Amarra-se o dono no rabo do burro
Recentemente tive alguns problemas com queridos amigos meus. Uns postados à minha esquerda e outros à minha direita, já que busco sempre estar em uma posição bem equidistante dos extremos.
O fato é que costumo defender minhas ideias sejam elas concordantes ou discordantes, de quem quer que seja, mas não gosto é de discutir com pessoas que defendem suas posições passionalmente. A paixão não é boa conselheira.
Acredito que a defesa respeitosa das ideias, é um dos pressupostos necessários para o aprendizado dialético e pragmático, para o satisfatório funcionamento do sistema republicano e democrático, bem como para uma salutar convivência social.
Tenho dito que votei em Bolsonaro e não me arrependo. Da mesma forma, que não me arrependo do voto que dei a Lula em 2002. Os dois eram os candidatos menos piores naquelas respectivas eleições!
Concordei com quase tudo que Lula disse e fez nos dois primeiros anos de seu primeiro mandato. Discordei de muitas coisas que ele passou a fazer de 2005 para frente, quando cedeu às tentações e escolheu ser simplesmente o presidente do PT, representante mor das esquerdas e não o líder que o povo brasileiro tanto desejava e precisava ter.
Antes de decidir votar em Bolsonaro em 2018, fiz uma conta simples. Tinha sérias dúvidas sobre ele. Já sobre seus adversários eu tinha certezas. Certeza de que iriam continuar destruindo nosso país, através do aparelhamento do estado e das instituições, da corrupção sistêmica e epidêmica, através de ações gramshistas de hegemonia social e cultural com as quais fragilizaram, e de morte a família, a escola e a igreja.
Concordei com Bolsonaro na escolha de seus ministros. Achei interessante ele ter dito que por não entender de economia, esse setor ficaria ao cargo de quem entendesse. Pensei que essa lógica seria usada para tudo em seu governo.
Discordo da forma de Bolsonaro se portar e de se comunicar. Discordo de sua forma de pensar e agir politicamente. Discordo de seu desprezo pelo decoro e pela liturgia do cargo para o qual o povo brasileiro o elegeu.
Alguns amigos meus odeiam Bolsonaro e outros o idolatram. Eles estão errados por nutrirem por ele esses sentimentos.
Ocorre que em uma coisa essas pessoas que o amam e o odeiam, concordam. Elas acreditam que Bolsonaro faz o que faz de forma premeditada, buscando uma finalidade definida e certa.
Uns acreditam fervorosamente que ele busca uma saída satisfatória para toda essa crise, enquanto outros acreditam piamente que ele deseja gerar um caos tão grande, que o leve a quebrar o estado de direito e a normalidade democrática, se tornando um ditador. Ambos os grupos estão redondamente enganados.
Bolsonaro não tem a menor ideia das consequências de suas atitudes. Penso que ele jamais tenha jogado uma partida de xadrez, onde a cada movimento o jogador se obriga a prever dez ou vinte possíveis movimentos adiante.
A maior parte da culpa pelos erros de qualquer governo, uns 75% dela, por mais oposição nociva e predatória que sofra por parte de políticos e da imprensa, recai sempre sobre aqueles que estão em seu comando.
Bolsonaro tem pouco discernimento. Talvez nunca tenha ouvido nenhuma daquelas frases, bem pertinentes para uma ocasião como essa, proferidas pelo velho e sábio Aristóteles: “A virtude consiste em saber achar o meio termo entre dois extremos” e “A perfeição é o meio termo entre dois vícios: um por excesso e o outro por falta”.
Os que amam e os que odeiam Bolsonaro travam uma guerra renhida e o que sobra com toda essa radicalização tola são apenas disputas idiotas de egos. Uma guerra insana entre pessoas que defendem coisas que não podem ser real e claramente estabelecidas, como o bem e o mal, o certo e o errado.
Em momentos como este, lembro de duas frases que meu pai gostava de dizer: “Poder não é pra quem o tem, mas pra quem o sabe” e “Quem não sabe é como quem não vê”. Mas havia uma outra frase que ele falava propositalmente de forma inversa: “Amarra-se o dono no rabo do burro”.