Um rápido balanço
Acredito ser importante que se faça um rápido balanço sobre essa eleição que dividiu nosso país, divisão essa que irá perdurar ainda por um longo tempo.
Em minha modesta opinião o verdadeiro derrotado é Bolsonaro. Para mim está e sempre esteve claro que ele perderia para si mesmo. Disse isso várias vezes.
Vou tentar mostrar alguns pontos em que acredito ele tenha errado profundamente. É claro que não irei poder aqui aprofundar demais essa análise, mas citarei fatos que penso terem sido cruciais para definir o resultado da eleição.
Os equívocos de Bolsonaro começaram desde sua candidatura em 2018. O candidato escolhido para ser seu vice foi uma pessoa que não agregou nenhum voto. Numa disputa para cargos do executivo, os candidatos a vice servem para trazer mais força eleitoral, fortalecendo a chapa na disputa. O erro cometido em 2018 foi repetido em 2022, quando mais uma vez colocou como seu vice, uma pessoa sem nenhuma expressão política, que não agregou à sua campanha nenhum voto. Um verdadeiro absurdo do ponto de vista estratégico. Já seu adversário foi buscar para ser seu companheiro de chapa um tradicional opositor, alguém que nunca escondeu as restrições que fazia a ele, mas que agregaria votos.
Ter convidado Sergio Moro para ser seu ministro da justiça, foi outro grave erro! Ele tinha obrigação de saber que Moro acalentava a ambição de ser presidente da república e na primeira oportunidade iria desembarcar de sua caravana, muito provavelmente atirando. Foi o que aconteceu. E o que é pior, a ida de Moro para o ministério, consolidou o fim da Lava-Jato, símbolo da guerra contra a corrupção em nosso país.
Outro erro crucial cometido pelo ainda presidente foi não ter contido seus filhos, impedindo que eles falassem e fizessem sandices. Qualquer um, com o mínimo de bom senso e visão, saberia que sua família seria extremamente visada, que qualquer coisa que eles fizessem, mesmo que fosse algo correto, iria ser desvirtuado por seus adversários, principalmente os da imprensa.
A guerra que ele declarou contra os jornalistas e a imprensa foi outro erro absurdo, cometido por alguém que não estava preparado para o poder.
Será que Bolsonaro imaginava que poderia vencer uma briga aberta e declarada contra os maiores veículos de comunicação do Brasil? Nenhum político vence uma disputa contra a imprensa, ainda mais uma imprensa como aquela que se colocou contra ele.
A forma desastrosa dele se comunicar com as pessoas, com os políticos e principalmente com a imprensa lhe rendeu grande antipatia.
No tocante a imprensa essa antipatia era de se esperar pelo fato de Bolsonaro ter fechado as torneiras do dinheiro público que nos tempos do PT, irrigou mais as empresas de jornalismo e comunicação que o seco sertão nordestino.
Sua maneira absurda de se comunicar, além da forma completamente equivocada de agir no caso da pandemia de Covid-19, rendeu a ele o maior de todos os prejuízos à sua imagem e popularidade. Só alguém muito obtuso para não entender como funciona esse tipo de coisa.
O presidente desconheceu a força e a importância do chamado Centrão. No início de seu governo deixou claro que não faria concessões a esse grupo de parlamentares fortemente estabelecido no Congresso Nacional. Ele foi deputado, deveria ter a obrigação de saber que é impossível governar um país como o nosso sem um consistente apoio parlamentar. Foi subjugado pela realidade, teve que ceder espaço para o Centrão, e o que é pior, de forma desvantajosa.
Como se não bastasse optar pelo caminho errado no trato com o legislativo, Bolsonaro resolveu bater de frente com o judiciário sem nenhuma possibilidade de se sair minimamente bem dessa peleja.
Não discuto o mérito dessa questão, pois penso que o Judiciário tem realmente exorbitado em suas funções. Discordo é da forma sempre atabalhoada e inconsequente, características indissociáveis do ainda presidente.
Dentre seus equívocos mais gritantes, está a absurda contestação do sistema eleitoral de votação, coisa que até uma criança saberia que não daria em nada, que de nada adiantaria fustigar o TSE com alegações, que mesmo não sendo totalmente absurdas, eram completamente inexequíveis naquele momento. Bolsonaro e seus asseclas mais uma vez empregaram energia e tempo preciosos em uma ação completamente irrelevante e inócua. Mais um erro que o levou à derrota.
Logo que assumiu o governo ele extinguiu o ministério da cultura, o que não seria necessário fazer para acabar com o aparelhamento do setor artístico e cultural brasileiro, implantado nos quatro mandatos presidenciais do PT. A extinção do MinC e os ataques à cultura e aos artistas, foi um dos trunfos usados por seus adversários como munição contra ele, petardos que não o matou, mas o fragilizou na opinião pública. Mais uma vez Bolsonaro tentou ir contra a força da história, neste caso a política de pão e circo, que existe no mundo desde antes do tempo do império romano. Se lascou!…
Desconhecer ou não levar em consideração os ensinamentos da história é uma das faltas graves cometidas por pessoas como ele.
Em meio a isso tudo, identifico um fato que deve ser ressaltado. Bolsonaro é rude, grosseiro e obtuso, e isso faz com que ele não consiga ser hipócrita. Não quer dizer que ele não minta, que seja um santo, isso jamais. Ele simplesmente não é páreo para seu adversário no quesito hipocrisia e desfaçatez, mas é por total falta de talento para isso.
Ele não cometeu apenas erros, mesmo que esses tenham sido mais abundantes e frequentes. Entre os acertos dele está a indicação de alguns excelentes auxiliares como Marcos Pontes, Rogério Marinho, Tereza Cristina, Tarcísio Freitas e principalmente Paulo Guedes. No entanto a coisa mais acertada que ele fez durante seu mandato foi reconhecer que nada entende de economia, e por isso mesmo não interferiu, muito, na gestão de Guedes no comando deste setor em nosso país.
Em minha opinião, da mesma forma que não foi Bolsonaro que venceu a eleição em 2018, foi Hadadd quem a perdeu. Em 2022 não foi Lula quem venceu, foi Bolsonaro quem se derrotou.
Bolsonaro destruiu a si mesmo. Mais que isso, destruiu o sonho de haver no Brasil uma política responsável, democrática e liberal, que desbancasse a esquerda em nosso país. Esse é o seu legado: Nos levar novamente a sermos comandados pela esquerda.