Guarnicê.

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No domingo 14 de agosto de 1983, encartado no jornal O Estado do Maranhão, circulou pela primeira vez, o Suplemento literário Portando, na ultima quinta-feira, completaram-se 20 anos, que aquela idéia, tornou-se realidade. Uma idéia que não era apenas nossa, do advogado e deputado Joaquim Haickel, do jornalista e diretor da Fm Mirante Celso Borges, do jornalista Roberto Kenard, do designer gráfico Paulo Coelho, do arquiteto, cartunista e professor Érico Junqueira Ayres, da relações publicas e apresentadora de Tv Dulce Brito, do economista e músico Ronaldo Braga e do funcionário público e cartunista Cordeiro Filho, uma idéia que pertencia a uma geração inteira, uma idéia que era também de outras pessoas daqui mesmo, como Ivan Sarney, que era até mesmo de pessoas de outros estados, como Franco Jasiello, um italiano comedor de jerimum, radicado em Natal. E essa idéia tinha uma forma, era um suplemento literário, um jornalsinho, uma revista, como quer que queiram chamar. Essa idéia tinha um nome: Chamava-se Essa idéia tinha um motivo: nós estávamos cansados de não termos um espaço onde expor, onde escancarar nossos corações e nossas mentes, onde dizer o que pensávamos e sentíamos.
Era o tempo da abertura política, os primórdios da redemocratização de nosso país e principalmente, era o momento de nós tentarmos sair da casca, do ovo.
Não vou querer contar-lhes aqui o que, o como, o onde, o porque e o quando tudo isso aconteceu. Isso será um trabalho para o livro que nós do e a Clara Comunicação, do jornalista Felix Alberto, estamos preparando para ser lançado, se Deus quiser, no próximo mês, quando das festividades do aniversario de 391 anos da cidade de São Luís, mas vou dar-lhes algumas pistas:
Imaginem o que pode resultar da junção de meia dúzia de jovens, no inicio dos explosivos e decisivos anos da década de 80, tendo quase todos eles nascido no ultimo ano da década de 50 ou no primeiro ano da década de 60?
Imaginem o que pode sair das cabeças de meia dúzia de jovens, que tendo estudado em bons colégios, recebido uma boa orientação educacional, cultural e social, se achavam preparados para dizer a cidade e ao mundo o que pensavam através de suas poesias, crônicas, criticas e desenhos, compilados e editados por eles semanalmente e levado ao público encartado no maior e mais importante jornal de nossa capital?
Imaginem o que aqueles jovens, foram capazes de fazer naqueles tempos. E aqui, jovem vem impregnado de todos os simbolismos e adjetivos que a palavra possa transmitir – energéticos, incansáveis, temerários, destemidos, ácidos, sarcásticos, puros, tolos, irresistíveis, desbravadores, irresponsáveis… e tempo, aqui, aparece para enfatizar essa variável permanente em nossas vidas.

Sabedor de que esse mundo mudou mais nos últimos vinte anos que nos 200 antes deles, me parece hoje, que o que fizemos foi muito pouco. Se voltássemos no tempo, na memória, iríamos ver e comprovar o que fizemos. E em verdade vos digo, fizemos muito. Muito mais do que poderíamos ou estávamos preparados para fazer.
Falando assim, hoje, ate parece que foi muito fácil termos editado vinte suplementos semanais em 1983, vinte e quatro revistas mensais entre 1984 e 1985, uma edição especial(Devesenquandal) em 1986, uma antologia de poemas em 1984 e uma antologia de poemas eróticos em 1985, além de meia dúzia, outros livros de poemas, contos, ensaios e cartuns.
Aqui vale ressaltar a ajuda e o incentivo indispensáveis de alguns poucos patrocinadores que estão registrados lá nas nossas páginas, do meu velho pai que nos cedeu o espaço e o dinheiro para montarmos a nossa gráfica, de Francisco Camelo, então dirigente do SIOGE, órgão de saudosa e importante memória e principalmente de Fernando Sarney, então presidente da CEMAR, empresa patrocinadora de tudo que aconteceu nas artes e na cultura (e ate nos esportes) do Maranhão de 1983 até 1995. Fernando era, e continua sendo, o guru da cultura maranhense – e do esporte também -, agora através do jornal O Estado, da Tv Mirante e das rádios espalhadas por todo o nosso Estado.
Por falar em Fernando e em Mirante é importante que se diga que foi com a Mirante Fm que tudo começou. Foi lá que começamos tudo, fazendo o programa Em Tempo de com essa mesma turma, onde apoiávamos e incentivávamos a música, a poesia e a cultura maranhense, foi de lá que surgiu a Revista
Vinte anos se passaram e agora vejo que o que fizemos pode ter sido muito pouco, mas tenho certeza que foi o máximo, foi tudo que poderíamos ter feito.
O é para mim, uma das coisas das quais eu mais me orgulho de ter ajudado a idealizar e será para sempre, uma das coisas das quais eu mais me orgulharei ter construído.
Lembro agora da ultima pagina da ultima edição de nossa revista, o Devesenquandal, onde num poema curtíssimo Celso sintetizava os nossos sentimentos: “somos poucos, cada vez menos. Somos loucos, cada vez mais.” O que naquela época e ainda hoje nos é inconcebível e inaceitável é que o espírito desse poema tivesse mudado e nós passássemos a ser moucos cada vez mais e loucos cada vez menos. Isso não admitimos nem aceitaremos jamais.

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Grosseria versus deboche.

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Em homenagem ao saudoso Emanuel da Cunha Santos Aroso, homem que, ao longo de toda a vida, jamais foi grosseiro.

Na manhã da ultima terça-feira, 16, em entrevista ao radialista Roberto Fernandes, na radio Mirante AM, comentei a atual crise que assola o país e que tem servido para desmistificar tanto o partido dos trabalhadores quanto alguns de seus membros, até então, tidos como personalidades políticas diferentes de todas as outras. Disse naquela ocasião que caía o ultimo véu da ultima vestal. Que as ações da direção nacional do PT e as atitudes de pessoas ligadas ao partido, comprovam o que já havia dito antes: tanto os dirigentes do partido dos trabalhadores quanto o próprio partido são feitos do mesmo material dos outros. Na pratica, pouca diferença existe entre o PT e o PL, o PP, o PFL, o PSDB, ou o PMDB… Apesar dessa constatação afirmei naquela ocasião e reafirmo hoje, que não sou favorável a uma possível proposta de impechemam do presidente Lula. Isso causaria danos irreparáveis a nossa estabilidade institucional, social, e principalmente econômica, logo agora nesse momento em que a nossa economia começa a se organizar e se estabilizar.
Saí do estúdio da radio e fui para sessão da Assembléia Legislativa, onde abordaria o mesmo assunto no grande expediente. Ocorre que naquele dia não foi possível, pois o Deputado Mauro Bezerra ocuparia o horário.
Então, na quarta-feira, 17, resolvi analisar o assunto no plenário do legislativo estadual, no que fui bastante aparteado, principalmente pelos meus colegas de oposição(?), ou melhor, de esquerda.
Em certa altura de meu discurso, ilustre membro do nosso legislativo me pediu um aparte e de forma não muito elegante, diz que não iria admitir que nenhum hipócrita jogasse o PT na vala comum. Que não admitiria que pessoas como eu, denegrisse a imagem do PT, partido sério, de pessoas éticas e de parcela importante e considerável do povo brasileiro.
E é aqui, nesse ponto, que quero focar meu assunto deste domingo. Recebi vários telefonemas e muitas pessoas me abordaram naquela mesma manhã dizendo que fui muito brando e delicado em minha resposta ao tal aparte. Que pelas palavras usadas e pela forma como fui tratado, deveria ter sido mais duro em minha resposta. Que deveria ter sido tão ríspido e tão pouco elegante como foram comigo, no mínimo para deixar muito bem esclarecido quem eram realmente os hipócritas. Para isso bastaria mandar buscar um dicionário e ler o significado da palavra hipócrita: Do grego hypokrités, ator. Adjetivo. Diz-se daquele que age com hipocrisia. Demonstração de uma virtude ou de um sentimento louvável que realmente não se possui. Impostura, fingimento, simulação, falsidade. Bastaria isso para descaracterizar e rebater as palavras tão mal colocadas. Lendo o significado da palavra hipócrita talvez as pessoas se dessem conta de que aquele adjetivo não poderia ser usado contra mim. Contra mim não, mas contra a direção nacional do PT, contra alguns membros desse partido, envolvidos de alguma forma em todo esse mar de lama.

Ao contrario disso não respondi como tanta gente gostaria que tivesse feito, de forma ríspida, grosseira e deselegante para com uma pessoa a quem tenho admiração e respeito. Não fui contra ela com a força que tantas pessoas acharam que deveria ter ido. A ela, só respondi que não era eu quem estava jogando o PT na vala comum, mas sim os dirigentes e os membros do próprio PT envolvidos nesse lamentável escândalo. Que não era eu que estava denegrindo a imagem do maior partido de nosso país, mas sim, que eram as figuras mais exponenciais do partido dos trabalhadores que o faziam. E mais, que em recente entrevista a um jornal local, perguntado sobre o fato do suposto envio de dinheiro para as eleições municipais do ano passado por parte da direção nacional do PT, para membros do partido no Maranhão, eu reafirmei da tribuna o que já havia dito aos jornalistas, que não acreditava que algum membro do partido dos trabalhadores do Maranhão tivesse recebido dinheiro proveniente de qualquer esquema de corrupção, principalmente os deputados estaduais do partido em nosso Estado.
Vejam só como são as coisas! Eu, que naquela manhã, mesmo com o falecimento de um querido amigo, estava ali apenas para levar ao plenário da ALM uma discussão sobre o momento delicado pelo qual passamos, e fazer uma pequena analise dos caminhos possíveis para uma reforma política e principalmente eleitoral para o nosso país, na opinião de muitas pessoas, algumas bastante importantes e experientes, deveria era ter respondido ao tal aparte de maneira mais dura e contundente, grosseira mesmo.
No entanto procuro me comportar de maneira diferente. De maneira que tanto minha mãe quanto minha filha possam se orgulhar de mim. Procuro não levar para o lado pessoal nem a defesa de minhas idéias. Não coloco as minhas opiniões e os meus posicionamentos para competir, com a grosseria ou com o destempero. Ao contrario eu as coloco, na hora que quiserem e onde quiserem, para se confrontar com outras opiniões e posicionamentos, desde que no ringue só entrem as idéias. Posso até aceitar a entrada da dialética e do pragmatismo, mas jamais da hipocrisia. No entanto me reservo o direito de, se necessário, lançar mão de algum deboche.
Grosseria é instrumento dos despreparados. Sarcasmo, dos mal humorados. Ironia dos estressados. Mas o deboche, este é o instrumento daqueles que podem se dar ao luxo de serem leves e sutis em uma simples brincadeira ou em uma mera gozação, ou mesmo ainda em se tratando de uma coisa muito séria.

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Livro e bate papo em Imperatriz.

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Fui convidado pelos meus colegas da Academia Imperatrizense de Letras para fazer uma palestra e participar de um debate sobre literatura maranhense durante a realização da quarta semana do livro promovida por aquela instituição.
Honrado, mas também temeroso de não estar à altura nem do tema nem dos contendores, resolvi procurar meu amigo e conselheiro Sebastião Moreira Duarte, para que ele me ajudasse a descobrir um jeito para que em dez minutos pudesse falar sobre literatura maranhense, sem ser muito econômico nem perdulário.
“Doutor Joaquim! Por que o senhor não imagina um Deus maligno que apartasse o Maranhão do Brasil como queriam os fracasses em 1612!?”.
E por ai fui. Imaginei se a França Equinocial tivesse dado certo. A conseqüência disso, para efeito dessa tese literária, seria um incalculável prejuízo para o Brasil e o empobrecimento da cultura e das letras nacionais auriverde.
Em Imperatriz, na parte da manhã recebemos na AIL, grupos de estudantes de diversas escolas. Leram-se poemas e apresentaram-se coreografias.
Em seguida pedi audiência a dois deputados recentemente eleitos. Valdinar Barros, com quem foi praticamente impossível conversar na Praça da Cultura, porque a todo instante parava alguém para cumprimentá-lo. No almoço me avistei com o outro, João Batista, detentor da maior votação de um candidato a deputado estadual em uma única cidade, mais de 33.000 votos em Imperatriz.
No final da tarde pude relaxar e tomar um delicioso vinho do porto, degustar deliciosos pasteis de bacalhau e carne seca no bar do restaurante Ritz, em excelente companhia, batendo um papo inteligente e agradável e ouvindo boa musica.
Na hora marcada, lá estava eu pronto pra discorrer sobre a suposta independência literária do Maranhão. Fui logo falando que o Brasil perderia de cara o padre Antônio Vieira. Lembrei seus sermões aqui pronunciados, em especial aquele onde teimava em pregar aos peixes a verdade que os homens se negavam a ouvir.
Disse-lhes que o Brasil perderia Odorico Mendes, tradutor da obra de Virgílio e de Homero. Situado no mesmo patamar dos grandes tradutores dos clássicos em outras literaturas, como Alexander Pope e Aníbal Caro.
Lembrei Sotero dos Reis, mestre da Gramática e da Filologia. De João Lisboa, mestre do jornalismo e da historiografia.
Disse que Gonçalves Dias não poderia ser simplesmente visto como um fenômeno da natureza, mas como o ponto culminante da produção literária de toda uma gloriosa geração. O primeiro e maior poeta romântico de temática propriamente brasileira.
Falei do visionário Sousândrade, de sua incomum capacidade de inovação. Fosse ele um autor de língua inglesa, sua obra já teria sido virada e revirada em muitos outros idiomas.
E Aloísio Azevedo, pioneiro do realismo literário brasileiro e seu melhor realizador. O que seria o teatro brasileiro sem seu irmão Artur e o parnasianismo sem Raimundo Correia, componente indispensável da tríade sagrada do parnaso.
Não esqueci de citar uma luta travada em 1924 no recinto da Academia Brasileira de Letras, protagonizada por dois maranhenses, cada um em seu pólo de radicalidade: “Eu sou o último dos helenos” – brada Coelho Neto, advogando pelos valores perenes da expressão verbal. “Se a Academia não se renova, morra a Academia” – responde-lhe Graça Aranha, levado nos braços pela juventude esfuziante.
Indispensável também seria falar de Humberto de Campos como um dos representantes maranhenses de uma época literária impar. Humberto era lido e respeitado por multidões. Um verdadeiro ídolo.
O que dizer de Josué Montello, um dos que melhor trabalhou a alfaiataria romanesca, a arte de costurar e estruturar a narrativa.
Odylo, poeta lírico de finíssimas qualidades, que se escondeu em seu jornalismo e em sua modéstia. Ferreira Gullar, de duas obras, que bastam para fazer-lhe imortal: a Luta corporal, divisor de águas em nossa história literária e seu translúcido Poema sujo.
José Louzeiro, repórter desde cedo, migrou pra o sul e transformou-se o maior expoente de um gênero novo no Brasil, a reportagem policial como literatura. São dele as obras que deram origem aos filmes Lucio Flavio, Araceli meu amor, O caso Claudia, Pixote e o Homem da capa preta, dos quais também foi roteirista.
Não poderia esquecer de José Chagas e Nauro Machado. A proximidade com esses autores – graças a Deus, ainda vivos – é muito grande, para que sejamos capazes de uma avaliação isenta do valor de sua obra, mas não tenho dúvida que eles estão entre os maiores poetas de nossa língua.
Em síntese, o Maranhão, se não fizesse parte da Federação Brasileira deixaria desfalcado o panteon de luminares de nossa cultura. Nossa terra se sobressaiu e ainda o faz como poucos territórios da Nação, no panorama da cultura e da literatura.
Para encerrar, pedi licença para ler dois pequenos poemas de dois amigos meus. Poemas que eu considero belos exemplos do mais alto espírito maranhense.

Tenho um encontro com Deus:
– José!
– Onde estão tuas mãos que eu enchi de estrelas?
– Estão aqui nesse balde de juçaras e sofrimentos.
&
“Somos poucos,
Cada vez menos…
Somos loucos,
Cada vez mais…”

Acredito que todos tenham gostado do bate papo no barzinho, da palestra, do debate e dos poemas! Eu gostei de tudo “… E do que ficou pra depois…”

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Fronteiras humanas

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Na ultima terça-feira, dia 3, fiz um discurso na Assembléia Legislativa, da tribuna que leva o nome de meu falecido pai, Deputado Nagib Haickel, cujo assunto gostaria de comentar hoje aqui com vocês.
Naquele dia a minha responsabilidade com a forma e o conteúdo do meu discurso ficou redobrada pela presença do historiador, tribuno, homem de letras, de grande saber e cultura, presidente do Tribunal de Justiça do Estado, Desembargador Milson Coutinho, que estava em visita ao nosso parlamento.
Usei meus cinco minutos no Pequeno Expediente, para fazer um relato aos meus colegas Deputados sobre um filme que vi durante a madrugada. Um filme que já havia visto meia dúzia de vezes, mas que sendo tão bom, é sempre oportuno e nunca demais ver outra vez. Chama-se A Queda do Império Romano e para quem não conhece a história e não é cinéfilo, esta é uma produção da década de 60 e deu origem a uma recente refilmagem com o titulo de O Gladiador.
O filme começa com o narrador falando que um Império não cai apenas por causa de um único evento e que o Império Romano levou 300 anos decaindo, para só então realmente sucumbir sob seu próprio peso.
Ele foca um desses episódios, A transição do poder das mãos do Imperador Marco Aurélio para as de seu filho Cômodo. Essa transição, e a mudança política que resultou dela, foi, segundo alguns, uma das causas da queda do poderoso Império Romano. As invasões bárbaras (nome de outro filme sensacional e imperdível) e as revoltas nas províncias também foram causas marcantes da decadência do Império. Mas em minha opinião nada abala mais uma hegemonia que suas causas vicerais e intestinas.
Não foi Aníbal, com seus 40 anos de batalhas, as famosas guerras Púnicas, que destruiu o Império Romano. Não foram todos os exércitos que se postaram para adentrar em Roma pela via Ápia, que destruíram o Império Romano. Muitas foram as causas que puseram fim em séculos de seu domínio sobre o mundo.
Eu que sou antes de tudo um observador, não só de cinema, mas principalmente da história, graças ao maravilhoso advento de review e do pause, me pus em plena madrugada a meditar: Não será, também na história contemporânea, nenhum grande império ou hegemonia destruída por um evento único, mas sim por uma sucessão deles, por uma grande sucessão de equívocos e de erros.
Marco Aurélio, grande e sábio Imperador, que passou a vida toda fazendo guerras, no final, talvez já prevendo o declínio, queria instituir o que chamava de fronteiras humanas. Queria que se fizesse a Pax Romana, começando pelo norte com os bárbaros Germânicos.
Ao serem implantadas essas fronteiras humanas, mesmo que com a condição de superioridade de Roma, elas seriam mais confiáveis e menos caras que as muralhas e as guarnições de fronteira, que a manutenção de grandes exércitos e de um estado permanente de guerra.
Para que haja uma fronteira humana é preciso que haja conversa. Fronteira humana requisita paz, homens de entendimento e de diálogo. E fazendo uma pequena analogia com a nossa situação política, o meu intuito com aquele discurso, era fazer com que meus colegas se conscientizassem, de uma vez por todas, que nós 42 deputados somos as primeiras fronteiras humanas de nosso Estado.
Não foi apenas um evento que destruiu o Império Romano, nem ele foi destruído apenas pela falta das fronteiras humanas. Mas a falta do diálogo, a falta do entendimento, a falta de vontade de que houvesse a paz que a vida exige. A falta de tolerância, isso sim, ajudou a destruir o Império Romano, assim como contribuiu e continuara contribuindo decisivamente para a destruição de todos os grandes poderes hegemônicos da história.
Se a culpa foi de Marco Aurélio que não conseguiu implantar as tais fronteiras humanas antes de morrer ou se de Cômodo que não quis fazê-lo, que preferia as festas Dionisíacas da corte e o convívio com os gladiadores nas arenas à conversação, à diplomacia, isso não importa. O que realmente Importa é que, anos depois, Átila, o rei dos Hunos, varreu Roma do Mapa e entrou pra história.

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Fenix

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A árvore da minha família vem se desfolhando desde 1954, quando meu avô Elias se foi, sem que pudéssemos, nós seus netos, conhece-lo. Vovó Maria nos deixou em 1969 e àquela altura eu me achava o seu neto predileto.
As folhas da árvore da nossa família continuaram a cair: tia Lizete, que não cheguei a conhecer; tio João, o mais jovem dentre os primos de meu pai; tio “Sinhô” do qual só me lembro de sua enorme pança; tia Alzira, nossa tia-avó, santa criatura; tia Josefina, guerrilheira incubada, culta, espírito livre, poema em forma de mulher libanesa; tio Milhem, único nascido no Líbano. Meu pai, Nagib, em 93, desfolhou-se; tio Aziz, o magnífico. Se esse homem tivesse tido mais estudo seria o nosso Rockfeller; tia Norma, a Ava Gardner Haickel, artista e bela; Tia Celeste deixou-nos sem sua visão critica; tio Miguel, o único fisicamente parecido com meu pai; tia Rosinha, que sempre morou conosco e morreu solteira; tia Antoninha, uma batalhadora.
Agora, sexta-feira, dia 12, o mais elétrico e enérgico dos meus tios, foi ter com seus irmãos e primos. Agora foi a vez de “Zantão”, José Antonio Haickel, ex-prefeito de Pindaré-Mirim por duas vezes, somando-se dez anos à frente daquele município. Um dos primeiros políticos do interior do Maranhão a defender a mudança de estilo e forma de se fazer política em nosso estado e defensor de primeira hora da candidatura de José Sarney para o governo em 65.
As diferenças entre meu pai e tio Zé Antonio eram marcantes: Zantão tomava uma cervejinha de vez em quando e fumava duas carteiras de cigarro por dia. Meu pai nunca bebia ou fumava. Meu pai era gordo glutão enquanto tio Zé Antonio era um glutão magérrimo. Meu pai era Moto, Zantão era maqueano doente. Meu pai era moderado em comparação a tio Zé Antonio.
Além de meu tio, Zantão me batizou e dizem que quem põe a mão põe as virtudes, e uma das suas maiores virtudes era a lealdade.
Sagitariano de cinco de dezembro (junto com Lobão e Pipoca), tio Zé Antonio era um sonhador, um aventureiro de capa-e-espada. Leitor voraz, lia dos gibis que adorava a enciclopédias. No começo dos anos 80 fez vestibular para história e passou. Cursou três meses e largou, “já sei o bastante para aprender muito mais aqui, na prática, fazendo a história”, disse-me na época.
A morte é um fato a mais em nossas vidas, um dia todos teremos uma. O que mais me preocupa agora é que a minha família, de certa forma está morrendo, acabando. A minha e quase todas as antigas famílias que eu conheço. Os mais velhos vão morrendo e os mais novos não convivem entre si, vão se distanciando. Os tempos são outros e os compromissos diferentes nos separam. O mundo contemporâneo exige o seu preço e muitas das vezes é família num sentido maior (irmãos, primos, tios e sobrinhos) que se afastam, vivem na mesma cidade mais em mundos diferentes.
No sábado passado fui, eu, meu irmão Nagib, meus primos Eduardo e Socorro, visitar “Zantão” em sua casa. Conversamos sobre a guerra e sobre política, comemos quibes e esfirras, brincamos e contamos piadas e quando saímos, tivemos um pensamento comum, quando aquele nosso tio se fosse, nossa família estaria mais fraca, mais distante.
O único ascendente homem que nos resta é tio “Zuca” e é hora de dedicarmos a ele toda nossa atenção antes que a família acabe. É hora de todos, não só os Haickel, pensarmos nisso, é hora de reforçarmos o espírito familiar, o convívio de irmãos e primos, pois é na família que buscaremos e é nela que deveremos encontrar as principais forças para superarmos qualquer dificuldade.
Os nossos ascendentes que sobraram, estão todos com mais de 70 anos, e dentre eles, tia “Lôry”, a fada madrinha de meu pai, tem lutado bravamente por sua vida já há algum tempo, depois dela só restarão minhas tias Mirtes, Violeta e Muriel e aí os primeiros Haickel terão acabado. A responsabilidade de não deixar nossa família morrer agora é toda nossa, da 2ª e da 3ª geração de Haickel do Brasil. Que a morte de “Zantão” sirva para fortalecer e fazer reviver a nossa família.

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Eu estava lá.

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Estava lá, na minha infância pobre, jogando bolinha de gude, empinando curicas, nadando, no Rio Pindaré.
Estava lá, quando, meus pais preocupados, me mandaram estudar na capital.
Estava lá trabalhando, aos treze anos, como menino de recados e faz tudo de “seu” Eduardo Aboud.
Estava lá, homem quase feito vendendo tecidos, jóias e quinquilharias para poder andar de lambreta.
Estava lá homem feito, me fazendo mais homem ainda, casando com o amor da minha vida e tendo com ela meus filhos, que, são eu, em partes, em horas, em situações: afobado, alegre, leal, negociante, desconfiado…
Estava lá, comerciário e comerciante, industriário e industrial; empresário, nada disso nunca me senti, eu estava lá e vendia. Só isso. Sem saber montei a primeira loja de, conveniência do Brasil. A Meruoca.
Estava lá político, na minha querida região do vale do Pindaré com meu Povo, com, meus amigos. Devo, encontrar alguns por aqui. Biné, Milet, Adroaldo, Nunes Freire, Dr. Pedro Neiva, Sena Rosa. Devo encontrar um homem a quem sempre me opus, mas que nos últimos anos, amigo maior de seu filho me tornei. Dr. Newton Bello.
Estava lá jogando bombom, repetindo meu nome mil vezes, pintando o chão, narrando jogo de futebol; meu filho não achava que desse resultado. Deus. Dá. inventei coisas sem pretensão de inventa-las.
Estava lá Deputado Estadual e Federal por quase trinta anos. Criei municípios, e um em particular administrei e amei. Zé Doca. Parece comigo. É rápido, apressado, tem progresso, tem trabalho e boa gente.
Estava lá para ver meus filhos criados, homens de bem, trabalhadores, honestos, leais, amigos de seus amigos e respeitadores de seus desafetos.
Estava lá para fazer todas as coisas que gostava, e as fiz. Arrepender-se de ter feito algumas coisas erradas de pouco adianta agora, mas se com elas prejudiquei alguém peço desculpas e me penitencio.
Estava lá para ver, brincar, ensinar e aprender com as crianças que tanto, amei. Dentre elas, minha tão amada e querida neta. parte de mim. Minha Laila, minha Lalica.
Não estava lá para ver o meu netinho, também tão amado, mas o vejo sempre. É forte, bonito. Vai continuar o meu nome.
Estava lá nas ocasiões mais mercantes do meu tempo. Fui o centro da minha tempestade. Não posso me queixar de nada. Sempre tive sorte, amigos, sempre me sai bem. De um jeito ou de outro as coisas acabaram dando certo: Na infância, na juventude, na maturidade e na velhice; no esporte, nos negócios, na política e na vida.
Estava lá durante trinta e cinco anos com uma mulher maravilhosa, amiga, compreensiva, companheira. Pessoa de um coração sem igual, de uma bondade extraordinária, acho que se minha alma era má, ficou boa por sua causa e se boa fosse, melhorou convivendo com Chica ou mãe, o que ela era de mim e agora é de todos estes de quem cuida com tanto amor e dedicação. Te Amo.

Estava lá para ter irmãos, parentes, amigos dos melhores, empregados de anos de dedicação, pessoas que confiaram em mim e em que confiei. Muitas vezes era temperamental e até grosseiro, mas sei que os que me conheciam de perto, sabiam que não era por mau, sabiam que logo voltava ao normal e as coisas continuavam.
Estava lá em vários lugares, por quase sessenta anos, mas de sessenta se contarmos o tempo que passei dentro de “Mariak”, minha Mãe Maria Haickel, a olhar o olhar sereno do meu velho pai Elias.
Estava lá em Coroatá no dia 07 de setembro de 1993, entre amigos, brincando, comendo…
Estava lá… “Estou indo, estou indo…”
Estava lá e vi o pânico dos que estavam comigo, vi o desânimo, o desespero e o sentimento de traição e abandono que meus filhos, juntos, sentiam, vi a tristeza e a saudade de Chica, de Estelita e de Yolanda. Vi tudo, toda a minha vida num ultimo suspiro.
Esta lá e vi meu filho e meu genro, quase filho, ao me receberem, inerte. Vi o que foram capazes de fazer. Eu não seria tão corajoso, tão forte.
Estava lá e vi meu outro filho ir para casa, pensando sem pensar, andando sem andar, diletante. Deitou-se em minha rede, cheirou o meu cheiro no lençol, chorou o meu choro, dormiu o meu sono. Queria acordar com ele, queria sonhar com ele. Tenho certeza que não acreditava. Jamais o deixei ser totalmente, jamais o soltei, sempre esteve a minha sombra. Estava perdido. Mal sabia ele que nos últimos anos, eu era quem o seguia. Tive dois filhos dei a um a possibilidade de usar o cérebro através da boca e ao outro a razão de usar as mãos pelo cérebro. Um quase perdi várias vezes, o outro nunca quis se perder. Acho que hoje eles sabem que, o que os torna forte é o seu amor e a união.
Estava lá no meu velório, em minha casa, muitos amigos, todos os parentes, autoridades. Havia até conspiração. Não os condeno, faria o mesmo. Não fui e não sou santo nem hipócrita.
Estava lá no meu velório na Assembléia, casa onde passei boa parte da minha vida, onde estava sendo seu presidente, na minha cabeça apenas gerente. Muita gente. Fiquei orgulhoso e chorei, não queria morrer, nunca quis, era a fase mais feliz da minha vida; mais maduro, mais compreensivo, menos intransigente, menos preocupado.
Estava lá no meu enterro. Cheguei de carro de bombeiro, guarda de honra, essas coisa que em vida não dava muita importância. Muita gente. Chorei de novo. Quero ir para casa. Minha mulher, meus filhos, meus parentes, amigos, funcionários, conhecidos, todos lá me fizeram ver que era definitivo. Não me conformei. Hoje começo a compreender.
Estava lá na missa de 7º dia, todos ainda consternados. O Padre Lucio, simpatizante da esquerda, meu amigo do Maiobão, oficiou. A rua estava bloqueada, A Igreja era a Rua do Egito, em frente à Assembléia. Havia muita gente. Chorei novamente.
Estava lá na missa do 30º dia, desta vez a igreja coube a todos mais o padre ainda era o mesmo e a dor ainda doía. Chorei.
Estava lá em todos os instantes com Chica, Joaquim, Nagib, Laila, Ivana, Lucia, Estelita, Yolanda, Rose, Lucinha, Rochinha, Tadeu, Antonio, Santana, Carol, Jorge, Mônica, Catita, Vinicius…
Estava lá quando meus filhos com ajuda de alguns amigos tentavam pagar as dividas que deixei. Pagaram algumas e continuaram pagar as outras, pois foi como eu lhes ensinei.
Estava lá quando nasceu Nagib Neto, meu netinho que não me conheceu, mais que eu amo, falem de mim para ele.
Estava lá em quase todos os lugares e horas. Não todas, mas estava.
Estou, quando Chica chora ou rir, quando Estelita me imita, quando Loló lembra, quando Lalá vê a fita, quando Binho faz negócios e quando Joaquim faz política.
Estava lá na missa de 1º ano. Estavam apenas os que lembraram ou os que puderam ir. Meu substituto, o Manoel, Marly que alfabetizou meus filhos e um dos mais dignos Deputados que já conheci, um chovem chamado Clodomir Filho. Os outros devem estar se virando, pois a luta é difícil, eu sei.
Revi meu compadre Daniel, meus amigos William Nagem e Alberto Abdalla. Lá estava meu ex-patrão e amigo Cezar Aboud, meus amigos Zé Bento Neves, Zé Elouf e Celso Cotinho.
Joaquim ficou perto de Newtinho, onde eu ficaria, Nagib ficou do lado de fora da Igreja onde eu preferia ficar.
Vi meu amigo de infância e adversário João Maluf. Meu primo e amigo Alberto Hadade. Roberval não foi, está doente, mas a mulher e a filha estavam lá. Os parentes acho, que todos estavam; irmãos, primos, sobrinhos, e até Gloria, que Chica estava preocupada com a saúde dela eu vi.
Vi a surpresa gostosa e alegria que meus filhos tiveram ao ver um certo amigo deles entrando na Igreja com a esposa. Ele é amigo mesmo, não troquem nada por seus amigos, pois eles são o que de mais valioso há na vida.
Meus pretos estavam lá: Celso, Ivan, Gilmar, Regina, Miriam, Nelci… Meu irmão de criação Raimundo Nagib. Meus amigos Portela e Malheiros. Dona Otávia e Dona Rosário. Meus compadres e afilhados.
Funcionários da Assembléia e da “Barraca”. De Alda minha secretária fiel ao chefe de gabinete.De Verde com quem às vezes discutia, com quem implicava a Heloisa a quem admirava. Telefonistas e administrativos, funcionários que sempre tive como amigos. Até jornalistas havia. Não rádios, jornais. TV só o Ivison Lima do Raimundinho. Mas estavam lá o Raí, como eu chamava, o Ademário e aquele menino que fazia a locução das minhas campanhas e de Joaquim, não lembro o nome. Havia muita gente, pensei que fosse menos. Por um instante fiquei triste, queria estar ali. Mas o Padre Hélio Maranhão que rezava a missa lá pela as tantas, fez-me rir ao dizer “… um por todos…” e eu cá comigo, me lembrei dos meus filhos que adoravam capa-espada e gritei: “todos por um”. Era isso que estava acontecendo ali: Todos por um e por todos. Não chorei, não vou mais chorar. Não chore. Sejam unidos, se dêem amor, compreensão, amizade. Conversem, façam as coisas da maneira mais correta. Procurem ajudar a quem lhes procurar, sejam caridosos.
Estavam lá no cemitério. As minhas rosas, as minhas flores. Os meus.
Estava lá em casa.
Estava. Estou.

* Este texto deveria ter sido psicografado pelo médium Francisco Candido Xavier.

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Do que precisa um bom guerreiro?

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Os filósofos gregos Aristóteles e Platão, desde sempre, se interessaram pelas questões militares. Muitos intelectuais da antiguidade passaram de uma forma ou de outra, por tais experiências.
Dentre os mais importantes estão nomes como o de Aristófanes, que apesar de não se ter certeza se ele participou de alguma batalha, é certamente o que mais conviveu com os combatentes, visto as detalhadas descrições presentes em suas peças. Em compensação, sabe-se que Sócrates participou de três batalhas, as de Potidéia, Anfípolis e Délion. Ésquilo combateu em Maratona contra os persas. Sófocles foi comandante das forças ateniense quando da conquista da ilha de Samos. E que quase todos os historiadores gregos tiveram longa experiência militar, principalmente Xenofonte e Tucídides, este último autor de A Guerra do Peloponeso.
Digo isso como preâmbulo, para poder falar de alguns dos guerreiros mais admiráveis da antiguidade. Os Hoplitas.
Os gregos, no século VIII a.C., inventam um novo tipo exército, constituído de um novo tipo de soldado. Agora teriam no lugar de mercenários e escravos, cidadãos livres empunhando armas em suas batalhas e guerras.
A chegada do Hoplita, soldado da infantaria que foi assim chamado devido ao escudo que carregava, causou uma grande revolução, pois homens livres defendem com muito mais interesse e compromisso não apenas suas propriedades e suas famílias, mas também a sua cultura e o seu modo de vida. Nascia assim o exército moderno e de certa forma também, uma parte da cultura e da sociedade moderna.
Os Hoplitas surgiram de uma nova categoria sócio-econômica, a dos pequenos proprietários rurais, que se beneficiaram do direito de possuir armas individualmente. A vontade desses pequenos fazendeiros gregos não era somente defender suas plantações, mas também a idéia, o princípio da inviolabilidade de seus domínios, de proteger a sua cultura e preservar sua sociedade.
No campo de batalha, o escudo dos Hoplitas servia tanto para proteger aquele que o portava quanto o homem situado imediatamente à sua esquerda. Aristóteles fez disto um dos maiores símbolos da democracia, da igualdade e da solidariedade. Abandonar seu escudo, deixando de assegurar a coesão da falange, era considerado um ato de extrema covardia e traição.
Os Hoplitas combatiam numa formação tática disciplinada, armados com espadas e lanças, muito bem protegidos. Com este modelo de exército, a vitória passou a ser um feito coletivo, ao contrário da antiga formação aristocrática, que a considerava um feito individual.
No entanto, há uma coisa muito curiosa que me chamou a atenção: A espada, a lança, o elmo, a armadura, o escudo e as roupas que os Hoplitas usavam, eram custeados por eles mesmos, pagos com seu próprio dinheiro, com seu próprio suor. E esses itens eram caríssimos. Custavam o dinheiro de uma vida.
Passados quase três mil anos desde que os gregos, muito sabiamente, organizaram um exército de cidadãos, de pais de família, de pequenos proprietários, de homens comuns e principalmente livres, me aparecem agora alguns comandantes, alguns generais, que ainda preferem comandar exércitos de escravos ou mercenários. Soldados que são obrigados a defender em primeiro lugar os interesses de seu senhor, a vida de seu mestre e só depois é que poderão pensar em si mesmos e em suas famílias.
Muitas guerras já foram perdidas e pelo que tudo indica, muitas ainda o serão, por falta de Hoplitas nas fileiras de exércitos comandados por generais que são verdadeiros Brancaleones, na pior evocação e concepção que se possa dar ao personagem central do filme de Monicelli.
Como os hoplitas gregos, alguns de nós, juntos, podemos formar um exército constituído de cidadãos livres, que pense certo e que defenda da melhor maneira, não apenas as nossas propriedades e as nossas famílias, mas principalmente a nossa cultura e a nossa forma de viver.
Do que se precisa, hoje, para formar um exército de bons guerreiros? De que eles sejam os donos de suas próprias armas. De que sejam realmente livres.

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Ame-os e doe-os

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Num de seus contos mais famosos, A Biblioteca de Babel, Jorge Luis Borges imagina uma coleção infinita de livros. As obras repousam sobre estantes intermináveis. O escritor argentino escreve essa história chamando a atenção para as pessoas que têm a paixão e o zelo pelos livros, e que não cansam de conviver permanentemente com eles.
Nos últimos dias, estou experimentando uma dolorosa sensação de perda e, ao mesmo tempo, um sentimento de satisfação interior proporcionado pela certeza de estar prestando um bom serviço. Por conta de uma reforma que estou fazendo em minha casa, estou me desfazendo de meus livros. Livros que fizeram parte de minha infância e de minha juventude, livros que fazem parte de minhas paixões, livros aos quais devo boa parte de minha formação.
Faço estas doações na certeza de estar contribuindo para a formação de leitores apaixonados e curiosos. Pessoas que aprenderão que ler é quase como respirar, função essencial da nossa vida. Eu acredito que, mesmo com o avanço da informática e do surgimento de tecnologias cada vez mais sofisticadas, o futuro saberá preservar os livros. Acho que eles jamais vão desaparecer da face da Terra. Não serão suplantados pelas revolucionárias tecnologias que estão remodelando a vida moderna. Afinal, para usar um computador, precisa-se saber ler e romances e novelas não são confortáveis de serem lidos em computadores, não é possível dobrar um computador para ler na cama ou leva-lo providencialmente para o banheiro.
Além disso, o número de livros impressos aumenta a cada ano, e graças a deus o percentual de alfabetizados também. Nunca é demais lembrar que o livro permite que o leitor pense. Livro é só papel e marcas pretas, mas trás uma possibilidade única de criar e recriar o pensamento, fazendo com que as pessoas cresçam.
Por isto, estou doando toda a minha coleção de Kalil Gibran, algumas edições da Bíblia sagrada e do Novo Testamento, livros antigos como Atos do governo provisório, e enciclopédias como o Tesouro da Juventude, o Mundo Encantado da Criança, BARSA, Mirador, Delta Larousse, Delta Junior, entre outras, que totalizam cerca de quatro mil volumes, livros que eram de um Joaquim de 20, 25 anos atrás.
Resolvi, no entanto, não abrir mão de alguns livros, que têm um valor sentimental, algumas encadernações raras e antigas, como as famosas Centúrias de Nostradamus, edição de 1919, como O Príncipe, de Maquiavel, de 1922 e a competente e salvadora coleção Nosso Século, além dos poucos livros que pertenceram ao meu pai, como A lei quer que eu morra e Cela 2238, corredor da morte, de Carl Chessman e livros como o relatório da comissão presidida pelo juiz Earl Warren que apurou o assassinato do presidente John Kennedy e Como fazer amigos e influenciar as pessoas, lendo esse ele aprendeu.
Também não consegui me desfazer de alguns dos melhores livros de poesia. Já as obras literárias que resultaram em adaptações para o cinema que gosto tanto, estas também se vão. São grandes obras da literatura como é o caso do livro Os Dublinenses, de James Joyce, que virou o filme Os Vivos e os Mortos, dirigido por John Huston. Spartacus, vigoroso romance histórico de Howard Fast, convertido numa superprodução, com cenas grandiosas de batalhas, retratando a decadência do Império Romano. A obra Laranja Mecânica, de Anthony Burgess, eletrizante fábula de horror ambientada no futuro em que um jovem fascinado pela violência, sofre uma lavagem cerebral para livrar-se de seus instintos animalescos. O romance …E o Vento Levou, de Margaret Mitchell, obra-prima do grande produtor David Selznick, que tão bem adaptou o livro à tela.
As obras que estou doando poderão fazer a diferença na vida de muita gente, porque o amor pelo livro pode custar a se instalar, mas, quando pega, é paixão para a vida inteira.

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… Uma vírgula… e ponto final.

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Me elegi deputado pela primeira vez em 1982, há exatos vinte e quatro anos, e que primordialmente sempre busquei duas coisas no exercício dessa atividade, coerência e lealdade. Acredito que tive um razoável sucesso nesse intento, tanto que em conseqüência disso construí uma carreira sólida e respeitável. Prova disso é o fato de a grande maioria de meus amigos, no âmbito da política, ser membros de grupos políticos diferentes do meu, terem visões políticas diferentes da minha.
Dito isso, vamos aos fatos: Antes do primeiro turno das últimas eleições, como faço sempre, fiz um estudo sobre a quantidade de vagas que cada partido ou coligação deveria conseguir, tanto para a Assembléia Legislativa, quanto para Câmara Federal. Um estudo como esse é indispensável para que partidos, coligações e candidatos possam escolher as melhores estratégias de ação para o pleito. Esse tipo de avaliação previa não é feito apenas por mim, mas por todos aqueles que saibam faze-lo e que tenham conhecimento e informação para tanto.
No estudo que fiz, estimei que para deputado estadual, a coligação capitaneada pelo PFL elegeria 16 deputados, e elegeu 14; que o PSDB elegeria 8 deputados, e elegeu 9; estimei que O PDT elegesse 6 deputados e minha estimativa comprovou-se acertada; Imaginava que o grupo do PSB ficasse com 4 cadeiras, mas ficou com 5; inicialmente atribui 4 vagas para outra coligação, mas poucos dias antes da eleição, devido uma serie de impugnações, corrigi esse montante para 3, e acertei; previ que duas pequenas coligações elegeriam 1 e 2 deputados respectivamente, mas ocorreu o inverso. Por fim acertei quando disse que outras duas pequeninas coligações elegeriam 1deputado cada. Mais uma vez minha percepção foi acertada.
O resultado das urnas em 1º de outubro confirmou que a minha avaliação estava correta. Acertei 38 das 42 vagas para ALM. Um Acerto superior a 90%.
No tocante aos nomes dentro destes partidos e coligações, nunca foi minha intenção indicar esse ou aquele candidato como eleito ou derrotado, mas alguns nomes eram tidos como francos favoritos. Uns se confirmaram como foi o caso de João Evangelista, Cleide Coutinho e Marcelo Tavares, todos superados por outro favorito, Afonso Manoel. Da mesma forma que ninguém imaginava que Manoel Ribeiro deixasse de se eleger. Havia também quem apostasse que era certa a eleição de Valdivino Cabral, Márcia Marinho e Ricardo Archer.
Mesmo assim, numa lista de possíveis 60 nomes para preenchimento das 42 vagas da ALM, só não constava o nome do vereador Nonato Aragão. 1 erro em 60 nomes para 42 vagas.
Para a Câmara Federal, das 18 vagas só ocorreu um equivoco em meu estudo. Imaginava que o grupo liderado pelo PFL elegesse 8 e elegeu só 7 deputados, enquanto eu acreditava que o time do PDT elegeria apenas 2 deputados e elegeu 3. Acerto também superior a 90%. Quanto aos nomes, numa lista de possíveis 27 para preenchimento das 18 vagas da CF, todos os eleitos estavam relacionados. Nenhum erro em 27 nomes para 18 vagas.
Não fiz esse estudo como previsão cabalística ou astrológica, fiz para avaliar preliminarmente cada partido ou coligação e ver, dentro deles, indistintamente, as reais chances dos diversos candidatos. Não fiz esse estudo em busca de reconhecimento ou de aplauso, fiz pra servir de guia não só para mim, mas para alguns amigos, não só do meu grupo, mas de todas as tendências políticas. Tanto, que muita gente, muito candidato, ligou pra mim para saber a tendência eleitoral deste ou daquele partido, desta ou daquela coligação.
Agora, no segundo turno, baseado nos números do primeiro, onde Roseana superou Jackson por 350 mil votos, e onde os demais candidatos reunidos obtiveram apenas 500 mil votos, estimei, com base em probabilidades estatísticas, e de forma bastante pessimista, que 420 mil destes votos, 84%, migrassem para Jackson e apenas 80 mil, 16% fossem para Roseana. Apesar de privilegiar mais uma tendência que a outra, chegando mesmo a ser pessimista, ainda assim errei.
O que aconteceu foi que Roseana no segundo turno só obteve algo em torno de 10 mil votos a mais que no primeiro, enquanto Jackson amealhou uma faixa de 460 mil.
Uma semana antes de 29 de outubro, um determinado instituto de pesquisa, registrou e fez divulgar na imprensa, um levantamento que apontava Jackson 16% a frente de Roseana, o que totalizaria 480 mil votos de diferença em favor do candidato do PDT.
Tendo em vista que o resultado das urnas confirmou o vencedor com apenas 1,5% a mais de votos que a vencida, me diga! Quem errou mais? Eu, que sem ter a vantagem cientifica de nenhuma pesquisa estimei que Roseana ganhasse por 10 mil votos, menos de 0,5%, ou o tal instituto de pesquisa que previa a vitória de Jackson por 480 mil votos de diferença, 16% do total dos votos validos?
Não precisa ser vidente, estudioso, conhecedor ou instituto de pesquisa para acertar o resultado de uma determinada eleição, mas precisa ser serio para assumir sua posição, seja ela política ou meramente moral.
Os estudiosos podem apresentar seus levantamentos e os institutos de pesquisas podem apontar seus prognósticos, mas em matéria de eleição quem decide mesmo é o eleitor e sua vontade livre e soberana não pode ser questionada por quem quer que seja a não ser por ele mesmo e somente quatro anos depois.

PS: Quero aproveitar a oportunidade para agradecer aos 32.791 eleitores do Maranhão que me confiaram o seu voto, e dizer-lhes que, farei tudo para continuar representando-os da melhor maneira possível na ALM.

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Deu no New York Times

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A cidadezinha de Beckman, situada no oeste do estado da Luiziana, foi sacudida por uma descoberta no mínimo surrealista. Os habitantes passaram os três últimos anos sofrendo com um incendiário que atacava de forma sistemática e profissional. Queimava carros, casas, trailers, escolas e até prédios públicos.
Mas uma coisa curiosa acontecia: o incendiário era cauteloso e cuidadoso, nunca houve nenhuma morte causada pelos incêndios. No máximo, o que aconteceu de mais grave foram algumas pessoas queimadas, e alguns braços quebrados.
Os incêndios eram semanais mas às vezes paravam, era como se o incendiário brincasse com a população. Às vezes havia dois ou três incêndios na mesma semana e por três vezes foram dois na mesma noite, o que fez a polícia imaginar que se tratava de uma gangue.
Os bombeiros de Beckman passaram a ser muito requisitados. Realmente davam conta do serviço. Faziam um trabalho irretocável e excepcional. Passaram a aparecer na mídia nacional e a dar entrevistas. Foram objetos de reportagens no “sixty minutes” e no “four-eight hours”, além de serem entrevistados por David Letterman, Jan Reno e Oprah Winfrey em seus talk-shows diversas vezes. Algumas redes de TV locais e nacionais acompanharam os bombeiros de Beckman em várias missões.
Os “Anjos do Fogo”, como passaram a ser conhecidos, eram liderados pelo capitão Richard McCain, um veterano da guerra do Vietnã, herói condecorado pelo Congresso por ter salvo três colegas atingidos por fogo amigo. Diz-se que é fogo amigo quando um soldado é alvejado sem querer, por balas de seus próprios companheiros. É um acidente comum nas guerras. Voltou para sua terra natal e, por ser um homem enérgico, foi convidado pelo prefeito para assumir o comando geral da segurança de Beckman. Porém logo se atritou com um superior e um subordinado. O procurador do condado e o xerife da cidade achavam muito estranha a forma de agir de McCain que, apesar de ajudar a manter a lei e a ordem, usava métodos um tanto estranho: fazia acordo com bandidos, acobertava assaltante, defendia alguns interesses muito específicos além de ter enriquecido muito rapidamente.
McCain não poderia destituir o xerife, seu subalterno, já que este é eleito pela população, muito menos o procurador.
Quando a situação estava incontrolável, o prefeito Robert Strasberg aproveitou a aposentadoria do comandante do corpo de bombeiros da cidade e transferiu McCain para aquele cargo, muito menor e menos importante.
Mas agora McCain era o centro das atenções, mais que qualquer um em Beckman, potencial candidato a prefeito. Mesmo em relação ao estado da Luiziana ele tinha tanto ou mais prestígio que o governador.
Pois bem, um congressista da Luiziana, nascido em Beckman, preocupado com a grande quantidade de incêndios e com o iminente descontrole da situação, aciona os serviços especiais do FBI, que infiltra na cidade um casal de agentes e um outro agente disfarçado de paramédico. Durante três semanas investigaram tudo na cidade, inclusive os dois incêndios que ocorreram e chegaram a poucas conclusões. A mais importante era que o incendiário agia quando os locais estavam vazios ou então de madrugada, ou ainda usando bombas incendiárias de efeito retardado.
Armaram então uma armadilha para pegá-lo, instalaram na casa onde moravam um sistema de câmeras com infravermelho acoplado a um sistema de transmissão via internet, e começaram a se misturar na sociedade local, passaram a ser vistos, criaram vínculos e fizeram amigos. Enquanto isso o outro agente, o paramédico, investigava as gangues, os subúrbios e os guetos.
Freqüentemente os Waltons, codinome do casal de agentes, deixavam sua casa a sós para tentar pegar em flagrante o incendiário ou os incendiários de Beckman. Até que, certa tarde, eles deixaram sua casa aberta e saíram rumo à cidade vizinha de Louis Ville, onde iriam ficar monitorando suas câmeras.
Lá pelas tantas, eles observaram que alguém havia entrado em sua casa. Esperaram, pois podia ser um simples ladrão, mas quando viram o homem plantando bombas de efeito retardado sob o fogão e na garagem, ligaram imediatamente para o seu parceiro em Beckman. O incendiário estava visto, porém não identificado pois estava com roupas negras e usando uma balaclava de ski (balaclava é uma espécie de capuz que envolve toda a cabeça, ficando apenas os olhos de fora, usada por esquiadores ou pilotos de automobilismo).
Imediatamente acionado, o outro agente chega ao local que ainda não começara a arder e dá voz de prisão ao incendiário, que reage à bala, mas é alvejado na coxa direita, ficando imobilizado.
Algemado o incendiário, desarmadas as bombas, chamados os “bombeiros”, a polícia e os paramédicos, qual não foi à surpresa de todos quando, após tirarem a balaclava que o camuflava, e o macacão preto que usava, apareceu ninguém menos que Richard McCain, o comandante do Corpo de Bombeiros de Beckman, um tanto sujo, ferido na coxa, mas com sua farda de autoridade.
Mais tarde outras investigações foram feitas e descobriu-se que McCain havia disparado nas pernas de seus companheiros do Vietnã para ter a glória de herói salvador, tendo ele atirado com a arma de um soldado caído morto ao seu lado por uma granada vietcong, precavendo-se contra o exame de balística, para que não fosse incriminado.
Agora a população de Beckman, na Luiziana, sabe que quem ateava fogo em suas casas e em seus carros era o mesmo herói que aparecia para apagá-lo.
Até hoje existem pessoas que não acreditam nessa história e algumas outras que preferem não acreditar.

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