Carta não enviada para Papai Noel

6comentários

 Caro Papai Noel,

Sabe que houve um tempo em que eu até acreditei que você existia! Tempo bom aquele! Meu mundo era pequenino e seguro. Minha cidade era o meu bairro. Meu estado era o resto da cidade. O país era o meu estado e meu mundo, onde todos falavam português, era do tamanho do Brasil. Criança pensa cada coisa! Até acredita em Papai Noel!

Aos 8 anos, as fronteiras de meu mundo iam um pouco além do parquinho de diversões do SESC, da Avenida Silva Maia, em frente da casa de vovô Pinto.

Pouco tempo depois a capital de meu mundo passou a ser o campinho de futebol que havia no quintal de nossa casa. Nós mesmos o fizemos, à mão, com facão, picareta e enxada, com a ajuda dos amigos do bairro que toda tarde, depois das aulas particulares com dona Terezinha, apareciam pra bater uma pelada conosco. Nossos primos sempre vinham aos sábados. Jogávamos e fazíamos acampamentos, “expedições” para explorar as margens do rio Bacanga. Um dia, nós fomos ao Sitio do Físico, sob o comando do “tio” Stenio Magalhães Barros, o mesmo que nos levava ao cinema no velho fusquinha verde/63. Era Stenio quem organizava os torneios de botões, damas, xadrez, ping-pong… Ele era um híbrido entre tutor e baba.

Não tínhamos nem piscina em casa, tomávamos banho de “mangueira” ou de tanque. Às vezes era preciso que usássemos bucha pra tirar o sujo de um dia todo de brincadeiras. Nós não, dona Rosário, a lavadeira, que batia na roupa com um pedaço cabo de vassoura. Nunca entendi porque ela fazia aquilo, até ler recentemente um rótulo de um produto numa gôndola de supermercado, onde estava escrito amaciante e só aí caiu a ficha. Dona Rosário amaciava as roupas mais pesadas e grossas à base de pauladas.

Sabe Noel, minha vida sempre foi salva por mulheres. Acho que é por isso que sou tão fascinado por esse maravilhoso gênero humano. A primeira vez que eu me lembre, foi por duas delas. Minha mãe e dona Terezinha. Minha mãe viu que não conseguiria me ajudar com os estudos e contratou dona Terezinha, filha de uma vizinha que se formara professora, para tomar conta dos estudos do “irrequieto Jotinha”. Graças a Deus! Sem saber que eu sofria de uma espécie de dislexia, uma pequena dificuldade de aprendizagem através da leitura, dona Terezinha observou que eu aprendia muito mais quando ela estudava comigo, quando lia para mim. O que parecia uma simples preguiça poderia ter me custado caro se as mulheres certas não estivessem em meu caminho desde sempre. Foi a preocupação de dona Clarice e o carinho de Têca que me salvaram do estigma da preguiça e da desatenção que resultaria no desastre de não aprender.

É dessa época meu primeiro amor, ou pelo menos o que eu imaginava que fosse. É também desse tempo o Basket. Lembra do campinho de futebol? Nós o trocamos por uma quadra de basket. Nesse esporte aprendi o valor da disputa, da dedicação, tive os primeiros ensinamentos sobre companheirismo, sobre esforço coletivo, sobre honra e respeito aos que se opõem a nós, que pensam diferentes, que usam uniformes de outras cores.

Um pouco mais à frente me tornaria definitivamente um viciado, um dependente quase que químico em cinema e em política.

Estes são vícios dos quais eu não quero me libertar jamais. O cinema me faz viajar sem sair do lugar. Me leva para frente e para trás no tempo. Ele me mostrou as várias faces da vida, a comédia, o drama, as guerras, as vidas de grandes figuras da história. Me deu acesso aos clássicos da literatura que havia lido com tanto sacrifício.

Se o cinema ou a política fossem doenças, não me importaria de morrer acometido delas.

Na política aprendi a conhecer o ser humano em outra esfera, com o auxílio de lentes próprias para focalizar e filtrar as qualidades e os defeitos das pessoas. Nela, pude pôr em prática muito do que vivenciei e aprendi nas quadras de basket, nas salas de projeção, entretido e submerso em exaustivas e prazerosas sessões de leitura. Na arte de Nicolau, tive professores ausentes e aulas presenciais que me ensinaram como conviver com algo que para tanta gente parece tão repugnante, sem que isso me embrulhasse o estômago, pelo contrário, saboreando como um delicioso manar recheado de poder, sedução e mel.

Olhando para trás e projetando o futuro, chego à conclusão de que não tenho nada para lhe pedir Papai Noel. Mesmo que o senhor existisse, a única coisa que está me faltando, ninguém pode me dar, é algo que só eu posso resolver. Só tenho que ter consciência, sabedoria e humildade para reconhecer que possuo tudo que preciso e que antes de mais nada devo agradecer por ter uma vida tão maravilhosa.

Muito obrigado e feliz ano novo.

6 comentários »

Presente de Papai Noel

5comentários

Estava escrevendo um texto que falasse sobre o natal e esse sentimento que nos invade nessa época de festas de fim de ano. Queria postá-lo hoje, aqui, nesse espaço que, em que pese eu ser homem de radio e de televisão, tem sido um dos meus maiores e mais eficientes canais de comunicação.

Havia acabado de fazer meu texto quando deparei com um comentário no post “Notícias de Havana 4” que me fez mudar de idéia.

Não vou postar minha carta para Papai Noel hoje, vou refazê-la e vou posta-la no domingo, mais como literatura que como mensagem, pois depois desse comentário que li e reli dezenas de vezes, descobri que não tenho nada para pedir. Posso me considerar um homem aquinhoado, que já tem o suficiente para ser feliz, como realmente sou, que já tem quase tudo que alguém poderia sonhar em ter em pelo menos umas três ou quatro vidas, que já tem muito mais do que merece e às vezes tenho até medo por isso.

Eu só tenho é que agradecer. Muito obrigado! Mesmo! Do fundo de meu coração, de minha mente e de minha alma, Muito obrigado. 
 
 
 
Comentário extraído do post “Notícias de Havana 4”.
 
Deputado Nagib, poucos eleitores, sejam do Maranhão, do Brasil ou mesmo do mundo, podem se sentir privilegiados assim como nós os Folhas, de São Domingos do Maranhão, que podemos nos orgulhar de ter um representante como nós temos o senhor (e é claro seus outros quase 40 mil eleitores por todo esse Maranhão).
O senhor é um grande motivo de orgulho para nós. Primeiramente por sabermos que sempre que precisamos de sua ajuda, de sua orientação, de seu apoio, o senhor está aqui presente ao nosso lado, seja nas datas festivas, seja nas de dificuldade. Depois, qual eleitor pode dizer em alto e bom som que o seu representante é um homem que cumpre a palavra empenhada, que honra os compromissos, que é um homem sensível, culto, inteligente, que nos representa, tanto aqui em nossa terra, quanto em São Luis, quanto em Brasília, quanto em qualquer lugar do mundo? Quem é que tem um representante que diz o numero de seu telefone celular em pleno palanque e que sempre atende todas as ligações que lhe fazem. Nunca vi ninguém daqui dizer que tenha ligado pro seu celular que o senhor não tenha atendido ou retornado a ligação.
Por isso tudo deputado Nagib, e por saber que o senhor também é um jornalista, um escritor, um poeta, um cineasta respeitado em todo o mundo é que nos sentimos orgulhosos do senhor.
Aproveito a oportunidade para desejar ao senhor e a sua família um feliz natal e um ano de 2009 cheio de saúde, alegria e sucesso.

5 comentários »

Notícias de Havana 4

5comentários

foto02.jpgCheguei a Havana no amanhecer do dia 6 de dezembro, depois de quase 48 horas sem dormir. Mesmo cansado fui logo conhecer o Hotel Nacional onde ficaria hospedado e depois de um bom banho, fui me credenciar para participar do 30º Festival do Novo Cinema Latino-Americano com o curta-metragem “Pelo Ouvido”, um dos selecionados para a sessão oficial da competição. Em seguida, depois de um rápido café da manhã, fui para a piscina, em companhia de alguns amigos brasileiros. Os atores Selton Mello e seu pai, senhor Danton Mello; o casal Daniel e Vanessa Oliveira que por onde passavam eram reconhecidos como a Zuca e o Luís de “Cabocla”; a linda e simpática atriz Fernanda Machado; Jal Guerreiro, diretora da Link Digital, uma das empresas patrocinadoras do festival; a produtora de dois dos filmes em competição de ópera prima, Vânia Catanni; e a diretora Lucia Murat, entre outros, como o grande cineasta Orlando Senna, Paula Gaitán, documentarista e ex-esposa de Glauber Rocha, a também documentarista Maia Da Rin, Claudia Buschel, produtora de “Ensaio sobre a Cegueira” e o ator Rodrigo Santoro, que também participavam do festival.

foto07.jpgSeis da tarde aconteceria o mais importante evento do festival até então: a primeira apresentação do filme “Che”, de Steven Soderbergh, com Benicio Del Toro, como produtor e encarnando o revolucionário argentino, que, junto com Fidel Castro e outros revolucionários tomaram Cuba de Fulgêncio Baptista, na madrugada de 31 dezembro para 1º de janeiro de 1959.

A recente história de Cuba, da guerrilha na Sierra Maestra, às lutas abertas e heróicas em plenas cidades onde meia dúzia de obstinados barbudos buscava resgatar a dignidade de seu povo, já eram conhecidas de quase todos os presentes. O local era o Cine Yara, um dos maiores em que já estive, capaz de acolher, sentados, algo em torno de duas mil pessoas, ou seja, quatro mil pares de olhos e ouvidos sedentos por ver o comandante e seus camaradas. E lá estavam duas mil pessoas, boa parte delas havia pagado 2 pesos para estar ali, mas não quero falar de política nem de economia, o papo aqui é cinema e o turbilhão de sentimentos que vem junto com essa arte tão essencial.

foto06.jpgEstávamos mais ou menos o mesmo time de brasileiros que de manhã fora à piscina e mais Manoel Rangel, presidente da Ancine, e Bernardo Pericás Neto, embaixador do Brasil em Cuba. Todos sentados num lugar honroso, reservado para autoridades e convidados especiais, quando chegaram dois senhores, um deles fardado e o outro com uma elegante guayabera branca e sentam-se bem atrás de nós. De repente, um montão de fotógrafos veio em nossa direção e apontaram suas câmeras acima de nossas cabeças, para onde estavam os tais senhores que depois vim a saber que era Urbano e Pombo, ex-combatentes da revolução cubana, que estiveram com Chê na Sierra Maestra, no Congo e na Bolívia. Eram sobreviventes de uma época heróica. Dinossauros vivos, bem ali, pertinho de nós. A sensação era incrível.

foto01.jpgAté aí tudo bem, mais ou menos tudo certo, isso até entrarem os atores para apresentarem a película. Todos muitos aplaudidos, principalmente Benicio Del Toro, mais nenhum como o brasileiro Rodrigo Santoro que no filme interpreta o atual presidente cubano, Raul Castro, irmão de Fidel. Quando se anunciou o Rodrigo a platéia delirou. É que ele é um ídolo em Cuba. Ele e todos os atores brasileiros, graças às nossas novelas que não param de passar por lá. Agora mesmo são três.

As primeiras três horas do filme são épicas. Cenas de batalha, fatos históricos e heróicos já cantados em verso e prosa, conhecidos pelo povo cubano, que cada vez que podia manifestava-se de forma contundente, sempre reagindo às colocações geniais de seu líder Fidel, com as brincadeiras de seu herói prematuramente morto, Camilo Cienfuegos, ou com extrema devoção a seu camarada, Chê.

foto04.jpgComo um filme-documento, penso que a primeira parte é irretocável. Em muitos momentos vimos as cores sumirem para presenciarmos fatos possíveis de serem comprovados documentalmente, como no caso da ida de Chê às Nações Unidas. É uma elegia ao heroísmo e à glória. Não é um filme de propaganda, mas serve magnificamente como tal. É um documento dramático.

Essa parte é um soco na boca do estômago. Não há diálogo nos primeiros cinco minutos. Acredito que a segunda parte do filme não possa ser vista separada da primeira, sob pena de dificultar o entendimento daquilo que foi a vida de Chê em seus últimos dias.

A vida de Ernesto Guevara, graças ao cinema, é vista em três de seus cinco momentos. Diários de Motocicleta que conta a segunda fase de sua vida, e esse filme em suas duas partes que fala do Chê revolucionário em Cuba e do guerrilheiro que quer ser veículo de liberdade e justiça, na Bolívia.

foto05.jpgA primeira parte de sua vida, sua infância, nos é desconhecida, mas fazendo as contas, descobri que se vivo fosse, estaria com a idade de minha mãe. Faria 80 anos no ano que vem. Quanto à última parte de sua vida, ou seja, a sua morte, essa será eterna.

É incrível o que acontece. A forma de contar é outra, o enquadramento é outro, há outra luz. Os personagens são outros. Parece até que é outro diretor e outro fotógrafo. Tudo é diferente, principalmente o público que se na primeira parte se manifestava, reagia, sorria, aplaudia, falava, nessa mantinha-se em um silêncio sepulcral. Menos Pombo e Urbano, sentados atrás de nós. Deles se ouvia algumas palavras, dos demais só se ouvia a respiração.

O que poderia se chamar de Calvário, de Gólgota de Chê, é na verdade um poema de angústia, dor e impotência. Uma metáfora doída à espera de uma morte anunciada.

foto08.jpgCena que bem exemplifica esse trecho do filme é quando ele, Chê, aparece montado em um burro branco e o animal empaca, não quer sair do lugar. Chê tenta fazê-lo andar e nada consegue. Cai do animal na tentativa de demovê-lo da burrice, e começa a espancá-lo, matá-lo, quando é impedido pelos companheiros.

Ao final de cinco horas. Três de êxtase e duas de agonia fica clara a importância deste homem para a história contemporânea da latinidade e de toda a humanidade.

Ao sairmos do cinema, nós e mais dois mil cubanos, eu que trazia em minhas mãos cartazes e postais de meu filme, cai na besteira de dar um para uma moça que ouvi falar português – depois soube que era esposa do 1º secretário da embaixada espanhola – então as pessoas em volta passaram a me pedir tanto os cartazes quanto os postais. Era tamanho seu interesse e a simpatia com que me tratavam que me senti como se estivesse em casa, em São Luís, saindo do Cine Praia Grande.

Depois fomos todos para um cabaré bem cubano, tomar “margueritas”, comer “mariquitas” e falar sobre o filme.

5 comentários »

Notícias de Havana 3

4comentários

Meu filme, Pelo Ouvido ou como se diz em espanhol, Por el Oído, passou duas vezes no festival de Havana. Poucos tiveram este privilegio. Ainda por cima eu saí ganhando duas outras “cositas” mais. A segunda vez em que ele foi exibido foi numa sessão nobre, às 20 horas, no Cine Chaplin, um dos melhores de Havana, e antes de “Linha de Passe” de Walter Salles e Daniela Thomas que estava presente, munida de sua simpática timidez e a quem eu tive o prazer de conhecer em uma situação inusitada e magnífica.

Após a exibição de nossos filmes, fomos chamados por um dos diretores do festival, que nos disse que um senhor, alguém importante, que vira as películas gostaria de nos encontrar. Fiquei curioso para saber de quem se tratava. Minha imaginação é muito fértil. Fiquei viajando nos possíveis personagens daquela ilha. O grande Compay Segundo já havia morrido, Fidel não aparece mais em publico. Seria Raulzito!?

Foi quando reconheci de um documentário o senhor baixinho e sorridente que vinha de braços dados com Daniela e com Naomiee, uma carismática e amável atriz cubana que é apaixonada pelo Brasil e principalmente pelo Maranhão. O senhor era simplesmente Alberto Granado, companheiro na viagem de Ernesto Guevara, o Chê, retratado no cinema em “Diários de Motocicleta” do mesmo Walter Salles que junto com Daniela tão bem retratou a vida de uma “quase” família paulistana em Linha de Passe.

Para provar o que digo, abaixo anexo uma foto que tiramos, eu, Daniela Thomas e Jal Guerreiro, com ele e com sua esposa. Naquela oportunidade sentei-me no chão ao seu lado, pois ele era um pedaço da historia viva e eu o queria ver de baixo para cima.

Dias Depois seria a vez de conhecer outro monstro sagrado. Nós brasileiros fomos convidados para almoçar com ninguém menos que Alfredo Guevara, que nada tem haver com o Chê, mas é o homem que comanda o cinema cubano.

dsc01333.JPG

4 comentários »

Notícias de Havana 2

2comentários

Entrei em um dos lindos e imensos elevadores do Hotel Nacional de Havana e antes que as portas se fechassem, um braço adentrou bem atrás de mim. Era de uma senhora e com ela havia um senhor. Pela forma de vestir-se e de portar-se, pareciam ser ingleses.

Existem espelhos de ambos os lados do elevador. Eu me posicionei de um lado e eles do outro. Ficamos frente a frente. De repente a senhora diz suavemente, em um inglês britânico, olhando em minha direção, na verdade por dentro de mim, apesar de mim: “Uma simples visão do infinito se faz apenas com dois espelhos”. Foi ai que eu vi que se olhasse em frente, na direção deles, veria minha imagem refletida infinitas vezes nos dois espelhos.

O elevador chegou ao lobby, à porta se abriu e do lado de fora estava ninguém menos que a grande Vanessa Redgrave. Parei por um instante e me lembrei de todos os filmes que havia visto com aquela magnífica atriz. Lembrei de todos os sonhos e de todas as viagens que eu fiz com ela. Ela olhou para mim com simpatia, cumprimentei-a com um leve aceno de cabeça e me fui, não sem antes me dirigir cordialmente com o mesmo aceno ao casal que havia estado comigo no elevador e nossos infinitos foram cada um para seu lado.

Eu fui para Havana Vieja, eles talvez para Miramar ou quem sabe para as Plaias Del leste.
 
PS: Ontem foi meu aniversario e o encerramento do festival foi anteontem. Não ganhei nenhum troféu feito de coral negro, mas ganhei o magnífico prêmio que é a rara possibilidade de conhecer pessoas incríveis, vindas de lugares diferentes, de culturas distintas, mas todos unidos, ligados pela imensa paixão pelo cinema.

Uma hora dessas vou contar a vocês algumas historinhas sobre várias dessas pessoas.
 
Havana, Cuba.
Dezembro, 2008.
50 anos depois…

dsc01420.JPG

2 comentários »

Notícias de Havana 1

3comentários

Em uma das muitas rodas de conversas entre essa gente extraordinária que faz cinema, reunidos nessa cidade que apenas para citar uma de suas características, é visual e arquitetonicamente uma maquina do tempo, ouvi e anotei as seguintes conclusões ditas por escritores, produtores, diretores, editores e estes mesmos, famintos espectadores: um roteirista para fazer bem seu trabalho tem que libertar seus animais internos; um produtor é antes de tudo um administrador de egos; um diretor deve saber principalmente controlar superegos, inclusive e principalmente o seu; um editor tem que compreender e amestrar os três anteriores; já o espectador precisa estar preparado pra vivenciar tudo isso… ou não.
 
Havana, Cuba.
Dezembro, 2008.
50 anos depois…

dsc01327.JPG

3 comentários »

2008: Trinta Anos

2comentários

Completei em 2008 trinta 30 de vida pública. Comecei em 1978, no cargo de assessor do gabinete de meu pai, aqui nesse mesmo Legislativo maranhense. Depois fui para a Câmara dos Deputados, em Brasília. Outra grande escola. Em seguida, voltei para São Luís e fui ser chefe de gabinete de José Burnett, secretário da Casa Civil do então governador João Castelo, e desde então venho construindo e acredito que consolidei um perfil de homem de diálogo, sempre aberto e propenso à conversa e ao entendimento. Como parlamentar, tanto no âmbito estadual quanto no federal, eu sempre procurei ser acessível a todos, aos que estivessem acima ou abaixo de mim, mas principalmente àqueles que estivessem ao meu lado, meus colegas parlamentares, e ao povo que em primeira e última analise, é há quem eu represento.

Sempre procurei dizer o que pensava com objetividade e clareza, sempre fugi do uso abominável dos subterfúgios. Sempre acreditei que uma verdade incômoda ou ruim é muito melhor que uma mentira ou mesmo uma desculpa esfarrapada, que logo se mostrará falsa e desnecessária.

Em todos esses anos de lida política, acredito que consegui o importante respeito de meus eleitores e de meus correligionários, a quem sempre tratei com correção e amizade. Cidadãos que confiaram a mim a sagrada procuração de falar por eles, de representar seus interesses, defender seus direitos, coisa que tenho tentado fazer com coerência e honradez.

Sempre busquei a boa convivência e mais do que isso, busquei me ombrear, me igualar aos bons exemplos de meus colegas deputados. Desde os que primeiro trabalharam comigo, como o aguerrido Gervásio Santos e o grande José Bento Neves. Dois parlamentares sobre os quais não canso de repetir que meu comportamento e meus votos nos primeiros tempos de minha “deputancia”, se construiu e se baseou em uma média dos incríveis discursos e das irrepreensíveis posturas éticas e políticas destes dois grandes parlamentares, de quem tive a honra de ser colega. E ainda há quem pense e quem diga por aí que essas duas palavras, ética e política, não combinam, o que não é verdade em alguns casos, mas o que infelizmente e bem verdade em outros.

Nesses 30 anos convivendo e sobrevivendo no centro das grandes decisões políticas de meu Estado, aprendi muita coisa e continuo aprendendo diariamente. Aprendi que a vaidade, o egoísmo e a auto-suficiência são ingredientes indissociáveis do exercício do poder. Aprendi também sobre aquilo que se deve fazer para que os citados ingredientes não se sobressaiam mais que o pragmatismo, a sabedoria, a tolerância, a generosidade, a coerência, a humildade, todos estes outros ingredientes próprios do exercício do poder e bastante utilizados por alguns políticos que buscam realizar seu trabalho tal e qual faz qualquer outro trabalhador. Com a mesma responsabilidade que tem um médico com o seu paciente, com a mesma dedicação que tem um professor com seus alunos, com o mesmo respeito que tem um pastor com seu rebanho.

A política para mim é algo sagrado, sem mácula, sem panacéia, sem hipocrisia. Faço política da mesma forma que escrevo um poema, uma crônica ou um conto, que jogo basquetebol ou tênis, que preparo um risoto de frango ao leite de coco babaçu ou de shitaki fresco. Política para mim é natural como ver um filme ou mesmo escrevê-lo, produzi-lo e dirigi-lo. Política é algo que vem de dentro de mim, é uma coisa que aprendi muito cedo em minha vida, vendo meu pai, meu tio, seus amigos e correligionários. Não cheguei a aprender com Victorino Freire, Eugênio de Barros, Newton Bello ou com La Rocque, mas busquei saber sobre eles. Aprendi política vendo José Sarney, Clodomir Millet, Alexandre Costa, Pedro Neiva, Nunes Freire, Ivar Saldanha, Cafeteira, Lobão e João Alberto, sem falar em Celso Coutinho, Raimundo Leal, José Elouf, Carlos Guterres e Baima Serra, dentre tantos outros.

E o balanço disso, no que resulta essa minha postura política? O balanço, por um lado, se mostra deficitário, tendo em vista os últimos acontecimentos concernentes à eleição da nova Mesa Diretora da Assembléia, que se não deixa rupturas, deve-se exclusivamente pela forma como procuro agir, e nesse caso tenho certeza de que fiz a minha parte da melhor maneira que poderia tê-la feito. Por outro lado, em que pese ser adversário do atual governo, pude merecer dele, nesses dois anos, o privilégio de ver destinadas aos municípios onde atuo eleitoral e politicamente, verbas do orçamento estadual no total de mais de um milhão e seiscentos mil reais em cada exercício. E apesar de ainda não ter havido os repasses de alguns valores, como no caso dos recursos que destinei à Academia Imperatrizense de Letras, problema que imagino logo será saneado, esse instrumento participativo e democrático deveria ser estabelecido como praxe e estendido a todos os parlamentares, independente de partido ou grupo político, desse ou daquele governo.

Para finalizar esse balanço de minhas atividades, fica aqui, de público o meu apelo aos meus colegas deputados, para que esqueçamos as querelas pessoais ou municipais e pensemos em um Legislativo maior, mais forte, não apenas em uma nova sede, mas unido em torno da valorização deste que é o poder verdadeiramente representativo do povo.

2 comentários »

Laila

6comentários

Antes mesmo de existires
teu nome,
ouro em mandarim
e chefe em celta,
reluzia forte e destemido.
Foneticamente
lembrava o nome daquele que te fez
com uma clava
mais poderosa que a de Thor, Deus nórdico do trovão,
um dos últimos centauros,
descendente direto do professor de Aquiles.
Ao nasceres
de manhã
cedinho,
no prazo previsto
Pois fostes feita para vir ao mundo sob a regência de Quiron,
mestre de aventureiros, românticos e heróis,
teu nome havia sido mudado de forma radical.
Transformou a vida em
noite agradável,
bonita,
formosa.
Brisa vinda do mediterrâneo,
vento que trás consigo o aroma
fresco e frutal do monte Líbano.
Aventura dezembrina,
centáurica.
Neologismo para felicidade.
Amor…
Pedaço de duas pessoas que forma outra.
Igual,
mas completamente diferente.
Vinte anos depois
o poema,
o sonho
a aventura
agora é certeza de uma noite maravilhosa
uma daquelas mil
e uma.

6 comentários »

Feliz Natal uma pinóia!

3comentários

Na semana passada assisti Feliz Natal, filme com o qual o já consagrado ator Selton Mello estréia na direção de um longa-metragem.

Confesso que entrei no cinema preocupado, primeiro porque assisti ao filme ao lado do diretor, segundo porque quem já havia visto o filme, ou o amava ou o odiava. O fato de as pessoas terem essa relação de amor ou ódio com um filme no mínimo era uma garantia de que só pela polêmica, valeria a pena vê-lo. Se tivesse sorte, estaria presenciando em primeira mão, ao vivo e a cores, o surgimento e a consagração de um artista e de sua obra. Tanta polêmica também me dizia que estava diante de um filme de arte, um produto conceitual. Algo diferente, incomum, que suscita surpresa e admiração. Guardadas as devidas proporções, seria como se Velásquez fosse colocado diante de quadros de Dali, isso para ficar apenas em um dos maiores revolucionários das artes plásticas, nascido na Espanha. A mesma Espanha onde tive o privilegio de ver meu filme, Pelo Ouvido, único curta-metragem brasileiro selecionado para a mostra competitiva do Festival de Cinema Íbero-Americano de Huelva, em sua 34ª edição, ombreado com o longa de Selton, ambos representando o Brasil em suas respectivas categorias.

Com toda certeza Feliz Natal não causará a mesma polêmica que causou a música de Alexander Mossolov, ou de Karlheinz Stockhausen ou de John Cage, repletas de ruídos e barulhos ou simplesmente do mais sublime dos sons, o silêncio. Assim como a música daqueles audaciosos malucos, o filme de Selton tem apenas uma intenção, chocar, chamar atenção, de uma forma bruta, eu concordo, de uma forma incomum e pouco convencional, isso é verdade, mas com os ingredientes indispensáveis quando se quer chamar atenção de maneira definitiva: Objetividade, força, coragem e poesia.

Feliz Natal realmente não é um filme fácil, mesmo porque não é essa a proposta do diretor desde a concepção do argumento, passando pela elaboração do roteiro, onde conta com o apoio de Marcelo Vindicatto, e culminando com a clara opção de chocar as pessoas com um enquadramento de câmera tão fechado, tão próximo dos atores que causa náusea. Ele consegue com a ajuda do excelente Lula Carvalho uma não-luz, um escuro silencioso e melancólico, capaz de iluminar a cena com lampadinhas de natal ou com qualquer luz existente. O uso extremado de planos-seqüência ajuda na sensação de mal-estar, mas principalmente nos faz estar presente em cena, bem atrás do extraordinário ator Leonardo Medeiros ou coladinho no rosto da impagável Darlene Glória em seus momentos Dercy ou Coringa.

Já que falei no Leonardo e na Darlene, cabe aqui um registro. O elenco é perfeito, não apenas no que diz respeito às interpretações, mas principalmente quanto à escolha e a tipificação dos personagens e dos atores. Os irmãos realmente se parecem, Paulo Guarnieri com o Léo e Graziella Moretto assemelha-se bastante a Rose Abdalah que por sua vez lembra sua filha. Lúcio Mauro e Emiliano Queiroz interpretam a eles mesmos, ou pelo menos aquilo que temos deles em nosso inconsciente. Já Nathalia Dill, essa é talvez a maior crueldade de Selton, pelo menos para comigo. Ele, só de sacanagem, mata aquela linda mulher, fazendo com que ela apareça muito pouco em cena, mas o suficiente para deixar sua marca, principalmente em mim.

Em relação à estrutura da história, uma coisa é marcante. A forma de contar não contando. A forma de nos trazer para dentro do contexto sem nem sequer termos sido convidados e o que é pior, da maneira mais irritante para um sujeito como eu, usando o silêncio, a mudez dos personagens. Esse é um dos vários momentos em que fica clara a mão do diretor, que sendo um exímio ator, prova que não fez um filme para agradar ninguém. Acredito até que ele o tenha feito mesmo foi para desagradar!

Em Feliz Natal Selton prova a todos que o ator, o cavalo que incorpora Johnny, Chicó, o André de Lavoura Arcaica, o Lourenço de O Cheiro o Ralo, o Leléu de Lisbela e o Prisioneiro, pode fazer seu trabalho e ainda ter dentro de si um poeta Bukowskiano. Desbocado, sujo, maltrapilho, que se utiliza de uma cenografia de paredes descascadas, azulejos quebrados, folhas mortas em volta da piscina, moscas na comida, coisas existentes na vida real. Um poeta que lança mão de uma montagem audaciosa, porém precisa, transformando em uma viagem lisérgica boa parte dos conflitos de seus personagens e de nossa vida, retratada de forma simbolista, iconoclasta e pictórica, isso para apenas usar três adjetivos para descrever o seu denso e difícil poema audiovisual de 100 minutos.

Se eu gostei de Feliz Natal!? Eu não sou parâmetro para auferirmos isso. Seria melhor eu lhes dizer que um filme pode ser bom ou ruim dependendo do espectador, mas para seu realizador ele será bom se tiver conseguido alcançar seu objetivo, qualquer que seja ele. O objetivo de Selton Mello com esse seu primeiro filme, é claramente dar um soco na cara do espectador e mostrar-lhe outra forma de ver a mesma realidade, e isso com toda certeza ele consegue.

3 comentários »

O sucesso consiste em não fazer inimigos!

3comentários

Tenho um bom amigo que me manda pelo menos 50 mensagens eletrônicas por dia, então resolvi compartilhar com vocês, sempre que for possível, algumas delas (apenas algumas…rsrsrsrs). Espero que apreciem.

Regra número 1
 
Colegas passam, mas inimigos são para sempre. A chance de uma pessoa se lembrar de um favor que você fez a ela vai diminuindo à taxa de 20% ao ano.

Cinco anos depois, o favor será esquecido. Não adianta mais cobrar. Mas a chance de alguém se lembrar de uma desfeita se mantém estável, não importa quanto tempo passe. Exemplo: se você estendeu a mão para cumprimentar alguém em 1997 e a pessoa ignorou sua mão estendida, você ainda se lembra disso em 2007.
 
Regra número 2
 
A importância de um favor diminui com o tempo, enquanto a importância de uma desfeita aumenta. Favor é como um investimento de curto prazo. Desfeita é como um empréstimo de longo prazo. Um dia, ele será cobrado, e com juros.
 
Regra número 3
 
Um colega não é um amigo. Colega é aquela pessoa que, durante algum tempo, parece um amigo. Muitas vezes, até parece o melhor amigo. Mas isso só dura até um dos dois mudar de emprego. Amigo é aquela pessoa que liga para perguntar se você está precisando de alguma coisa.

Ex-colega que parecia amigo é aquela pessoa que você liga para pedir alguma coisa, e ela manda dizer que no momento não pode atender. Durante sua carreira, uma pessoa normal terá a impressão de que fez um milhão de amigos e apenas meia dúzia de inimigos. Estatisticamente, isso parece ótimo, mas não é. A “Lei da Perversidade Profissional” diz que, no futuro, quando você precisar de ajuda, é provável que quem mais possa ajudá-lo é exatamente um daqueles poucos inimigos. Portanto, profissionalmente falando, e pensando a longo prazo, o sucesso consiste, principalmente, em evitar fazer inimigos. Porque, por uma infeliz coincidência biológica, os poucos inimigos são exatamente aqueles que têm boa memória.
 
Max Gehringer
 

PS: Em que pese eu estar publicando este texto em meu blog, isso não quer dizer que eu concorde com ele plenamente. Ele tem lógica, isso é verdade, vai no rumo! Mas eu ainda prefiro continuar fazendo amigos incondicionalmente. Se um favor ou uma ajuda que eu fiz ou dei a alguém, for esquecido, isso não será problema para mim, pois eu não o esquecerei jamais e também não o cobrarei, mas eu sabendo posso me perdoar por não ter feito mais ainda.

3 comentários »
https://www.blogsoestado.com/joaquimhaickel/wp-admin/
Twitter Facebook RSS