Sobre Processos Criativos

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Fui convidado por meu amigo Miguel Abdala para dar uma palestra sobre processos criativos para uma turma de alunos de Propaganda e Marketing do CEUMA. Não foi exatamente uma palestra, foi um bate papo sobre quais e como são meus processos cognitivos e criativos.

Comentei que quando eu era criança, preferia assistir aulas que estudar em casa. Em mim, o lúdico sempre se sobressaiu mais que qualquer outra coisa, e eu sempre achei que as aulas eram lúdicas, pois via os professores como contadores de histórias, sendo que os professores das matérias exatas contavam histórias de terror, gênero do qual jamais gostei.

Falei a eles sobre minha professora particular, Dona Terezinha, que notou que quando ela lia os textos para mim, meu aprendizado era muito melhor. Casualmente ela descobriu que eu era dislexo, síndrome muito pouco conhecida naquela época. Com o passar do tempo fui descobrindo como usar minha dislexia em meu benefício, fazendo com que minha audição e minha visão compensassem a minha dificuldade cognitiva de leitura e amenizem bastante meu TDAH, que naquela época era conhecido comumente por “menino danado, com falta de atenção”.

Os livros ilustrados tinham minha preferência. As revistas em quadrinhos eram meu mundo, mas havia também as enciclopédias ilustradas e os fascículos, e eu os consumia avidamente.

Foi nessa época que passei a amar os meios de comunicação eletrônicos, rádio e televisão. Daí ao cinema foi um pulo.

Falei a eles que toda vez que meu pai ia nos levar para o Colégio Batista, ele ensaiava, em voz alta, os discursos que ele faria naquele dia na Assembleia Legislativa, e ouvi-lo fez com que desde cedo eu aprendesse como fazer aquilo que mais tarde usaria em minha atuação política.

Expliquei que antes de tudo eu sou um contador de causos, como “Seu” Sergio, o caseiro do sítio que tínhamos no Ingaúra, que se sentava toda noite na porta da casa do sítio e contava suas histórias para uma plateia curiosa e atenta.

O fato de gostar de ouvir histórias me fez aprender a contá-las, me fez descobrir a morfologia dos personagens e identificar seus arquétipos. Isso me possibilitou aprender a desenhar o esqueleto das histórias e colocar nelas a musculatura necessária para fazer esse esqueleto ficar de pé e andar por onde eu desejasse. Ser escritor, produzir textos ou qualquer coisa relacionada a eles, depende unicamente disso.

Normalmente costumo acordar muito cedo, e assim que levanto começo a escrever. Quando acabo um texto, faço uma primeira leitura e o reviso, e o leio novamente, e torno a revisá-lo. Faço isso umas seis vezes. Em seguida peço que minha esposa, Jacira, o leia para mim. Enquanto escuto a leitura, vou revisando, pois as palavras que ouço precisam se encaixar perfeitamente. Quando elas não se encaixam, doem em meu ouvido.

Uma preposição, um adjetivo, ou um substantivo mal colocado, doem como se fosse um beliscão.

Feito isso deixo o texto descansar por uns dias. Na verdade, me distancio dele, para que quando volte a lê-lo ou a ouvi-lo, três dias depois, possa ter um melhor senso crítico sobre ele, e então o reviso por uma última vez, ou até que ele se torne uma verdadeira Skol, e desça redondo.

Normalmente uso Três métodos de processos criativos.

Inspiração, que também chamo de psicografia mediúnica ou “sopro no ouvido”, que é quando do nada aparece em minha mente a ideia de um texto, que as vezes vem prontinho, quase como se alguém o soprasse em meu ouvido.

Suspiração, que chamo de trabalho de pesquisa ou modelagem ou esculturação, que é quando para realizar um trabalho, é necessário que se pesquise sobre o assunto a ser desenvolvido, que se analise aspectos que precisam ser abordados, que se molde o texto para que ele seja melhor narrado e mais bem recebido pelo leitor.

Observação e Vivênciação, que eu também chamo de “Janela indiscreta” ou “Eu cobaia de mim”, que é quando ao observar ou vivenciar alguma coisa, eu escrevo um texto ou crio um enredo baseado no que vi ou fiz.

Contei aos alunos que Lavoisier dizia que “na natureza nada se perde, nada se cria e tudo se transforma”, e que um marqueteiro safo parodiando o químico francês disse que no mundo de hoje, “nada se cria, tudo se copia”, mas argumentei que para que não se seja um mero plagiador, precisamos saber como fazer essas releituras para se possa reaproveitar tais ideias de maneira original.

Foram quase três horas de uma agradável conversa. No final pude ler para eles alguns textos, mostrando cada processo criativo utilizado em suas produções e exibi os filmes “Pelo ouvido” e “Lockdown, como não fazer um filme”, mostrando a eles os textos dos quais se originaram.

Acredito que os alunos tenham gostado de nosso bate papo. Eu adorei.

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As efemérides de 2023

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O ano de 2023 está repleto de efemérides.

Essa palavra grega designava a tabela astronômica onde, em intervalos de tempo regulares, registrava-se a relativa posição de um corpo celeste, com os quais astrônomos, astrólogos, magos e navegadores se orientavam no exercício de cada uma de suas diversas atividades.

Quando essa palavra foi absorvida pelo idioma e pela cultura romana ela passou a designar aquilo que se convencionou chamar de memorial ou diário, onde se anotava os acontecimentos de cada dia.

Nos dias atuais o termo efemérides se relaciona com a lista de fatos marcantes que aconteceram em determinados dias e anos. Datas que se tornaram relevantes por marcarem, de alguma forma, a história das pessoas e da sociedade.

Particularmente para mim 2023 é um ano de muitas e importantes efemérides.

Neste ano meu pai fará 30 anos de falecido. Se vivo fosse, completaria 90 anos de idade. Para marcar esta data, a Fundação Nagib Haickel resolveu doar à Assembleia Legislativa do Maranhão, onde ele exerceu diversos mandatos e chegou a ser presidente, um busto para ser colocado na entrada do plenário que leva o seu nome.

Um outro busto será colocado no Prédio Nagib Haickel, no Complexo Administrativo do Estado, no Calhau, e uma estátua, em tamanho natural, será erguida na praça que leva seu nome, em sua cidade natal, Pindaré Mirim.

2023 marca o quadragésimo aniversário de posse de meu primeiro mandato eletivo, legislatura em que fui o mais jovem parlamentar do Brasil. Em comemoração, no mês de setembro, receberei na Assembleia Legislativa, as Medalhas de Mérito, João do Vale e Canhoteiro, que me foram outorgadas em 2021 pelos relevantes serviços prestados ao nosso Estado, ao criar as leis de incentivo à cultura e ao esporte do Maranhão.

Também neste ano comemorarei, junto com meus queridos amigos Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho, Érico Junqueira Aires, Dulce Brito, Cordeiro Filho e Ronaldo Braga, dentre muitos outros, os 40 anos da Revista Guarnicê, que deu origem a um dos mais importantes movimentos artísticos e culturais de nossa terra, e que lançou muitos nomes de nossa literatura.

Para marcar essa data, lançaremos a minissérie “Guarnicê – uma história pra contar”, que narra a trajetória daqueles jovens que não sabendo que era impossível fazer aquilo tudo, foram lá e fizeram.

Entre tantas datas importantes que teremos em 2023, uma se destaca mais que qualquer outra. Trata-se da comemoração do bicentenário de nascimento de nosso maior poeta, Antonio Gonçalves Dias.

Essa efeméride será o centro das atenções da Academia Maranhense de Letras, que em parceria com o Governo do Maranhão, por iniciativa do governador Carlos Brandão, realizará diversos eventos em louvor àquela que é a figura central de nossa cultura.

Entre as diversas atividades e eventos, como palestras, seminários, concursos literários, concessão de medalhas comemorativas, recitais, espetáculos teatrais, haverá também a realização de um filme sobre a vida e a obra do poeta.

Duas outras efemérides marcam esse ano no que diz respeito a minha pessoa. Em 1973, há exatos 50 anos, comecei a escrever textos com intenção de publicá-los, e naquele mesmo ano começaram a ser disputados os JEM’s, Jogos Estudantis Maranhenses, que revelaram alguns de nossos maiores atletas. Inclusive estamos produzindo uma minissérie para registrar a história daquela geração e das que a sucedeu.

2023 promete ser um ano bem movimentado.

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Sobre aquilo que mais precisamos

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A politician at a podium making an announcement

No começo de nossa república, os órgãos governamentais mais cobiçados pelos políticos eram os que envolviam a fazenda pública, a segurança e a instrução, pois neles estavam a fiscalização das empresas, a arrecadação dos impostos e os pagamentos dos fornecedores, o controle das ações civis e penais das pessoas e o acesso ao conhecimento com a respectiva possibilidade de nomeações de professores e seus auxiliares.

A sociedade evoluiu e com ela a máquina administrativa também passou a ser vista e utilizada de outras formas. Os órgãos citados anteriormente continuam sendo de grande importância, mas deixaram de ser os mais cobiçados, com exceção da Educação.

A fazenda pública hoje só arrecada e não mais tem função pagadora. A segurança, pela existência de uma grande quantidade de direitos e regras que devem ser respeitadas e obedecidas, não mais enche os olhos dos políticos. A instrução pública que hoje se chama erradamente de educação, pois educação é algo imensamente maior que a mera transferência de conhecimento, é a única que mantém a sua importância, não mais pela possibilidade de semear pessoas em cargos, pois hoje todos eles são preenchidos por concurso público, mas pela possibilidade de pautar e controlar a sociedade e o povo que dela faz parte, através dos conteúdos e matérias que se estabelece na grade curricular.

Setores como o planejamento que foi desmembrado da fazenda pública, passou a ter bem mais importância, pois em que pese não arrecadar, é o setor que efetivamente planeja os investimentos e os gastos do Estado, prioriza e autoriza os pagamentos. Meio ambiente, que nem existia, passou a ser uma forma de controle dos meios de produção, pois é ele que diz onde pode a sociedade implantar suas casas e seus negócios. Organismos ligados às pessoas, que antes nem eram cogitados, passaram a ter grande relevância, pois uma das formas mais modernas e eficientes de politização, são os direitos sociais. O setor de infraestrutura que antes era chamado apenas de obras públicas, ganhou uma importância imensa, uma vez que a melhoria dos ambientes onde vive a população é de suma importância, coisa que antes não era crucial.

Essa mudança de paradigma requer um novo político, que se preocupe com coisas diversas, que tenha um olhar mais abrangente e menos focado, que observe o periférico simultaneamente com o pontual, requer alguém não só mais sensível, mas também mais múltiplo, alguém que possa dosar a importância do meio ambiente, do agronegócio, da indústria e da construção civil, sem que uma atividade interfira negativamente na outra. Este político é o que há de mais importante hoje e o que é mais raro em nossa sociedade.

Acredito que apenas o liberalismo responsável é capaz de produzir um político assim. Alguém que saiba o valor de preservar o meio ambiente, mas que entenda que de nada ele servirá à população se ela não tiver alimentos bons e baratos, que existem certos custos que a indústria deve pagar para que o meio ambiente seja preservado, mas que a produção não deve e não pode ser reprimida.

Responsabilidade social e política não se refere apenas a garantir direitos e igualdades às pessoas, mas garantir a elas uma vida mais produtiva e feliz, e isso não apenas aos menos favorecidos que devem é claro ser priorizados, mas os cuidados com eles não podem desqualificar o respeito aos demais.

A extremada politização das causas que criou o “nós contra eles” em todos os âmbitos do convívio social, é a arma que os incapazes usam ao se recusarem a entender isso que eu hoje comento aqui.

O respeito, o compromisso com o correto e com o justo, a fraternidade, a tolerância e a dedicação à realização de coisas boas para todos de forma racional, mesmo que se saiba o quanto isso é complicado e difícil, é o que define o bom político, hoje e eternamente.

PS: Ofereço esse texto àqueles que considerado os melhores secretários da administração estadual anterior: Felipe Camarão, que foi eleito vice governador; Carlos Lula que agora é deputado estadual; Marcellus Ribeiro Alves, que para o bem de nosso Estado continua na Secretaria da Fazenda; e Ted Lago que fez um primoroso trabalho frente a EMAP.

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Uma explicação irretocável

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Um renomado professor entrou na sala de aula de uma importante universidade inglesa, com uma galinha debaixo de um braço, um saco de milho na mão, e disse para seus alunos, do primeiro ano do curso de ciências políticas, que ele iria explicar de maneira cabal e definitiva o que é o comunismo, e que, ainda por cima, eles iriam presenciar um extraordinário experimento antropológico, pois nele seria usado uma ave e não um ser humano. Todos ficaram curiosos.

O professor colocou o saco de milho sobre a mesa e em seguida começou a arrancar as penas da coitada da galinha. A ave debatia-se e cacarejava de aflição e dor. O professor continuou depenando o galináceo, mesmo contra os protestos de alunos “politicamente corretos” e de algumas alunas mais sensíveis.

O professor parou por um instante, e perguntou a um dos alunos mais “afetados”. – “Você é vegano?” – O aluno respondeu que não, e o professor continuou. – “Então você é só hipócrita mesmo, né?… Pois para comer o Sunday Roast que sua mãe deve preparar para família, e com a qual você deve se refastelar, os pobrezinhos do porco, do boi e do peru, precisam ser sacrificados, não é garoto!…” E continuou arrancando as penas da galinha.

Ao fim daquela horrível cena de tortura, a turma estava atônita com tamanha barbaridade.

A galinha continuava se debatendo e cacarejando de dor. O professor então foi até a mesa onde havia colocado o saco de milho, e encheu a mão em concha com os grãos dourados e levou para perto do bico da ave extenuada. Por um momento ela parou de se debater e cacarejar, mas em seguida começou a comer o milho, dado pelo professor.

A galinha continuava inquieta, pois estava muito dolorida. O professor colocou-a suavemente no chão e continuou a alimentá-la. Em seguida o professor parou um pouco de fornecer milho à galinha. Instantes depois ele começou a andar pela sala de aula, deixando cair atrás de si alguns poucos grãos de milho. A galinha então começou a seguir os passos do professor, para comer o milho. Ele parava e ela parava. Ele andava e ela o seguia.

Os alunos mais espertos logo intuíram do que se tratava o tal experimento, porém, os mais “politicamente corretos” faziam cara de espantosa incompreensão.

O professor então disse: “Vocês acabam de presenciar e constatar como funciona o comunismo. Não interessa o nível de privação de liberdade, o nível de sofrimento, as dores que o comunismo imponha ao povo, pois se o sistema conseguir fazer com que ele, o povo, se torne completamente dependente de ajuda de um estado totalitário, ele, o povo, assim como essa galinha, sempre irá continuar seguindo a quem lhe dá um pouco de milho, mas ele, o povo, jamais será livre, será sempre dependente e estará sempre à mercê de quem lhe fornece o milho deles, de cada dia.

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Melhor que dinheiro

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Comecei minha jornada na política em 1978, como assessor parlamentar. De lá para cá fui deputado estadual, deputado federal constituinte e secretário de Estado, voltando depois a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Maranhão, mas desde janeiro de 2011, não sou mais político, pelo menos desses com mandato eletivo. Depois dali ainda exerci funções como secretário de esportes do Estado e de comunicação do Município de São Luís.

Ao todo foram 40 anos de vida pública, cujo saldo, em meu ponto de vista, acredito tenha sido bastante positivo.

Nunca perdi uma eleição; não trago nenhuma mácula moral ou ética no meu currículo; não cultivei inimigos e fiz nesse trajeto uma infinidade de bons companheiros e amigos, e até mesmo os poucos adversários que tive, sempre me trataram de forma respeitosa.

Estou comentando isso aqui hoje, pelo fato de mesmo sem manter nenhum cargo ou laço formal com os poderes constituídos, ainda sou procurado por pessoas, no sentido de ajudá-las a resolver algum assunto de seu interesse. Isso acontece não apenas comigo, mas com qualquer pessoa que tenha sido político, ou que mantenha algum nível de poder, mesmo que só informal ou aparente, como é o meu caso.

Mas a razão pontual e específica de abordar esse assunto, se deve ao fato de eu ter sido procurado por um amigo, no sentido de ajudar uma pessoa que precisava tratamento médico de urgência, pois corria risco de perder a vida se não fosse atendido imediatamente.

Não me lembro da última vez que eu tenha ficado atônito com um caso assim. O fato de não conhecer o secretário de saúde do Estado me deu certa sensação de obsolescência, e essa é uma sensação horrível, posso garantir a vocês.

Imediatamente, meu temperamento irreverente e brincalhão fez troça de mim mesmo e me fez pensar que se não conheço o secretário de saúde, conheço o chefe dele, que foi meu contemporâneo no Colégio Batista, e é um dileto amigo meu, mas resolvi não recorrer a COBF e pedi ajuda à um outro querido amigo, que ainda está na política e tem o instrumento necessário para ajudar as pessoas. Poder.

O senhor que precisava de tratamento urgente foi atendido e passa bem, graças à ajuda daquele meu bom amigo e das pessoas a quem ele deve ter acionado para resolver tal questão.

Quando soube do desfecho satisfatório do caso, vi que a sensação de estar ficando obsoleto é inversamente proporcional a de conseguir ajudar alguém, de fazer o bem para uma pessoa. Essa em minha opinião é a função principal do poder.

Esse acontecimento serviu para reafirmar uma das primeiras lições que aprendi na minha vida, e que já foi até tema de propaganda de um banco, no tempo em que eu ainda era criança. “Melhor um amigo na praça do que muito dinheiro no caixa”.

Muito obrigado, meu amigo ABF!…

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“I have a dream!…”

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Eu sempre acalentei um sonho. Na verdade, não é um sonho comum, desses que se tem quando está dormindo. Sonho aqui é figura de linguagem, metáfora para exemplificar uma ideia, algo que gostaria que fosse realidade. Meu sonho é viver em uma sociedade minimamente justa, onde o bom senso e a coerência prevaleçam.

Thomas Morus chamava isso de Utopia, eu chamo de Estado Democrático de Direito, onde todos estão sujeitos às mesmas regras, têm os mesmos direitos e os mesmos deveres, onde as regras não podem ser desrespeitadas e onde ninguém pode transgredir quanto a elas.

Eu sempre quis viver num lugar onde as pessoas pudessem valer pelo que elas são, e que aquilo que elas tivessem fossem apenas recursos extras que elas pudessem usar para viver melhor. Eu sempre acreditei que vive melhor quem vive cercado de pessoas que também possam viver bem, não necessariamente de maneira igual, mas minimamente bem.

Durante quase toda a minha vida, acreditei erradamente que meu posicionamento político e ideológico era de centro esquerda, mas já az mais de vinte anos que descobri que na verdade eu e minhas ideias estamos de maneira mais coerente e realista no escaninho exatamente oposto àquele em que eu me via. Sou realmente de centro direita.

Ter consciência de sua real e verdadeira posição no espectro político, é muito importante, principalmente para aqueles que militam na política.

É muito fácil e bonito ser de esquerda, pois quem está nessa posição não tem que fazer muito esforço, uma vez que o ser humano está naturalmente nesta latitude. Os humanos têm suas características mais marcantes, no que diz respeito a antropologia, psicologia, sociologia e filosofia, vinculadas aos pensamentos comuns ao quinhão à esquerda do centro do espectro político e ideológico.

Nosso subconsciente, nossa memória ancestral, nos remete aos tempos primitivos, em que vivíamos em bandos no início das civilizações, e desde lá nós nos acostumamos a gostar dos amparos, dos apoios e dos benefícios que possam nos ser proporcionados. O nosso humanismo inato, por si só é uma ideia e um sentimento poderoso, e tudo isso se enquadra muito mais nas ideias da esquerda, mas este não é o caso da esquerda estremada.

Essas mesmas sensações e sentimentos são comuns àqueles que se posicionam à direita do centro, mesmo que algumas de suas teses políticas e econômicas, deem motivos para que as pessoas possam simpatizar menos com os pensamentos destes.

Os moderados de direita não são completamente contra os amparos, os apoios e os benefícios aos cidadãos, eles apenas estabelecem critérios restritivos e rígidos para esses privilégios. Os de Direita não acreditam na mera doação, eles querem que ela seja proveniente de algo mais, uma troca positiva e honesta entre o indivíduo e a sociedade.

As diferenças fundamentais entre os antagonistas que estão no meio do espectro político, dos de centro esquerda com os de centro direita, são meramente questões semânticas e diplomáticas, coisas que se resolve com um pouco de conversa, bom senso e boa vontade.

Já no que diz respeito aos que estão nesta posição intermediária, de direita e de esquerda, além de muito mais diplomacia, há uma necessidade bem maior de entendimento semântico e de concessões estratégicas de lado a lado.

Entre estes grupos de direita e esquerda há um outro diferencial. Os de direita privilegiam os deveres do cidadão e os de esquerda, dão mais ênfase aos seus direitos. No caso dos dois grupos antagônicos mais próximos do centro, o equilíbrio entre deveres e direitos está mais presente.

No tocante àqueles que estão nos polos extremos do espectro político, suas diferenças são praticamente irreconciliáveis, pois essas pessoas são irracionais e irascíveis. Eles acreditam tão piamente em suas teses, que muitas vezes elas se transformam em verdadeiras religiões. Eles chegam a eleger verdadeiros profetas, messias salvadores, a quem seguem cegamente, o que normalmente causa grandes problemas, por um lado e pelo outro.

Lembro que quando estava pesquisando para fazer as leis de incentivo à cultura e ao esporte do Maranhão, o que eu tinha em mente era a reclamação daqueles que diziam que o governo de então ajudava muito mais a um determinado grupo de artistas e esportistas, que aos outros.

Fiz essas leis para proporcionar a igualdade e a equidade entre quem desenvolvesse trabalhos naqueles setores. O governo, qualquer que fosse ele, apenas autorizaria que o empresariado escolhesse quais projetos mais se encaixavam no seu perfil. Aquelas leis foram concebidas e criadas para serem ferramentas de política de Estado, uma política equânime e igualitária.

Meu pai gostava de repetir ditados populares. Ele dizia que não se importava em dar peixe àqueles que precisavam comer, mas que mais importante que dar o peixe era ensinar as pessoas a pescar e dar a elas condições para isso.

As Leis de Incentivo à cultura e ao esporte do Maranhão são leis que apoiam, amparam e beneficiam as pessoas dos respectivos setores. Elas não são de esquerda, nem de direita. Elas são Leis. Lei não tem lado.

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Quem tem medo de Virgínia Woolf!?…

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Explicação necessária 1: Desde logo adianto ao caro leitor que o texto não é curto, ele tem três laudas, mas garanto que não será uma leitura tediosa e acredito que ela seja necessária para quem deseja analisar alguns importantes acontecimentos da política brasileira.

As pessoas que acompanham as minhas publicações, conhecem a minha opinião e os meus posicionamentos em relação aos atos e atitudes do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Para aqueles que não acompanharam os textos que escrevi e publiquei em minhas redes sociais, nos últimos quatro anos, farei nos próximos parágrafos um rápido resumo sobre o que disse e o que eu penso sobre ele.

Disse e acredito piamente que Bolsonaro seja um homem deselegante, tosco, mal educado, grosseiro, sem a devida polidez, não talhado para um convívio social. Um verdadeiro boçal. Mas não o incluo na lista dos criminosos, golpistas, antidemocráticos e terroristas, como fazem aqueles que, mais que seus adversários, são inimigos dele e de certa forma, são os verdadeiros golpistas dessa história.

Bolsonaro é despreparado para o exercício do poder, uma vez que não consegue entender nem aceitar o funcionamento dos mecanismos que regem a política. Ele desconhece a lógica do debate, da boa e sadia controvérsia. Ele não consegue entender e se posicionar quanto as ações corrosivas da imprensa canalha, como ela se posiciona e como ela define as “verdades” que ela impõe a sociedade. Ele não sabe como neutralizar ou minorar esses efeitos.

Ninguém acredita que Bolsonaro seja ingênuo ou mesmo burro. Quando se aventa essas possibilidades, as pessoas que o defendem, argumentam que ele, durante 34 anos exerceu mandatos parlamentares e se elegeu presidente da república, logo, alguém que tem esse currículo não pode ser nem ingênuo, nem burro. Eu discordo peremptoriamente disso. Eu o acho ingênuo e burro!

Nos primeiros meses de mandato de Bolsonaro, eu fiquei aguardando algum indício que indicasse o bom rumo que ele pudesse dar para o Brasil. Aguardei ações concretas que ele viesse a realizar no sentido de estabelecer um governo profícuo e saudável, que resultasse no fortalecimento dos princípios conservadores e das posições liberais, que ele defendia e que nós precisávamos que ocorressem, ações que colocassem definitivamente partidos e políticos de esquerda em total descrédito ou em pelo menos duradoura inutilidade, em nosso país.

Passados seis meses, e não vendo nada de concreto, nem mesmo indícios de um bom caminho para a política brasileira, eu entendi que ele não seria capaz de realmente liderar o nosso país nessa jornada, nas ações que pudesse nos garantir o não retorno da esquerda ao poder no Brasil.

Durante o tempo de governo de Bolsonaro, o Brasil  obteve vitórias expressivas e importantes no que diz respeito especificamente ao agronegócio, e de modo mais geral e amplo, no que diz respeito a economia, além de ter conseguido realizar algumas pequenas reformas. Nestes casos o mérito de Bolsonaro foi tão somente o de não se meter nas ações desenvolvidas pelo ministro Paulo Guedes e seu grupo.

Um dos maiores erros ou pecados de Bolsonaro foi ter se deixado envolver em narrativas negativas em relação a suas ações pessoais, as quais quase sempre ele tinha culpa, no que dissesse respeito a pandemia de Covid-19, a comportamentos inconvenientes e deselegantes, como acusações de preconceito de diversas formas e tipos, além de sua total incapacidade de se relacionar habilmente com a imprensa.

Bolsonaro foi envolvido num turbilhão de narrativas jornalísticas, capazes de desestabilizar qualquer um, por mais experiente e competente que ele fosse. Mas sendo ele um teimoso irascível e um idiota previsível, que se deixa envolver por familiares e pessoas próximas, de maneiras completamente absurdas e inaceitáveis, alguém que tem tanto poder e que visivelmente não tem capacidade de discernimento, foi fácil que fosse envolvido negativamente pela máquina midiática.

Seus adversários na imprensa e na política sabiam onde apertar para que ele reagisse como eles esperavam que ele fizesse, para em seguida darem outra cutucada nele para que reagisse mais uma vez de maneira absurdamente previsível, para que mais uma vez fizessem algo que o fizesse reagir de modo ainda mais atabalhoado, causando cada vez mais estragos a si e àquilo que ele pretendia realizar.

Algumas vezes pensei em Bolsonaro como uma Penélope sonâmbula e inconsequente. Alguém que tece um manto de dia e pela noite o desfia, fazendo com que todo o trabalho que fizera a luz do sol fosse desperdiçado à luz da lua. A diferença, é que Penélope fazia isso com essa intenção, mas Bolsonaro não tinha noção do que fazia.

Em vários de meus textos comentei que “amigos” meus de direita me acusaram de ser esquerdista e meus “amigos” de esquerda diziam que mais que um liberal de direita, eu era bolsonarista. Uns escrotos.

Uns não aceitavam que as ações e atitudes do tal mito eram completamente desastrosas e os outros não desejavam que eu alertasse seus opositores para o desastre ao qual estavam sendo arrastados.

Eu sempre soube e sempre disse que a eleição teria um resultado contrário a direita, não a Bolsonaro, pois ele nunca foi uma opção real. Ele era apenas a opção possível, que na verdade era impossível.

Não discuto se houve ou não fraude eleitoral, pois não posso, e ninguém pode provar isso sem ter acesso aos documentos necessários para esse fim, mas posso garantir, com base no que vimos acontecer, que houve o uso descarado e criminoso da justiça eleitoral no sentido de beneficiar um candidato em detrimento do outro.

É importante que se ressalte que não interessa se um candidato era um ex-presidiário, descondenado apenas para concorrer nas eleições e o outro era o protótipo de um ditador, esperando a oportunidade para dar um golpe, como dizem os adversários de cada um deles. As narrativas construídas sobre os contendores nunca foram aceitas por mim, pois se as aceitasse, eu seria contaminado em minhas conclusões, nas análises dos fatos.

O resultado eleitoral, para mim pouco importa, até mesmo porque a diferença de dois milhões de votos me diz que a divisão política e eleitoral de nosso país é incontestável e definitiva. Ela não vai mudar.

O problema do Brasil não é quem ganhou a eleição, nem mesmo, por pior que possa parecer, o que vai fazer com o nosso país quem a ganhou, mas sim a insegurança jurídica na qual vivemos, a ditadura judicial na qual nossas instituições estão submetidas. Isso sim é gravíssimo.

A metade dos brasileiros, como pudemos auferir pelo resultado da eleição presidencial, viveu nos últimos quatro anos a ilusão de que um sujeito tosco poderia levá-los a atravessar um mar e a guiá-los por um deserto até uma terra prometida, onde haveria leite e mel para todos. Eu sempre soube que esse tal Messias não era um Moisés!

O que se viu foi uma legião de pessoas, em uma quantidade maior que a da maioria dos países do mundo, que se depara com a volta ao cativeiro no Egito, onde terão que enfrentar seu Ramsés II, o faraó careca, o Deus vivo na terra e toda sua legião de eunucos.

Explicação necessária 2: Para o título desse texto eu me apropriei do título da peça, “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” que na verdade é um trocadilho com o sobrenome da escritora britânica e a palavra inglesa “wolf”, que significa lobo, e a pergunta que perpassa é, na prática, “quem tem medo do lobo mau?” Cada leitor que escolha onde encaixar melhor a metáfora!…

PS: Este texto foi escrito no dia 31 de dezembro de 2022 e revisado no dia 9 de janeiro de 2023, um dia depois dos deploráveis acontecimentos ocorridos em Brasília no domingo, 8 de janeiro. Atos criminosos de vandalismo e depredação do patrimônio público, devem ser repudiados por todos, e estes selaram o destino das manifestações, até então pacíficas que aconteceram durante 70 dias em frente a quarteis do exército, em diversas cidades. Tais atos eliminaram totalmente a legitimidade de qualquer manifestação que este grupo pudesse realizar.

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DESABAFOS ABAFADOS

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Todo mundo, em algum momento da vida já foi insultado. Comigo não foi diferente. Já me chamaram de gordo, de careca, de feio, de vascaíno, de malufista, de sarneyzista e de direitista, entre outras coisas. Em nenhuma dessas oportunidades eu me ofendi, pois eu era ou fui ou sou tudo isso mesmo. Ninguém pode ou deve se ofender com a verdade.
Hoje um grande amigo meu, só para me provocar, me chamou de bolsonarista e com isso eu fiquei muito zangado, pois isso eu nunca fui, não sou, e de forma alguma jamais serei. Sou muita coisa, mas não sou burro!

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Melhor coisa que poderia acontecer para o Brasil seria a prisão de Bolsonaro.
Caso ele seja preso, duas coisas maravilhosas iriam acontecer: Ele teria a punição que merece, por nos devolver aos braços de Lula e da esquerda e também ficaria claro que hoje nosso país vive em um regime de exceção.

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Para tudo há um preço, e isso é normal e correto. Anormal e incorreto é você fixar um preço baixo demais para a sua coerência e para o seu caráter. Depois você não poderá reclamar de quem resolver pagar por eles.

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A história está cheia de exemplos de erros graves cometidos por pessoas celebres. Quem não os conhece, acaba por repeti-los! Aqueles que primeiro defenderam o uso da guilhotina durante a Revolução Francesa, mais tarde se tornaram vítimas dela, viu meu camarada!…

***

Um amigo meu me mandou uma mensagem fazendo algumas perguntas interessantes.
Por que será que nossas mães, quando tentavam nos orientar em relação a alguma coisa errada que fazíamos, sempre diziam: “Te endireita!…” E não, “Te esquerda!…”
Por que será que o semáforo vermelho obriga o motorista a parar e o verde permite que ele siga?
Por que será que no plano cartesiano, os valores a direita da linha vertical são positivos, e os da esquerda dela, são negativos?
Por que em italiano a palavra esquerda é “sinistra”?

***

A língua nos oferece o privilégio de dar nome as coisas. Um boi é um boi, um lápis é um lápis, um infame é um infame. Quando se chama um manifestante de golpista e um vândalo de terrorista, do que vamos chamar um juiz parcial e um homem bomba?

***

Para investigar, basta que haja dúvida. Para condenar é indispensável que se tenha certeza.

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A falta de legitimidade

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É impossível não comentar os acontecimentos de ontem, em Brasília. 

Sobre eles eu me manifestei nesta madrugada, hora em que pude terminar de me informar sobre tudo que aconteceu com mais detalhes.

Em minha postagem disse que “O Estado Democrático de Direito deve ser defendido. Nada justifica o uso da violência e a depredação do patrimônio público. A liberdade não pode ser usada como escudo para o crime. Atos como os que aconteceram ontem em Brasília devem ser repudiados por todos.”

Os manifestantes que estavam acampados durante os últimos 70 dias na frende das unidades do Exército, em diversas cidades, não haviam até ontem, cometido nenhum crime previsto em nenhuma lei vigente em nosso país, mesmo que as narrativas de muitos meios de comunicação e órgãos governamentais e jurídicos afirmassem o contrário. Ontem, no entanto, eles ultrapassaram a barreira da legalidade, cometendo diversas arbitrariedades e crimes, claramente tipificados em nossos códigos legais.

Não interessa que digam que houve agentes infiltrados nas manifestações que cometeram tais crimes, pois se eles não tivessem feito as tais ações, daquela forma, estes “infiltrados”, não poderiam ter se juntado e se misturado a eles, que segundo dizem, pretendiam fazer manifestações pacíficas.

As perguntas que ficam para essa gente são muito simples e diretas: Vocês são burros, idiotas ou apenas completamente despreparados? Vocês não imaginaram que aquilo que aconteceu iria acabar acontecendo, de uma forma ou de outra? Qual vocês acham que é a diferença do que aconteceu ontem, em Brasília, para aquilo que acontece nas invasões de terras e de propriedades, realizadas pelo MST, que vocês enchem a boca para condenar? Vocês acreditam que algum político vai defender aquilo que aconteceu ontem? Vocês não são capazes de entender que Bolsonaro não é líder de nada e de ninguém? Que merda é que vocês têm na cabeça para jogar fora a bela trajetória de 70 dias de manifestações pacíficas, numa ação criminosa como a de ontem?

Nenhuma das respostas que essas pessoas possam dar será capaz de justificar minimamente o que aconteceu no dia 8 de janeiro de 2023 na capital brasileira.

Outras perguntas precisam ser respondidas pelas autoridades do Distrito e do Governo Federal: Como não prever e se precaver quanto aos eventos ocorridos ontem? Os prédios depredados, não possuem seguranças? Por que tudo aconteceu sem que ninguém fizesse nada? Um roteirista de filmes sobre conspiração diria que parecia que o acontecido era na verdade o desejado pelas autoridades. Que o criminoso é também a vítima.

A luta de quase a totalidade daqueles que estavam nos acampamentos em frente aos quartéis, sempre foi inglória, nunca houve,  e continua não havendo como mudar o resultado da eleição, sem que se comprove que houve fraude, e para isso é necessário ter acesso aos códigos fontes das urnas, coisa que não iria e não vai acontecer.

O que havia de bom naquelas manifestações eram tão somente elas, as pessoas pacificamente demonstrando sua insatisfação. Quando essas manifestações deixaram de ser pacíficas, elas perderam toda e qualquer justificativa defensável.

Ninguém, em sã consciência pode concordar com vandalismo, com a depredação do patrimônio público, com uma série de crimes cometidos neste dia triste e desastroso, de uma história que mesmo não tendo sucesso, não se realizando da maneira que seus agentes esperavam, era a demonstração dos anseios de uma parte significativa da população brasileira.

Vão para casa, vão.

Mas vão para casa, não por causa do “Perdeu Mané”. Esta frase deve ser encarada por vocês como uma espécie de símbolo, como a prova de que sua luta era justa, mas nem sempre o que é justo é viável.

Vão para casa porque aquilo que vocês tinham a favor de vocês, a legitimidade, não existe mais.

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A história de um sonho (agora realizado)

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Depois de passar os últimos cinco dias falando de nossas produções audiovisuais, falarei hoje sobre o embrião de todas essas ações, e para isso peço licença a você que me lê agora, para postar o texto no qual o meu mestre, José Louzeiro, comentou sobre uma conversa que tivemos, ele, eu e Ivan Sarney, há quase 40 anos, a respeito da necessidade de criarmos um polo de produção cinematográfica em São Luís do Maranhão.

“Lá pelos idos de 1985 eu estive nesta nossa cidade, em estreito contato com os amigos Ivan Sarney e Joaquim Haickel. Conversávamos sobre muitas coisas e, em especial, sobre cinema.

Joaquim via todos os filmes e falava com entusiasmo daqueles que mais gostava, citava nomes de diretores, muitos deles que eu nem conhecia. Ivan, por sua vez, tinha feito alguns trabalhos na bitola do Super-8 e pelo que depreendi, só não foi em frente, até alcançar o 35 mm, por falta de estímulo, pois produzir um curta que seja é coisa complicada, envolve muita gente, os custos eram elevados.

Minha conversa com esses amigos tinha um objetivo: criarmos em São Luís, onde já havia o Festival Guarnicê de Cine e Vídeo, um Polo de Cinema. Na época havia festivais em Fortaleza, no Rio de Janeiro, em São Paulo, Curitiba e Gramado, no Rio Grande do Sul. Botar as mãos num “Kikito” (troféu gaúcho) era a glória para muitos realizadores.

O polo cinematográfico funcionaria amparado pelas leis de incentivo e São Luís, já conhecida por aqui como terra de escritores, poetas, pintores e intelectuais, se tornaria ainda mais importante com seus cineastas em atividade.

O tempo passou, os festivais entraram em crise, junto com o cinema nacional, mas Joaquim Haickel seguiu cinéfilo e com muita garra para viabilizar suas invenções e vencer desafios.

Nessa época em que estivemos juntos Haickel marcava-se pela inquietação, extrema curiosidade e a mania de tudo querer renovar, virar pelo avesso, na condição de poeta rebelde e contista insatisfeito. Nunca desejou escrever conforme a cartilha oficial, sempre se inclinou pelas técnicas mais ousadas

No conto “Pelo Ouvido, número 12 da coletânea intitulada “A Ponte” (São Paulo, 1991) ele chega ao atrevimento de brincar com a lógica gramatical, debocha de pensamentos tidos e havidos como normais, aprofunda-se nessa coisa humana, porém misteriosa, que é a sensualidade, o desejo de um corpo.

Os anos se passaram, o polo de cinema não aconteceu, Haickel e Ivan transitaram e transitam pelos caminhos da política, sem deixar o que para eles é básico: o amor pela arte de escrever. Com isso Ivan colhe poesia e Haickel inebria-se com a sensualidade.

Seu conto “Pelo Ouvido”, o mais breve da coletânea, é aquele que nos leva ao universo da felicidade plena, essa coisa tão simples da mulher e do homem que têm afinidade e que se amam.

Em “São Luís – Uma Cidade no Tempo” Ivan compôs, através da junção de crônicas, um poema difícil de algum dia ser igualado. Com “A Ponte, o poeta Joaquim Haickel (O Quinto Cavalheiro”) firma-se na literatura como contista de grandes méritos e, agora, pelo que estou informado, como diretor cinematográfico premiado, inclusive no exterior.

Curiosamente, sua obra no cinema tem o mesmo título do conto número 12. E pelo que consta na sinopse do curta, imagino que foi a partir dessa história (década de 90), que saiu o roteiro para a produção que vem fazendo sucesso e mostrando que Haickel é maranhense de múltiplos talentos!

Se o polo de cinema, sobre o qual tanto conversamos, não aconteceu, é para mim, motivo de alegria saber que Haickel, é hoje, além de poeta e ficcionista, um diretor premiado e tem tudo para ir em frente, pois seu curta-metragem, tema desta nossa crônica, funciona como verdadeiro teste para quem ingressa, com a cara e a coragem, no mundo mágico das imagens”.

Este texto foi originalmente publicado na coluna semanal que Louzeiro mantinha no Jornal O Estado do Maranhão.

JOSÉ LOUZEIRO faleceu em 2017. Ele era jornalista, escritor, roteirista e membro da Academia Maranhense de Letras.

Hoje o Polo de Cinema do Maranhão é uma realidade e São Luís tem uma rica e extensa produção audiovisual, graças a ideia cultivada com a ajuda de José Louzeiro, o patrono do cinema maranhense.

Nosso próximo passo é a criação do SIAMA, Sindicato da Industria do Audiovisual do Maranhão. Louzeiro teria ficado muito feliz com essa notícia.

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