Guarnicê.
No domingo 14 de agosto de 1983, encartado no jornal O Estado do Maranhão, circulou pela primeira vez, o Suplemento literário Portando, na ultima quinta-feira, completaram-se 20 anos, que aquela idéia, tornou-se realidade. Uma idéia que não era apenas nossa, do advogado e deputado Joaquim Haickel, do jornalista e diretor da Fm Mirante Celso Borges, do jornalista Roberto Kenard, do designer gráfico Paulo Coelho, do arquiteto, cartunista e professor Érico Junqueira Ayres, da relações publicas e apresentadora de Tv Dulce Brito, do economista e músico Ronaldo Braga e do funcionário público e cartunista Cordeiro Filho, uma idéia que pertencia a uma geração inteira, uma idéia que era também de outras pessoas daqui mesmo, como Ivan Sarney, que era até mesmo de pessoas de outros estados, como Franco Jasiello, um italiano comedor de jerimum, radicado em Natal. E essa idéia tinha uma forma, era um suplemento literário, um jornalsinho, uma revista, como quer que queiram chamar. Essa idéia tinha um nome: Chamava-se Essa idéia tinha um motivo: nós estávamos cansados de não termos um espaço onde expor, onde escancarar nossos corações e nossas mentes, onde dizer o que pensávamos e sentíamos.
Era o tempo da abertura política, os primórdios da redemocratização de nosso país e principalmente, era o momento de nós tentarmos sair da casca, do ovo.
Não vou querer contar-lhes aqui o que, o como, o onde, o porque e o quando tudo isso aconteceu. Isso será um trabalho para o livro que nós do e a Clara Comunicação, do jornalista Felix Alberto, estamos preparando para ser lançado, se Deus quiser, no próximo mês, quando das festividades do aniversario de 391 anos da cidade de São Luís, mas vou dar-lhes algumas pistas:
Imaginem o que pode resultar da junção de meia dúzia de jovens, no inicio dos explosivos e decisivos anos da década de 80, tendo quase todos eles nascido no ultimo ano da década de 50 ou no primeiro ano da década de 60?
Imaginem o que pode sair das cabeças de meia dúzia de jovens, que tendo estudado em bons colégios, recebido uma boa orientação educacional, cultural e social, se achavam preparados para dizer a cidade e ao mundo o que pensavam através de suas poesias, crônicas, criticas e desenhos, compilados e editados por eles semanalmente e levado ao público encartado no maior e mais importante jornal de nossa capital?
Imaginem o que aqueles jovens, foram capazes de fazer naqueles tempos. E aqui, jovem vem impregnado de todos os simbolismos e adjetivos que a palavra possa transmitir – energéticos, incansáveis, temerários, destemidos, ácidos, sarcásticos, puros, tolos, irresistíveis, desbravadores, irresponsáveis… e tempo, aqui, aparece para enfatizar essa variável permanente em nossas vidas.
Sabedor de que esse mundo mudou mais nos últimos vinte anos que nos 200 antes deles, me parece hoje, que o que fizemos foi muito pouco. Se voltássemos no tempo, na memória, iríamos ver e comprovar o que fizemos. E em verdade vos digo, fizemos muito. Muito mais do que poderíamos ou estávamos preparados para fazer.
Falando assim, hoje, ate parece que foi muito fácil termos editado vinte suplementos semanais em 1983, vinte e quatro revistas mensais entre 1984 e 1985, uma edição especial(Devesenquandal) em 1986, uma antologia de poemas em 1984 e uma antologia de poemas eróticos em 1985, além de meia dúzia, outros livros de poemas, contos, ensaios e cartuns.
Aqui vale ressaltar a ajuda e o incentivo indispensáveis de alguns poucos patrocinadores que estão registrados lá nas nossas páginas, do meu velho pai que nos cedeu o espaço e o dinheiro para montarmos a nossa gráfica, de Francisco Camelo, então dirigente do SIOGE, órgão de saudosa e importante memória e principalmente de Fernando Sarney, então presidente da CEMAR, empresa patrocinadora de tudo que aconteceu nas artes e na cultura (e ate nos esportes) do Maranhão de 1983 até 1995. Fernando era, e continua sendo, o guru da cultura maranhense – e do esporte também -, agora através do jornal O Estado, da Tv Mirante e das rádios espalhadas por todo o nosso Estado.
Por falar em Fernando e em Mirante é importante que se diga que foi com a Mirante Fm que tudo começou. Foi lá que começamos tudo, fazendo o programa Em Tempo de com essa mesma turma, onde apoiávamos e incentivávamos a música, a poesia e a cultura maranhense, foi de lá que surgiu a Revista
Vinte anos se passaram e agora vejo que o que fizemos pode ter sido muito pouco, mas tenho certeza que foi o máximo, foi tudo que poderíamos ter feito.
O é para mim, uma das coisas das quais eu mais me orgulho de ter ajudado a idealizar e será para sempre, uma das coisas das quais eu mais me orgulharei ter construído.
Lembro agora da ultima pagina da ultima edição de nossa revista, o Devesenquandal, onde num poema curtíssimo Celso sintetizava os nossos sentimentos: somos poucos, cada vez menos. Somos loucos, cada vez mais. O que naquela época e ainda hoje nos é inconcebível e inaceitável é que o espírito desse poema tivesse mudado e nós passássemos a ser moucos cada vez mais e loucos cada vez menos. Isso não admitimos nem aceitaremos jamais.