mal traçadas linhas já faz algum tempo e aproveitei exatamente essa oportunidade, quando Buzar deixará de ser presidente da AML, para fazê-lo.

Obrigado Buzar!

PS: Vou cometer aqui uma inconfidência. Há uma coisa que os amigos mais íntimos de Buzar reclamam muito dele e que poucos que me leem agora vão entender: Buzar não é bom de reza! Definitivamente ele não rezou direito!…

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O insulto

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O insulto

Em uma animada conversa sobre cinema, com amigos, em São Paulo, buscando um exemplo prático sobre o que falávamos, citava um determinado filme, como por exemplo Assim estava escritoO Mahabarata ou A festa de Babete, e observei que muitos dos presentes, todos envolvidos com audiovisual, não os tinham visto.

Os mais sábios, dizem que para que alguém escreva, e escreva bem, é preciso que leia e aprenda com isso. É assim em tudo na vida. No cinema não é diferente!

Como um camarada pode ser roteirista e nunca ter visto filmes que trazem em si roteiros extraordinários como O sol é para todosA felicidade não se compra ou Relíquia macabra? (Cabe aqui fazer um calombo para dizer que o editor do filme, aquele que monta as sequências das cenas que compõem a história contada, é uma espécie bem peculiar de roteirista, ou pós roteirista, aquele que não escreveu a história, mas é responsável pela forma de apresentá-la ao público).

Imagine alguém que quer ser diretor de cinema e nunca tenha visto os filmes de Frank CapraDavid Lean ou Sidney Lumet!

Um ator que não assistiu as performances de Charles Laughton, em A vida privada de Henrique VIIIO Corcunda de Notredame e Testemunha de Acusação; de Betty Davis, em Jezebel, A Malvada, e O que terá acontecido com Baby Jane? Ou ainda atuações magistrais de coadjuvantes como Walter Brennan, Shelley Winters e John Gielgud, estará definitivamente prejudicado, ficando por conta unicamente de sua genialidade, coisa que a cada dia tem sido mais difícil de se encontrar.

Em menores proporções, devido a natureza quase independente de suas atividades, que são na verdade agregadas à indústria do audiovisual, o mesmo ocorre com produtores, diretores de fotografia, músicos, diretores de arte, cenógrafos, figurinistas, maquiadores, que se propõem a realizar um filme, e não assistiram a obras fundamentais como O nascimento de uma nação, Lawrence da Arábia, e A excêntrica família de Antônia.

Mas preciso confessar a você que me lê agora o verdadeiro motivo daquela conversa. É que eu comentei com aqueles amigos que uma determinada pessoa, chateada comigo, escreveu um texto onde tenta me insultar me chamando de cinéfilo, acusando-me de não ser um cineasta.

A comparação que fiz, pra tentar explicar como aquela pessoa que tentava me insultar estava errada, foi com jogadores famosos de futebol. Mostrei-lhes que os melhores jogadores, os maiores craques dos gramados, são aqueles que jogam com amor, com alegria, como se estivessem em um campinho de pelada, desses de várzea. Verdadeiros boleiros!

Lembrem aí: Garrincha jogava com uma ginga e uma alegria que maravilhava a todos; Podemos dizer o mesmo de Didi, Puskás, Di Stefano e até de Pelé. É fácil dizermos isso de Neymar, Messi, dos Ronaldinhos, Gaúcho e Nazário, de Maradona, Zico, Romário e até de Zidane e Cristiano Ronaldo. Isso não é menos verdade quando pensamos nos elegantes jogadores nórdicos, de sangue frio, como Cruijff e Beckenbauer.

Em todos eles há um certo ingrediente de peladeiro. Nuns mais que em outros, o que seria o similar a se dizer de alguém que trabalhando com cinema, seja antes de qualquer coisa um apaixonado por ele. Isso de modo algum é um insulto, e aquele sujeito que tentou me alvejar, na verdade conseguiu me fazer o maior dos elogios, pois alguém que realiza o seu trabalho, aquilo que se propõe, com paixão, amor, devoção, como um peladeiro, o faz da melhor maneira possível, com as asas da alma abertas para voar.

PS 1: Escrevi este texto e o publico agora, na ocasião da realização do maior evento do cinema mundial, o Oscar, para homenagear o audiovisual brasileiro que teima em continuar existindo como pode, e a todos que realizam trabalhos nesse importante setor.

PS 2: O insulto é o título de um maravilhoso filme libanês que precisa ser visto por todos. Ele fala de uma epidemia que precisa ser aniquilada: A intolerância.

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Carta para mim mesmo

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Uma das coisas que mais me preocupa é a velhice, não a velhice útil como a da minha mãe ou a de Zé Sarney, que aos 90 anos estão operantes e são capazes de levar suas vidas com a indispensável dignidade.

O que me preocupa é a senilidade, é a incapacidade de lembrarmos das coisas e de fazer outras. Ninguém merece isso.

Uma criança é criança porque ainda não sabe, porque ainda não aprendeu, e isso é até bonito! Tanto que a grande quantidade de porquês que elas atiram em nós, podem até nos incomodar, mas não nos preocupa, pois sabemos que mais adiante elas estarão aptas a saber todas as respostas, e lembrarem-se delas por muito tempo.

As dores nas costas, nas pernas e em outras partes mais sensíveis, que normalmente afligem aqueles que conseguiram o maravilhoso feito de viver tempo suficiente para senti-las, também se constituem em um problema, só que este é mais fácil de se entender e até de se aceitar. É algo mecânico, algo que de uma forma ou de outra, em algum momento iria acontecer.

Adoro analogias e a que faço quanto a isso é fundamentada em uma das paixões que desenvolvemos graças à grande revolução industrial e social ocorrida no finalzinho do século XIX, início do século XX. A paixão pelos carros.

Gosto de pensar que nossos corpos são como carros. Cada um de nós é um carro diferente, mesmo que existam muitos modelos iguais, dos mais diversos anos e estados de conservação.

Um velho Ford Modelo T de 1920, mesmo com 100 anos pode estar bem conservado, mas o esperado é que seus amortecedores estejam desgastados, que seu motor esteja enfraquecido, que seus bancos ranjam… Um Jaguar, 1970, na flor de seus 50 anos, que pertenceu a uma rapaziada da pesada, numa Londres psicodélica, que tenha sido esmerilado sem dó nem piedade, mesmo tendo desfrutado dos maiores prazeres de seu tempo, terá os problemas decorrentes de seu uso. Assim acontece conosco.

Problemas mecânicos e estéticos irão acontecer, tanto nos carros como nas pessoas, mas há uma espécie de problema que existe com as pessoas que não encontram paralelo nos carros. Carros não ficam tristes, solitários, depressivos, eles podem até sofrer de uma espécie de Parkinson, e tremerem, mas peças novas e um bom mecânico dão um jeito nisso. Carros não ficam senis, nem sofrem algo parecido com Alzheimer.

Tenho pensado muito nisso ultimamente. Olho para minha mãe, com 90 anos e vejo que muito dificilmente vou chegar a esse patamar, ainda mais em tão bom estado. Olho para mãe Teté, minha mãe de criação, cinco anos mais nova que minha mãe, e constato como ela se encontra em condição bem menos favorável.

Para todo lado que me viro vejo pessoas idosas e outras que estão caminhando pra essa condição a passos largos, umas melhores, outras nem tanto e outras ainda lutando bravamente contra o quase inexorável: A velhice.

Por isso resolvi que deveria escrever uma carta para mim mesmo, uma espécie de diário, contendo as coisas que eu precisarei saber no futuro, sobre tudo o que vivi, para ter consciência do meu passado e certeza do presente que terei no futuro.

Parece algo bom a fazer… Mas na verdade o que eu gostaria mesmo era de ter uma vida boa, como a que tive até hoje. Ela não precisa ser muito mais longa. Sempre valorizei mais a qualidade que a quantidade.

Nunca achei que os romances fossem melhores que os contos simplesmente por eles serem maiores. Pelo contrário, sempre preferi os contos, por terem um arco narrativo menor e isso me dar mais tempo para que eu mesmo imaginasse as causas e os desdobramentos de seu enredo.

Como na literatura e no cinema, não me interessa apenas ser o redator, o escritor da obra, me interessa principalmente ser o criador da ideia, e que, ao compartilhá-la com outras pessoas, possa transformar a elas e a mim mesmo em co-escritores, coprodutores e codiretores dela.

Minha ideia é viver bem, o melhor possível, enquanto puder me lembrar das coisas boas, e até das não tão boas que vivi e que vivemos, e quem sabe poder proporcionar essa extraordinária aventura para algumas pessoas também.

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Goebbels, Bohr e Pirandello

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Credita-se a Joseph Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha nazista de Adolf Hitler, a frase “uma mentira repetida mil vezes torna-se uma verdade”. Tem gente por aí que faz muito isso, mesmo que jure que não.

Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos da América, disse que: “Pode-se enganar todos durante algum tempo, pode-se enganar alguns durante todo tempo, mas não se pode enganar a todos por todo o tempo”.

Em sua genialidade, o autor de 1984 e Revolução dos Bichos, o inglês George Orwell, disse que: “Em tempos de fraude universal, dizer a verdade se torna um ato revolucionário”.

Certa vez Jesus tentou mostrar a seus discípulos o que era realmente verdade: “Digo-lhes a verdade: não foi Moisés quem lhes deu o pão do céu, mas é meu Pai quem lhes dá o verdadeiro pão do céu”.

O parabólico e metafórico nazareno queria simplesmente dizer que o adorado deve ser o detentor do poder e da glória, não seu agente, não seu obreiro.

Quando esse mesmo Jesus disse que ele era o “caminho, a verdade e a vida”, quis dizer mais do que entendemos em suas palavras traduzidas do hebraico ou do aramaico. Ele, em verdade, nos dizia que só se terá redenção, só se chegará na glória divina sendo como ele, sendo minimamente bom em tudo em nossas vidas, tendo em nós mais as boas qualidades do que as más. Mas afinal de contas o que é mesmo verdade?

O pouco lembrado Niels Bohr, um dois gênios da humanidade, explica filosoficamente não apenas a mecânica dos elementos, e por analogia, a mecânica da vida. Disse ele que existem verdades triviais e grandes verdades. Disse também que o contrário das verdades triviais é claramente falso, mas que no caso de uma grande verdade, seu contrário é também verdadeiro. Essa afirmação bagunçou minha cabeça. Passei muito tempo digerindo o que disse Bohr, que antes só conhecia das aulas de física e de química.

Havia então duas constatações a levar em conta. A primeira é que, obrigatoriamente, um cientista, antes de tudo, teria que ser um humanista, um filósofo. A segunda, se for realmente verdade o que disse Bohr, teria que reformular minha opinião sobre o demônio, o satanás. Para mim ele não existe. É tão insignificante perto de Deus, onipotente, onipresente e onisciente, que nem cogito sua existência. Em minha concepção, o que há é o livre arbítrio humano, que na maioria das vezes, quando posto em prática, assemelha-se muito ao trabalho do coisa ruim.

Pois bem, sendo Deus uma grande verdade, satanás, segundo Bohr, também o é. Confesso que não gosto dessa ideia, ela dá margem para muita especulação.

Em meu socorro aparece Nietzsche, mas acaba por bagunçar ainda mais minhas ideias, afirmando que toda verdade é simples.

Meu pai, que não era nem cientista nem poeta, dizia que algumas verdades eram tão preciosas que precisavam ser garantidas por uma série de mentirinhas. Ele dizia umas coisas bem interessantes para um homem de pouco estudo. Uma vez, falamos sobre isso em uma de nossas viagens pelo interior desse Maranhão. Foi no intervalo do ensaio do discurso que iria proferir naquele dia e a eterna transmissão de um jogo de futebol entre Arsenal e Manchester, que ele ouvira pelo rádio, quando eu ainda nem era nascido.

Falou sobre como agir na política, como deveríamos nos portar enquanto políticos, fez uma comparação entre o mundo do comércio e o da política, mundos onde ele habitava. Disse ele que “a verdade é uma mercadoria complicada de se transportar e mais ainda de se negociar”. Disse que ela “tem que ser dita de tal maneira “acreditável”, se assim não for, parecerá simplesmente mais uma mentira”.

Foi com ele que aprendi que é infinitamente melhor se dizer a verdade, pois dá menos trabalho, é menos cansativo e mais prazeroso. Que só se deve lançar mão da mentira quando for impossível usar a verdade. E ele mesmo completou: “O difícil é sabermos quando”.

Comecei a escrever esse texto porque estava me indagando sobre minhas verdades, fato que me trouxe até aqui, a esse beco sem saída. Só me resta lançar mão de um grande amigo meu, um mágico das palavras, grande conhecedor do pensamento e da alma humana, Luigi Pirandello, que parece ter solucionado esse dilema com uma frase: “Assim é, se lhe parece”.

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A Porta dos Fundilhos

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Em meu último texto de 2019 disse que logo no comecinho do ano de 2020, eu iria “tentar analisar a mais rasa, vérmina, ignóbil e torpe manifestação da cultura cinematográfica humorística nacional. A engembrada e mal enjorcada produção levada a cabo, sem nenhuma tendência, pelos talentosos, mas não inocentes membros do grupo humorístico Porta dos Fundos, sobre a vida de Jesus. Uns espertalhões que se travestem de corretos para encherem os bolsos de grana”.

Farei isso, em que pese o interesse sobre este assunto ter se arrefecido. O assunto do momento é a indicação de “Democracia em Vertigem”, para concorrer ao Oscar de melhor documentário, categoria que tal filme não consegue alcançar, pois é no máximo um longo e faccioso filme de propaganda partidária e ideológica.

Mas vamos ver os fundilhudos!…

É bom que antes de mais nada, você que me lê agora, saiba que gosto de pensar que sou agnóstico, que não tenho uma religião, em que pese gostar de estudar todas, para tentar entender o que nos leva a buscar tanto uma explicação teológica sobre nossa origem e tudo que nos cerca.

O pessoal do Porta dos Fundos escolheu como tema de seu especial de Natal, uma versão bem ao seu modo, irreverente e escrachada, da vida de um personagem histórico, que não por acaso é a pedra fundamental de todas as denominações religiosas que formam a fé cristã, que congrega cerca de 35% da população mundial.

Em segundo lugar, pouco importa se você viu ou não viu essa repugnante montagem! Para que você possa entender de forma realmente correta, qualquer coisa sobre o assunto Jesus Cristo, do ponto de vista do cinema, é indispensável que veja alguns filmes, pois com o puro e simples conhecimento dessas obras você poderá saber como é ignóbil, torpe, despropositado, de mau gosto, coisa de quem não quer pendurar uma melancia no pescoço para aparecer, nem enfiar um espanador no rabo e sair na banda de Ipanema fantasiado de Papa-Léguas…

Assistam ao poético “O evangélio segundo São Mateus”, de Pier Paolo Pasolini (homossexual assumido); ao minucioso “Rei dos Reis”, de Nicholas Ray (narrado por Orson Wells); ao maravilhoso “Jesus de Nazaré”, de Franco Zefirelli (preste atenção em seu elenco estrelar); assista ao violento “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson.

Depois disso, assista ao fenomenal “A Última tentação de Cristo”, profundo mergulho de Martin Scorcese em busca de um Jesus verossímil e real, em que pese o diretor ter fraquejado ao usar o estereótipo louro e de olhos azuis para um judeu da Galileia, de 2000 anos atrás, protagonizado pelo impecável Willem Dafoe.

Só então assista ao extraordinário “A Vida de Brain”, de Terry Jones, que juntamente com sua trupe do Monty Python, dão vida a Brain Cohen e a personagens contemporâneos de Jesus, construindo um cenário paralelo ao do messias, sempre de forma criativa e bem humorada, de forma cômica, mas sem faltar com respeito de forma inaceitável para com as crenças de quem quer que seja.

Se você não quiser assistir todas as obras citadas, assista pelo menos as duas últimas, pois são nelas que residem a tosca justificativa do Porta dos Fundos realizarem seu filme escatológico, no sentido grego da palavra.

Usaram o tema do filme de Scorcese e a licença humorística do filme de Jones para montar um Frankenstein degenerado onde Jesus é um homossexual (Duvivier), seduzido por um Satanás de cabelos de Rick Wakemam (Porchat), Deus é um babaca arrogante e prepotente, Maria não tem nada de santa, trai o marido e fuma maconha…

O filme foi feito com o intuito único e exclusivo de causar polêmica e ganhar dinheiro. Nada tem de humor e muito menos de arte, ainda mais vindo de pessoas inteligentes e talentosas, como são os autores e protagonistas. Uma porcaria produzida sob os auspícios do artigo quinto da Constituição Federal que permite que qualquer cidadão, até os imbecis, digam o que bem entendam.

Viva o estado democrático de direito e a plena democracia brasileira, que alguns dizem estar em vertigem!…

Por fim, gostaria de dizer que até para brincar, principalmente com assuntos tão sérios e controversos como religião, o brincalhão tem que ter capacidade de entender como fazê-lo e estar preparado para suportar as consequências, pois insulto, calúnia, injuria e difamação são tão crimes quanto agressão, violência e terrorismo!…

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Temporada de premiação

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No último domingo, dia 5, o Globo de Ouro deu início à temporada de premiações do cinema americano, que além deste evento, organizado pela Associação de Jornalistas Estrangeiros de Hollywood, conta com pelo menos mais outras sete festas de consagração dos profissionais da indústria cinematográfica.

O Globo de Ouro é um dos mais importantes eventos dessa natureza, ficando atrás do Oscar, dos festivais de Cannes, Veneza, Berlim, além do Britânico, e é tão importante quanto o Screen Actors Guild Awards e o Critics’ Choice Awards, promovidos respectivamente pela associação de atores de Los Angeles e pela associação de críticos de cinema dos Estados Unidos.

Além desses existem premiações das associações de produtores, diretores e roteiristas. Há o People’s Choice Awards, onde o espectador escolhe de forma direta os seus preferidos. Este prêmio tende a refletir o resultado das bilheterias, distinguindo os artistas mais populares e carismáticos. Há também o Framboesa de Ouro, criado em 1981 pelo publicitário John Wilson, como uma espécie de paródia ao Oscar, que escolhe os piores do cinema no ano.

O Globo de Ouro é tido como uma prévia do Oscar.

É importante lembrar que o Golden Globe divide drama e comédia e destaca também os melhores da televisão americana, o que pode confundir o espectador que não conhece bem seu sistema.

Quanto aos prêmios, a Netflix, apostava que suas três produções, O Irlandês, História de um Casamento e Dois Papas, indicados para melhores dramas, fossem faturar muitos Globos, o que não aconteceu.

Estes filmes concorrerão ao Oscar, mas em minha modesta opinião o único que tem alguma chance de abiscoitar algum prêmio este ano é Dois Papas, por seu roteiro adaptado, mas é difícil!

O prêmio de melhor drama de 2020 foi para 1917, que ainda não chegou ao Brasil, mas o tema, o diretor e o elenco, me fazem pensar que só pode ser um bom filme. Tanto que Sam Mendes desbancou Bong Joon-ho, Todd Phillips, Martin Scorsese e Quentin Tarantino, tendo este último sido escolhido melhor roteirista, superando ninguém menos que Noah Baumbach, Bong Joon-ho e Han Jin-won, Steven Zaillian, e o meu preferido, Anthony McCarten.

O filme escolhido na categoria de melhor musical ou comédia, em minha opinião, não é nem uma coisa nem outra, em que pese ser um extraordinário filme, um passeio na maravilhosa e um tanto adulterada máquina do tempo de Tarantino: Era uma vez… em Hollywood.

No caso dos melhores atores de drama, nenhuma surpresa. Venceu quem era praticamente invencível: Joaquim Pheonix, por Coringa e Taron Egerton, por Rocketman.

Na disputa de coadjuvantes, tudo se mistura. Atuações masculinas, dramáticas e cômicas nivelaram Tom Hanks, Anthony Hopkins, Al Pacino, Joe Pesci e Brad Pitt, mas quem levou o prêmio, merecidamente, foi o bonitão. No caso das mulheres, o altíssimo nível da disputa contou com Kathy Bates, Annette Bening, Laura Dern, Jennifer Lopez e Margot Robbie, ficando a representante do filme História de um Casamento com o único Globo conquistado por uma produção da Netflix.

No mais, (I’m Gonna) Love Me Again de Sir Elton Jonh ganhar como melhor música não foi surpresa pra ninguém, como também não foi surpresa Parasita ser o melhor entre os filmes não americanos. Dos filmes que concorriam e que eu assisti, nenhum teve uma direção de arte e uma trilha sonora que se igualasse a de Coringa, que faturou este prêmio.

Quanto às demais premiações, fica muito complicado eu comentar os prêmios atribuídos a filmes e séries para a televisão, pois grande parte não vi.

Esperemos os outros eventos!…

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Sobre “Dois Papas”

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Minha intenção era fazer uma análise mais aprofundada sobre o novo filme de Fernando Meireles que traz à tela lascas das biografias de dois dos homens mais influentes de nosso tempo. Os dois papas simultâneos… Porém, uma publicação no Twitter de um amigo, me fez antecipar minhas considerações naquela mídia, que eu transcrevo aqui de forma mais apurada e mais bem acabada.

O amigo Leonardo Cordeiro publicou no Twitter: “No filme Dois Papas, além da história incrível sobre a renúncia de Bento XVI destaco o incrível relato do Papa Francisco sobre os efeitos da ditadura militar Argentina, logo aqui do lado. Pra que nunca mais se repita.”

Ao que eu comentei:

Todas as ditaduras são abomináveis, mas acho inacreditável que alguém, ao assistir a uma obra tão densa e rica, ressalte principalmente seu aspecto meramente político e não comente sobre a profundidade das duas personalidades nela dissecadas, o que na verdade é o assunto germinal e central do trabalho!

“Dois Papas” é, antes de tudo, a conversa de duas biografias de homens de origens diferentes, que ocupam o mesmo espaço de poder, encarando-o e exercendo-o de forma distinta, mas com a mesma intenção e o mesmo propósito, provando que o certo e o errado, o bem e o mal, são meros detalhes.

O espírito humano é naturalmente predisposto a simpatizar com personalidades como a de Bergoglio, que é normalmente simpático, alegre, bem humorado, ressaltando suas características latinas, e a antipatizar com personalidades e temperamentos como o de Ratizger, que é recluso, sisudo, sem bom humor, demonstrando claramente suas características germânicas. Mesmo assim, o autor do roteiro e o diretor do filme, nos mostram que não existem santos nem demônios, mas pessoas, seres humanos como diz Bento em uma certa passagem da obra!

Assisti “Dois Papas” achando que veria outra coisa! O que vi foi uma belíssima construção psicológica, um roteiro impecável, levado a cabo pelo mais talentoso dos publicitários que empresta sua arte ao cinema, na intenção de apresentar sua ideia da forma mais palatável possível, fazendo com que o espectador a “compre”, não sem antes questionar o merchandising da Fanta saboreada em plena sacristia da Capela Sistina!

Fiquei imaginando como foi construído aquele roteiro, que em minha modesta opinião merece um Oscar! Acho que Anthony McCarten colocou as biografias dos personagens frente a frente, pegou um martelo e um cinzel, ao invés de uma caneta, e foi esculpindo aqueles diálogos provavelmente improváveis, construindo uma série de conversas que jamais devem ter acontecidos, mas que mostram com fidelidade os pensamentos e posicionamentos daquelas figuras, que mais que outras, são mais platônicas que aristotélicas, sendo efetivamente socráticas.

A piada do jesuíta fumante bem retrata as personalidades dos dois papas. O argentino entende o pragmatismo, o aceita e até o busca. O alemão, teólogo dedicado a entendimento e ao conhecimento de Deus, não entende, acha bobagem, um mero jogo de palavras.

Roteirista e diretor não conseguem esconder sua preferência pelo argentino, mas como conhecedores das regras da boa narrativa, encerram o filme com a final da Copa de 2014. Alemanha 1 x 0 Argentina.

No filme, não poderia ter deixado de haver alusão à ditadura argentina! Ela é o ingrediente principal da construção da personalidade de Bergoglio, de sua vertigem e de sua redenção! Tudo o que ele é, é resultado direto da ditadura argentina, e é exatamente em consequência dela que nasce o Papa Francisco!…

Penso que ficou faltando arrematar com uma frase que meu bom amigo e ex-colega no parlamento maranhense, Aderson Lago, gostava de repetir: “Posso perder o amigo, mas não a piada”, mesmo que ela seja de gosto duvidoso. Então lá vai: o amigo Leonardo Cordeiro se lembra da ditadura argentina. Eu não esqueço dela nem das outras!… Mas ele e seus camaradas se esquecem propositalmente da ditadura cubana, que matou mais pessoas, causou muito mais dor e desespero e durou muito, muito mais tempo!…

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Para 2020

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Finalmente completei 60 anos e conquistei alguns privilégios muito bem-vindos, alguns indesejados e outros até rejeitados.

Ter preferência de acesso e de estacionamento é maravilhoso, ocorre que a quantidade de pessoas na mesma condição, deixa essa vantagem quase sendo uma desvantagem!… Não mais poder sentar nas poltronas que ficam junto às portas de emergência dos aviões, é algo que vou odiar! Ser tido como pessoa idosa e sentir nas juntas o peso do tempo, mesmo tendo diminuído o peso do corpo, é algo doloroso, que não é compensado nem com o fato de agora em diante pagar meia entrada…

O ano de 2020 será o primeiro que viverei com o privilégio etário de poder ser rabugento, de reclamar de tudo e de todos, mesmo que não seja muito do meu feitio reclamar, assim, pura e simplesmente. Meu hábito de reclamar vem de longe, mas sempre envolto no que chamo de “observações e análises”, já que a palavra crítica ganhou um significado pejorativo, quase nunca sendo usada ou entendida como simplesmente a capacidade ou a habilidade de julgar, de estabelecer um juízo avaliativo, ou por extensão, a atividade de examinar e discorrer, minuciosamente, sobre o objeto enfocado, seja uma produção artística ou científica, bem como costumes e comportamentos, além de cenários e ações políticas.

Ao me tornar um sexagenário, passei a ter o privilégio do tempo, da experiência adquirida pela antiguidade, isso quando o sujeito não a tiver conquistado pela dedicação, estudo e mérito, o que espero seja o meu caso.

Em 2020, espero não reclamar tanto dos governantes, nos três níveis do Poder Executivo, nos três níveis do Legislativo e em todos os quatro ou cinco, ou seja lá quantos forem os níveis que tenha o nosso Judiciário.

Uma coisa que eu gostaria muito que acontecesse em 2020, era que Chico, Gil e Caetano, produzissem músicas que nós, pessoas de bom gosto, pudéssemos apreciar e nos deliciar. Elas podem ser músicas engajadas, politizadas, mas precisam ser de boa qualidade, como as que eles produziam quando no Brasil havia um regime de exceção, uma tal dita dura!… Quero poder analisar essa seca pela qual passam tão grandes vultos de nossa música.

Logo no comecinho do ano vou tentar analisar a mais rasa, vérmina, ignóbil e torpe manifestação da cultura cinematográfica humorística nacional. A engembrada e mal enjorcada produção levada a cabo, sem nenhuma tenência, pelos talentosos, mas não inocentes membros do Porta dos Fundos, sobre a vida de Jesus. Uns espertalhões bobões que se travestem de corretos para encherem os bolsos de grana.

Certamente analisarei os fatos que vão culminar com as eleições municipais de outubro, que se não forem definitivas, serão certamente indicativas do resultado das eleições estaduais de 2022, com fortes reflexos também na eleição de presidente.

No ano que vem vou ter que decidir definitivamente se continuo levando adiante a bandeira da preservação de nossa memória através de suportes audiovisuais, trabalho hercúleo que insisto em desenvolver mesmo só contando com o apoio de voluntários que se dispõem em emprestar seu tempo no afã de ver um filme de 50 anos, ou uma fotografia de 100, restaurada, digitalizada, publicada e disponibilizada, para que todos possam conhecer a nossa história, como aconteceu no belo filme de Arturo Saboia, sobre a Associação Comercial do Maranhão.

2020 será um ano de grandes realização para nós da Guarnicê Produções, do Polo de Cinema do Maranhão e do MAVAM.

Lançaremos três séries para TV: “A Pedra e a Palavra”, sobre a vida e a obra do padre Antonio Vieira; “Manufatura Fashion”, sobre moda alternativa; “Raja na Rota das Emoções”, uma aventura da Banda de Reggae, Raja, entre Santo Amaro e Jericoacoara.

Teremos também os esperados lançamentos de quatro coproduções de longas-metragens: “O pai da Rita”, “As Órbitas da Água”, “Currupira, o demônio da floresta” e “Chorando se Foi”. Além das produções da série “As Mina Pira”, que será roteirizado e dirigido por Mavi Simão, e a coprodução internacional do longa metragem “Trópico”, dirigido por Giada Colagrande, estrelado por Willem Dafoe e grande elenco.

O ano de 2020 promete. Esperemos que ele se cumpra.

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