Sobre Processos Criativos
Fui convidado por meu amigo Miguel Abdala para dar uma palestra sobre processos criativos para uma turma de alunos de Propaganda e Marketing do CEUMA. Não foi exatamente uma palestra, foi um bate papo sobre quais e como são meus processos cognitivos e criativos.
Comentei que quando eu era criança, preferia assistir aulas que estudar em casa. Em mim, o lúdico sempre se sobressaiu mais que qualquer outra coisa, e eu sempre achei que as aulas eram lúdicas, pois via os professores como contadores de histórias, sendo que os professores das matérias exatas contavam histórias de terror, gênero do qual jamais gostei.
Falei a eles sobre minha professora particular, Dona Terezinha, que notou que quando ela lia os textos para mim, meu aprendizado era muito melhor. Casualmente ela descobriu que eu era dislexo, síndrome muito pouco conhecida naquela época. Com o passar do tempo fui descobrindo como usar minha dislexia em meu benefício, fazendo com que minha audição e minha visão compensassem a minha dificuldade cognitiva de leitura e amenizem bastante meu TDAH, que naquela época era conhecido comumente por “menino danado, com falta de atenção”.
Os livros ilustrados tinham minha preferência. As revistas em quadrinhos eram meu mundo, mas havia também as enciclopédias ilustradas e os fascículos, e eu os consumia avidamente.
Foi nessa época que passei a amar os meios de comunicação eletrônicos, rádio e televisão. Daí ao cinema foi um pulo.
Falei a eles que toda vez que meu pai ia nos levar para o Colégio Batista, ele ensaiava, em voz alta, os discursos que ele faria naquele dia na Assembleia Legislativa, e ouvi-lo fez com que desde cedo eu aprendesse como fazer aquilo que mais tarde usaria em minha atuação política.
Expliquei que antes de tudo eu sou um contador de causos, como “Seu” Sergio, o caseiro do sítio que tínhamos no Ingaúra, que se sentava toda noite na porta da casa do sítio e contava suas histórias para uma plateia curiosa e atenta.
O fato de gostar de ouvir histórias me fez aprender a contá-las, me fez descobrir a morfologia dos personagens e identificar seus arquétipos. Isso me possibilitou aprender a desenhar o esqueleto das histórias e colocar nelas a musculatura necessária para fazer esse esqueleto ficar de pé e andar por onde eu desejasse. Ser escritor, produzir textos ou qualquer coisa relacionada a eles, depende unicamente disso.
Normalmente costumo acordar muito cedo, e assim que levanto começo a escrever. Quando acabo um texto, faço uma primeira leitura e o reviso, e o leio novamente, e torno a revisá-lo. Faço isso umas seis vezes. Em seguida peço que minha esposa, Jacira, o leia para mim. Enquanto escuto a leitura, vou revisando, pois as palavras que ouço precisam se encaixar perfeitamente. Quando elas não se encaixam, doem em meu ouvido.
Uma preposição, um adjetivo, ou um substantivo mal colocado, doem como se fosse um beliscão.
Feito isso deixo o texto descansar por uns dias. Na verdade, me distancio dele, para que quando volte a lê-lo ou a ouvi-lo, três dias depois, possa ter um melhor senso crítico sobre ele, e então o reviso por uma última vez, ou até que ele se torne uma verdadeira Skol, e desça redondo.
Normalmente uso Três métodos de processos criativos.
Inspiração, que também chamo de psicografia mediúnica ou “sopro no ouvido”, que é quando do nada aparece em minha mente a ideia de um texto, que as vezes vem prontinho, quase como se alguém o soprasse em meu ouvido.
Suspiração, que chamo de trabalho de pesquisa ou modelagem ou esculturação, que é quando para realizar um trabalho, é necessário que se pesquise sobre o assunto a ser desenvolvido, que se analise aspectos que precisam ser abordados, que se molde o texto para que ele seja melhor narrado e mais bem recebido pelo leitor.
Observação e Vivênciação, que eu também chamo de “Janela indiscreta” ou “Eu cobaia de mim”, que é quando ao observar ou vivenciar alguma coisa, eu escrevo um texto ou crio um enredo baseado no que vi ou fiz.
Contei aos alunos que Lavoisier dizia que “na natureza nada se perde, nada se cria e tudo se transforma”, e que um marqueteiro safo parodiando o químico francês disse que no mundo de hoje, “nada se cria, tudo se copia”, mas argumentei que para que não se seja um mero plagiador, precisamos saber como fazer essas releituras para se possa reaproveitar tais ideias de maneira original.
Foram quase três horas de uma agradável conversa. No final pude ler para eles alguns textos, mostrando cada processo criativo utilizado em suas produções e exibi os filmes “Pelo ouvido” e “Lockdown, como não fazer um filme”, mostrando a eles os textos dos quais se originaram.
Acredito que os alunos tenham gostado de nosso bate papo. Eu adorei.